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Objetivos Específicos

60 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

capital, por outro lado, pode levar à irreversibilidade de alguns recursos, como são os recursos não renováveis (capital natural) para além de permitir que os impactes ambientais ponham em causa as gerações futuras. Neste sentido, as regras da sustentabilidade forte implicam que “se olhe para todo o stock de capital e se tenha especial atenção para o ambiente” (...). Nesta perspetiva “mais globalizada, não deve ser permitido o declínio de todo o stock de capital natural (Pearce, 1993: 17).

c) Acresce uma outra perspetiva que advém da noção de que o debate entre sustentabilidade forte e fraca desvirtua o próprio conceito, visto que, segundo Hopwood et al. (2005: 40), esta discussão faz-se “em torno de questões ambientais em vez de levar em conta as consequências socioeconómicas”. Nesta perspetiva, existem dois grupos distintos que marcam diferentes correntes de pensamento baseado nas consequências desses impactos na sociedade e na economia. Os reformistas, grupo que abrange um conjunto de pessoas, alguns no governo e órgãos públicos, mas amplamente dominado por académicos que acreditam “na necessidade de se introduzirem reformas, criticando as políticas atuais da maioria das empresas e governos e as tendências da própria sociedade, mas não admitem o colapso nos sistemas ecológicos ou sociais (...) não identificando a raiz do problema na natureza da sociedade atual (I) mas sim “no desequilíbrio e falta de conhecimento e informação, permanecendo confiantes de que as coisas (...) em algum momento, “podem e vão mudar para enfrentar esses desafios” (idem, 43). Os vanguardistas argumentam que uma transformação da sociedade e / ou relações humanas com o meio ambiente é necessária para evitar uma crise e acreditam no colapso do sistema. Segundo este grupo, “a reforma não é suficiente já que muitos dos problemas são encarados como estando localizados no interior das estruturas económicas e no seio da sociedade, sendo que (...) [o grupo dos reformistas] parece não estar preocupado com a sustentabilidade do bem-estar humano ou ambiental” (idem, 45).

Por sua vez, esta discussão entre reformistas e vanguardistas encaminha-nos para a expressão de governança e, segundo Santos (1997: 340-341), “para a ideia que governança é um requisito fundamental para um desenvolvimento sustentado, que incorpora ao crescimento económico equidade social e também direitos humanos”. Neste propósito, releva-se a importância desta visão de modelo de governação que deve procurar não se restringir apenas à dimensão estatal do exercício do poder (governabilidade), mas ter um caráter mais amplo do que as dimensões presentes na governabilidade, integrando “padrões de articulação e cooperação entre atores sociais e políticos e arranjos institucionais que coordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras do sistema económico” (...), incluindo-se neste campo, “não apenas os mecanismos tradicionais de agregação e articulação de interesses, tais como os partidos políticos e grupos de pressão, como também redes sociais informais (de fornecedores, famílias, gerentes), hierarquias e associações de diversos tipos” (Santos, 1997: 342). Deste modo, a governança apela à “construção de consensos que tornem possível formular políticas que permitam responder

equilibradamente ao que a sociedade espera do governo (Tomassini, 2001: 45), sendo este conceito mais um contributo para a sustentabilidade, visto que promove o modelo baseado na reciprocidade conjunta entre Estado e sociedade civil que configura o ato de governar com a exigência da inclusão dos cidadãos no mesmo (participação pública). Porém, como refere Finkelstein (1991: 369), a governança global deve-se centrar nas “ações práticas e não nos acordos tácitos” que a procura desses consensos exige.

Todavia, como reconhecem Denardin e Sulzbach (2002), a sustentabilidade fraca e a sustentabilidade forte são dois marcos importantes na história da humanidade. A sustentabilidade fraca, como escola de pensamento ligada à Economia Tradicional, e a sustentabilidade forte, identificada com a escola da Economia Ecológica, foram escolas de pensamento que preconizaram a tentativa da “economia ecológica refinar e implementar a ampla visão do SD avançada por Brundtland (...) através da criação de uma ponte entre economia e ecologia” (Sneddon et al., 2006: 261). Acresce Sneddon et al. (idem, ibidem), que defende que o próprio termo de substituabilidade, apesar de estar envolto em controvérsia, revelou a sua utilidade por ter acrescentado novas formas de interpretar a sustentabilidade, “atribuindo uma valoração aos serviços dos ecossistemas, alargando a nossa interpretação dos valores ambientais e por ter contribuído para o incremento de trabalho que teve em vista o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade”. Contudo, como alertam os autores supracitados, o papel do poder, da escala local para a global, necessitava de ser consistentemente incorporado na economia ecológica, isto é, a “política ecológica teria de ter como ponto central as relações de poder entre o discurso político e as práticas de múltiplos atores (famílias, ONGs, movimentos cívicos, empresas capitalistas, agências do estado e redes institucionais) ” (idem, ibidem).

Concluindo, a operacionalização do conceito DE DS nunca reuniu consenso entre os diversos autores, pois reflete a forma diferente como estes encaram a operacionalização do mesmo. A pluralidade de leituras que oscilam na definição do conceito veiculada pelo relatório de Brundtland (matéria analisada no capítulo anterior), deu azo a interpretações que, ora se orientaram mais no sentido avançado de desenvolvimento, ora perspetivam um reforço da variável ecológica. Desta forma, o exercício prático de passar o discurso da sustentabilidade para o terreno, apesar de ter “um substrato comum identificado com a ideia de um futuro viável para as relações entre a sociedade e a natureza” (Lima, 2003: 107), resultou nestas diferentes interpretações que analisámos. Neste âmbito, como refere Fidélis (2001a: 31), pode-se agrupar todas as atuais correntes científicas sobre desenvolvimento sustentável sob duas grandes perspetivas, as quais a autora designou de perspetiva substantiva e perspetiva ética. A perspetiva substantiva “questiona os atuais modelos de crescimento económico e desenvolvimento” e a perspetiva ética “centra-se na interpretação do Homem perante o ecossistema Terra”.

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