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Chapter 11 gives special attention to the issue of air quality “Air quality, exposure and health, as indicators of development and quality of life in cities: the case of Estarre-

3. O que são bons indicadores? Como construí-los?

3.2. Uma breve incursão pelas múltiplas opções metodológicas

Os principais debates metodológicos em torno de sistemas de IDS contrapõem- -se entre:

i) abordagens top-down (“técnicas”) versus abordagens bottom-up (“participa- tivas”);

ii) indicadores específicos/contextuais versus indicadores normalizados/har- monizados;

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iii) indicadores agregados versus indicadores simples; iv) diferentes modelos concetuais;

v) critérios determinantes na escolha de indicadores.

Nesta secção procedemos a uma curta análise dos restantes debates.

ii) A “indústria dos indicadores” tem gerado inúmeras metodologias distintas, des- coordenadas e sem capacidade para gerar consenso. Por esse motivo, muitos insistem que se deverá apostar na harmonização de indicadores para permitir a comparação entre territórios e contextos e assim possibilitar também uma visão sistémica, integradora, de to- dos esses indicadores. Recentemente, a nova norma ISO 2014: 37120 para Comunidades Sustentáveis passou a permitir que os municípios voluntariamente utilizem os indicadores desta norma e as metodologias de cálculo associadas, para que a comparação seja pos- sível a nível internacional e que essa informação seja disponibilizada de forma aberta e transparente (neste caso na plataforma online do World Council on City Data13). Outros

autores alertam para a importância dos indicadores refletirem o seu contexto cultural e institucional e, por conseguinte, ser necessário atribuir significado às suas especificidades e concentrar os esforços de harmonização apenas onde a comparabilidade é realmente necessária e de uma forma complementar a outros indicadores contextuais.

iii) Quanto ao terceiro debate, ele reflete uma das discussões metodológicas

mais antigas na teoria dos indicadores que está ligada à agregação de indicadores num único índice (Jesinghaus, 1999). As opiniões dividem-se entre as vantagens de ter um único índice para o desenvolvimento sustentável ou um conjunto mais ou menos amplo de indicadores. De um lado temos os que defendem as potencialidades de um único índi- ce e do outro os que advertem para os seus riscos e perigos, sustentando as vantagens de dispor de um conjunto desagregado de indicadores (Bell e Morse, 2003). Quanto aos autores que defendem as vantagens da construção de um índice, sustentam que se os pressupostos, as fontes dos dados e a metodologia de cálculo do índice, forem identi- ficados de uma forma clara, transparente e pública, o índice pode ser desagregado de imediato nas suas componentes individuais e nenhuma informação se perde ou desapro- veita (Hammond et al., 1995). Para além disso, os índices tendem a ser mais apropriados quando se quer obter um panorama sinóptico de questões complexas e abrangentes (Wong, 2006), permitindo comparar ao longo do tempo e entre espaços, e têm o poten- cial de simplificar, sensibilizar e fomentar o debate em torno de políticas públicas locais (OCDE, 1998; Jesinghaus, 1999). Têm, por isso, a vantagem de captar mais facilmente a atenção dos meios de comunicação social (Jesinghaus, 1999). No fundo, a grande vantagem de um índice é que simplifica a complexidade, num valor único, compacto e de fácil comunicação (Scholossberg e Zimmerman, 2003). O exemplo da Pegada Ecológica é, provavelmente, um dos mais paradigmáticos.

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Por outro lado, existem vários autores que chamam a atenção para os perigos e desvantagens técnicas de uma abordagem de agregação. Antes de mais, a técnica usada para agregar dados é sempre discutível e impelida por juízos de valor dos peritos (Bossel, 1999; Jesinghaus, 1999; Bell e Morse, 2003; Munda, 2005; Wong, 2006, entre muitos outros). Os métodos de agregação podem ocultar défices em alguns setores, o que pode ameaçar todo o sistema (Bossel, 1999). «O esquema de ponderação usado para combinar diferentes indicadores é muito semelhante a uma receita de culinária que especifica a quantidade dos diferentes ingredientes para se fazer um prato. É sempre curioso como o sabor do prato pode mudar dramaticamente com a simples variação da proporção relativa de cada um dos ingredientes usados. A lógica e consequência de se variar os ingredientes de uma receita aplica-se quando se está a criar um esquema de ponderação para combinar indicadores individuais» (Wong, 2006: p.81).

Assim sendo, os esquemas de agregação podem ser objeto de interpretação distorcida e também podem dar azo a representações incorretas, sobretudo quando se mistura “maçãs e cenouras”, i.e. variáveis que não podem ser medidas na mesma unida- de (Bossel, 1999). Além disso, os índices são menos sensíveis a questões específicas de níveis territoriais mais pequenos e é por isso que, sobretudo nas comunidades locais, se consegue encontrar a preferência por um conjunto de IDS em detrimento de um só índice (Wong, 2006). A última questão está relacionada com a complexidade dos siste- mas socioecológicos (Gallopin, 1997), que continua a ser verdade para um conjunto de indicadores, mas que se pode traduzir em graves complicações quando se usa um único índice. Briassoulis (citado em Hoernig e Seasons, 2004: p.87) observa que «a compreen- são das interdependências entre os três setores é, frequentemente, muito débil. Muitas vezes, os indicadores de sustentabilidade não têm poder explicativo, não identificando, por isso, fatores causais, incluindo agentes, mecanismos e processos de mudança». Por conseguinte, a maioria dos sistemas locais de IDS dão ênfase à elaboração de um con- junto de indicadores, mais ou menos exaustivo. Esta opção não está isenta de críticas, sobretudo, porque, por vezes, a escolha dos indicadores resulta de observações ad hoc sem qualquer contextualização teórica que a sustente ou que dê coerência a uma visão de conjunto. Podem igualmente tender a privilegiar algumas áreas (com mais indicado- res) e descurar outras (Bossel, 1999). É, por esta razão, que vários autores reconhecem a necessidade de organizar os IDS num modelo concetual consistente, isto é, num con- junto de regras que ajude a selecionar os indicadores de modo coerente e lhe atribua consistência com um todo. Isto leva-nos ao quinto debate metodológico enunciado.

iv) Um modelo concetual é uma forma de classificar, dividir ou agrupar indi-

cadores segundo determinadas áreas, com justificações concetuais, teóricas ou me- todológicas distintas. A construção de um modelo concetual em torno dos indicadores permite: orientar os processos de recolha de dados e informação; apoiar a comunicação dos resultados dos indicadores, sintetizando informação-chave para decisores; sugerir grupos lógicos para diferentes tipos de informação, promovendo a sua interpretação e

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integração; e, apoiar a categorização e estruturação da recolha e análise da informação. De acordo com Giovannini e Linster (2005), existem duas categorias gerais de modelos concetuais para selecionar os indicadores:

1. Modelos concetuais stricto sensu – organizam os indicadores de acordo

com determinadas conceções teóricas. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (2007), são cinco os principais grupos de modelos concetuais que se podem encontrar nesta categoria: (i) modelos económicos (ex:; (ii) mo- delos de stress e de stress-resposta (ex: pressão-estado-resposta (PER) e respetivas variações); (iii) modelos de capital (financeiro, humano, natural e social); (iv) modelos de bem-estar humano-ecossistema; (v) modelos repar- tidos pelos temas economia-ambiente-sociedade.

2. Modelos estatísticos ou contabilísticos – organizam os indicadores de acor-

do com regras estatísticas. Um exemplo disso são os sistemas de conta- bilidade integrada, baseados em informação contabilística, económica e ambiental, do desenvolvimento sustentável. Ex: O Sistema Satélite para inte- gração da Contabilidade Ambiental (System of Integrated Environmental and

Economic Accounting ou SEEA), publicado pela primeira vez pela Divisão de

Estatística das Nações Unidas em 1993 (Hammond et al., 1995) ou Matrizes de Contabilidade Social (SAMs) e Contas Satélite que providenciam informa- ção adicional ao Sistema Nacional de Contas (APA, 2007).

Todavia, se é certo que a abordagem “técnica” tende a escolher um destes mo- delos concetuais para justificar a escolha dos indicadores, a abordagem “participativa” tende a não se preocupar tanto com a “conceção” de um sistema de indicadores em particular mas mais com o seu processo de escolha.

v) Por fim, outra preocupação metodológica está relacionada com os critérios mais adequados para se selecionar um “bom” indicador ou um “bom” sistema de indica- dores, no sentido de evitar ou minimizar limitações metodológicas e fornecer informação válida e objetiva. A abordagem “técnica” define uma lista de critérios, mais ou menos consensual, para orientar esta seleção (IISD, 2000):

• Relevância – deve estar associado a uma ou várias questões em torno das

quais as principais políticas são formuladas e ter relação com os seus obje- tivos e metas;

• Disponibilidade de dados (acessíveis) – dados com qualidade técnica, dis-

poníveis a um custo razoável e não confidenciais;

• Facilidade na recolha de dados – operacionalidade e robustez dos métodos

de obtenção, processamento e análise, que permita a sua monitorização ao longo do tempo;

• Validade e credibilidade científica – o indicador deve refletir de forma preci-

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• Simplicidade e facilidade de comunicação – a informação deve ser apre-

sentada de forma compreensível e visualmente atrativa para o público-alvo;

• Número limitado – o número de indicadores não deve ser muito excessivo; • Relacionado com um horizonte temporal razoável e com uma área espacial

relevante – dados disponíveis para séries temporais e para unidades espa-

ciais relevantes;

• Adequado à escala e ao horizonte temporal em análise – dados disponíveis

para séries temporais e para unidades espaciais relevantes;

• Transparente – quanto às fontes dos dados, metodologias de cálculo e quan-

to a quem é responsável pelo cálculo. Deve indicar o que não mede e expli- car todos os seus pressupostos.

• Algumas questões complexas foram acrescentadas a estes critérios técnicos para incorporar não só as “qualidades técnicas” do indicador mas também cri- térios que potenciem os impactos sociais que este alcança (Miller, 2007). Nes- se sentido, outros critérios foram considerados como basilares (Miller, 2007):

• Participação – os indicadores devem emergir de um processo colaborativo

que envolva diversos atores na definição e operacionalização e cujas respon- sabilidades pelos indicadores sejam igualmente partilhadas e transparentes;

• Significado – os indicadores devem ter um sentido ou significado para as

pessoas, para as comunidades que os vão utilizar, devem motivá-las a que- rer mudar comportamentos em prol de um objetivo comum;

• Conhecimento local – os indicadores devem conjugar diversos tipos de co-

nhecimento, científico e de senso-comum.

• Peso histórico – dar tempo para que os atores locais conheçam os indicado-

res, aprendam com as suas flutuações e percebam o que isso implica nas suas próprias vidas/negócios/políticas. Devem, sempre que possível, valori- zar toda a conjuntura histórica do contexto;

• Adaptabilidade e flexibilidade – deve ser flexível e adaptável para se ir mol-

dando ao longo do tempo, numa perspetiva de melhoria contínua;

• Institucionalizar a produção de conhecimento – a capacitação das institui-

ções é determinante para a continuidade dos indicadores.

Neste pequeno resumo, torna-se evidente a complexidade e diversidade de questões metodológicas em torno dos IDS. A próxima secção é por isso determinante, ao pôr em evidência um conjunto de princípios que devem ser norteadores das experiências locais com indicadores de desenvolvimento sustentável.

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