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Chapter 11 gives special attention to the issue of air quality “Air quality, exposure and health, as indicators of development and quality of life in cities: the case of Estarre-

7. Monitorização no âmbito das políticas públicas

7.2. Princípios da monitorização

Não havendo legislação que contenha regras gerais sobre monitorização ambiental, e ainda menos sobre a monitorização da sustentabilidade, a identificação de alguns princípios jurídi- cos básicos sobre esta atividade afigura-se como muito importante. Mais uma vez não pode- mos deixar de assinalar as similitudes entre os seguintes princípios legiferantes e alguns dos critérios doutrinais usados na seleção dos indicadores de desenvolvimento sustentável130. Assim, os princípios que devem presidir à elaboração de matrizes de indicadores de de- senvolvimento sustentável são:

Cientificidade - Rigor na seleção, obtenção, tratamento e comunicação dos dados. Imparcialidade - Dar tanto relevo à monitorização dos indicadores mais mediáticos como

aos mais invisíveis, mas que possam revelar aspetos importantes para o desenvolvimento sustentável.

Cidadania – A par da monitorização dos dados objetivos, sobre o estado dos compo-

nentes ambientais, as grandes questões sociais e os problemas económicos, monitorizar também as perceções sociais sobre esses factos.

Democraticidade – Na seleção de indicadores a utilizar na monitorização, atribuir relevân-

cia aos temas considerados importantes pelos cidadãos, ainda que não correspondam às principais prioridades políticas.

Reutilização - Usar dados existentes na posse de entidades públicas, sempre que possível ra-

cionalizando os custos da produção da matriz de indicadores de desenvolvimento sustentável.

Estabilidade – Respeitar uma invariabilidade tendencial da monitorização no que respei- 130 Ver, por todos, Sara Moreno Pires, Sustainability Indicators and Local Governance in Portugal, Universida-

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ta à periodicidade, aos indicadores concretos utilizados, à área geográfica abrangida, às amostras selecionadas, às atividades cobertas, etc..

Comparação – Se já existem outros municípios, regiões ou Estados com experiência de

medição utilizando certos indicadores, adotar os mesmos indicadores pode ser uma boa prática para permitir a comparação.

Integração – a integração deveria ser um princípio estruturante, no sentido em que deve-

mos cada vez mais perceber as sinergias, trade-offs e complementaridades entre múltiplos dados, na era da “revolução digital” dos grandes dados (big data).

Avaliação- Monitorizar a situação antes e depois da adoção de novas medidas para ava-

liar a sua eficácia na prossecução do desenvolvimento sustentável.

Aferição – Controlar o cumprimento de obrigações legais e a progressão em relação a

metas publicamente definidas.

Estratégia – A monitorização prolongada proporciona, ao mesmo tempo, uma perspetiva

histórica e prospetiva, revelando tendências e apoiando a tomada de decisões estratégi- cas.

Transformação - Em última instância, divulgar os resultados do desempenho ambiental,

social, económico e da governância pode ajudar a conquistar adesão dos cidadãos e dos

stakeholders, contribuindo para promover a transformação social no sentido pretendido. Transparência- A divulgação dos resultados da monitorização corresponde ao dever de

comunicar aos cidadãos os resultados da atuação dos poderes públicos proporcionando um acesso passivo à informação, sem necessidade de solicitação prévia.

8. Conclusão

Após tudo o que foi dito pode considerar-se que não cumpre a obrigação de prosseguir ativamente o desenvolvimento sustentável quem (seja entidade pública, seja entidade privada) se limitar a tentar promover a sustentabilidade de forma “autista” ou “às escuras”, isto é, sem monitorização.

A monitorização é um processo científico, democrático, sistemático, reiterado e consequente, assegurando — tal como exigido pela lei — o rigor, atualização e compa- rabilidade da informação produzida.

Mas a monitorização do desenvolvimento sustentável é muito mais do que isso: é responsabilizar os decisores pelas medidas aplicadas, é revelar tendências ao longo de períodos temporais alargados, é corrigir trajetórias, é contribuir para operar transfor- mações sociais, é estimular a participação dos cidadãos, é cumprir o dever fundamental de informar os cidadãos.

Monitorizar é um dever jurídico geral incontornável. Fazê-lo através da utilização de indicadores de desenvolvimento sustentável, é a única forma séria de orientar políti-

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Agradecimentos

O presente capítulo teve o apoio do Dr. Leong Hong Cheng na fase inicial do projeto M.A.I.S. Estarreja na recolha, compilação e sistematização legislativa. A autora agradece o cuidado e a competência do trabalho desenvolvido.

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1. Introdução

A literatura da especialidade e diversos exemplos práticos têm revelado que a adopção de sistemas de indicadores de sustentabilidade tem um grande potencial não apenas para avaliar o progresso em direcção à sustentabilidade, mas também para in- centivar melhores formas de governação. A par de outros instrumentos de governação, esta ferramenta tem vindo a ser muito utilizada por municípios. Moreno Pires e Fidélis, (2012), Moreno Pires et al (2014), Moreno Pires e Fidélis (2014), entre muitos outros autores, discutem o valor acrescentado da utilização de indicadores locais de desenvol- vimento sustentável, tanto em contextos internacionais como no nacional. Entre os ob- jectivos que motivam a utilização de indicadores está o acompanhamento e a avaliação dos efeitos que determinados instrumentos de governação geram sobre a prossecução da sustentabilidade ambiental. Neste contexto merecem especial destaque os Planos Directores Municipais (PDM) que determinam, entre outros aspectos, o modelo de de- senvolvimento territorial, as normas de uso do solo e respectivas condicionantes, bem como os investimentos estruturantes.

Em territórios envolventes a zonas estuarinas, em especial as classificadas por valores ambientais, importa que os efeitos ambientais resultantes da implementação dos modelos territoriais propostos pelos PDM sejam devidamente monitorizados. Recorde-se que as zonas estuarinas são áreas onde convergem diversos sistemas ecológicos e so- cietais, bem como, múltiplas expectativas de utilização dos bens e serviços ambientais existentes, na sua grande maioria de carácter transversal aos territórios municipais asso- ciados. Este tipo de zonas, onde a conservação dos valores ambientais e o desenvolvi- mento económico são frequentemente vistos como fins conflituantes, requer um estreito equilíbrio das opções de política, planeamento e governação (Fidélis e Carvalho, 2014). Por este motivo, nestas zonas, tendo presente a crescente relevância da avaliação dos efeitos das políticas e dos planos sobre os territórios e a respectiva sustentabilidade ambiental (Evans, 2012), a monitorização deverá ser focada sobre os efeitos à escala municipal, sobre a sua comparabilidade entre municípios, e, também, sobre os efeitos cumulativos que exercem nos valores ambientais que lhes são transversais.

Na falta de instrumentos específicos de avaliação da sustentabilidade em zonas estuarinas no contexto português (pese embora a legislação tenha previsto a elaboração de planos de ordenamento de estuário através do Decreto-Lei 129/2008 de 21 de Julho), o objectivo deste capítulo é expor uma análise exploratória sobre os indicadores de mo-

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nitorização da implementação dos PDM adoptados pelas Declarações Ambientais (DA) da respectiva Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) para um conjunto de municípios envolventes a uma zona estuarina. Para o efeito usam-se como casos de estudo as De- clarações Ambientais dos PDM dos municípios envolventes à Ria de Aveiro. Analisam-se as listas de indicadores adoptadas pelas DA relativas aos PDM de Albergaria-a-Velha, Águeda, Estarreja, Ílhavo, Oliveira do Bairro, Ovar, e Sever do Vouga. Aveiro não foi in- cluído por não ter ainda concluído o processo de revisão e avaliação ambiental do PDM. O objectivo principal da análise é salientar as temáticas sobre as quais os indicadores se estão a debruçar, os padrões de diferenciação e, também, avaliar até que ponto a Ria de Aveiro é de alguma forma referida nos indicadores.

O capítulo está estruturado em cinco secções. Depois desta secção introdutória, a segunda secção expõe de forma breve a relevância da incorporação de indicadores de sustentabilidade na avaliação do contributo do planeamento territorial para a pros- secução do desenvolvimento sustentável e o papel dos sistemas de indicadores asso- ciados. Usando as áreas estuarinas como mote, esta secção salienta a importância das abordagens intermunicipais ou regionais, a par das abordagens municipais. A terceira secção apresenta os principais objectivos da avaliação ambiental estratégica de planos territoriais, em especial de PDM, e os traços fundamentais estabelecidos pela legislação nacional no que diz respeito ao acompanhamento e monitorização daqueles planos. A quarta secção apresenta os resultados da análise exploratória das listas de indicado- res adoptados pelas DA dos municípios envolventes à Ria de Aveiro evidenciando as temáticas fundamentais, os principais padrões de diferenciação e o modo como a Ria é abordada. A quinta, e última secção, conclui o capítulo com um conjunto de notas finais e recomendações.

2. Avaliação do ordenamento do território, contextos estuarinos e indi-

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