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As pistas monoculares para a profundidade são algumas vezes chamadas de pistas pic- tóricas, porque são usadas por artistas que tentam criar a impressão de cenas tridimen- sionais quando pintam sobre telas bidimensionais. Uma dessas pistas é a perspectiva linear. As linhas paralelas que apontam de forma direta para além de nós parecem pro- gressivamente mais próximas quando retrocedem na distância (as beiradas de uma es- trada). Essa convergência das linhas cria uma forte impressão de profundidade em um desenho bidimensional.

A eficácia da perspectiva linear em desenhos varia como uma função da visão da distância. Podemos ver isso claramente em um desenho do artista holandês Jan Vrede- man de Vries (ver Fig. 2.18). Como foi evidenciado por Todorovié (2009), esse desenho parece muito estranho quando visto a certa distância, mas cria um efeito 3D eficiente quando visto de muito perto.

TERMOS-CHAVE Pistas monoculares

Pistas de profundidade que podem ser usadas por um olho, mas também podem ser empregadas por ambos os olhos em conjunto.

Pistas binoculares

Pistas de profundidade que requerem que ambos os olhos sejam usados em conjunto.

Pistas oculomotoras

Pistas de profundidade produzidas por contrações musculares dos músculos em torno do olho; o uso dessas pistas envolve cinestesia (também conhecida como a sensação muscular). CONTEÚDO ON-LINE em inglês Weblink:

Pistas para percepção da profundidade

CAPÍTULO 2 Processos básicos na percepção visual 63

Outra pista monocular é a textura. A maioria dos objetos (p. ex., tapetes, estradas pavimentadas com seixos) apresenta textura, e objetos texturizados inclinados na dire- ção oposta a nós têm um gradiente de textura (Gibson, 1979; ver Fig. 2.19). Trata-se de um gradiente (índice de mudança) da densidade da textura quando se olha da frente para trás de um objeto inclinado. Sinai e colaboradores (1998) identificaram que os observadores faziam um bom julgamento dos objetos dentro da distância de 7 m quan- do o piso nesse espaço era uniformemente texturizado. No entanto, as distâncias eram sistematicamente superestimadas quando havia uma lacuna (p. ex., uma vala) no padrão da textura.

O sombreamento fornece outra pista monocular de profundidade. Superfícies planas, bidimensionais não criam sombras, e, por isso, a existência de sombreamento indica a presença de um objeto tridimen- sional. Ramachandran (1988) apresentou aos observadores um display visual constituído de várias manchas circulares sombreadas, bastante similares. Algumas delas eram iluminadas por certa fonte de luz; e as demais, por uma fonte diferente. Os observadores supuseram incorre- tamente que o display visual era iluminado por uma única fonte de luz. Isso os levou a atribuir diferentes profundidades a diferentes partes do display (i.e., alguns “dentes” eram vistos como “protuberâncias”).

Outro tipo de pista é a interposição, em que um objeto mais pró- ximo oculta parte de um objeto mais distante. A força dessa pista pode ser vista no quadrado ilusório de Kanizsa (1976) (ver Fig. 2.20). Há uma forte impressão de um quadrado amarelo na frente de quatro círcu- los violeta, mesmo quando muitos dos contornos dos quadrados bran- cos estão ausentes.

Outra pista útil é o tamanho familiar. Quando sabemos o tamanho do objeto, podemos estimar o tamanho de sua imagem retiniana para fornecer uma estimativa precisa de sua distância. No entanto, podemos nos enganar se um objeto não estiver em seu tamanho familiar. Ittel- son (1951) pediu aos observadores que olhassem para cartas de baralho

TERMO-CHAVE Gradiente de textura

Índice de mudança na densidade da textura quando se olha da frente para trás um objeto inclinado. 1 2 3 4 5 Figura 2.18

Uma gravura de de Vries (1604/1970) na qual a perspectiva linear cria um eficiente efeito tridimensional quando vista de muito perto, mas não a distância.

Fonte: Todorivic (2009). Copyright ©1968 por Dover Publications. Reimpressa com permissão de Springer.

Figura 2.19

Exemplos de gradientes de textura que po- dem ser percebidos como superfícies quan- do retrocedem na distância.

64 PARTE I Percepção visual e atenção

através de um orifício que os restringia à visão monocular. Foram apre- sentadas cartas de vários tamanhos a uma distância de 2,28 m. As dis- tâncias percebidas foram determinadas quase inteiramente pelo tamanho familiar – uma carta com a metade do tamanho foi vista como estando a 1,38 m de distância e uma carta com o dobro do tamanho como estando a 4,56 m de distância.

Vamos nos deter agora em uma pista cuja importância curiosa- mente tem sido subestimada: a turvação da imagem. Não há turvação no ponto de fixação, e ela aumenta mais rapidamente a distâncias mais próximas do que mais afastadas. O papel desempenhado pela turvação foi esclarecido por Held e colaboradores (2012). Eles argumentaram que a disparidade binocular (a pequena diferença nas duas imagens re- tinianas; discutida melhor posteriormente) é uma pista de profundidade mais útil no ponto de fixação. No entanto, a turvação é mais útil do que a disparidade binocular mais além do ponto de fixação. Os achados de Held e colaboradores foram compatíveis com suas hipóteses (ver Fig. 2.21).

Finalmente, existe a paralaxe do movimento, na qual há movi- mento em uma parte da imagem na retina em relação a outra. Por exemplo, conside- re o que acontece quando a cabeça de um observador se movimenta. Isso produz um grande movimento aparente dos objetos próximos na direção oposta, mas um pequeno movimento aparente dos objetos distantes na mesma direção. Rogers e Graham (1979) constataram que a paralaxe do movimento pode produzir julgamentos precisos sobre profundidade na ausência de todas as outras pistas.

Pistas como a perspectiva linear, a textura e a interposição permitem que os observadores percebam a profundidade mesmo em exibições tridimensionais. No entanto, muitas pesquisas com apresentações bidimensionais geradas por computa- dor identificaram que a profundidade é com frequência subestimada (Domini et al., 2011). Apresentações bidimensionais fornecem pistas relativas à unidimensionali- dade (p. ex., disparidade binocular, acomodação e convergência, todas discutidas a seguir). Essas pistas de unidimensionalidade podem reduzir o impacto das pistas que sugerem profundidade.