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Na vida diária, frequentemente queremos prever o momento em que irá haver contato entre nós e algum objeto. Essas situações incluem aquelas nas quais estamos nos moven- do em direção a um objeto (p. ex., uma parede) e nas quais um objeto (p. ex., uma bola) está se aproximando de nós. Podemos avaliar o tempo até o contato dividindo nossa es- timativa da distância do objeto por nossa estimativa de sua velocidade. No entanto, isso seria muito complexo e tenderia ao erro, porque as informações sobre a velocidade e a distância não estão diretamente disponíveis.

Lee (1976, 2009) argumentou que não precisamos avaliar a distância ou a velocidade de um objeto que se aproxima para calcular o tempo até o contato. Contanto que estejamos nos aproximando dele (ou ele de nós) a uma velocidade constante, podemos fazer uso de tau. Tau é definido como o tamanho da imagem retiniana de um objeto dividida por seu índice de expansão. Ele especifica o tempo para o contato com um objeto que está se apro- ximando – quanto mais rápido o índice de expansão, menos tempo haverá até o contato.

130 PARTE I Percepção visual e atenção

Quando dirigimos, o índice de declínio de tau ao longo do tempo (tau-dot) indica se existe tempo suficiente para frear e parar no alvo. Mais especificamente, Lee (1976) defendeu que os motoristas freiam para manter constante o índice de mudança de tau. A hipótese tau-dot de Lee está em conformidade com a abordagem de Gibson, porque pressupõe que informações sobre o tempo para o contato estão disponíveis a partir do fluxo óptico. Em outras palavras, os observadores podem avaliar o tempo para o contato a partir de variáveis diretamente mensuráveis pelo olho.

A abordagem teórica de Lee (1976, 2009) foi altamente influente. No entanto, tau tem uma aplicabilidade um tanto limitada no mundo real em vários aspectos (Tresilian, 1999):

• Ignora a aceleração na velocidade de um objeto.

• Fornece apenas informações sobre o tempo para o contato com os olhos. No entan- to, o que é importante para os motoristas quando freiam para evitar um obstáculo é o tempo para o contato com seu carro. Se usarem tau, eles poderão ter a frente do carro amassada!

• É preciso apenas quando aplicado a objetos esfericamente simétricos: não se deve usá-lo para pegar uma bola de rugby!

Achados

Suponhamos que você apanhe uma bola que está se aproximando. Lee (1976) tinha o pressuposto de que seu julgamento do tempo para o contato dependeria fundamentalmente do índice de expansão da imagem retiniana da bola. Savelsbergh e colaboradores (1993) testaram essa hipótese. Eles manipularam o índice de expansão usando uma bola vazia – seu índice de expansão é menor do que o de uma bola cheia. Conforme previsto, o pico do ato de agarrar ocorreu com mais atraso com a bola vazia. Entretanto, a diferença média foi de apenas 30 ms, enquanto a hipótese de Lee prevê uma diferença de 230 ms. Assim, os participantes usaram fontes de informações adicionais (p. ex., pistas sobre a profundidade) que minimizaram os efeitos de distorção da manipulação do índice de expansão.

Hosking e Crassini (2010) demonstraram de forma convincente que tau não é o único fator determinante nos julgamentos do tempo para o contato. Os participantes julgaram o tempo para o contato para objetos familiares (bola de tênis e bola de futebol) apresentados em seu tamanho-padrão ou com seus tamanhos invertidos (p. ex., bola de tênis do tamanho de uma bola de futebol). Hosking e Crassini também usaram esferas pretas não familiares.

Os achados de Hosking e Crassini (2010) são apresentados na Figura 4.4. Os jul- gamentos do tempo para o contato foram influenciados pelo tamanho familiar. Esse foi especialmente o caso quando o objeto era uma bola de tênis muito pequena, o que levou os participantes a superestimarem o tempo para o contato.

Outro fator que influencia o julgamento sobre o tempo para o contato é a dispari- dade binocular. Rushton e Wann (1999) usaram uma situação de realidade virtual que envolvia apanhar bolas e manipularam o tau e a disparidade binocular independente- mente. Quando o tau indicou o contato com a bola 100 ms antes da disparidade bino- cular, os observadores responderam 75 ms antes. Quando tau indicou o contato 100 ms após a disparidade, a resposta foi retardada em 35 ms. Assim, a informação sobre o tau é combinada com a informação sobre a disparidade binocular, de modo que a fonte da informação que especifica o tempo mais curto para o contato recebe o maior peso.

Evidências de que os observadores fazem uso flexível da informação quando pre- veem o tempo para o contato foram discutidas por DeLucia (2013). Ela focalizou o efei- to tamanho-chegada: os observadores preveem de forma errônea que um objeto grande que se aproxima vindo de longe irá atingi-los mais rapidamente do que um objeto menor que está se aproximando. Esse efeito ocorre porque os observadores dão mais importân- cia ao tamanho relativo do que ao tau. No entanto, quando os dois objetos se aproximam, os observadores trocam, passando a usar o tau, em vez do tamanho relativo, para julgar

CAPÍTULO 4 Percepção, movimento e ação 131

qual objeto os atingirá primeiro. Assim, a natureza da informação usada para julgar o tempo para o contato se modifica conforme o objeto se aproxima do observador.

Passemos agora para as pesquisas sobre as decisões de frear dos motoristas. A no- ção de Lee (1976) de que os motoristas freiam para manter constante o índice de mu- dança de tau foi testada por Yilmaz e Warren (1995). Os participantes foram solicitados a parar em um sinal em uma tarefa simulada de direção. Como previsto, em geral houve uma redução linear em tau durante a freada. No entanto, alguns participantes, apresenta- ram grandes mudanças em tau um pouco antes de frearem, em vez de mudanças graduais. Tijgat e colaboradores (2008) descobriram que a visão estéreo influencia o com- portamento de frear dos motoristas para evitar uma colisão. Os motoristas com visão estéreo fraca começaram a frear mais cedo do que aqueles com visão estéreo normal, e seu pico de aceleração também ocorreu mais cedo. Aqueles com visão estéreo fraca acharam mais difícil calcular as distâncias, o que os fez subestimarem o tempo para o contato. Assim, a decisão de quando frear não depende apenas de tau.

Avaliação

A noção de que tau é usado para fazer julgamentos sobre o tempo para o contato é simples e sofisticada. Existem muitas evidências de que tais julgamentos são, com fre- quência, muito influenciados por ele. Mesmo quando fatores concorrentes afetam os julgamentos sobre o tempo para o contato, o tau geralmente tem a maior influência sobre esses julgamentos. O tau também é usado com frequência quando os motoristas tomam decisões sobre quando frear.

Quais são as limitações das pesquisas nessa área? Em primeiro lugar, os julgamen- tos sobre o tempo para o contato em geral são mais influenciados por tau ou tau-dot com ambientes visuais relativamente organizados no laboratório do que sob condições mais naturais (Land, 2009).

Em segundo, tau não é o único fator determinante do julgamento sobre o tempo para o contato. Conforme indicado por Land (2009, p. 853), “o cérebro irá aceitar todas as pistas válidas no desempenho de uma ação, e vai avaliá-las de acordo com sua confia- bilidade atual”. Como já vimos, essas pistas podem incluir a familiaridade do objeto, a disparidade binocular e o tamanho relativo. É claro que faz sentido usar todas as infor- mações disponíveis dessa maneira.

–200 –100 0 100 200 300 400 500

Sem textura Tamanho-padrão Fora do tamanho

Err

o médio

Tc

(ms)

Familiaridade do objeto definida pela textura Objeto maior

Objeto menor

Figura 4.4

Erros nos julgamentos sobre o tempo para o contato com o objeto menor e maior como uma função de terem ou não sido apresentados em seu tamanho-padrão, no tamanho inverso (fora do tamanho) ou faltando a textura (sem textura). Os valores positivos indicam que as respostas foram dadas muito tarde, e os valores negativos indicam que foram dadas muito cedo.

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Em terceiro, a hipótese de tau não explica o valor emocional do objeto que se apro- xima. No entanto, Brendel e colaboradores (2010) constataram que julgamentos sobre o tempo para o contato eram menores para figuras ameaçadoras do que para figuras neu- tras. Isso faz sentido em termos evolutivas – poderia ser fatal superestimar quanto tempo um objeto muito ameaçador (p. ex., um leão) levaria para alcançar você!

Em quarto, as hipóteses de tau e tau-dot têm âmbito muito limitado. Carecemos de uma teoria abrangente que indique como são combinados e integrados os vários fatores que influenciam os julgamentos sobre o tempo para o contato.