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AGROECOLOGIA NO SEPÉ TIARAJÚ: POTENCIAL E DIFICULDADES

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 172-174)

a perspectiva da agroecologia

AGROECOLOGIA NO SEPÉ TIARAJÚ: POTENCIAL E DIFICULDADES

No que diz respeito à dimensão ecológica observou-se no As- sentamento princípios de regeneração e manutenção da biodiversidade e seus benefícios.

Identifi cou-se 25 diferentes espécies de culturas anuais e cultivo de legumes, sem considerar as hortaliças; 26 espécies arbóreas e frutíferas (confi gurando pequenos sistemas agrofl orestais-SAFs) e a produção ani- mal com cerca de 11 diferentes tipos de criação, sendo que muitas delas de espécies crioulas e animais de matriz “caipira”. Os agricultores usam feijão guandu e feijão de porco para adubação verde, fazem adubação orgânica com esterco animal (bovino e galinhas) e alimentam os animais com sobras de lavouras e hortaliças. Esses elementos evidenciam a prática de princípios de reciclagem de nutrientes e matéria-orgânica, que além de reduzir os gastos energéticos evitam o acúmulo de efl uentes, promovem a proteção do solo e reduzem a dependência de insumos externos.

O manejo das culturas no Assentamento é baseado na ação humana (plantio, capinas e roçadas manuais) com uso de ferramentas

QUADRO 1: Referencial de critérios de sustentabilidade sob o enfoque agroecológico adaptado de Caporal e Costabeber (2003), Altieri (1998) e Gliesmann (2000) com as observações de campo no Assentamento Sepé Tiarajú, município de Serra Azul (SP), 2006 (conclusão)

DIMENSÃO ECONÔMICA

Uso da produção agropecuária para alimentação da família Troca de pequenos animais dentro do Assentamento Venda e troca de pequenos animais e produção agrícola com as propriedades

vizinhas Venda da produção no mercado local

DIMENSÃO POLÍTICA

Organização de coordenação geral do Assentamento do Sepé Tiarajú. Reuniões de núcleo para discutir assuntos pertinentes ao desenvolvimento do Assentamento Setores Sociais - educação,

saúde, produção Construção participativa do projeto de Assentamento

posta coletiva e eqüitativa. Contrapondo-se, assim, ao modelo existente nessa e nas regiões vizinhas, vinculado ao sistema sucro-alcooleiro, alta- mente impactante tanto social quanto ambientalmente, especialmente pela degradação dos recursos naturais, poluição causada e falta de trabalho para o agricultor.

Ainda deve-se evidenciar o grande número de difi culdades e desafi os no que tange à instalação de infra-estrutura e fi nanciamentos para a continuidade de um horizonte de transição agroecológica no Assenta- mento. Processo esse que exige a incorporação, nas análises futuras, de mais elementos e ferramentas quantitativas, principalmente aquelas rela- cionadas à esfera econômica. Torna-se importante, na continuidade do acompanhamento deste possível processo de transição agroecológica, identifi car a origem das práticas agroecológicas já existentes e a origem da opção pela Agroecologia.

Frente a todas essas difi culdades, limitantes e desafi os, torna-se importante e ainda mais essencial a atenção do poder público a fi m de dis- ponibilizar acesso às Políticas de Assistência Técnica que possam contribuir na construção de base técnica (técnicas, tecnologias, metodologias e mane- jos), estrutural (estruturas de produção, educação, saúde, transporte e cul- tura) e conceitual (conhecimento) no Assentamento, buscando um mode- lo de desenvolvimento rural fi rmado com bases na Agroecologia.

A metodologia de trabalho de campo se mostrou muito im- portante para obter dados relevantes e signifi cativos para a pesquisa, através da construção coletiva e conjunta com equipe técnica e repre- sentantes dos assentados, bem como da participação nas atividades roti- neiras do Assentamento.

A proposta de inserção de um “residente” no Assentamento trouxe mudanças expressivas no saber-fazer do estudante/técnico. Tanto a formação do técnico se enriquece no diálogo com a realidade e no co- nhecimento das estruturas sociais e espaciais do Assentamento quanto o Assentamento se benefi cia da ação e da bagagem técnica trazida pelo par- ticipante do Programa. Além disso, o fato do residente não ser um técni- co ofi cial de Assistência Técnica e Extensão Rural do governo diminui, de certa forma, a cobrança dos assentados, sendo muitas vezes enxergado como um colaborador.

A vivência diária na rotina do Assentamento se mostrou essen- cial para conhecer melhor a lógica de pensamento e valores dos agricul- tores e assim compreender um pouco melhor a racionalidade interna de organização e funcionamento do Assentamento. Por outro lado, também trouxe elementos para entender a relação com os atores externos. Esta agrícolas convencionais causou determinados problemas com difi culdades

técnicas de solução para doenças em culturas e criações, a exemplo do “cair o pescoço da galinha” e “porcos com tosse”, relatado pelos assentados.

Existiam, também, sérios problemas na comercialização da produção, pois não havia nenhum canal formal estabelecido de comercia- lização nem transporte próprio para a produção dos assentados.

Identifi cou-se muitas difi culdades de infra-estrutura básica como falta de moradia e ausência de sistemas básicos de água, luz e estra- da (ainda em fase de implantação pelo INCRA-SP).

São claros os obstáculos para a sobrevivência das famílias, cons- tituição da produção e sua possibilidade de organização coletiva tanto do ponto de vista de ocupação das áreas como de caráter motivacional. Ou seja, existe uma série de difi culdades a serem enfrentadas para se continu- ar no rumo agroecológico.

Em vários momentos as discussões foram esvaziadas ou com pouca participação, e as justifi cativas vinham da grande desmotivação e difi culdade em sobreviver devido à falta de infra-estrutura básica, equipa- mentos e ferramentas de produção, e atraso nos créditos e fomentos, o que gerou em conseqüência, descrença dos assentados nas atividades e falas dos técnicos que trabalhavam no Assentamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho não teve a pretensão de esgotar a discussão agroe- cológica, nem ao menos propor um modelo de avaliação completa de sustentabilidade em sistemas agroecológicos, entendidos como agroecos- sistemas funcionando com base em fundamentos, conceitos e princípios da Agroecologia. Buscou-se, tão somente, sistematizar e analisar alguns critérios de sustentabilidade baseados na Agroecologia para caracterizar princípios e práticas num contexto de transição agroecológica em um Assentamento de Reforma Agrária.

Concluiu-se na verifi cação e identifi cação dos principais prin- cípios e práticas agroecológicas do Assentamento Sepé Tiarajú, através do conceito de sustentabilidade multidimensional.

De outra maneira, através das práticas agroeocológicas identifi - cadas, o Assentamento traz à região um novo paradigma de agricultura e ocupação do espaço priorizando a recuperação ambiental, preservação e manutenção dos recursos naturais (água, solo, fauna e fl ora), valorização da biodiversidade, produção de alimentos limpos e saudáveis para a região e presença de um contingente grande de agricultores vivendo uma pro-

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária

Capítulo 5

REFLEXÕES/ANÁLISES

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 172-174)

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