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Objetivos Específicos

96 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

de luta política”. Agora, a “desqualificação da política justifica a ampliação da esfera não-política. Temas antes políticos se despolitizam e passam para a esfera privada. Práticas governativas são transferidas para atores não-estatais através de novos canais”. Os canais a que o autor se refere são os fóruns, conselhos e Agendas 21 Locais que se “pretendem, via de regra, alheios aos males da política, vista como esfera a ser deixada doravante ao arbítrio das elites por sua pouca relevância e eficácia” (idem, ibidem).

A natureza da A21L,contudo, tem trazido problemas aos poderes locais, visto que qualquer autoridade, para avançar com uma A21L, tem de integrar, igualmente, os princípios que são a base da sustentabilidade deste instrumento. Neste âmbito, explicita-se, de acordo com Cotter e Hannan (1999: 12-13), os princípios base que tem de ser considerados:

a) Princípio da Integração - a efetiva integração dos aspetos ambientais, sociais e económicos considerados na tomada de decisão.

b) Princípio da participação pública - o reconhecimento de que a sustentabilidade não pode ser alcançada, nem existem progressos significativos em direção a esta, sem o apoio e envolvimento de toda a comunidade.

c) Princípio da Precaução - onde existam ameaças de riscos sérios ou irreversíveis danos ambientais, a falta de uma certeza científica plena não deve ser utilizada como razão para adiar as medidas que evitem a degradação ambiental.

d) Principio da Equidade dentro e entre gerações - equidade e igualdade de acesso às oportunidades, tanto nas nossas vidas, assim como para as gerações futuras.

e) Princípio da Prevenção - a situação de declínio ambiental significa que há um imperativo para que se tomem medidas imediatas rumo à sustentabilidade e à melhoria contínua do ambiente.

f) Princípio da Integridade Ecológica - para proteger a diversidade biológica e manter os processos ecológicos essenciais e sistemas de suporte de vida.

Contudo, se houvesse a necessidade de selecionar um princípio que melhor identificasse o caráter de uma A21L, o Princípio da Subsidiariedade seria o escolhido. Este tem por objetivo assegurar que as decisões sejam tomadas ao nível mais próximo do cidadão, implicando uma distribuição de atribuições e competências que confie as decisões e as ações ao nível da administração mais próxima das populações, materializando-se, assim, nos princípios da descentralização do poder. É o reconhecimento de que os problemas locais devem ser preferencialmente resolvidos com ações locais. Este princípio traduz o espírito da Agenda 21 L, em que a transferência do poder de decisão para o domínio local ou sublocal da democracia reduz a burocracia e as falhas de um poder central distante e, por vezes, alheio às realidades vividas a uma escala menor. Neste

sentido, Hayek (1990: 20) remete para os problemas de uma democracia centralista, referindo que “(...) o Estado (...) cobre o corpo social com uma rede de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, rede que as mentes mais originais e os carateres mais fortes não conseguem penetrar para elevar-se acima da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada e guiada; ele raramente é obrigado a agir, mas é com frequência proibido de agir. Tal poder não destrói a existência, mas a torna-a impossível; não tiraniza, mas comprime, enerva, sufoca e entorpece um povo, até que cada nação seja reduzida a nada mais que um rebanho de tímidos animais industriais, cujo pastor é o governo”.

Iorio (2006: 1) refere que esta velha tentação do poder político central em desempenhar o papel de única entidade capaz de resolver os desafios constitui-se como uma utopia que tem de ser, inquestionavelmente, alterada. Segundo se infere das palavras do autor, como “o conhecimento na sociedade é incompleto e apresenta-se sempre espalhado desigualmente, a negação do princípio da subsidiariedade, que ocorre quando as soluções dos problemas são passadas para o Estado ou para organizações hierarquicamente superiores, na prática, acarreta uma ilusão de ótica, uma crença em um “olho central” que pode enxergar todas as coisas, conhecer todas as necessidades e necessidades individuais, regular os setores envolvidos a contento e solucioná-las da forma socialmente correta. Ora, o planeamento central sempre fracassou e haverá de fracassar exatamente porque esse “olho” não apenas não existe, mas principalmente porque jamais poderá existir”. Este princípio consagra a antítese desta visão e, como refere Reich (2009: 7), a “ideia que a autoridade central deveria ter uma função subsidiária, atuando apenas quando efetivamente as respostas não podem ser dadas ao nível local”.

Outro desafio que advém da natureza deste instrumento particulariza-se no facto da A21L “necessitar, sem qualquer dúvida, de todos os setores da sociedade. As parcerias podem liderar melhor a coordenação e podem assegurar que as organizações trabalhem em harmonia” (Roberts, 2011: 3-4). Contudo, o autor alerta para a situação oposta, isto é, para a “existência de limitações sobre os resultados que as parcerias podem alcançar, se forem mal conduzidas, com o surgir de conflitos, frustração e perda de tempo” (idem, ibidem) e consequente comprometimento no desfecho dos processos. O autor Acselrad (2006: 23) eleva o problema das parcerias a outra dimensão. De acordo com o referido autor, a A21L tem a particularidade de “homogeneizar” todos “os parceiros, diluindo com alguma frequência a diferença de papéis sociais, de responsabilidade ou do poder entre os agentes”. Segundo o autor, tal traduz-se em atropelos à realidade, o que não deixa de ser encarado com alguma perplexidade pelo mesmo. Neste âmbito, vejamos a situação de uma A21L que procura superar problemas de poluição e que tem, como parceiros de trabalho, os próprios responsáveis pela situação. Segundo o mesmo autor, os “poluidores não expõem aí suas informações sobre o risco que produzem nem muito menos autorizam o controlo social destes riscos” (idem, ibidem). Entrámos, segundo Hordijk (2006: 3), “no domínio dos “conflitos de interesses” entre os líderes eleitos e secções particulares da população que, comummente, se evidencia entre pobres e menos pobres, entre homens e mulheres e entre idosos e população

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