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Objetivos Específicos

48 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e também define metas a serem realizadas a nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições multilaterais”.

Concluindo, a relevância deste relatório fundamenta-se, segundo Rodrigues (2006: 27), numa “nova maneira de pensar em que a complexidade ecossistémica impõe uma relação circular entre sociedade e território e uma organização dum desenvolvimento integrado e autorregenerativo ultrapassando a rigidez mecânica duma lógica de causalismo linear. Isto implica relações antrópicas conscientes do meio, em que o homem e a natureza são a mesma realidade essencial. Assim, dadas as suas relações simbióticas, qualquer ecocídio é também suicídio”. Neste contexto, o relatório fez uma chamada de atenção ao Mundo sobre a necessidade de se encontrarem novas formas de desenvolvimento económico que não impliquem a redução dos recursos naturais nem causem danos ao meio, baseado nos três princípios básicos que o mesmo introduziu e que devem ser cumpridos: desenvolvimento económico, proteção ambiental e equidade social.

Apesar da sua importância, o Relatório não foi poupado a um conjunto de apreciações menos favoráveis. Desde logo, o conceito “desenvolvimento sustentável” neste integrado revelou ser demasiado ambicioso ou, pelo menos, algo vanguardista para a época. Tal situação é manifesta, no imediato, na dificuldade de definir o próprio conceito em si, o que elevou este paradigma, perante a sociedade, à condição de instrumento complexo e de difícil adoção face às múltiplas compreensões e interpretações que dele fizeram, como são exemplos Redclift, Allen, Tietenberg, entre outros, autores que serão referenciados de seguida. A falta de objetividade, que acometeu o entendimento social sobre o referido paradigma, deu azo a atrasos na compreensão da sua mensagem, da sua importância e da sua implementação. Há outros autores, cujas críticas ao Relatório passam pela existência de uma “negligência as necessidades específicas dos países mais pobres (ou seja, centra sua análise sobre às necessidades dos países ricos). Outros criticaram a comparação que foi feita entre as necessidades desta geração e das gerações futuras (não se considerou a liberdade dos humanos de salvaguardarem aquilo que valorizam e a que atribuem importância). Outra crítica que foi feita foi em relação ao senso de responsabilidade quanto ao futuro das espécies, pois se a espécie humana é a mais poderosa deve ter responsabilidade para com as outras, o que não teria sido devidamente considerado” (Bortoli, 2007: 7). Seguidamente, será efetuada uma análise mais detalhada às sucessivas críticas ao Relatório, integrando-as em três itens: a) Inadequada compreensão do conceito “desenvolvimento sustentável”; b) Democracia e Participação; c) As múltiplas dimensões do desenvolvimento sustentável: Como medir a sustentabilidade?

a) Inadequada compreensão do conceito “desenvolvimento sustentável”

Um dos críticos, da época, ao conceito de desenvolvimento sustentável foi Redclift (1991: 36), que afirmava que este conceito “significava coisas diferentes para pessoas diferentes”. Segundo Lélé (1991: 614), nem era tanto a vasta imprecisão desta expressão mas “o perigo real do

desenvolvimento sustentável se tornar como um cliché com tecnologia apropriada, uma frase da moda, ou a mais recente ordem de desenvolvimento”. Já o autor Veiga (2005: 13), tem uma visão mais extremada, considerando o desenvolvimento sustentável como “um enigma à espera do seu Édipo”, isto é, que pode ser dissecado, mas ainda não resolvido. Este mesmo autor acrescenta, ainda, que o desenvolvimento sustentável é uma “utopia para o século XXI, no melhor sentido da palavra visto que (I) [este conceito] compõe-se como uma visão de futuro sobre a qual a civilização contemporânea necessita de alicerçar as suas esperanças” (idem, 14).

Segundo Allen, (1980), o conceito de desenvolvimento sustentável significava simplesmente (...) que devemos utilizar espécies e ecossistemas, a níveis e formas que lhes permitem continuar a renovar-se a eles mesmos indefinidamente” (Allen, 1980: 18). De acordo com a interpretação de Tietenberg (1984: 33), “O critério sustentabilidade sugere que, no mínimo, não devem ser deixadas às gerações futuras piores condições do que as existentes nas gerações atuais”. Estes autores representam a visão simplista de conceber o referido conceito, encarando este paradigma de forma muito restrita. A tal facto não será alheio o contexto temporal em que estes teóricos se inserem. No início da década de 80, existia o conceito, mas a amplitude do seu significado ainda estava longe de ser, verdadeiramente, compreendido. No caso particular de Allen (1980), a sua definição foi das primeiras (senão a primeira) de sustentabilidade, pois derivou do documento produzido pelo World Conservation Strategy (IUCN), em 1980, em que pela primeira vez esta expressão foi utilizada.

De forma menos simplificada e mais integradora, surge a noção de Repetto (1986: 16-17) sobre o referido conceito, "A ideia central de sustentabilidade, então, é o conceito de que as decisões atuais não devem prejudicar as perspetivas de manutenção ou melhoria das condições de vida futuras (...). Isto implica que os nossos sistemas económicos devem ser geridos de modo (U) a que se retire o máximo de dividendos dos nossos recursos (mas) mantendo e melhorando a base patrimonial. Este princípio também tem muito em comum com o conceito ideal de renda, na contabilidade, que procura determinar: a maior quantia que pode ser consumida durante o período corrente, sem reduzir as perspetivas de consumo no futuro". Outros autores orientaram o conceito, dirigindo-o a casos particulares, como é o caso de Barbier (1987: 103), “O conceito de desenvolvimento sustentável tal como é aplicado ao Terceiro Mundo... está, portanto, diretamente ligado ao aumento do nível de vida dos pobres substanciado nos bens materiais, a nível local, que podem ser medidos quantitativamente em termos de aumento de alimentação, da renda real, dos serviços de educação, da saúde, do saneamento, do abastecimento de água, de stocks de alimentos e dinheiro etc (...). Em termos gerais, o objetivo principal é reduzir a pobreza absoluta dos pobres do mundo (...) e garantir uma subsistência segura que minimize a depleção dos recursos, a degradação ambiental, a perturbação cultural e instabilidade social”. Autores, como Brown, pretenderam dar uma definição mais rigorosa e precisa ao conceito, considerando que “Em sentido estrito, sustentabilidade global significa a sobrevivência indefinida da espécie humana em todas as regiões do mundo. Num sentido mais amplo do significado, especifica que praticamente

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