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170 AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O facto da quase inexistência de uma corrente social de ambiente explica-se pelo contexto político

Objetivos Específicos

170 AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O facto da quase inexistência de uma corrente social de ambiente explica-se pelo contexto político

que Portugal viveu até 25 de Abril de 1974. Como refere Melo e Pimenta, (1993: 147), o regime ditatorial e autoritário, até então vigente, impedia de forma severa qualquer “forma de associativismo abertamente independente ou contestatária”. Segundo Rodrigues (1997: 198), referindo-se ao Estado Novo, afirma que “Nessa altura, tudo o que significasse questionar o centralismo estatal em que o país vivia seria fragilizar o próprio regime, pois serviria à defesa da criação de contrapoderes, à diminuição das zonas de controlo e de influência (social) e à abertura de canais de participação (crítica) da sociedade civil e das comunidades locais organizadas”. Assim, qualquer iniciativa individual ou coletiva que fosse de defesa da natureza ou de outra ordem era imediatamente desautorizada pelo Estado. Acresce que as próprias características do sistema ditatorial de governação, como o que vigorou em Portugal, contribuíam para uma sociedade relativamente fechada, face à difícil circulação de informação imposta pela censura. Na mesma linha, “os problemas ambientais de então eram relativamente reduzidos ou localizados, dada a fraca urbanização e industrialização do país” (idem, ibidem). Tais factos, aliados a um baixo nível sociocultural de grande parte da população, resultavam numa fraca preocupação sobre o ambiente, em discordância com o que já se verificava a nível internacional, com “a crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo” (...) a difundir-se “a partir da Conferência de Estocolmo em 1972, momento no qual a questão ambiental ganha visibilidade pública e se coloca a dimensão do meio ambiente na agenda internacional” (Jacobi, 2005: 236).

Resumindo, e como referem Figueiredo e Fidélis (2003:158), “até 1974, a ação de defesa do ambiente organizada era praticamente inexistente. Frequentemente, esta ausência é explicada pela existência, até aquela data, de um regime político autoritário em Portugal que eliminava efetivamente qualquer tentativa de organização pública e social, assim como se sustentava numa circulação limitada da informação e em múltiplos mecanismos de censura, para não mencionar também os baixos níveis de rendimento e de capital escolar da generalidade da população portuguesa. Por outro lado, (...) até 1974 os problemas ambientais nacionais tinham uma expressão limitada e encontravam-se muito localizados, devido essencialmente à industrialização e urbanização débeis do país”. Acresce que, no campo científico, os trabalhos de investigação sobre ambiente, à época, continuavam a centrar-se nos “aspetos físicos, biológicos e energéticos dele [ambiente] decorrentes, sem que as populações abrangidas tenham sido alvo de preocupação específica por parte de autores” (Mansinho e Schmidt, 1994: 441). No caso português, e como referem Mansinho e Schmidt (1994: 442), o debate sobre “o novo paradigma na sociologia (NEP), ou a critica dos instrumentos tradicionais de apreciação do crescimento e do desenvolvimento económico, e a utilização de modelos de avaliação das externalidades associadas à evolução tecnológica, discutidas noutros países (I) não suscitaram [em Portugal] interesse assinalável ou discussão alargada, mesmo ao nível académico”, não existindo nada de relevante a destacar no que à produção teórica em ciências sociais sobre ambiente diga respeito. Desta forma, o estudo do ambiente continuava, de uma forma geral, a ser cientificamente

analisado recorrendo-se à forma tradicional do trabalho cientifico, tanto em Portugal como no resto do Mundo, visto que mesmo em “países onde, ao nível metodológico e epistemológico, a quebra das barreiras disciplinares convencionais tem sido equacionada” (idem, 441), os avanços são poucos, não existindo a interdisciplinaridade que se exige no estudo da componente ambiental. Desta forma, verificou-se, neste período, o retardar do aparecimento dos temas ambientais nos estudos sociais.

Outro fator com que a sociedade portuguesa se confrontava, à época, era com a “insuficiência dos fundos bibliográficos e recursos informativos, nomeadamente publicações periódicas e bases de dados, que caracteriza a generalidade das bibliotecas” (Rodrigues, 2004: 33). Esta lacuna condicionava o acesso à literatura científica por parte dos cidadãos com repercussões graves, não só para o sistema científico, mas também para o próprio conhecimento em geral. Para agravar ainda mais esta realidade, importa reportar a Rodrigues (2004). Segundo este, verificou-se no universo científico uma tendência de comercialização do sistema de comunicação da ciência que se foi agravando ao longo das últimas décadas do século XX. Tal facto decorre de muitos investigadores terem de entregar os seus artigos e revistas a grupos editoriais de informação de ciência e tecnologia, porque, em muitos casos, as instituições onde trabalham não tinham capacidade financeira para as assinar. O resultado foi um aumento considerável dos preços das revistas científicas que alimentavam as elevadas taxas de lucro obtidas por estas editoras. Esta gestão que visava apenas o lucro traduziu-se “numa diminuição do número de revistas assinadas pelas bibliotecas das universidades e outras instituições científicas” (idem, 27), repercutindo-se no alargar das restrições ao público da literatura de caráter académico ou científico. Se atualmente, e como reconhece o mesmo autor, a “generalização da utilização da Internet e da Web foi acompanhada por uma maior compreensão das suas potencialidades e aplicações na publicação científica” (idem, ibidem) fomentando, desta forma, o livre acesso à informação, no passado (e sem acesso a estas novas tecnologias) o maior condicionalismo no acesso à informação a acrescer ao conjunto de outros fatores já aqui analisados reforça a ideia de que, antes de 1974, a sociedade portuguesa não se encontrava apta a gizar sobre aspetos de caráter ambiental, o que reflete, em parte, a passividade dos portugueses em matéria de ambiente.

3.4.2 De 1974 a 1980

Após a designada Revolução dos Cravos, “a abertura do novo regime e as dinâmicas internacionais criaram as condições para uma participação cívica com alguma expressão na atualidade” (Alho, 2006:153), conferindo ao povo a oportunidade de se manifestar e exprimir as suas opiniões de forma livre e desinibida. Também com a instauração da democracia inicia-se uma época de descentralização do poder, como uma das formas de eliminar qualquer herança residual do “estado novo” e de restituir a palavra ao povo, como reconhece Fernandes (1992: 30), “vive-se o tempo de uma relativa mobilização das populações e do seu despertar para a participação política”. Neste período, o Municipalismo Português viu os seus poderes reforçados,

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