Maria da Conceição C.B. da Bôa Viagem72
Ana Cláudia Ramos de Araújo73
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi realizado no Assentamento Nova Canaã, tam- bém conhecido como Penedinho, localizado no município de Tracunha- ém, Zona da Mata Norte pernambucana, sendo seu principal acesso pela BR 408, Recife/Carpina, com entrada pela rodovia estadual que liga Car- pina a Araçoiaba, no período de janeiro de 2005 a julho de 2007. Nele estão assentadas 38 famílias, com população de aproximadamente 141 pessoas, na faixa de 0 a 70 anos de idade. A moradia é em sistema de agrovila e cada assentado tem uma parcela com área de aproximadamente 10 hectares. O processo foi acompanhado pela Comissão Pastoral da Terra - CPT, e as famílias são formadas por agricultores e agricultoras familiares.
A observação do uso indiscriminado de produtos tóxicos no controle de carrapatos no Assentamento Nova Canaã, quando do Estágio de Vivência do Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Cam- ponesa e Educação do Campo, motivou a escolha do tema para estudo:
72. Professora Doutora do Departamento de Educação da UFRPE.
73. Especialista em Agricultura Familiar e Camponesa e Educação do Campo - UFPB. Mestranda em Extensão Rural para o Desenvolvimento Local - UFRPE.
posso dizer que foi uma experiência muito boa e me fez confi rmar através da pesquisa o que já tinha como hipótese: que a música é um instrumen- to pedagógico muito efi ciente para a Educação do Campo e, também, que com esta formação me sinto muito mais preparado e convencido de que estamos no caminho certo e que um mundo mais justo e mais sustentável é possível.
Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 4 Relato de Experiências
OBJETIVO GERAL
A partir das observações nos estágios de vivência, o presente trabalho propõe-se analisar, no Assentamento Nova Canaã, as relações dos assentados e assentadas no processo de utilização de fi toterapia (Nim) em animais da espécie bovina.
Objetivos Específi cos
Incentivar o protagonismo do agricultor e da agricultora fa- miliar na construção de sua autonomia, contribuindo para o processo de mudança no campo;
Identifi car as principais plantas utilizadas como tratamento alternativo nos animais, a partir das interações estabelecidas entre as pes- soas da comunidade;
Identifi car o conhecimento de agricultores e agricultoras quanto à utilização do extrato do Nim no tratamento de animais, como alternativa de sustentabilidade.
DESENVOLVIMENTO
A utilização da planta Azadirachta indica – Nim, no controle dos carrapatos estimula a produção de medicamentos de origem vegetal, evi- ta custos na aquisição de medicamentos de origem químico-industrial e promove o acesso ao conhecimento sobre danos ao ecossistema provoca- dos por alguns agentes tóxicos sintéticos. Nesta perspectiva, a experiência vivenciada no assentamento exigiu o desenvolvimento de práticas coeren- tes com concepções de caráter sócio-educativo, sendo questões de funda- mental importância para o entendimento das relações éticas entre os seres humanos e a natureza: Agricultura Familiar, desenvolvimento local, sus- tentabilidade, agroecologia, meio ambiente, educação do campo e Refor- ma Agrária.
No que se refere a uma formação cidadã, expressa pelo conhe- cimento dos direitos e deveres e pelo exercício da cidadania, há muito a caminhar, sendo necessária a consciência de que “o homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber” (FREIRE, 1983).
A partir dessa concepção de educação do campo, a agroecologia agrega elementos na perspectiva de sustentabilidade, num país de grande biodiversidade.
Práticas Agroecológicas voltadas para a utilização da planta Azadirachta indica – Nim – no combate àqueles insetos.
Através da cooperação de movimentos sociais como o Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamen- tais Alternativas - CAATINGA, a Casa da Mulher do Nordeste, o Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá - Centro Sabiá, a Diaconia, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, a Comissão Pastoral da Terra - CPT e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco - FETAPE, onde cada Instituição tem a sua formação e característica, foi realizado o Estágio de Vivência, nas sedes das referidas Instituições e em casa de agricultores e agricultoras familiares, com o objetivo de elaborar um diagnóstico da região e, neste sentido, realizar observações para identifi car, relatar e compreender a economia e a organização da Agricultura Familiar.
Este diagnóstico abrangeu a região, envolvendo as questões políticas, religiosas e de gênero; estratégias de sobrevivência da fauna, da fl ora, e no que diz respeito à forma de vivência e convivência das pessoas e ao seu modo de vida.
O primeiro momento do Estágio de Vivência no campo ocor- reu entre os meses de maio e setembro de 2005 e foi realizado no Muni- cípio de Ouricurí/PE, na comunidade de Agrovila Nova Esperança, no sítio da Fazenda Urtiga, distante 22 km da cidade, tendo como residência a casa de dois agricultores familiares que tiravam o seu sustento do que produziam na sua propriedade.
Neste primeiro momento, a contribuição para a formação pro- fi ssional e pessoal foi de muita relevância no que diz respeito à convivên- cia com a realidade de agricultores e agricultoras familiares de região do sertão do estado de Pernambuco.
No meio acadêmico, uma das contradições mais visíveis é a pouca atenção aos estudos sobre a realidade social do meio rural. Neste sentido, tivemos a oportunidade de trocar experiências tanto junto aos agricultores, quanto no processo de acompanhamento das atividades da ONG CAATINGA - instituição que desenvolve projetos e acompanha agricultores e agricultoras na região do Araripe. Estes processos de vivên- cia contribuíram para qualifi car o segundo momento de estágio.
Este segundo momento do estágio foi realizado no Município de Tracunhaém e acompanhado pela CPT, sendo a família também de agricul- tores e agricultoras familiares e que será descrita mais adiante. Aí se consoli- dou a fundamentação teórica para a leitura crítica das experiências descritas neste trabalho e resultou na monografi a como trabalho fi nal deste curso.
maneira agroecológica. As vantagens também envolvem outros aspectos, da segurança dos operadores até a proteção ambiental, da possibilidade de obtenção de maiores lucros à permanência do homem no campo.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a pesquisa participante, tendo em vista que o processo se desenvolveu a partir das interações entre o pesqui- sador e os sujeitos da pesquisa, constituindo-se uma teia de relações em torno do objeto de investigação.
Os procedimentos adotados foram: diário de campo, Estágio de Vivência, participação em reuniões e pesquisa de interesse. O diário de campo foi usado para registro da memória de convivência com os sujeitos da pesquisa. O Estágio de Vivência teve o objetivo de elaborar um diag- nóstico da região e, neste sentido, realizar observações para identifi car, relatar e compreender a economia e a organização da Agricultura Familiar. Este diagnóstico abrangeu a região, envolvendo as questões políticas, re- ligiosas e de gênero; estratégias de sobrevivência da fauna, da fl ora, enfi m, tudo o que diz respeito à forma de vivência e convivência das pessoas, ao seu modo de vida. O acompanhamento das reuniões teve o objetivo de observar as discussões das problemáticas da comunidade e as possíveis formas de minimizar ou solucionar as mesmas. A pesquisa de interesse foi uma das principais etapas deste processo, pois torna-se necessário que os agricultores e agricultoras queiram participar das atividades, o que re- quer, muitas vezes, mudança de paradigma e de cultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS / RESULTADOS
O desenvolvimento do trabalho criou oportunidades para uma maior aproximação entre os agricultores na realização das atividades, pro- movendo o protagonismo do agricultor e da agricultora familiar, na cons- trução de sua autonomia, e dessa forma, contribuindo para o processo de mudança no campo.
A experiência vivenciada caracteriza-se como uma contribuição ao processo de construção de um paradigma para o desenvolvimento sustentável agroecológico, entendido enquanto uma forma de busca do bem-estar das pessoas, com foco no relacionamento dos seres humanos entre si e com a natureza, a partir da compreensão e da complexidade do mundo contemporâneo. Assim, tomamos como referência os conceitos de agroecologia, educação do campo, sustentabilidade e Agricultura Fa- Consciente do perigo do uso indiscriminado de produtos quí-
micos, com drogas que liberam resíduos tóxicos no animal e no meio ambiente, além de elevarem à índices irrecuperáveis o custo de produção (ALBUQUERQUE, 1989), e da necessidade de reduzir e substituir esses produtos por carrapaticidas de origem orgânica, o criador faz uso da fi toterapia animal, ou seja, dos recursos naturais, visando à conservação e manutenção do solo, bem como da própria sobrevivência do homem (CRUZ, 2000).
O carrapato da espécie Boophilus Microplus é, com certeza, o principal parasito externo dos bovinos. Infestados, os animais podem adoecer, chegando até a morrer, acarretando prejuízo aos seus criadores visto que esses animais constituem fonte de alimentação da família e de renda com a produção de leite para consumo in natura, e de queijo, man- teiga e coalhada. Os agricultores também são vítimas dos venenos aplica- dos nos animais, apresentando sintomas de intoxicação: indisposição, fraqueza e mal-estar, dor de cabeça, tontura, vertigem e alterações visuais, náuseas, vômitos e cólicas abdominais.
Árvore da família Meliaceae, seu nome científi co é Azadirachta in- dica A. Juss, que signifi ca “árvore generosa da Índia” o Nim é também co- nhecido como Neem na Austrália e nos Estados Unidos, e como Babo Yaro na Nigéria. É também usado na medicina humana e animal, na fabricação de cosméticos, no refl orestamento, como madeira de lei e adubo, assim como no paisagismo. No que diz respeito a insetos e pragas de grãos arma- zenados, o Nim: (a) repele insetos, sendo anti-alimentícia (repelente); (b) interrompe o crescimento dos insetos por provocar distúrbio na ecdise (troca de pele dos insetos); (c) provoca distúrbios fatais nos insetos adultos se, quando jovens, tenham se alimentado de plantas tratadas com ela; (d) diminui a postura de ovos e mata os ovos dos insetos; (e) reduz a população de nematóides fi tófagos (nematicida); (f) controla alguns fungos (fungicida) e (g) inibe o crescimento de algumas espécies de bactérias (bactericida).
A prática fi toterápica não signifi ca apenas cura das doenças ou minimização dos danos causados, mas também o resgate de uma prática que vem cada vez mais se perdendo com o crescimento do uso de drogas que proporcionam tratamentos rápidos e efi cazes, relegando os saberes e o conhecimento popular a segundo plano, quase esquecidos e, muitas vezes, até desconhecidos pelas pessoas do campo.
As vantagens apresentadas no tratamento com plantas medici- nais são inegáveis. A excelente relação custo/benefício (ação biológica efi caz com baixa toxicidade e efeitos colaterais) deve ser considerada, uma vez que a natureza oferece gratuitamente a cura para as doenças, o que promove a sustentabilidade dos agricultores e agricultoras familiares de
Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária