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HISTÓRICO DO “RESIDÊNCIA AGRÁRIA I” NA UNICAMP

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 118-123)

UNICAMP em sua participação no “Residência Agrária I”

HISTÓRICO DO “RESIDÊNCIA AGRÁRIA I” NA UNICAMP

Depois do aceite ao convite do Ministério do Desenvolvimen- to Agrário – MDA, a equipe da área de Sociologia, Extensão e Comuni- cação Rural da FEAGRI reuniu-se com representantes dos movimentos sociais da região, no caso o MST, para a defi nição das áreas de trabalho e para a indicação de profi ssionais desta instituição para participar do Curso, como alunos e como técnicos que acompanhariam o desenvolvimento das atividades. Devido a questões de tempo, e questões de deslocamento, não foi possível a realização de reuniões conjuntas para a organização dos procedimentos metodológicos, desta forma a elaboração destas ações fo- ram organizadas através do correio eletrônico (e-mail) onde foram discu- tidas e realizadas as devidas correções e sugestões.

Uma das instituições parceiras e apoiadoras do Programa era o Banco do Brasil, que ofereceu recurso para viabilizar a estruturação ma- terial dos cursos. Para tanto, a documentação foi encaminhada, mas infe- lizmente houve incompatibilidade entre os sistemas de convênio e de prestação de contas do banco e da Universidade de forma que não foi possível implementar a primeira fase do Programa, o estágio denominado “Vivência Agrária”. Isto prejudicou a realização do Programa no que se referiu à infra-estrutura, pois não se dispôs de computadores e outros equipamentos como gravadores de áudio e vídeo e máquinas fotográfi cas específi cos do Programa para o registro dos trabalhos. Contornou-se, todavia, parte dessas limitações com equipamentos da Universidade e dos próprios participantes.

O “Vivência Agrária” possibilitaria um primeiro contato dos alunos com os agricultores e suas comunidades, etapa em que eles fariam um diagnóstico mais geral e apontariam possíveis temas a serem aborda- dos e trabalhados, bem como subsidiaria a seleção dos alunos para parti- ciparem da etapa seguinte do Residência Agrária I pela coordenação local. Ainda assim, mesmo pulando a Vivência, a seleção dos alunos e partici- pantes do Curso foi realizada de forma acertada, o que possibilitou o bom desenvolvimento do Curso. Os alunos selecionados eram egressos dos cursos de Engenharia Agrícola e de Engenharia de Alimentos, que já ha- viam trabalhado com agricultores familiares. Desta forma, a coordenação

O “Diário de Campo”67 foi proposto como forma de registro

pessoal e particular de cada participante (alunos, profi ssionais de ATER/ ATES e os orientadores) do dia-a-dia do trabalho de campo. Incentivou- se que as experiências pessoais, as observações sobre as pessoas, o ambien- te físico e social, os sistemas produtivos, as angústias, alegrias, frustrações fossem anotadas em um caderno através de frases, desenhos, croquis ou outra forma de registro que melhor conviesse para cada um. Esse material foi depois socializado na equipe e representou uma iniciativa muito posi- tiva, conforme relato dos próprios estudantes e orientadores. Serviu para repensar a prática diária de trabalho, facilitou a elaboração de relatórios que serviram de base para a redação da monografi a fi nal, além de derrubar preconceitos como “Diário de Campo é coisa de mulherzinha”.

A capacitação em metodologias participativas priorizou o uso das técnicas de diagnósticos rurais de sistemas de produção, das condições de vida das famílias, das formas de obtenção de rendas agrícolas e não agrícolas, e das relações sociais dentro do Assentamento68. Optou-se por se trabalhar

apenas com as técnicas de diagnóstico devido à premência de se iniciar os trabalhos de campo. Além disso, os princípios e valores participativos inse- ridos nessas técnicas estão presentes em todas as demais concernentes ao planejamento, execução e acompanhamento de ações extensionistas.

Encontros de Estudos para discussões de textos selecionados Estes momentos tiveram a função de promover a discussão entre alunos e orientadores de alguns textos fundamentais69 para a compreensão

do atual contexto de atuação dos profi ssionais de ATER/ATES.

A implementação e execução do Residência Agrária I junto aos agricultores foi empreendido através dos passos relacionados a seguir, os quais os alunos e participantes foram orientados a realizar e que foram acompanhados através de reuniões periódicas e de visitas às áreas:

1 - Consolidação das parcerias

2 - Apresentação do projeto junto às áreas de trabalho

3 - Diagnóstico da realidade sócio-econômica das famílias (in- cluindo levantamento de material bibliográfi co e outros sobre cada uma das áreas)

4 - Planejamento participativo

5 - Defi nição e especifi cação dos projetos 6 - Avaliação e replanejamento

67. A referência bibliográfi ca principal adotada nessa discussão foi Whitaker (2002). 68. A bibliografi a de referência foi Geilfus (1997).

69. Consultar Caporal (2008) e Woortmann et al (1997).

de suas atividades lá, além do que isto também barateava os custos de trans- porte, uma das preocupações da coordenação local, já que naquele momen- to as bolsas estavam suspensas devido à necessidade do PRONERA mudar a instituição que administrava as bolsas.

Todos os alunos participantes tinham uma atuação política bastante forte, seja no movimento estudantil, seja junto aos movimentos sociais. Participavam de diversas instâncias de representação de estudan- tes, promovendo a atenção às questões da Reforma Agrária em nossa so- ciedade. Destaca-se a atuação de alguns deles no Núcleo pela Reforma Agrária “Carlos Marighela” formado por alunos da UNICAMP, que além da promoção de eventos periódicos sobre a temática agrária e outras afi ns, tinham uma atuação bastante presente junto ao movimento de luta pela terra na região.

A equipe contava, ainda, com uma representante do MST (Pe- dagoga e com Especialização em Pedagogia da Terra pela Escola Florestan Fernandes), que tinha a função de acompanhar e avaliar os projetos nos seus aspectos pedagógicos, contribuindo para a inserção dos estudantes nas áre- as de trabalho, bem como no planejamento e avaliação dos mesmos e na programação das atividades a serem realizadas em sua capacitação. Contri- buiu, ainda, na sistematização dos encontros entre estudantes, coordenado- res, monitores e técnicos, pois circulava em todos os espaços, desde os tempos-escola em que aconteciam as aulas da Especialização quanto nas áreas de assentamento e ainda nas instâncias políticas do MST.

A metodologia utilizada

Foram realizados encontros periódicos, com toda a equipe, para concepção, atualização e avaliação dos trabalhos desenvolvidos no intuito de compartilhar as experiências, as difi culdades, as angústias e as possíveis soluções que cada um vislumbrou em seu trabalho que, muitas vezes, ser- viam de referência para os demais colegas. Estes encontros se mostraram de grande importância, na medida em que proporcionaram descobertas pes- soais e políticas, como também uma refl exão a cerca do trabalho realizado. No início do Programa foram realizados alguns encontros de capacitação visando um melhor aproveitamento do trabalho de campo:

Workshop do Programa de Residência Agrária na FEAGRI/ UNICAMP

Tema: “Diário de Campo e Metodologias Participativas de Diagnósticos Rurais”

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 3 Matrizes Locais

Por ocasião da substituição dos alunos, conforme relato acima, incluiu-se o pré-assentamento Milton Santos, município de Americana- SP, porque o aluno ingressante já estava desenvolvendo um trabalho nesta área. Após consulta e aprovação dos orientadores locais, enviou-se um ofício à coordenação do Programa solicitando autorização para a mu- dança, aprovada de pronto.

Para uma melhor compreensão dos projetos realizados nas di- ferentes áreas, faz-se a seguir uma apresentação das principais caracterís- ticas dos assentamentos trabalhados, ou seja, onde foram desenvolvidas atividades pelos educandos da FEAGRI/ UNICAMP.

A Fazenda Pirituba

Em 1950 a Fazenda Pirituba, então propriedade da Companhia Agropecuária Angatuba, foi cedida aos bancos ofi ciais para pagamento das dívidas da Companhia. Naquela década, a fazenda era utilizada pelo go- verno paulista como área piloto de demonstração de um programa que visada a introdução da cultura de trigo na agricultura paulista. Data desta época, também, uma primeira tentativa, fracassada, de implantação de um programa de colonização na fazenda, visando apaziguar os confl itos fun- diários na região. Em 1973 a nova tentativa de colonização da fazenda recebeu o nome de Pirituba I, mas, por motivos diversos, também fracas- sou, o que estimulou a persistência dos problemas agrários. No início dos anos 1980 um grupo de 40 famílias ocupou uma parte ociosa da fazenda, mas logo foram despejados. Na mesma época, cerca de 150 famílias de trabalhadores rurais sem terra ocuparam a outra área da fazenda, que iria se constituir na Área 1 do Assentamento Fazenda Pirituba.

Existem atualmente na Pirituba seis áreas de assentamentos, sendo uma em caráter emergencial, pois as famílias ainda não têm a pos- se total dos 17 hectares a que cada uma tem direito. São 360 famílias as- sentadas, somando aproximadamente 2.000 pessoas que vivem e tiram seu sustento da terra.

A Fazenda Pirituba está situada na região sudoeste do estado de São Paulo a 350 km da capital e compreende uma área de 17.000 hectares localizados em dois municípios: Itapeva e Itaberá.

A maior parte da terra é dedicada à produção. A maioria dos assentados trabalha em grupos coletivos na Cooperativa dos Assentados de Reforma Agrária e Pequenos Produtores - COAPRI da Região de Itapeva e Itaberá e uma pequena parcela trabalha individualmente. Admi- nistram sua própria produção de milho, arroz, feijão, hortaliças, frutas, leite, mel, carne suína para o consumo interno e a comercialização. Os alunos foram acompanhados pelos professores-orientadores

especialmente nas visitas iniciais, no intuito de apresentar o projeto, fi r- mar as parcerias, conhecer as áreas e mediar as conversas com os agricul- tores e comunidades locais, já que no momento anterior as reuniões se deram apenas com as lideranças do Movimento. Também os orientadores participaram destes encontros, para conhecer melhor a realidade local e para melhor orientar os alunos em suas proposições. Nestes primeiros encontros procurou-se contar sempre com a participação das lideranças do MST envolvidas no programa, o que traria maior legitimidade e con- fi ança à proposta que estava sendo apresentada.

Os alunos, profi ssionais de extensão e orientadores tiveram rotinas diferenciadas em suas áreas de trabalho, em função de diversos fatores como: disponibilidade de recursos (a maioria fi cou sem a bolsa a maior parte do tempo de realização do Curso de Especialização), distância do assentamento em que trabalhava e disponibilidade dos agricultores. Há que se destacar que para a maioria dos orientadores a rotina de trabalho nem sempre permitia a freqüência desejada de acompanhamento do tra- balho de campo in situ, ainda assim todos se empenharam em estar pre- sentes, especialmente nos momentos críticos ou quando se necessitava de uma avaliação mais aprofundada do que se passava.

Os alunos sentiram muita difi culdade por ocasião da elaboração de suas monografi as: a maioria não tinha segurança nas referências teóri- cas para construir uma análise de suas experiências. Aqueles que já tinham experiência em projetos de iniciação científi ca se saíram melhor. Nesta ocasião foi preciso juntar esforços para apoiá-los e orientá-los. Foram realizadas algumas reuniões coletivas e também momentos individuais de orientação. As revisões dos textos das monografi as foram feitas, em sua maioria, por correio eletrônico. No desfecho, todos conseguiram fi nalizar e defender a contento suas monografi as. Especialmente neste momento, e mais uma vez, percebeu-se a solidariedade entre os colegas do Curso e também entre os orientadores.

As áreas de trabalho

Em concordância com representantes do MST e do INCRA, parceiros articulados para realização do Programa, escolheu-se, inicial- mente, três áreas de trabalho em São Paulo: Fazenda Pirituba, localizada nos municípios Itapeva e Itaberá na região sudoeste, o Assentamento Sepé-Tiarajú, município de Serra Azul-SP da região de Ribeirão Preto, e o Assentamento “Prof. Luiz de David Macedo”, no Vale do Ribeira.

O Assentamento Sepé-Tiarajú

O Assentamento Sepé-Tiarajú se localiza no município de Serra Azul, distante 40 km do centro de Ribeirão Preto e 317 km da capi- tal do estado.

No dia 17 de abril de 2000 aconteceu a ocupação da fazenda Santa Clara, desapropriada pelo governo estadual em função de dívidas fi scais da usina Nova União. Em novembro de 2003 a fazenda foi vendi- da ao INCRA, para fi ns de Reforma Agrária. Em função de uma burocra- cia instalada e fortifi cada pela presença massiva do agronegócio na região – particularmente a monocultura da cana-de-açúcar – o processo de As- sentamento se estendeu até o ano de 2004, sendo que hoje o Assentamen- to já foi homologado no novo modelo proposto pelo INCRA que é o Projeto de Desenvolvimento Sustentável – PDS, baseado fundamental- mente na produção coletiva e agroecológica. Isto signifi ca que, para fazer parte deste assentamento, as famílias acordaram e se comprometeram a praticar agricultura ecológica. Nos últimos sete anos começaram a surgir nos assentamentos inúmeras iniciativas de construção de um novo mo- delo de agricultura, baseada na diversidade, adubação orgânica, rotação de culturas, adubação verde, etc; e Sepé-Tiarajú destaca-se neste sentido por ser o primeiro Assentamento do estado de São Paulo a pertencer à essa categoria PDS estabelecida pelo INCRA. Atualmente, as 50 famílias as- sentadas plantam de forma coletiva e orgânica culturas como mandioca, milho, arroz, abóbora e quiabo. Em 2003 essas famílias produziram 10 toneladas de alimentos, para consumo próprio e comercialização do ex- cedente.

No Sepé-Tiarajú foram desenvolvidos dois projetos: “A transi- ção agroecológica e a produção de alimentos em Assentamento de Refor- ma Agrária” e “Assistência técnica em irrigação para o Assentamento Sepé-Tiarajú” (ver Quadro 1).

O pré-assentamento Milton Santos

O Acampamento “Milton Santos” surgiu do esforço de um tra- balho de “educação política” realizado na região metropolitana de Campinas e na periferia da cidade de Limeira, durante o segundo semestre de 2005 empreendido pelos militantes do MST regional. Como conseqüência des- se trabalho, na madrugada do dia 12 de novembro de 2005 cerca de 100 famílias, além de estudantes e sindicalistas, entre outros apoiadores, ocupa- ram a fazenda da antiga granja Malavazi, em Limeira. O acampamento logo acolheu mais pessoas, de forma que o número de famílias chegou a mais de 300 no fi nal do mês de novembro e início de dezembro. Foi decretada a Neste Assentamento foram desenvolvidos três projetos do Re-

sidência Agrária I: “Análise dos sistemas de produção com enfoque agroe- cológico e possibilidades de otimização da comercialização a partir das redes de informação agroecológica e das certifi cações e/ou por audita- gem”, “Planejamento participativo dos sistemas de produção visando a potencialização das pequenas agroindústrias locais” e “Projeto de incuba- ção de uma empresa cooperativa para fabricação de um multi-implemen- to de tração animal para Agricultura Familiar”, conforme pode ser visua- lizado no Quadro 1.

QUADRO 1: Participantes do Residência Agrária I em São Paulo e seus respectivos projetos, orientadores e área de atuação

Aluno (a) Assentamento/município

Leandro Inakake de Souza (Zootecnista - CCA/SP)

Natália Almeida Buchwitz (Enga Alimentos/ UNICAMP - CCA-SP)

Claúdia Assad Mello (Enga Agrícola - FEAGRI)

Potiguara Lima (Biólogo/UNICAMP CCA/SP)

Antoniane Roque (Engo Agrícola - FEAGRI)

Wilon Mazalla Neto (Engo. Alimentos - FEA/UNICAMP)

Jussara Fernanda Santos (Enga Florestal - CCA/SP)

Orientador (a) Título do sub-projeto

“Análise dos sistemas de produção com enfoque agroecológico e possibili- dades de otimização da comercialização a partir das redes de informação agroecológica e das certifi cações e/ou por auditagem” “Planejamento participati- vo dos sistemas de produção visando a potencialização das pequenas agroindústrias locais” “Projeto de incubação de uma empresa coope- rativa para fabricação de um multi-implemento de tração animal para Agricultura Familiar” “História e memória – diferentes expressões de liberdade” “Assistência técnica em irrigação para o Assenta- mento Sepé-Tiarajú” “A transição agroecológi- ca e a produção de alimentos em assenta- mento de Reforma Agrária”

Modalidade de assenta- mento “Projeto de Desen- volvimento Sustentável” no contexto regional do Vale do Ribeira – SP

Sonia M. P. P. Bergamasco (FEAGRI)

Julieta T. Aier de Oliveira (FEAGRI)

Antonio José da S. Maciel (FEAGRI)

Kellen Maria Junqueira (FEAGRI)

Roberto Testezlaf (FEAGRI)

Celso Costa Lopes (FEA)

Sonia M. P. P. Bergamasco (FEAGRI)

Pirituba/ Itapeva e Itaberá

Pirituba/ Itapeva e Itaberá

Pirituba/ Itapeva e Itaberá

Milton Santos/ Americana

Milton Santos/ Americana

Sepé-Tiarajú/ Serra Azul

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 3 Matrizes Locais

Data de 2004 o início da atuação do MST nessa região do Vale do Ribeira. Nesse ano, cerca de cem famílias ocuparam a Fazenda Vitória, lo- calizada em Apiaí, entre as duas unidades de conservação do Alto Ribeira citadas anteriormente. Dois anos após a ocupação, em 27 de julho de 2006, o INCRA ofi cializa a criação do Assentamento “Prof. Luiz de David Ma- cedo”, na modalidade de Projeto de Desenvolvimento Sustentável - PDS. O trabalho de Residência desenvolvido neste Assentamento foi denominado de “Modalidade de Assentamento ‘Projeto de Desenvolvi- mento Sustentável’ no contexto regional do Vale do Ribeira – SP“ (deta- lhes no Quadro 1).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de recursos e de tempo impediu uma troca maior de experiências no Tempo Comunidade e um melhor desenvolvimento dos projetos e das relações entre os participantes. Tendo em vista os proble- mas com os recursos, os prazos de realização do Curso deveriam ter sido fl exibilizados. A exigência do cumprimento das datas previstas difi cultou a realização a contento de alguns trabalhos, o que desanimou bastante alguns alunos e boa parte da equipe.

Ainda assim, os objetivos de inserção dos estudantes egressos em atividades e estudos sobre assentamentos certamente foram cumpridos, prin- cipalmente no que se refere a um maior embasamento para o desenvolvimen- to de seus trabalhos tanto nas questões políticas quanto nas tecnológicas.

É preciso salientar, ainda, que se registrou uma preponderância do conhecimento científi co, seja o das humanidades seja o das tecnológi- cas, nos trabalhos fi nais de conclusão de curso. No discurso da maioria dos participantes há um reconhecimento dos saberes locais, mas na prá- tica, para cada um dos estudantes, e dos orientadores, o conhecimento é algo objetivo, que muitas vezes está pronto para ser aplicado. Perspectiva que é muito difícil de ser modifi cada, implica mudanças profundas, sub- jetivas e o tempo de realização de um Curso de Especialização não é su- fi ciente para que este tipo de mudança aconteça plenamente. No entanto, este momento, o do Curso, foi importante para que se falasse sobre o assunto e se preocupasse com isto. Os projetos realizados ofereceram esta possibilidade e apontaram muitos avanços no que se refere a uma nova forma de se pensar e de se fazer ATER/ATES, a notar pelo enfoque de alguns dos trabalhos desenvolvidos na Universidade (ver Quadro 1).

Ressalta-se ainda a disposição solidária, co-responsável e até afetiva demonstrada pela equipe na realização dos trabalhos e das ativida- reintegração de posse da granja e, antes que fosse cumprida, as famílias saí-

ram e se encaminharam para a área da Fazenda Santa Júlia, onde o acampa- mento recebeu a sua segunda ordem de despejo. As famílias deslocaram-se, então, para a área na qual viria a ser o pré-assentamento Milton Santos. Essa área abrange terras dos municípios de Americana e Cosmópolis e já havia sido desapropriada em dezembro de 2005 (devido a uma luta travada ante- riormente). Foi um espaço importante para o estabelecimento das famílias sem risco de despejos, entretanto, com o ingresso na área, uma série de desafi os surgiu. O primeiro deles foi em relação ao tamanho do local: os 103,4 ha, que incluem cerca de 34 ha de preservação permanente e reserva legal, não são sufi cientes para assentar as 100 famílias.

A “Pré-Proposta de Assentamento PDS - Projeto de Desenvol- vimento Sustentável -Comuna da Terra Milton Santos” apresentada pelo INCRA contemplaria as 100 famílias, que trabalhariam coletivamente no cultivo de hortifrutigranjeiros. Os assentados, entretanto, não aceitaram essa proposta. A principal alegação era que a área útil de cultivo por família seria de 0,6 ha. Uma área desse tamanho é bastante inferior ao módulo de 2 a 5 hectares, considerado adequado para unidades agrícolas próximas aos gran-

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