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Objetivos Específicos

42 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

Apesar da aparente dificuldade em traçar as linhas orientadoras de um novo modelo de desenvolvimento, devido à luta de fações ideológicas que marcaram este período da história (já referida neste capítulo), é visível o emergir do novo paradigma na década de 70, consubstanciado na década seguinte. No final dos anos 70, os alicerces eram lançados, a partir da Conferência de Tbilisi, Geórgia. “Os princípios da Educação Ambiental (EA) declarados na Conferência de Tbilisi (UNESCO & UNEP, 1978) já incluíam os elementos fundamentais para o desenvolvimento sustentável (DS): a necessidade de considerar os aspetos sociais do ambiente e as suas relações entre a economia, o ambiente e o desenvolvimento; a adoção das perspetivas locais e globais; (Sauvé, 1997: 1).Outro contributo relevante, datado do início da década de 80, foi a criação da CMMAD, em 1983, que representou um abrir de “portas” para um conhecimento científico mais amplo da complexidade das relações causa-efeito, que a vertente social e económica sujeita à dimensão ambiental e apostada no investimento em soluções técnicas que, a serem aplicadas, representassem uma forma de “corrigir” e “minimizar” as consequências desastrosas do comportamento humano no meio natural.

Enquanto se desenvolviam esforços para se reformular os padrões de desenvolvimento, assistia- se, igualmente, a um processo de transformações do planeta que impulsionava a comunidade internacional a agir rapidamente e que, segundo refere Novo (1999: 19), se fica a dever ao “excesso de população” que aparece então como uma única face, talvez a mais visível, mas não a mais importante do poliedro que representa os grandes problemas ambientais”. A década de 80 institui-se como uma continuidade dos problemas identificados, na década anterior, com a particularidade de se vislumbrar as consequências da inoperância da sociedade em encarar os mesmos. Agudizavam-se os problemas da pobreza mundial, aumentava o fosso entre países ricos e pobres e, neste contexto, a disparidade de recursos entre o hemisfério Norte e o hemisfério Sul e, de igual forma, assistia-se ao avolumar dos problemas ambientais. Como refere Figueiredo, (2001: 8), “a natureza, como era de se esperar, não está a suportar a massiva retirada de seus “recursos”, já com sensível exaustão de matérias-primas, tal como se verifica com a água potável. Os resíduos produzidos e acumulados pelo planeta destroem paisagens e alteram ciclos, vitais para o equilíbrio dinâmico que caracteriza o planeta Terra, desde os seus primórdios, há 4, 5 biliões de anos. Os recursos naturais foram mais utilizados pelos países que mais se desenvolveram, ou seja, os países do hemisfério norte (I) ocorrendo um distanciamento ainda maior entre os dois blocos”.

O aumento da pobreza mundial marca o período dos anos 80 que, de acordo com a UNCHS, o designou por “período das crises urbanas” que se refletiu a nível mundial e, em particular, no continente africano (UNCHS, 1996: 89). Segundo o relatório “An Urbanizing World: Global Report on Human Settlements” (1996), da UNCHS, o continente africano viveu uma das piores crises “existenciais” de sempre. Esta crise refletiu-se de duas maneiras, pela deterioração dos serviços e infraestruturas urbanas e pelas profundas mudanças operadas na senda do mercado de trabalho. Com o elevado crescimento da população urbana, verifica-se, igualmente, um aumento da

pobreza focalizado nas áreas urbanas, instalando-se a anarquia para conseguir trabalho. Assim, mais e mais residentes urbanos têm de arranjar trabalho, provocando uma “escalada na procura, sem qualquer contrato, a curto-prazo, num setor sem regulamentação onde se desenvolveu uma diversidade confusa de atividades para responder às necessidades financeiras dos pobres” (UNCHS,1996: 86). Face a esta situação e às graves crises económicas que também atingiram vários países da América Latina, ao aumento descontrolado do número de refugiados, ao contínuo aumento populacional nos países em desenvolvimento acompanhado por uma progressiva concentração de população nos centros urbanos, esta década ficou apelidada de “Década Perdida” e, como acrescenta Maurice Williams, presidente da Sociedade para o Desenvolvimento Internacional, à época, uma “década perdida para a maioria do mundo desenvolvido” (Meadows, 1991: 77).

Outra realidade que contribuiu para considerar esta década como “perdida”, prende-se com o agravar da crise do modelo económico do pós-guerra com os países da América Latina e países da Ásia Subsariana a serem o expoente máximo da crise financeira que assolou este período. Como referem as Nações Unidas (2010: 4), a década de 80 teve de lidar com os graves problemas de deficits e de dívidas herdades das décadas anteriores, o que obrigou à necessidade de muitos países “pedirem assistência económica ao FMI e ao Banco Mundial. Este apoio, trouxe consigo a submissão a rigorosas medidas de contenção financeira derivada do processo de estabilização orçamental e do ajuste estrutural que pressupunham como objetivos a redução da elevada inflação, a correção das disparidades na balança orçamental externa e nacional dos países e na necessidade de se restaurar o seu crescimento económico”. Assim sendo, no final da década de 70 / início da década 80, juntava-se, pela primeira vez, à longa e profunda recessão mundial, baixas taxas de crescimento e altas taxas de inflação, tendo-se criado as “condições ideias” para o ressurgir do modelo neoliberal (até então meio esquecido) que teve a sua génese, na década de 1940, a partir das formulações de Friedrick Hayek. Na sua obra “ O Caminho da Servidão” (ver Hayek, 1990), o autor defendia o argumento que o “novo igualitarismo (...) deste período, promovido pelo Estado de bem-estar, destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos” (Anderson, 1995: 1). Segundo o mesmo autor, o papel do Estado intervencionista no modelo de Bem-estar social era de total incapacidade para promover o desenvolvimento das sociedades, pois estabelecia barreiras ao verdadeiro responsável pelo progresso humano, o mercado, considerado, por este, o grande potencializador da capacidade dos Homens. Persistindo nas suas ideias, o problema da crise capitalista residia no “poder excessivo e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, que havia corroído as bases de acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais” (idem, ibidem).

O modelo neoliberal defendido por Hayek passava pela existência de um Estado forte, somente em matéria de controlo do dinheiro e do poder dos sindicatos, e “parco em todos os gastos sociais

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