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158 AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Fazendo parte da península ibérica e sendo o país vizinho de Portugal, o processo de

Objetivos Específicos

158 AGENDA 21 LOCAL COMO INSTRUMENTO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Fazendo parte da península ibérica e sendo o país vizinho de Portugal, o processo de

implementação das A21L espanhola é o que apresenta, igualmente, características mais similares ao nosso, como refere Fidélis e Pires (2009: 503), “(I) é no caso de outros países da Europa meridional, como a Espanha, que mais características similares às do contexto das A21L portuguesas” se identificam.

Apesar dos numerosos processos de A21L, o “fenómeno (das A21L na Espanha) destaca-se por que partiu, na maioria das vezes, de uma total ausência de políticas de sustentabilidade a nível municipal (Moralejo et al., 2007: 123). Se a tal situação, se acrescentar que, também “o governo central espanhol não tem desempenhado um papel central, deixando estas iniciativas nas mãos das autoridades locais e regionais” (Fidélis e Pires, 2009: 503), verifica-se que a A21L tem sido deixada ao acaso. No entanto, apesar desta situação, não se julgue que não existiram avanços das A21L. De acordo com Moralejo et al. (2007: 123), “os avanços produzidos em Espanha em relação à implementação das A21L são significativos mesmo quando não existia uma cultura e uma tradição ambiental prévia”.

Assim sendo, existem claras evidências dos obstáculos que condicionaram e comprometeram, desde o início, os processos das Agendas na Espanha. Como referem Font, Gomila e Subirats (2001: 245), “da conversa retórica de sustentabilidade até à substancial praxis foram encontradas um número de dificuldades: desde a existência de fracas tradições de participação e consulta públicas entre as comunidades locais e os grupos de interesse; uma limitada capacidade de lidar com as A21L para as autoridades locais; a proteção ambiental não ser uma preocupação elevada na agenda política e por tal a existência de (...) obstáculos para penetrarem em outras áreas políticas (e desta forma para a própria A21L); a maioria das iniciativas serem do tipo “top-down” o que significa que são orientadas pelo governo central destinando um espaço muito restrito para iniciativas oriundas das comunidades (...) e igualmente, a forte dependência das autoridades locais “dos recursos provenientes da administração regional e nacional. Esses fatores criaram um número de dificuldades, no terreno, na forma de adotar estratégias de sustentabilidade ao nível local de governação”. Acrescenta Fidélis e Pires (2009: 503), outro obstáculo que resulta do “governo central direcionar e transferir, através do Ministério do Ambiente, políticas fundamentais de A21L para as províncias (...) administrativas para que se desenvolvam, a nível local, processos de Agendas”. Quando se verifica que no domínio dessas províncias, o nível de influência não existe, as experiências têm sido desiguais e desarticuladas (I) sendo a natureza da A21L fragmentada (...) continuando “as instituições administrativas locais, em Espanha, a representar um grande obstáculo para a implementação da A21L”.

A inércia do Governo Central é bem exemplificada, quando, em 2002, lança a Estratégia Espanhola de Desenvolvimento Sustentável que viria a ser prontamente abandonada para só dois anos mais tarde ser “recuperada”.

Todavia, como menciona Moralejo et al. (2007: 123), “ é neste contexto, nos últimos anos, que se está a verificar uma significativa alteração” no panorama nacional espanhol. Desta forma, os governos autónomos começaram a desempenhar um papel primordial na hora de promover a sua implantação de Agendas. Para tal, a maioria das comunidades tem realizado um Diagnóstico Ambiental e disponibilizado linhas de financiamento para as autarquias que procuram iniciar os seus processos de Agenda 21L. Há casos de outras regiões que “foram mais além e elaboraram as suas próprias Estratégias de Sustentabilidade, como Navarra, região Basca e Catalunha que se encontram a trabalhar em grupos de municípios assessorados e dotados de diversos instrumentos como formação de pessoal, a publicação de guias metodológicos e a definição de indicadores, entre outros” (idem, ibidem). O caso da implementação da A21L, em Espanha, equipara-se a casos, anteriormente analisados, de ter que “correr atrás do tempo perdido”.

Ao estudar-se o processo de participação pública em Espanha e “olhando” para o caso português, através do exemplo de um caso de estudo que analisou, a cidade do Porto, em Portugal, e de Vigo, em Espanha, encontram-se, igualmente, bastantes similitudes nos dois processos de planeamento urbano, em ambos os países. Verifica-se que as equipas técnicas que elaboram os planos de ordenamento do território (apesar de serem equipas diferentes - uma firma independente em Vigo e uma equipa mista de professores e staff municipal do Porto) são fortemente condicionadas pelas elites políticas que, por sua vez, são fortemente influenciadas pelas elites urbanas. No caso de Vigo, existem evidências que mostram que as “reuniões com organizações empresariais, as conferências organizadas por estas organizações, a sua presença mediática nos media e as suas próprias publicações geram mais poder de influência nos planeadores e nos partidos políticos do que quaisquer outras organizações profissionais, associações de moradores e coletividades que se oponham ao plano. No Porto, verificam-se várias negociações e acordos entre os planeadores, autoridades e organizações empresariais que de uma forma geral não são visíveis aos olhos do cidadão” (Martínez, 2011: 18). Tais procedimentos conferem que os maiores obstáculos à participação dos cidadãos são as alianças entre as elites urbanas e o poder político que desvirtuam os resultados da participação e do interesse público. Acresce, como relevante, “os obstáculos burocráticos que bloqueiam e atrasam a elaboração e aprovação de processos” (idem, ibidem). Em Vigo, por exemplo, critérios diferentes entre o governo municipal e os supervisores do governo autónomo-regional (a nível supralocal) causaram sérios atrasos no processo. As próprias “disputas entre os partidos políticos adicionam impedimentos que influem nos procedimentos burocráticos” (idem, ibidem), situação que se verificou nas duas cidades, embora no caso de Vigo existissem, igualmente, certas dificuldades de gestão causados pelo número muito elevado de indivíduos e de sugestões coletivas e emendas apresentadas contra o plano aprovado. Pode-se, portanto, concluir que a dinâmica de participação dos cidadãos nestes países tem necessariamente de lidar com uma série de disputas no âmbito das autoridades administrativas envolvidas na aprovação do planeamento e com as próprias relações conflituosas entre os grupos urbanos de elites. Os planos gerais em ambas as cidades

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