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Chapter 11 gives special attention to the issue of air quality “Air quality, exposure and health, as indicators of development and quality of life in cities: the case of Estarre-

5. Fontes positivas do dever de monitorização

5.2. O dever de monitorização no Direito da União Europeia

Em termos gerais na União Europeia, o princípio da cooperação leal é o fundamento genérico do dever de monitorização: “em virtude do princípio da cooperação leal, a União e os Estados-Membros respeitam-se e assistem-se mutuamente no cumpri- mento das missões decorrentes dos Tratados”80.

Também os quatro pressupostos da política europeia do ambiente parecem cor- roborar a obrigação de monitorizar:

“Na elaboração da sua política no domínio do ambiente, a União terá em conta: — os dados científicos e técnicos disponíveis,

— as condições do ambiente nas diversas regiões da União,

— as vantagens e os encargos que podem resultar da actuação ou da ausên- cia de actuação,

— o desenvolvimento económico e social da União no seu conjunto e o desen- volvimento equilibrado das suas regiões” 81.

O primeiro pressuposto alude à necessidade de fundamentar cientificamente as políticas, apoiando-as no conhecimento científico acerca da realidade regulada. O mes- mo tipo de conhecimento que as matrizes de indicadores de desenvolvimento sustentá- vel proporcionam.

Depois, é referida a necessidade de ter em consideração as condições ambien- tais nas diversas regiões da União. Ora os indicadores permitem-nos ter uma visão muito realista sobre as variações regionais dos dados observados.

Em seguida, sublinham-se as vantagens e os encargos que podem resultar da atuação ou da ausência de atuação. Ora, a perspetiva global e a importância relativa das diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável, revelada através de matrizes de indicadores de desenvolvimento sustentável facilitam a ponderação de vantagens e encargos inerente a decisões complexas e opções públicas difíceis.

Por fim, relativamente ao desenvolvimento económico e social equilibrado da União, também a monitorização é fundamental pois só a disponibilidade de dados regio- nais permite a prossecução de objetivos de desenvolvimento harmonioso, que atenda às diferenças regionais, auxiliando os Estados mais afastados das médias ideais europeias a aproximar-se do pelotão da frente.

80 Artigo 4 n.3 do Tratado da União Europeia.

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Em suma, os quatro pressupostos apontam mais uma vez no sentido de políticas europeias apoiadas numa monitorização sistemática através de matrizes de indicadores objetivos, fiáveis e comparáveis.

Porém, o passo mais ambicioso de reforço dos deveres inerentes à monitoriza- ção foi dado em 2007, através da Diretiva que estabelece uma infra-estrutura de informa- ção geográfica na União Europeia. A diretiva designada Inspire visa assegurar a criação e disponibilização pelos Estados-Membros de todos os dados e metadados relevantes para efeitos das políticas ambientais europeias e de todas as políticas ou atividades suscetíveis de gerar impactes ambientais. A informação que deverá estar disponível para utilização pelas autoridades públicas e pelo público em geral é vastíssima e abrange os recursos energéticos, minerais, hidrografia, geomorfologia, habitats, biótopos, ocupação de solo, demografia, zonas de risco natural, redes de infraestruturas de transporte, sa- neamento etc.82. Os aspetos técnicos relativos à interoperabilidade dos dados83 estão regulamentados ao nível europeu de forma a conferir efetividade ao sistema Inspire.

Em termos mais políticos já em 2010 o Conselho Europeu, ao debater a melho-

ria dos instrumentos de política ambiental, tinha sublinhado a importância de harmonizar os requisitos de monitorização ambiental na União, bem como de agilizar os requisitos legais para a apresentação de relatórios ambientais84.

Em resposta, a Comissão Europeia adota uma Comunicação sobre “como tirar

melhor partido das medidas ambientais da UE: melhor conhecimento e reatividade para consolidar a confiança”85.

Em 2014 deu-se, na União Europeia, uma mudança de paradigma que se fará sentir, ao nível dos Estados Membros, expetavelmente a partir de Dezembro de 2016. Referimo-nos ao dever de as empresas de grande dimensão passarem a reportar infor- mação não financeira relativamente à sua atividade86. Destacamos especialmente o de- ver de os operadores económicos abrangidos produzirem e divulgarem dados relativos ao seu desempenho, posição e impacto das suas atividades pelo menos em relação às questões ambientais, sociais e relativas aos trabalhadores, ao respeito dos direitos hu- manos, ao combate à corrupção e às tentativas de suborno87.

Esta Diretiva sobre informação não financeira denota bem a nova tendência de alargamento do dever de monitorização de entidades públicas para abranger também entidades privadas. A partir de 2017 os operadores económicos deixarão de estar obri-

82 Artigo 1 e Anexo I da Diretiva 2007/2 de 14 de Março de 2007.

83 Ver o Regulamento 1089/2010 da Comissão, de 23 de Novembro de 2010, que estabelece as disposições de

execução da Diretiva 2007/2/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativamente à interoperabilidade dos conjuntos e serviços de dados geográficos (alterado pelo Regulamento 102/2011 de 4 de fevereiro de 2011, pelo Regulamento 1253/2013 de 21 de outubro de 2013 e pelo Regulamento 1312/2014 de 10 de dezembro de 2014).

84 Ponto 10 das Conclusões do Conselho Europeu, reunido em Bruxelas em 20 de dezembro de 2010. 85 Comunicação ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité

das Regiões, COM (2012) 95 final, de 7 de março de 2012.

86 Introduzido pela Diretiva 2014/95, de 22 de outubro de 2014. 87 Artigo 19 –A 1.

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gados apenas a um mero dever de colaboração e passarão a assumir eles próprios um dever de executar atividades de recolha, tratamento e divulgação de dados. Em suma, uma monitorização ativa por entidades privadas.

Indo ainda mais longe, a Diretiva Europeia sobre o acesso do público à informa- ção ambiental88 põe um requisito adicional de grande importância: a comparabilidade da informação89.

Só a comparabilidade — geográfica, temporal e entre setores — dá uma imagem global da realidade indo para lá da frieza dos números e proporcionando uma visão glo- bal que permite a compreensão cabal da relevância das tendências sociais ambientais e económicas reveladas.

Por outras palavras, tudo aponta, mais uma vez, para a utilização de matrizes de indicadores de desenvolvimento sustentável.

Finalmente, a prova definitiva de que ao nível europeu, estamos perante uma obrigação jurídica e justiciável é a condenação de diversos Estados Membros por não terem levado a cabo a monitorização a que estavam obrigados pelas diretivas ambien- tais, designadamente do setor das águas90.

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