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Chapter 11 gives special attention to the issue of air quality “Air quality, exposure and health, as indicators of development and quality of life in cities: the case of Estarre-

2. As vantagens e os dilemas dos indicadores locais de desenvolvimen to sustentável

2.2. Público-alvo e utilidade dos indicadores

Assumindo que os IDS são um excelente instrumento para comunicar, sensibi- lizar e educar, não só a população em geral, mas também políticos, decisores, técnicos e os mais variados agentes económicos, para a necessidade de alterar políticas, estilos de vida e comportamentos, percebe-se a necessidade de adequar a mensagem e o tipo de indicadores ao público-alvo. Na Figura 1, destacamos justamente a ligação entre tipo de indicadores e tipo de audiência pretendida.

Na ‘pirâmide da informação’ (à esquerda), podemos ver que os dados podem ser sintetizados num único índice (como, por exemplo, a Pegada Ecológica), num grupo de (poucos) indicadores-chave (como, por exemplo, os Indicadores Chave de Desenvolvi-

mento Sustentável do Algarve) ou num conjunto mais ou menos alargado de indicado-

res sociais, económicos, ambientais, institucionais (como o Sistema de Indicadores de

Desenvolvimento Sustentável de Portugal). A cada um destes níveis de agregação de

dados corresponde um público alvo mais adequado (espelhado na pirâmide da direita). Braat (1991) defende, por exemplo, que os índices são preferíveis para o público em geral, porque transmitem mensagens inequívocas, sem redundância e numa mensagem única. Por outro lado, os decisores políticos preferem dados mais desagregados e que possam ser associados a objetivos concretos, critérios de avaliação ou metas. Por último, os analistas profissionais e os cientistas preferem dados em bruto para que possam ser analisados estatisticamente através de diferentes metodologias (Moreno Pires, 2012).

FIGURA 1. “A pirâmide de informação” e os seus potenciais utilizadores

Fonte: Adaptado de Hammond et al. (1995) e Braat (1991).

Percebemos, com esta Figura, a importância de associar o tipo de indicadores (bem como o tipo de estratégia de comunicação) ao tipo de público-alvo para que se pos- sa potenciar o alcance, a eficácia e a utilização destes instrumentos. Mas de que forma podemos utilizar os indicadores?

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Enquanto alguns autores tendem a defender uma relação direta entre mais e melhores indicadores e melhores políticas, outros tendem a realçar o quão errada esta relação linear é na prática. Wong (2006) afirma de forma irónica que a introdução de um regime político com base na evidência – evidence based policy - não é sustentado em nenhuma prova concreta de que existe uma relação direta entre investigação científica e decisões políticas ou entre melhor informação e melhores políticas. Hammond et al. (1995) concordam no sentido em que se assiste a um bombardeamento de grandes quantidades de dados – a que hoje chamamos de Data Revolution – mas que, por vezes, nem os responsáveis políticos, nem o público, têm conseguido interpretar ou usar. Estas preocupações e questões, sobre a utilidade real dos indicadores e a necessidade de compreender como e até que ponto são usados, ou por quem, são especialmente explo- radas por autores como Gudmundsson (2003), Hezri (2004), Hezri e Dovers (2006) ou Rosenström (2009). Aqui destacamos a tipologia de Hezri (2004) que concetualiza uma taxonomia interessante de cinco possíveis usos para os indicadores:

(1) Uso instrumental – quando existe uma relação direta ou linear entre indicadores e decisões (ação e resolução de problemas).

Exemplo: O elevado consumo de eletricidade de uma organização detetado por um indicador leva à implementação de estratégias de redução desse consumo, como substituição de lâmpadas, etc.

(2) Use concetual – quando os indicadores alteram a perceção de um utilizador re- lativamente a um problema ou situação (esclarecimento). Ao longo do tempo, o uso concetual pode resultar em decisões. Exemplo: a tomada de consciência da excessiva produção de resíduos de papel de escritório numa organização, e do seu impacte ambiental negativo, pode levar à alteração gradual de comportamen- tos por parte dos colaboradores no sentido da redução do uso de papel, quer na organização, quer nas suas vidas pessoais. Ao longo do tempo, o uso concetual pode resultar no estabelecimento de metas concretas de redução de papel nessa organização.

(3) Uso tático – quando os indicadores são usados como tática moratória, para subs- tituir a ação ou para desviar críticas. É pouca a relevância da substância do indi- cador ou do que mede.

Exemplo: A qualidade do ar em determinado município no seu global é boa ou muito boa, o que pode levar à não implementação de ações de correção de problemas graves de qualidade do ar em determinadas zonas desse município. (4) Uso simbólico – quando os indicadores são usados como garantias ritualistas, para

que os decisores políticos mantenham as atitudes adequadas aquando do proces- so de tomada de decisão. São usados como sinal ou símbolo de uma realidade. Exemplo: A taxa de desemprego é muito elevada em determinado município justi- ficando medidas de atração de investimento por parte de indústrias, mesmo sem acautelar os diversos impactes negativos que podem trazer para o ambiente.

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(5) Uso político – quando o conteúdo dos indicadores se transforma numa mensa- gem para sustentar uma posição predeterminada de um utilizador. Trata-se de persuadir outros de um ponto de vista particular do problema e da sua solução. Exemplo: “Considerando os valores nacionais de emissões de gases com efeito

de estufa, e dadas as obrigações decorrentes do protocolo de Quioto, não temos alternativas se não aprovar o Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidrológico (PNBEPH)”.

Num contexto local, diferentes atores podem usar os mesmos indicadores de diferentes formas e com diferentes objetivos. Por esse motivo, esta classificação serve apenas como orientação e não pretende representar todos os tipos de uso possíveis (Hezri, 2004). No artigo de Hezri com Dovers (2006), estes assumem que a tipologia supramencionada pode ajudar a evitar o perigo de se olhar para os indicadores apenas sob uma perspetiva técnica ou tradicional, isto é, como ferramentas de informação para o ciclo de políticas públicas (tal como qualquer outro sistema de informação), destinados unicamente a uma utilização instrumental por parte dos governos (Moreno Pires, 2011).

TABELA 2. Potenciais usos de indicadores locais de desenvolvimento sustentável

Tipo de uso Descrição

Uso instrumental (resultados concretos)

Utilizar para definir novos planos/programas Incorporar no planeamento

Comparar (no espaço e no tempo) Influenciar decisões

Monitorizar o progresso de estratégias Alterar a distribuição de recursos

Uso concetual (resultados intangíveis)

Servir de fórum para discussões públicas Disseminar informação

Educar e consciencializar

Ver e entender uma perspetiva global Promover novas relações de trabalho Mudar valores

Uso simbólico

Fundamentar o discurso político Mostrar tendências aos outros

Justificar ou sustentar pontos de vista ou políticas Chamar a atenção para determinados assuntos Servir como informação de fundo

Fonte: Adaptado de Gahin et al. (2003) e Rosenström (2006) (em Moreno Pires, 2012)

Perceber estes múltiplos usos interessa, também, para prevenir ou compreender os seus possíveis abusos. Veja-se, por exemplo, a excelente discussão sobre os efeitos indesejados da comunicação de indicadores de desenvolvimento sustentável em Lyy- timäki et al. (2014).

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