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Objetivos Específicos

50 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

todos os seres humanos, uma vez nascidos, vivem uma vida adulta, vida (I) com qualidade além da mera sobrevivência biológica. Por último, o mais amplo sentido da sustentabilidade global inclui a preservação de todos os componentes da biosfera, mesmo aqueles que parecem não ter qualquer benefício para a humanidade” (Brown et al., 1987: 717).

Neste contexto, tanto Repetto como Barbier, traduzem uma visão mais economicista do conceito em si e, por sua vez, Brown et al. uma ideologia mais ecologista de o pensar. Neste âmbito, é indiscutível que a interpretação dada ao conceito de desenvolvimento sustentável variava muito de pessoa para pessoa, como referia Redclift (1991).

Já para Herculano (1992: 30), o conceito de desenvolvimento sustentável interioriza dois significados “ (...) é uma expressão que vem sendo usada como epígrafe da boa sociedade, senha e resumo da boa sociedade humana. Neste sentido, a expressão ganha foros de um substituto pragmático, seja da utopia socialista tornada ausente, seja da proposta de introdução de valores éticos na racionalidade capitalista meramente instrumental. (...) Na sua segunda aceção, desenvolvimento sustentável é (...) um conjunto de mecanismos de ajustamento que resgata a funcionalidade da sociedade capitalista (...). Neste segundo sentido, é (...) um desenvolvimento suportável, medianamente bom, medianamente ruim, que dá para levar, que não resgata o ser humano da sua alienação diante de um sistema de produção formidável”. Para a referida autora, o conceito encerrava em si uma enorme complexidade e subjetividade, não se podendo limitar a uma única interpretação. Esta autora representa a antítese de pensamento face a autores já citados, como Allen (1980) e Tietenberg (1984).

Para os autores Ribeiro, Alexander, Clayton, Márcio e Nogueira (1996: 99), era necessário distinguir “o conceito de Desenvolvimento Sustentável de sua função alienante e justificadora de desigualdades de outra que se ampara em premissas para a reprodução da vida bastante distintas. Desenvolvimento Sustentável poderia ser, então, o resultado de uma mudança no modo da espécie humana se relacionar com o ambiente, no qual a ética não seria apenas entendida numa lógica instrumental, como desponta no pensamento ecocapitalista, mas sim, embaçada em preceitos que ponderassem as temporalidades inerentes à própria espécie humana, e, porque não, também as internas à nossa própria espécie”. Estes mesmos autores abordaram a definição do conceito, dando mais ênfase às divergências de perceção deste novo paradigma, face ao anterior, não se preocupando em atribuir uma definição concreta, salientando, apenas, que este paradigma veio romper com a relação de descomprometimento e de desresponsabilização do Homem face à Natureza.

Contudo, Gonçalves (1996) tem uma visão contrária à citada por Wagner Ribeiro et al. (1996), pois acredita que este paradigma não passava de um passo na continuidade, sem se registarem verdadeiras alterações ideológicas de vincada descontinuidade, como se afere das suas palavras “(o paradigma) tenta recuperar o Desenvolvimento como categoria capaz de integrar os desiguais

(e os diferentes?) em torno de um futuro comum. Isto demonstra que pode haver mais continuidade do que rutura de paradigmas no processo em curso” (Gonçalves, 1996: 43).

Todavia, temos de reconhecer que a multiplicidade e diversidade das definições de conceito de “desenvolvimento sustentável” tiveram a sua utilidade, pois predispõem uma convergência de pontos-chave que emergem e que contribuíram para a consolidação do próprio conceito (ver Pezzey, 1992). Segundo Pezzey (1992: xi), destacam-se 5 pontos-chave resultantes das inúmeras tentativas em objetivar o respetivo conceito: “a) O contexto geográfico e temporal para o conceito de sustentabilidade deve ser sempre claro; b) O "Crescimento" geralmente ignora o efeito direto que o ambiente possa ter sobre o bem-estar social, enquanto o "desenvolvimento" considera-o; c) Apesar de subjetiva, a definição mais comum de "sustentabilidade" releva que o bem-estar das gerações futuras não deve ser inferior ao bem-estar da geração atual, ou seja, não deve existir uma regressão; d) A utilização sustentável dos recursos centra-se na manutenção de um stock de recursos renováveis. Examinando objetivamente a fonte de recursos, pode ser mais relevante do que as noções de bem-estar intergeracional, no momento de estudar as economias pobres dos países em vias de desenvolvimento; e) Muitas definições de “desenvolvimento sustentável” exigem, explicitamente, a atenção para as necessidades dos pobres atuais assim como para as necessidades do futuro”.

Segundo Fergus e Rowney (2005: 1), a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável só por si “trouxe o potencial de estimular o compromisso de discutir o futuro do desenvolvimento social inserido num quadro ético baseado em valores de inclusividade, diversidade e integração”. Os mesmos autores chamam a atenção para a importância do contexto filosófico que envolveu o debate sobre a definição e interpretação do termo e o seu contributo para a linguagem cientifico- económica do paradigma atual.

Concluindo a análise ao conceito, e segundo palavras de Vickers e Boyle (2008: 2), a inclusão do “desenvolvimento”, em ”desenvolvimento sustentável” pode ser considerada como uma tentativa da WCED's (World Commission on Environment and Development) em colocar o princípio da equidade entre as pessoas de hoje (equidade intrageracional) juntamente com o princípio da equidade entre as pessoas presentes e futuras (equidade intergeracional), o que está implícito por "sustentável". Para Redclift (1987: 32-33), este conceito, para além de ter tido a particularidade de sugerir “que lições de ecologia podem, e devem, ser aplicadas ao processo económico”, teve, também, a virtude de funcionar como catalisador para o despertar da opinião pública para o desenvolvimento ecológico, motivando a sociedade para a controvérsia das relações entre economia e recursos naturais.

No entanto, prevalece o claro receio no que respeita ao conceito e que se traduzia na incerteza sobre se a adoção do mesmo se revelaria suficiente para incutir, no imediato, transformações

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