• Nenhum resultado encontrado

Objetivos Específicos

66 CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE

De acordo com Pearce, et al. (1989: 23), o PNB era construído de uma forma que tendia a divorciar-se de uma das suas subjacentes finalidades: indicar, grosso modo, o nível de vida da população. Este autor dá um exemplo que intui a fragilidade e falta de rigor deste instrumento: “Se a poluição causa danos à saúde pública, aumentam as despesas dos cidadãos com os cuidados de saúde, o que leva ao aumento do PNB, o que supostamente eleva a qualidade de vida da população e não a sua diminuição”. Bossel (1999: 25) faz uma leitura análoga deste indicador. Considerava bizarra a forma como este tinha transitado para a economia e para o desenvolvimento nacional de cada país, centrando-se na forma como os economistas o encaravam. Segundo este autor, “a atenção destes [economistas] não se centrava na riqueza do capital (de ativos financeiros, terra ou recursos) mas, para além de vigiarem a inflação e taxas de desemprego, dedicavam-se, sobretudo, a analisar este indicador que, no essencial, media a velocidade com a qual a riqueza dos recursos naturais estava a ser devastada”. O mesmo autor conclui que “dificilmente este indicador pode ser entendido como um indicador da riqueza nacional e de bem-estar!” (idem, ibidem). Assim sendo, e segundo Pearce et al. (1989: 21), o paradigma de desenvolvimento sustentável teve a capacidade de fazer “deslocar o foco do crescimento económico no formato como era tradicionalmente entendido em matéria de política económica”. Atualmente, “fala-se em desenvolvimento em vez de crescimento, da qualidade de vida em vez de, apenas, rendimentos reais (I)” (idem, ibidem). Com esta mudança de “visão” sobre desenvolvimento, era evidente que a mudança de indicadores para a sustentabilidade impunha, igualmente, uma mudança de atitudes da sociedade perante questões que, até então, eram negligenciadas até porque estavam a ser dados os primeiros passos para “medir” e “integrar” os custos ambientais como parcela na equação do DS e, consequentemente, para o adotar de um novo indicador de desenvolvimento.

Atualmente, os indicadores constituem-se como um dos mais eficazes instrumentos usados para o desenvolvimento sustentável, sendo que a sua “presença ou ausência, precisão ou imprecisão, uso ou não uso, pode alterar o comportamento de um sistema, para melhor ou para pior” (Meadows, 1998: 5). Como sublinha Meadows (idem, ibidem), a alteração de indicadores pode “ser um das formas mais poderosos e, ao mesmo tempo, uma das maneiras mais fáceis de fazer alterações no sistema - que não exige a demissão de pessoas, rompe com as estruturas físicas inventando novas tecnologias ou aplicando novos regulamentos - (...) sendo que apenas é necessário fornecer novas informações para novos lugares”.

Na base da discussão da formulação dos indicadores está a prossecução de três objetivos principais (Spangenberg e Bonniot, 1998: 5):

“i) Todos os indicadores devem ser baseados em metodologias reconhecidas e validadas à data. O número de indicadores usualmente costuma ser elevado como forma de cobrir todos os aspetos, considerados relevantes, com suficiente detalhe. Um exemplo bem conhecido de desenvolvimento é o projeto do Índice de Pressão Ambiental do Eurostat.

ii) Em relação à orientação política, os indicadores devem integrar ligações com os atores, causas e instrumentos. É necessário um número limitado a fim de estabelecer uma ligação adequada para as decisões políticas.

iii) Relativamente à comunicação, os indicadores deve ser dinâmicos, de fácil leitura e interpretação e em número reduzido. Se possível, apenas um que sirva como ferramenta central de comunicação. Na economia, o PIB serve esse propósito”.

De seguida, será feita uma breve análise aos sistemas de indicadores criados, para o nível macro, que tiveram como finalidade, não só concretizar os supracitados objetivos, mas também tentar centrar e harmonizar as políticas internacionais no campo da sustentabilidade.

a) Indicadores Ambientais - Baseado no modelo conceptual de Pressão-Estado- Resposta (PSR, do inglês Press-State-Response), a abordagem proposta pela OCDE (Environmental Indicators, A Preliminary Set, 1991) e seguida por outras agências internacionais (como é exemplo a Eurostat) desenvolve os seus indicadores suportada pelo conceito de causalidade, em que se observa que (Spangenberg e Bonniot, 2008: 5): “as atividades humanas exercem pressões sobre o ambiente; estas pressões alteram a qualidade do ambiente e a qualidade dos recursos naturais (o "estado" do ambiente); a sociedade responde a essas mudanças ambientais, através de políticas económicas gerais e sectoriais” (a "resposta" da sociedade). Assim, as respostas sociais formam um ciclo de feedback às pressões por meio de atividades humanas. Decorrente desta análise, os indicadores podem ser desenvolvidos para cada fase do modelo. Como reconhecem Spangenberg, Malley e Schmidt-Beek (1995: 6), este modelo apresenta graves lacunas, visto que se centra principalmente “em pré-determinados stresses ambientais que num determinado momento parecem ser motivo de preocupação política. Por conseguinte, os temas escolhidos são principalmente as questões do estado do ambiente como o declínio das florestas, biodiversidade, mudanças climáticas. (U) descartando ou minimizando interesse para os “inputs que advêm do domínio da tecnosfera e antroposfera”. Acresce, segundo os mesmos autores, que o modelo ao funcionar como "um conjunto de respostas aos sintomas e eventos episódicos de stress ambiental” (idem, ibidem), as suas políticas resultam em curativos rápidos que desvirtuam o desenvolvimento de abordagens a longo prazo (a que os autores designam de 'end-of-the-pipe-thinking’) e, portanto, é um modelo que acaba por não cumprir, plenamente, com os requisitos de políticas ativas ambientais.

b) Do Ambiente para a Sustentabilidade – Da análise ao documento ”A Report on Work in Progress” (1995), da responsabilidade do Banco Mundial verifica-se o esforço para aplicar o conjunto de indicadores ambientais no desenvolvimento de políticas. Porém, e apesar de continuar a existir uma aproximação ao sistema anterior, os indicadores fornecem informações adicionais e são mais abrangentes em relação ao conjunto inicial da OCDE. Uma das melhorias mais significativas associadas ao DSR relaciona-se com a evolução do conceito de "riqueza das nações" que deixa de ser avaliado de forma restrita, conotado apenas com questões económicas,

Outline

Documentos relacionados