• Nenhum resultado encontrado

Deveres de publicidade e de transparência e segredo estatístico Os deveres de segredo impostos às autoridades estatísticas e aos que, por força

Chapter 11 gives special attention to the issue of air quality “Air quality, exposure and health, as indicators of development and quality of life in cities: the case of Estarre-

3. Deveres de publicidade e de transparência e segredo estatístico Os deveres de segredo impostos às autoridades estatísticas e aos que, por força

das suas funções, tenham acesso às informações que permitam identificar os titulares dos dados recolhidos e tratados durante as operações estatísticas, convivem com de- veres de publicidade e transparência, que impendem sobre as entidades públicas, para garantia do direito fundamental à informação administrativa dos cidadãos e entidades coletivas privadas. Mas, como verificaremos, tais deveres são delimitáveis.

3.1. As entidades públicas administrativas estão obrigadas por deveres de publi-

cidade e de transparência, e de prestação de acesso a arquivos e registos administrati- vos, para garantia do direito à informação administrativa, direito de natureza análoga aos direitos, liberdades e garantias, com sede constitucional no n.º 1 (na vertente de direito à informação administrativa procedimental) e no n.º 2 (enquanto direito à informação administrativa não procedimental) do artigo 268.º da Constituição25.

Este direito fundamental à informação, enquanto direito de saber, e a transparên- cia a que obriga, cria para as entidades estatísticas o dever de divulgação das informa- ções estatísticas – a divulgação é, aliás, a sua razão de ser -, e permite aos particulares o acesso às informações administrativas - direito que é de todos, independentemente da afirmação de um interesse legitimante (artigo 268.º, n.º 2, da Constituição) -, nomea- damente àquelas que são transmitidas ao Sistema Estatístico Nacional, devendo este acesso ter lugar, preferencialmente, junto da entidade administrativa que as produz.

Estes deveres de transparência são particularmente destacados em matéria ambiental26.

A garantia do acesso a informações administrativas e o desenvolvimento de políticas ativas de divulgação de informação têm por objetivo tornar transparente a atuação administrativa, permitindo aos particulares um exercício ativo da “cidadania administrativa”, enquanto participantes num “processo comunicativo e não mero ob- jecto de decisões autoritárias dos poderes públicos”27. A informação, reveladora do funcionamento da Administração Pública, possibilita, nomeadamente, o controlo das decisões administrativas (por exemplo a sua imparcialidade), ou dos gastos públicos, constituindo, por outro lado, fundamento para o exercício do direito fundamental a uma participação administrativa informada28.

25 A Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto, regula o acesso aos documentos administrativos. O acesso à informação

sobre ambiente consta da Lei n.º 19/2006, de 12 de junho, que transpõe a Diretiva 2003/4/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de janeiro.

26 O acesso à informação sobre o ambiente está previsto na Diretiva 2003/4/CE, transposta pela Lei n.º 19/2006,

de 12 de Junho. A participação pública na elaboração de certos planos e programas relativos ao ambiente consta da Diretiva 2003/35/CE, e a participação do público, entre outras, na Diretiva relativas à Avaliação Ambiental Estratégica (Diretiva 2001/42/CE), e na Diretiva quadro da Água (Diretiva 2000/60/EC), transpostas por diversos diplomas. Por outro lado, o desenvolvimento sustentável, a proteção do ambiente e dos recursos naturais são, como afirmámos já, tarefas fundamentais do Estado.

27 Canotilho, J. J. G. & Moreira, V. (2010). Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol. II, 4.ª Edição, Coim-

bra: Coimbra Editora, p. 820.

161

A divulgação de informação pela Administração cumpre, além do mais, o dever de contributo dos Estados para o reaproveitamento ou reutilização da informação administra- tiva, de modo a dela se poder retirar todo o potencial de conhecimento acrescentado, e de mais-valia para o crescimento económico, desígnio europeu de crescente importância29.

Tais obrigações, de prestação de informação e de facultar o acesso a informação administrativa, com dignidade constitucional, justificam, como vimos, que a lei isente de segredo estatístico os dados, mesmo desagregados, que respeitem às entidades admi- nistrativas em si mesmas consideradas, sua organização e funcionamento, que consti- tuam a base da elaboração de estatísticas.

Em suma, os dados relativos às pessoas coletivas públicas, sua organização e atividade, que permitem a construção das informações estatísticas, ou seja, os dados relativos às pessoas coletivas públicas, enquanto “unidades estatísticas”, não estão pro- tegidos pelo segredo estatístico30.

O mesmo regime deverá abranger, com as devidas adaptações e limitações, as pessoas coletivas privadas que exerçam funções administrativas, dispondo de prerroga- tivas de autoridade, e apenas relativamente a essa atividade, ou seja, na estrita medida em que as informações estatísticas em causa relevem da atividade administrativa.

A não submissão dos dados acerca das entidades administrativas a reserva de segredo é justificada pela sujeição, constitucional e legal, da atividade das pessoas co- letivas públicas ao princípio da Administração aberta, impondo-se especiais deveres de transparência, designadamente em matéria ambiental. As obrigações que sobre elas im- pendem são concretizadas mediante a divulgação pública de informação, ou pelo acesso a informação pelos administrados, que tem por objetivo, nomeadamente, possibilitar-lhes o controlo da coisa pública, e da atividade e organização administrativas, a sua partici- pação na vida pública e nas decisões administrativas, em especial. Por outro lado, a di- vulgação de informação pretende tornar acessível dados úteis ao exercício da atividade privada, designadamente para fins de investigação científica.

Apesar deste princípio de transparência administrativa, a Constituição e a lei preocuparam-se com a salvaguarda dos registos estatísticos individuais, ou seja, os da- dos que, embora tratados no exercício de funções administrativas (e destinados, também, a fins estatísticos), digam respeito a cidadãos e a pessoas coletivas privadas, identifican- do-os. Significando que, relativamente ao acesso e divulgação de dados administrativos, se deverão manter as restrições no acesso às informações que identifiquem entidades

bunal Constitucional, assim como: Barbosa de Melo, A. M., (1983). As garantias administrativas na Dinamarca e o princípio do arquivo aberto. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, Vol. LVII, Coimbra; Miranda, J. (1988).

O Direito de Informação dos Administrados, O Direito, n.os 3 e 4, Ano 120, p. 457 e ss.

29 Como demonstram a Diretiva 2003/98/CE, de 17 de novembro, alterada pela Diretiva 2013/37/EU, de 26 de

junho, relativas à reutilização de informações do serviço público. A transposição foi realizada através da Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto.

30 Embora fosse, ainda, possível questionar a sujeição das entidades administrativas que exercem atividade

puramente privada, como as empresas públicas puramente concorrenciais. Veja-se o Acórdão n.º 496/2010, do Tribunal Constitucional, e declaração de voto junta.

162

privadas, singulares ou coletivas, ainda que enquanto unidades estatísticas, salvo nos casos excecionais de levantamento do segredo estatístico a que faremos referência.

Este condicionamento do acesso, por terceiros, às informações administrativas individuais objeto de tratamento estatístico, previsto na legislação do segredo estatístico, sempre resultaria, no caso de informações identificadoras de pessoas singulares, do regime dos direitos de acesso aos documentos e informações administrativos, que tam- bém restringem o acesso a informações nominativas.

Em suma, as entidades públicas administrativas têm obrigação de divulgar as estatísticas produzidas, de facultar acesso e de prestar informações sobre os dados estatísticos que respeitem à sua organização, funcionamento e atividade, incluindo os dados que possam servir para a construção de estatísticas. A Administração Pública não pode invocar, no que exclusivamente lhe respeite, o segredo estatístico. Tem o dever de transparência. Todavia, o seu dever de segredo – incluindo de segredo estatístico - man- tém-se quanto a dados pessoais, relativos a pessoas singulares e, nalguns casos, res- peitantes a pessoas coletivas, quando tais registos, pela desagregação da informação, as identifiquem.

Outline

Documentos relacionados