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POLÍTICAS PÚBLICAS

5.3 MEDIDAS COERCITIVAS NOS PROVIMENTOS MANDAMENTAIS: EXECUÇÃO INDIRETA EM FACE DO ESTADO

5.3.1 O bloqueio coercitivo de recursos públicos

Uma das medidas de caráter coercitivo que por vezes tem apresentado resultados satisfatórios, na prática, para obter a efetivação dos provimentos judiciais emitidos em face do Erário, tem sido o bloqueio, em contas bancárias públicas, dos valores necessários ao custeio das providências bastantes à satisfação do interesse tutelado na ação.

Trata-se, vale frisar, de um mecanismo indutivo da atuação estatal à efetivação da ordem judicial, não consistindo – apesar de implicar em restrição da utilização dos recursos bloqueados –, em medida sub-rogatória, já que não possui, na modalidade ora versada, finalidade expropriatória em relação aos bens integrantes do patrimônio público.

Equivale tal medida, em termos pragmáticos, à indisponibilidade de ativos financeiros prevista no art. 854 do CPC, distinguindo-se fundamentalmente desta, porém, porque não implica na realização de penhora, e muito menos na possibilidade de levantamento pelo exequente. Busca-se, com o bloqueio coercitivo de verbas públicas, compelir o gestor a utilizá- las para o propósito específico de dar cumprimento à determinação judicial exequenda, impedindo-o de empregar os recursos em finalidade diversa.

Consigne-se, por oportuno, que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, diante do caráter meramente exemplificativo do rol de medidas executivas previstas no art. 461, § 5º, do CPC revogado (cuja dicção foi repetida pelo art. 536, § 1º, do novo Código), tem admitido, em situações excepcionais, o bloqueio de verba pública para fins de levantamento e

325 YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicional específica nas obrigações de declaração de vontade. São

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utilização, pelo próprio beneficiário, para custear a aquisição de medicamentos ou realização de tratamento de saúde indispensáveis à preservação da vida de usuário do SUS.326

No bloqueio coercitivo, contudo, preserva-se a competência do ente estatal para a prática dos atos necessários à implementação da política pública, restringindo-se, apenas, a destinação dos recursos correspondentes, que ficam materialmente vinculados à consecução dos objetivos afirmados no provimento judicial exequendo.

Tal medida tem sido amplamente aceita pela jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, especialmente em demandas relacionadas à defesa de interesses difusos e coletivos, visando a efetivação de direitos fundamentais como a educação,327 segurança pública,328 acessibilidade das pessoas com deficiência,329 dentre outros.

Deve-se admitir, de todo modo, que a realização de atos constritivos sobre recursos públicos, a depender do montante da verba atingida, pode representar risco à continuidade de serviços indispensáveis à população, motivo pelo qual se exige, sobretudo nos casos de repercussão pecuniária mais significativa, cautela na adoção de tal providência, que deve ser imposta mediante a análise de dados financeiros e orçamentários, coletados e discutidos em contraditório com as partes e demais interessados.

Não se pode olvidar, sob outra ótica, que a medida carente de efetivação pela Administração Pública pode destinar-se, na hipótese concreta, a preservar direito fundamental relacionado ao mínimo existencial, ou a realizar política pública injustificável e abusivamente negligenciada pelo gestor, de maneira que o retardamento na satisfação do interesse tutelado no processo pode redundar, isto sim, na perpetuação de uma inaceitável situação de violação de direitos, por força de indevida omissão estatal.

326 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (1ª Seção). AgRg nos EREsp 796509/RS, Relator Min. Luiz Fux.

Brasília, 11 out. 2006. DJ de 30 out. 2006, p. 233. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200600890202&dt_publicacao=30/10/200 6>. Acesso em: 08 abr. 2016.

327 Id. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte (1ª Câmara Cível). Agravo de Instrumento n°

2012.000750-6, Relator Des. Expedito Ferreira. Natal, 14 fev. 2013. Disponível em: <http://esaj.tjrn.jus.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?&CDP=0100053NT0000&nuProcesso= 2012.000750-6>. Acesso em: 08 abr. 2016.

328 Id. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte (3ª Câmara Cível). Agravo de Instrumento n°

2013.015332-5, Relator Des. João Rebouças. Natal, 19 nov. 2013. Disponível em: <http://esaj.tjrn.jus.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?&CDP=01000747G0000&nuProcesso=2 013.015332-5>. Acesso em: 08 abr. 2016.

329 Id. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte (2ª Câmara Cível). Apelação Cível n° 2012.017000-

5, Rel. Juiz Convocado Francisco Seráphico da Nóbrega Coutinho. Natal, 27 jan. 2015. Disponível em: <http://esaj.tjrn.jus.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?&CDP=010005ZLP0000&nuProcesso=2 012.017000-5>. Acesso em: 08 abr. 2016.

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O bloqueio da quantia necessária à implementação da política pública, por si só, possui o efeito coercitivo resultante da impossibilidade de utilização da verba para finalidade distinta, restringindo a capacidade gerencial do administrador público, o que pode não ser suficiente, todavia, em concreto, para exaurir os propósitos almejados em uma ação na qual se busca o cumprimento de obrigação de fazer, por exemplo. Nesse caso, deve o magistrado determinar, paralelamente à indisponibilidade dos recursos, a adoção pelo gestor das demais providências bastantes à aplicação destes, fixando prazo para a realização das etapas seguintes.

Vale atentar, a esse respeito, que caberá ao julgador avaliar se é necessário aplicar, na última hipótese citada, cumulativamente ao bloqueio de ativos financeiros do Estado,330 alguma outra medida coercitiva ou sub-rogatória admissível pelo art. 536, § 1º, do CPC, a fim de reforçar o caráter cogente do provimento e assegurar a observância da decisão judicial pela Administração Pública, mediante a conjugação dos meios executivos cabíveis.331

O escopo principal que deve nortear o exame da suficiência e necessidade dos mecanismos coercitivos empregados em desfavor do Erário, destarte, deve ser sempre a efetividade da tutela jurisdicional, sem descurar, contudo, da preservação do interesse público subjacente e das demais normas constitucionais e dos direitos fundamentais porventura colidentes, que devem ser harmonizados em cada situação específica, velando-se para que não haja o sacrifício total de qualquer deles.

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