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Introdução: porque precisamos de indicadores de desenvolvimento sustentável?

Chapter 11 gives special attention to the issue of air quality “Air quality, exposure and health, as indicators of development and quality of life in cities: the case of Estarre-

1. Introdução: porque precisamos de indicadores de desenvolvimento sustentável?

Vivemos tempos acelerados, complexos, incertos. São tempos com múltiplas pressões, que exigem decisões rápidas: pressões por competitividade, inovação, cria- ção de emprego; pressões por transparência, eficiência, igualdade e justiça; pressões por mercados financeiros equilibrados e finanças públicas estáveis; pressões pelo terro- rismo; pressões pelas alterações climáticas; pressões externas e internas, com rosto ou sem ele. A globalização esbateu fronteiras físicas e tem feito confluir interesses variados e estratégias de atores distintos, numa sucessão de escalas territoriais a uma velocidade sem precedentes.

Por um lado, temos um tempo cada vez mais ‘efémero’. A revolução digital das últimas décadas coloca o volume, a variedade e, sobretudo, a velocidade da informação ao nosso dispor - e a concomitante pressão para a celeridade na tomada de decisões – em permanente confronto com o necessariamente moroso, controverso e complexo processo de aprendizagem, de educação e de conhecimento coletivo - sob todo um pas- sado, uma história e um acumular de valores.

Por outro, temos um tempo cada vez mais ‘real’. A agonia de recursos econó- micos escassos, exacerbada pela dura crise económico-financeira dos últimos anos, converge com a agonia de recursos naturais sob ameaça exponencial, mas esta mais silenciosa e duradoura, e não menos impactante ou urgente.

Como escreve Rui Cunha Martins (2013) são tempos que potenciam um “desa-

mor do contraditório”. O excesso de evidências, de informação, de indicadores simboliza uma realidade que propicia uma fusão rápida e acrítica de uma observação com o seu significado, deixando de lado espaço e tempo para as múltiplas interpretações possíveis e para o debate, que necessariamente exige mais. O debate em torno de valores, ética, limites e questões importantes para o futuro das cidades assenta num processo que é tendencialmente mais longo do que curto, mais conflituante do que consensual e mais deliberativo do que meramente decisivo (Moreno Pires et al., 2016).

De facto, os avanços da ciência provam sistematicamente este paradoxo entre mais conhecimento e a incapacidade de debater e atuar eficazmente sobre a realidade. Desde meados dos anos de 1950, o impacto das atividades humanas no Sistema da Ter- ra aumentou exponencialmente, o que levou a comunidade científica a chamar esta épo-

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ca de “A Grande Aceleração” (Rockström et al., 2009; IPCC, 2013; SCBD, 2014; Steffen et al., 2015; UNEP, 2012; EEA, 2015). Do lado sócio-económico, registou-se um aumento

exponencial da população mundial, do rendimento real global, do turismo internacional, do consumo de fertilizantes, entre outras tendências, e do lado do Sistema da Terra veri- ficaram-se aumentos exponenciais da perda de biodiversidade, das emissões de gases com efeito de estufa, da acidificação dos oceanos, da perturbação do ciclo do azoto, entre outros (Rockström et al., 2009). Estes são apenas alguns exemplos destas fortes, mas sobretudo rápidas transformações1 que se dão em simultâneo com um adensar de normas ambientais mais restritivas, um proliferar de tratados internacionais e conven- ções multilaterais, com um aumento da consciência global dos problemas ambientais e com cada vez mais e inovadores instrumentos políticos. De todo o modo, continuam a ser incapazes de inverter ou de evitar esta rápida e continuada aceleração.

Os Limites do Planeta (Planetary Boundaries Initiative, 2015) trouxeram em 2009 um novo quadro normativo importante para este debate, revelando as incertezas e os perigos associados a esta aceleração (Rockström et al., 2009). Não propriamente novo pelas suas componentes, mas novo na forma como as agrega e as vê sob a forma de Sistema, com o intuito de proteger e manter o “espaço operacional seguro para a huma- nidade” (the safe operating space for humanity). Este “espaço seguro” advém da época geológica do Holoceno, durante a qual, nos últimos 10 000 anos, assistimos a um oscilar muito ténue das temperaturas médias globais entre 1ºC (Rockström et al., 2009). Foi

justamente este período que permitiu ao ser humano obter as condições naturais essen- ciais ao desenvolvimento das suas civilizações (ESDN, 2013). Partindo do pressuposto de que gostaríamos de manter a estabilidade deste período, um conjunto de cientistas internacionais de múltiplas áreas das ciências naturais tentaram compreender que pro- cessos bio-físico-químicos do Sistema Terra permitiriam manter estável essa variação da temperatura global terrestre e assim manter as condições do Holoceno (ESDN, 2013). A surpresa deu-se pelo facto dos cientistas terem concluído ser possível sistematizar, num conjunto relativamente pequeno, nove processos primordiais para essa manutenção. A esses processos associaram variáveis de controlo para os medir e avaliaram os graus de risco e incerteza quando a limites que não deveriam ser ultrapassados, sob pena de destabilizar todo esse “espaço seguro”. Esses nove Limites do Planeta, essenciais para balizar o certo do incerto, orientam – ou deveriam passar a orientar – todo o novo enqua- dramento político, jurídico2, económico, social, cultural, ético e ambiental. A própria União Europeia já incorpora politicamente este quadro normativo no seu discurso e intitulou o seu 7º Programa de Ação em Matéria do Ambiente 2013-2020 de “Viver bem, dentro dos limites do nosso planeta”.

Os Limites do Planeta foram também determinantes na discussão em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, no seio das Nações Unidas. Desta discus- são surgiu a Agenda 2030, assumida por todos os 193 países membros em setembro de

1 Para mais informações ver http://www.anthropocene.info/great-acceleration.php.

2 Veja-se o grande contributo dado por Magalhães et al. (2016) no Livro Safe Operating Space Treaty, que ana-

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2015, definindo 17 Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas (UN, 2015): “nunca antes os líderes mundiais se comprometeram com uma ação comum e um esforço via uma agenda política tão ampla e universal” (UN, 2015: p.7).

Concluímos esta introdução como começámos, reforçando que vivemos tempos rápidos, complexos, incertos. No fundo, o que esta complexidade nos ensina é que as soluções não são, nem serão, únicas, nem muito menos interpretadas da mesma forma por todos. Os caminhos são múltiplos, as opções multifacetadas, a forma de perceber o que nos rodeia também. Mas, mais do que nunca, somos co-responsáveis por princípios e objetivos globais comuns. Os indicadores de desenvolvimento sustentável (IDS) tor- nam-se assim, cada vez mais ferramentas imprescindíveis para debater, de forma mais consciente, as distintas faces destes problemas complexos e das possíveis soluções. Mas que vantagens nos trazem os indicadores? E que dilemas e obstáculos encerram em si? Serão fáceis de definir, a nível local, quando pretendemos medir algo tão com- plexo, interligado e indissociável, como desenvolvimento sustentável? Quem deve definir estes indicadores? Para quê e para quem? E porquê a nível local, se os desafios são globais? As próximas secções deste capítulo tentam trazer algum discussão em torno destas questões, no sentido de reforçar a importância destes instrumentos para o con- texto local Português e mostrar porque é que os IDS não são – nem devem ser – só mais

informação, mais dados, que se acumulam sem utilidade ou aplicação.

2. As vantagens e os dilemas dos indicadores locais de desenvolvimen-

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