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PRODUÇÃO FAMILIAR CAMPONESA E AGROECOLOGIA

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 91-93)

temas de pesquisa no “Curso de Especialização Residência Agrária”

PRODUÇÃO FAMILIAR CAMPONESA E AGROECOLOGIA

Nesta linha, os temas das pesquisas foram: “Tabelas de Organiza- ção da Produção: Estratégias de Planejamento do Abastecimento”; “Redes de resgates e troca de sementes tradicionais em Assentamentos: estratégias coletivas de conservação de variedades locais”; “Assentamento vivo, cresci- mento compartilhado grupo de incentivo à agroecologia” e “A importância das Sementes para Fabricação de Biojóias em Assentamentos Rurais”.

A autonomia e a auto-sustentabilidade das unidades de produ- ção, representam pilares da agricultura camponesa. É sabido que a semen- te pode se tornar um “Cavalo de Tróia” para o campo, crescentemente subalternizado pelas cadeias produtivas, dominadas pelo capital urbano, mormente o industrial, comercial e bancário. A cada dia se reduzem os números de fi rmas produtoras de sementes e crescentemente estas estão sendo incorporadas aos grandes grupos controladores de indústrias de Haveria uma matriz paradigmática com valores típicos da cultura campo-

nesa? Se identifi cados, será que eles poderiam servir de referência para expandir a auto-estima, a autonomia e o orgulho de ser camponês?

Metodologias

Foram feitas entrevistas com variados graus de estruturação, em ambientes onde os pesquisadores procuraram criar clima de “ameaça zero”, de forma a animar os interlocutores a se abrirem aos questiona- mentos e dialogarem com franqueza e honestidade sobre os temas perti- nentes a cada projeto.

Foram usados recursos de informática, com aplicativos que permitiram sistematizar os dados e se fazer inferências.

Técnicas de “análise de discurso” foram usadas, no sentido de se compreender melhor e a interpretar coerentemente as informações e opiniões.

Como estes projetos envolveram o imaginário, os sonhos e perspectivas das pessoas, foram utilizadas estratégias tomadas do campo da pedagogia, da psicologia e da Extensão Rural, de forma a se obter maior transparência nas informações e opiniões coletadas, bem como maiores níveis de segurança nas inferências a serem feitas.

Resultados

Melhora paulatina no ajuste de políticas, estratégias e processos decisórios comunitários, no sentido de proporcionar maiores níveis rela- tivos de sustentabilidade-democracia-participação-objetividade no Assen- tamento, a partir da maior transparência a respeito das visões de mundo, dos sonhos, das percepções, bases paradigmáticas e dos papéis sociais dos atores envolvidos nos Assentamentos de Reforma Agrária.

Melhor conservação dos recursos naturais, especialmente as áreas de vegetação nativa e conseqüentemente, da fauna, dos solos e das águas, pela identifi cação dos equívocos, desconhecimentos e pontos de estrangulamento.

Melhoria na convivência social no Assentamento, principal- mente nas questões de gênero, com maior respeito-valorização dos papéis das mulheres.

Melhor identifi cação com valores envolvidos nas histórias de resistência e permanência na terra, por parte da clientela da Reforma Agrá- ria, servindo de subsídio em programas que reforcem a cultura campesina, melhorem a auto-estima do campo e diminua o ritmo do êxodo rural.

Educação do Campo e Formação Profi ssional: a experiência do Programa Residência Agrária Capítulo 3 Matrizes Locais

Quanto - Onde plantar? Existe motivação interna e confi ança na Agro- ecologia?

Os baixos níveis de organização, de preparo e de sensibilidade das comunidades ainda são muito marcantes para resolver de forma soli- dária e endógena as questões sobre materiais de propagação e sobre a produção programada, aumento de renda com recursos locais, como se- mentes. Assim, existe uma carência de métodos acessíveis para enfrentar essa problemática.

Metodologias

No projeto “Redes de Sementes”, foi montado um programa para resgate- identifi cação-melhoramento-multiplicação-armazenamen- to-socialização de espécies e cultivares mais usadas e demandadas na re- gião. Cada grupo, apesar de autônomo, foi estimulado a se integrar a um sistema de “rede” para efi cientizar suas atividades, promover a divisão técnica dos trabalhos, instaurar um programa perene de treinamentos, fomentar parcerias e articular esquemas de renovação de quadros, de forma a promover a sua própria autossustentabilidade.

No projeto de “Organização da Produção”, foram feitos estu- dos e montados bancos de dados, com informações científi cas e empíricas sobre as espécies e cultivares mais adaptadas às condições edafo-climáticas da região, quanto ao ciclo, fenologia, produtividade e outros aspectos re- levantes. Foram montados sistemas de cálculo, consubstanciados em ta- belas virtuais e impressas, de forma a permitir fazer prognósticos sobre: as espécies mais adequadas para plantio em cada época-local-clima; o ta- manho das áreas a serem plantadas (em função da demanda, da adaptabi- lidade e da capacidade produtiva de cada espécie-cultivar de interesse re- gional, das condições de cenário e outras); sobre épocas e locais de plantio mais favoráveis à produtividade e à comercialização.

No ”Assentamento Vivo” foram feitas ofi cinas de práticas agro- ecológicas. No projeto “Biojóias” foram feitos debates e demonstrações motivacionais com artesãos.

Resultados

No projeto “Rede de Sementes” foi confi gurado um sistema de gestão para promoção do resgate e uso solidário de sementes crioulas, que está proporcionando maior segurança, autonomia, soberania e sustenta- bilidade das unidades de produção. Foram montadas “Casas de Semen- fertilizantes químicos, agrotóxicos, medicamentos e outros ramos de in-

teresse complementar, tornando mais desiguais as lutas de interesses. A soberania e a segurança alimentar, assim como a autonomia em relação a fornecedores externos de crédito-insumos-energia-serviços-informações, tem sido freqüente nos sonhos dos camponeses, convencidos da inade- quação do modo de produção e das cadeias produtivas do agronegócio, como modelo viável.

O crescente mercado de biojóias e de produtos agroecológicos tem atraído interesse de consumidores urbanos, artesãos, comerciantes, mas os moradores do campo ainda se encontram desligados ou desmoti- vados para este potencial.

Muitos camponeses sabem que as sementes “melhoradas” têm menor efi ciência de extração de nutrientes do solo, tem menor tolerância a pragas e estresses diversos, tornando-se fortes demandadoras de artifí- cios tecnológicos, nem sempre acessíveis e disponíveis, além de induzir aos níveis crescentes de dependência. Já as sementes nativas ou crioulas, apesar de algumas desvantagens de aparência, apresentam vantagens exa- tamente naqueles itens, além de oferecer maior rusticidade-adaptabilida- de, conferindo-lhes maior atratividade. Essas mudanças tecnológicas in- corporadas no processo produtivo e na conservação e melhoramento, não têm sido enfrentadas pelas ciências acadêmicas para desenvolver práticas mais efi cazes voltadas para as demandas camponesas.

Por outro lado, a questão da descontinuidade ou da falta de regularidade de oferta de produtos alimentares agrícolas tem se consti- tuído num fator de insustentabilidade de muitas comunidades e orga- nizações do campo, principalmente nas áreas de Reforma Agrária. Muito da instabilidade produtiva se origina da diversidade ou inadequa- ção no preparo dos atores sociais envolvidos, diante da heterogeneidade de cenários edafo-climáticos-estruturais. Apesar dos conhecimentos pontuais em algumas culturas, muitos agricultores apresentam limita- ções de conhecimento quanto aos ciclos e cronologia dos eventos feno- lógicos da maioria das espécies cultivadas e potencialmente cultivadas na região. São limitados os conhecimentos sobre as capacidades de adaptação e produtividades de várias espécies e cultivares, apesar da agronomia, com apoio da informática, ter condições de oferecer supor- te para os processos decisórios ligados à sucessão de safras. A rigor, falta sistematização dos conhecimentos locais. Porém, o etnoconhecimento aliado ao saber científi co, permite que se criem instrumentos práticos (tabelas de manejo acessíveis) que viabilizem respostas, de forma menos improvisada e mais objetiva, às seguintes questões: O que - Quando -

LINHA DE PESQUISA 04

No documento EDUC A ÇÃO DO CAM PO E F (páginas 91-93)

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