• Nenhum resultado encontrado

Objetivos Específicos

30 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

pressuposto de que os factos ambientais também têm de ser encarados como um fenómeno social, pois inserem-se no próprio meio.

Porém, sob a influência do HEP, os sociólogos continuaram a ignorar que a sociedade humana dependesse do ecossistema envolvente. Como refere Dunlap (2002b: 334), como “resultado do contexto histórico, cultural e social em que esta se desenvolveu e nas tradições singulares que envolveram a sua busca pela autonomia disciplinar, a própria sociologia desenvolveu, largamente, um conjunto implícito de pressupostos sobre a presumível irrelevância do mundo físico para a sociedade industrial moderna. Apesar de raramente ser expresso, tais pressupostos influenciaram os sociólogos na forma como abordam o assunto [de caráter ambiental] e a forma como orientaram os seus estudos”. Como tal, os sociólogos e a sociologia contribuíram para a aceitação deste modelo de desenvolvimento, baseado na teoria otimista sobre os recursos naturais e sua existência ilimitada (HEP), reforçando, perante a opinião pública, a ideologia de que a Humanidade estaria sempre a salvo de quaisquer constrangimentos naturais.

Assim sendo, o agravar dos impactes ambientais, causados pela ação humana, iria constituir-se como um dos maiores contributos para a legitimação daqueles que não se reviam no paradigma ideológico predominante, como são os casos de W. Catton e R. Dunlap que marcaram, inevitavelmente, o olhar científico do Homem sobre as questões de ordem ecológica. Estes dois sociólogos norte-americanos indagavam o motivo das ciências sociais ainda não terem integrado a vanguarda do “despertar ecológico” mundial, concluindo que, desde a sua origem, elas adotaram um “paradigma da excecionalidade humana” (Human Excepcionalism Paradigm) aos fatores da natureza. Como reconhecem Dunlap e Catton (1979: 251), com o prevalecer deste modelo de desenvolvimento “os sociólogos da Ecologia Humana” continuavam a carecer “das bases para se interessarem pelos problemas ambientais contemporâneos” sendo que “(...) explicar fenómenos sociais só em termos de outros factos sociais, além de uma aversão aos anteriores excessos do determinismo biológico e geográfico, I[levam] os sociólogos a ignorar o mundo físico em que o homem vive” (Dunlap, 2000: 21). Neste contexto, os referidos autores (Catton e Dunlap) introduzem uma nova visão ecológica do Mundo, tentando ultrapassar o reducionismo ecológico dos clássicos proveniente essencialmente do axioma Durkheimiamo e da noção de isentabilidade humana. Este conceito de “isentabilidade”, trazido por Catton e Dunlap, alterava o E de Excepcionalism (no HEP) para Human Exemptionalism Paradigm. Segundo os autores, esta substituição não foi para “negarmos que o Homo sapiens é uma espécie excecional mas antes que as nossas especiais características não nos isentam dos princípios e constrangimentos ecológicos. Por esta razão, nós subsequentemente renomeamos o HEP” (Dunlap, 2002b: 334). Segundo os mesmos autores, este paradigma procurava ultrapassar a visão antropocêntrica do Mundo e clarificar a teia das interações entre fatores biofísicos, sociais e culturais. Como corroboram Redclift e Woodgate (1997), [citado in Dunlap (1997: 1)], era necessário acabar com “a insistência dos sociólogos sobre o caráter distinto do HomemI [que] tende a colocar à distância

os recursos naturais ou aspetos físicos do ambiente que tanto influenciam e são influenciados pelo comportamento humano” e que resulta da inabilidade da sociologia em tratar o ambiente fruto da herança do “empirismo simples, por um lado”, e no aceitar a teoria da evolução baseado “nos modelos biologicamente deterministas de mudança social.

Este prenúncio de uma nova forma de conceber a articulação das ciências sociais com as naturais ia, gradualmente, sendo aceite pela própria sociedade mundial, perante as evidências que a ação humana estava efetivamente a alterar o equilíbrio entre crescimento económico e o ambiente. Dava-se início a um conjunto de estudos, realçando-se o contributo das Ciências Sociais e de prestigiados cientistas que, com as suas obras, contribuíram para o objetivo de analisar as relações entre sociedades industriais e o meio ambiente, recaindo as investigações sobre as causas prováveis da degradação ambiental, dos impactes sociais da poluição e da escassez dos recursos. Os estudos convergiam para a ideia generalizada que, como referem Shmit e Hoffman (1999: 2), “a introdução de fatores sociais como causa tornaram claro que os desastres se desenvolviam com diacronicidade, isto é, aconteciam de forma sequencial após o Homem ter provocado a sua causa. Calamidades resultantes de processos que se desenvolveram durante longos períodos de tempo ou crises repentinas, acabavam por, mais cedo ou mais tarde, se manifestarem mesmo debaixo dos seus narizes”.

Um desses estudos, intitulado “The Tragedy of the Commons” (ver Hardin, 1968), alertava no final da década de 60 para o problema dos bens comuns, visto que, segundo a sua teoria, todos os bens não privados estavam sujeitos a uma significativa pressão humana, não existindo o cuidado em proteger esses recursos públicos, por parte da sociedade da época. Esta preocupação é percetível quando o autor refere que “A tragédia dos bens comuns como fonte de alimentos pode ser evitada pela propriedade privada, ou algo que se assemelhe formalmente a isso. Mas o ar e as águas à nossa volta não podem ser cercados de forma fácil, e assim, a tragédia do uso de bens comuns como fossa sanitária deve ser evitada por outros meios, por leis coercivas ou impostos que façam com que seja menos dispendioso para o poluidor tratar dos seus agentes poluentes do que despejá-los sem tratamento no meio ambiente” (Hardin, 1968: 3).

Nesta mesma época, outro estudo marcou a história do movimento ambientalista. Rachel Carson, em 1962, publicou um livro com o título “The Silent Spring” que alertava a sociedade para as implicações do uso dos pesticidas sobre o ambiente e sobre a saúde das pessoas. Vivia-se uma época de prosperidade industrial, com novos bens e equipamentos a serem produzidos e aplicados em vários domínios, como no caso da agricultura. A sociedade rendia-se ao progresso, confiando cegamente no desenvolvimento da ciência moderna e não olhando para as consequências que poderiam advir da destruição da natureza e do Homem. Esta cientista e ecologista norte-americana, no seu livro “Primavera Silenciosa”, alertava para a destruição indiscriminada e não localizada das espécies a combater e para a perigosidade dos inseticidas

Outline

Documentos relacionados