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EDUCAÇÃO, TRABALHO, CULTURA E

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 93-95)

temas de pesquisa no “Curso de Especialização Residência Agrária”

EDUCAÇÃO, TRABALHO, CULTURA E

DESENVOLVIMENTO HUMANO: Educação dos Povos do Campo e Movimento Social

Nesta linha, os temas das pesquisas foram: “Formação de grupo de identifi cadores populares de espécies fl orestais no Assentamento São Miguel em Várzea Grande – MT”; “Educando com Arte: a música e o te- atro como instrumentos pedagógicos”; “Estação de Rádio Comunitária: Ferramenta de agregação, educação e envolvimento social em Assentamen- to de Reforma Agrária”; “Sensibilização dos assentados através da educação ambiental, sobre a importância de se conservar e preservar os recursos na- turais” e “Educação ambiental infantil: estratégias para valorizar os recursos naturais no Assentamento São Miguel – Várzea Grande –MT”.

Grande parte dos assentados da Reforma Agrária é formada por pessoas de fora de Mato Grosso ou por pessoas que não conhecem a po- tencialidade fl orestal da região, especialmente quanto à identifi cação das espécies vegetais existentes nos lotes e reservas. Entre o impulso de “des- bravar-dominar a terra” a partir do “corte raso” e a idéia de conservar, emerge freqüentemente a idéia de só “deixar” as plantas úteis. O problema é que as plantas nativas nem sempre são conhecidas e a maioria acaba abatida. Além da provável falta de madeira ou lenha num futuro próximo, a ausência de árvores implica na menor infi ltração de água no solo e con- seqüente seca das nascentes, além da falta de animais predadores de pragas da agropecuária. Será que se nos assentamentos houvesse grupos de pes- soas interessados em cultivar o hábito de identifi car, de reconhecer o uso e de preservar as espécies, haveria menor impactos ambiental pela ocupa- ção antrópica? Quem seriam os melhores parceiros identifi cadores popu- lares de espécies fl orestais?

É sabido que um processo de ensino-aprendizagem prazeroso, atrativo e divertido tem um imenso poder de agregar, mobilizar e trans- formar pessoas. O lúdico, o artístico e o dionísico têm, de certo modo, sido aproveitados por movimentos religiosos, sociais e por escolas do ensino fundamental para seus processos educativos. Entretanto, com a juventude, o poder da arte tem sido sub-utilizado. Qual seria, nos assen- tamentos de Reforma Agrária, o poder da música e da poesia na sensibi- lização e mobilização popular, voltadas para a Agroecologia e a educação ambiental? Qual o potencial artístico das comunidades? Quais os talen- tos? Como utilizá-lo na sensibilização para a educação ambiental e a agroecologia?

tes” junto a grupos de comunidades tradicionais e de comunidades de assentados da Reforma Agrária. Está sendo construído um projeto que articule uma rede de “Casas de Sementes”.

No projeto “Organização da Produção” foram elaboradas tabelas virtuais e impressas, com dados sobre espécies e cultivares, de forma a per- mitir cálculos e inferências para a programação da produção, num esquema de sucessão solidária de safras. Foram ministrados treinamentos dos usuá- rios (ofi cinas), de forma a tornar as tabelas de fácil manejo e de uso corri- queiro nos assentamentos, principalmente nos grupos e associações, como a Associação Regional de Produtores Agroecológicos - ARPA, o MST, o Movimento de Pequenos Agricultores - MPA, o Movimento dos Atingidos por Barragem - MAB, a Comissão Pastoral da Terra - CPT e outros.

Do projeto “Assentamento Vivo” saiu uma articulação tipo “cesta direta” que está levando produtos agroecológicos para grupos de consumidores urbanos.

Do projeto “Biojóias” os jovens do campo já estão se articulan- do para coletar (sustentavelmente) e vender sementes de espécies nativas para artesãos da cidade.

Considerações

Em projetos como o de “Organização da Produção”, os maiores desafi os podem estar no envolvimento dos agricultores e no resgate-re- gistro de seus conhecimentos, pois sabe-se que a lógica dos camponeses pode fugir dos padrões que regem a academia. Assim, o esforço metodo- lógico tende a ser mais limitante que as atividades de informática, por exemplo. Além disso, este tipo de projeto envolve conhecimentos de clima, solo, fi totecnia, fenologia, mercadologia, bem como de comunica- ção, extensão rural e informática.

Projetos do tipo “Casas de Sementes” têm como pontos desa- fi adores as características humanas como mercantilismo, individualismo, egoísmo, mercenarismo e imediatismo, visto que o projeto trabalha na lógica de que “material genético é patrimônio da humanidade”, sendo que nem todos os assentados concordam com esta premissa. Os aspectos técnicos, operacionais e de logísticos têm tudo para ser facilmente supe- rados pelas comunidades e grupos. Exige ainda a integração de conheci- mentos nas áreas de genética, de fi siologia e engenharia de armazenamen- to, comunicação rural e de extensão rural.

A criação de opções de renda (Biojóias e produtos agroecológicos) para assentamentos tão pobres como os estudados, são chances de fi car no campo.

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 3 Matrizes Locais

para os locutores e diretores dos grupos locais de gestores. Foram propos- tos levantamentos “pós-antes”, em torno de temas selecionados e veicu- lados pela rádio, de forma a aferir sua penetração, apreensão e adoção pela população ouvinte, bem como para orientar as programações, os conteú- dos e formatos. Redes de mantenedores estão sendo articuladas.

Resultados

Foram realizados treinamentos de capacitação de jovens na área da botânica fl orestal. Foi confi gurado um processo de criação e imple- mentação de Grupo de Identifi cadores Populares. Foi implantado grupo de jovens dedicados à identifi cação de espécies fl orestais, no Assentamen- to. Percebe-se um maior nível de consciência e de motivação para a pro- teção da natureza e de uso mais sustentável dos recursos.

Foram feitos levantamentos de identifi cação dos talentos dos jovens das comunidades envolvidas. Foram desenvolvidas formas de sensibilização e de mobilização dos interessados em arte, para a produção conjunta de peças artísticas (música, poesia) de fundo educativo. Foram feitas ofi cinas, cursos e festivais para desenvolver os talentos artísticos de forma divertida, associando a arte com as questões ambientais e as técnicas de produção ecologicamente corretas. Foram defl agrados processos de recuperação e proteção aos recursos naturais locais, bem como de produ- ção agroecológica, inclusive envolvendo a Companhia Nacional de Abas- tecimeto - CONAB na compra de produtos agroecológicos para a Me- renda Escolar, Programa Fome Zero e outros, envolvendo prefeituras da região e atingindo consumidores.

Foi desenvolvido esquema de mobilização e preparação popular para formação de grupos de gestores da estação de rádio comunitária. Foram avaliados os impactos iniciais das ações locais implementadas a partir da rádio. Foi ampliado o número de programas, o tempo da rádio no ar semanalmente, a duração dos programas gerados no local. A comu- nidade tem fi cado mais tempo sintonizada na rádio comunitária. Novos conhecimentos estão sendo veiculados junto à população e o saber local está sendo melhor difundido. Foram fortalecidos os grupos sociais locais e a auto-estima da comunidade está melhorando.

Considerações

Os maiores desafi os destes projetos residiram na habilidade e capacidade de sensibilização e de mobilização dos pesquisadores. Os pro- Mato Grosso é um estado muito grande, com baixa densidade

demográfi ca e mal servido pelos meios de comunicação de massa. Nas áreas de Assentamento, geralmente enormes, em relação às outras unida- des da federação, o problema da comunicação é agravado pela falta de energia elétrica. As emissoras de rádio priorizam temas e abordagens ur- banas, onde os valores urbanos são exaltados, onde a cultura urbana é hegemônica. Quais seriam as conseqüências da implantação de uma rádio comunitária em Assentamento? E se esta rádio fosse realmente conduzi- da pela população, de forma democrática e cidadã, no sentido de se pres- tigiar a cultura camponesa, o saber local e os talentos locais?

Metodologias

No projeto “Grupo de Identifi cadores Populares” foram mon- tadas estratégias de sensibilização, mobilização e animação de grupos de jovens, que foram capacitados a identifi car espécies vegetais, especialmen- te fl orestais e defi nir o seu uso potencial. Foram utilizadas visitas dirigidas a projetos e escolas, realizadas expedições de reconhecimento a campo, no sentido de desenvolver habilidades e de potencializar a capacidade mne- mônica e visual dos participantes, jovens e velhos e serão feitas ofi cinas de manejo de banco de dados (virtuais e impressos).

No projeto “Arte-Educação - Estratégia de Educação Ambiental” foram criadas poesias musicadas na forma de “rap” e “moda de viola”, que foram apresentadas artisticamente em eventos e feitos levantamentos de re- ceptividade e sobre os efeitos no “clima” geral dos encontros. Foram feitos diagnósticos dos potenciais artísticos de jovens de áreas de Assentamento, de forma a congregá-los em projetos de construção de ofi cinas, eventos e festi- vais locais, visando promover a identifi cação de talentos e a expansão de seus potenciais, tendo como base a educação ambiental produtiva, ou seja, a pro- dução agrícola com conservação da natureza, na linha agroecológica, confor- me demandas concretas previamente identifi cadas nas comunidades.

No projeto de “Rádio Comunitária”, foram feitos levantamen- tos sociométricos, no sentido de identifi car os grupos naturais existentes nas áreas de Assentamento estudadas. A partir daí, realizou-se mobiliza- ções comunitárias para formar grupos de gestores de programação de rádio comunitária. A emissora local já existente, era conduzida por um pequeno grupo de abnegados. Foram realizadas ofi cinas de programas radiofônicos, capacitando os grupos para atuar nos tipos de programa por eles desejados e delineados. Foram feitas campanhas para criar discotecas e bibliotecas temáticas, visando oferecer suporte musical e de informações

a nossa cultura, por trazer embutida na sua lógica a supervalorização de comportamentos tais como a competição a todo custo, a ambição pelo enriquecimento material como objetivo maior, a falta de empatia, de so- lidariedade e de sensibilidade para com o outro, o diferente, etc. As expe- riências frustradas de cooperativismo são tão marcantes no Brasil, que são raras as ocasiões ou os locais onde se pode conversar sobre o tema, sem preconceitos, paixões e repúdios.

Grande parte das difi culdades das populações do campo, prin- cipalmente nas áreas de Reforma Agrária, contingente muitas vezes es- quecido nas políticas públicas, se deve ao despreparo ou mesmo desco- nhecimento dos planejadores e assessores, quanto à avaliação prévia dos educandos em relação às suas características comportamentais. As chances de participar de ações conjuntas fi cam comprometidas pela falta de auto- conhecimento, especialmente em relação aos potenciais associativistas.

Enfi m, faltam instrumentos de suporte à decisão, que ajudem aos técnicos apoiadores na identifi cação prévia de potenciais-limitações ao associativismo nas áreas de Reforma Agrária, de forma a se obter melhores níveis de aproveitamento de ações grupais e comunitárias.

Metodologias

No projeto “Perfi l Associativo” foi adaptada uma metodologia (a partir do Método Habilis, idealizado por NOLASCO, 2005), que per- mite identifi car o potencial associativo de pessoas-famílias-comunidades, a partir da avaliação das características comportamentais individuais, que são mais importantes para o desempenho em ações grupais, atividades co-gestionadas, empreendimentos solidários, organizações comunitárias, processos associativos e demais sistemas que requerem altos níveis de interação pessoal, de confi ança mútua, de credibilidade recíproca e de disponibilidade para o altruísmo-empatia-alteridade-diálogo-consenso. Foi montado um questionário e um glossário, onde estão explicitadas as características pessoais desejáveis e indesejáveis (“os vícios ocorrem por excesso e por falta, pois a virtude está no meio”, conforme propôs Aristó- teles), para os processos associativos-cooperativos-solidários. Por meio de entrevista com famílias, foram obtidas notas pela valoração relativa das características, das mais até as menos importantes, o que permite identi- fi car as “limitações” ao entrosamento, à convivência e à união nas comu- nidades. Os resultados serviram para orientar as próprias famílias e as organizações sociais locais sobre os aspectos mais problemáticos dos com- portamentos pessoais na comunidade, que necessitam ser alertados-des- jetos exigiram dos mesmos, altos esforços de criatividade e de paciência

para deixar os grupos amadurecerem nos ritmos próprios.

A questão de lidar com jovens pode trazer algumas difi culdades, por causa de preconceitos e “fofocas” que podem surgir no âmbito de comunidades, geralmente um pouco isoladas, com poucas chances de integração social, apesar do conhecido entusiasmo dos jovens em se de- dicar às questões mais lúdicas e prazeirosas.

Projetos como o de dendrologistas práticos (identifi cadores populares de espécies fl orestais) podem apresentar, ainda, riscos de aci- dentes durante as incursões nas matas, pastos e lavouras.

Projetos como o de arte-educação podem enfrentar as limita- ções naturais de se lidar com adolescentes, principalmente no campo da arte, visto a cultura camponesa estar sendo menosprezada em favor dos valores e da cultura urbana.

Projetos como o de dinamização da rádio comunitária, apesar de representar uma oportunidade para o desenvolvimento pessoal de muitos, podem provocar reações das emissoras circundantes. A emissora corre, ainda, o risco de sofrer ações judiciais, visto as difi culdades históri- cas das iniciativas populares em sua regularização junto ao Departamento Nacional de Telecomunicações - DENTEL.

LINHA DE PESQUISA 05

PERFIL ASSOCIATIVO DE ASSENTADOS DA REFORMA

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 93-95)

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