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MEIO DO CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS

3 O CUMPRIMENTO DOS DEVERES ESTATAIS DE FAZER OU NÃO FAZER MEDIANTE TUTELA JURISDICIONAL ADEQUADA E EFETIVA

3.4 CRITÉRIOS JURÍDICOS PARA A ESCOLHA DOS MEIOS EXECUTIVOS ADEQUADOS AO CASO CONCRETO

3.4.1 Os princípios instrumentais do processo executivo

Dentre os diversos princípios doutrinariamente propostos para reger a atividade jurisdicional executiva, interessa-nos abordar, no presente trabalho, somente aqueles que têm pertinência com os aspectos instrumentais da tutela executiva, que se revelam úteis para fornecer critérios jurídicos suficientes para orientar a tomada de decisão quanto aos meios processuais aplicáveis em cada situação específica.

Com efeito, diante da adoção do princípio da atipicidade dos meios executivos, pelo Código de Processo Civil, em seus arts. 139, inciso IV, e 536, § 1º, implicando na multiplicação das formas de cumprimento das decisões judiciais, de modo especialmente relevante para a

153 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (1ª Turma). AgRg no REsp 824017/RS, Relator Min. José Delgado.

Brasília, 16 maio 2006. DJ de 08 jun. 2006, p. 150. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200600436821&dt_publicacao=08/06/200 6>. Acesso em: 18 mar. 2016.

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efetivação das obrigações de fazer e não fazer, avulta a importância da existência de parâmetros racionais que possam nortear a condução das medidas executivas, e, bem assim, proporcionar mecanismos de controle argumentativo, tanto pelas partes quanto pelas instâncias revisoras, das deliberações adotadas pelo órgão judicante.

Nesse diapasão, o princípio da utilidade da execução consolida a ideia pela qual a execução deve ser útil ao credor, não se permitindo, por conseguinte, que as medidas executivas venham a transformar-se em instrumento de mera vingança, para fins de castigo ou sacrifício do devedor, sem reverter em vantagem prática efetiva e necessária em prol do titular do direito afirmado no título exequendo.154

Desse modo, o meio executivo que não demonstre serventia prática para satisfazer o interesse almejado na demanda, deve ser afastado pelo magistrado, a exemplo do uso da medida coercitiva das astreintes, ou sua eventual persistência, quando reste evidenciada a impossibilidade material de cumprimento da obrigação, pelo executado.155

Um outro princípio do processo executivo que exerce função de primordial importância na definição dos meios executivos pelo julgador, consiste no postulado da máxima efetividade da execução, que não significa nada mais do que a incidência particularizada, nessa modalidade de exercício da atividade jurisdicional, do princípio da efetividade do processo.156

Tal princípio também é denominado como o da maior coincidência possível, ou do resultado, pelo qual a execução forçada, em uma primazia da tutela específica, deve proporcionar ao credor a satisfação de seu direito da maneira que melhor se aproxime do que seria obtido mediante o adimplemento espontâneo pelo devedor.157

O reconhecimento explícito de tal princípio pelo legislador, na seara das pretensões destinadas ao cumprimento de deveres ou obrigações de fazer ou não fazer, está contido na dicção do art. 499 do CPC, pelo qual “a obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente”.

154 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e processo

cautelar. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 2, 1998, p. 12.

155 NEVES, Daniel Amorim Assunção. Princípios da execução. Disponível em:

<http://www.professordanielneves.com.br/artigos/201011151812300.principiosdaexecucao.pdf>. Acesso em: 29 set. 2014.

156 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 13. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, v. 2,

2006, p. 161.

157 DIDIER JÚNIOR, Freddie et al. Curso de direito processual civil: execução. 5. ed. Salvador: Juspodivm, v.

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Todos os esforços admissíveis pela legislação processual, destarte, devem ser envidados para assegurar a realização integral, em favor do titular do direito subjetivo deduzido na ação, do interesse que lhe assiste, tal como previsto no título exequendo.

Igualmente impera no processo executivo, por outro lado, o princípio do menor sacrifício do devedor,158 ou da menor onerosidade da execução,159 consagrado no art. 805 do

Código de Processo Civil, ao estabelecer que, “quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”. Destina-se esse princípio a servir como uma cláusula geral impeditiva do abuso de direito pelo exequente, para que a este não seja admitido utilizar-se de meio executivo desnecessariamente oneroso para o devedor, quando por outra forma se possa obter o mesmo resultado.160

Trata-se de norma que repete o teor do art. 620 do CPC de 1973, a respeito da qual, consoante já advertia José Carlos Barbosa Moreira, há que se proceder a uma compreensão adequada, no sentido de que “a opção pelo meio menos gravoso pressupõe que os diversos meios considerados sejam igualmente eficazes”.161

Tal conclusão é reforçada, inclusive, pela inovação que o novo estatuto processual civil instituiu em relação ao tema, ao dispor, no parágrafo único do citado art. 805, em homenagem à efetividade processual, que ao executado que vier a aduzir a onerosidade de um dado meio executivo cabe o ônus processual de “indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados”.162 (Grifo nosso)

Não consiste tal princípio, portanto, em norma absolutamente antagônica ao postulado da máxima efetividade da tutela executiva, já que, para sua aplicação, não se pode impor ao credor que se contente com um meio menos idôneo à satisfação de seu direito, simplesmente por afetar em menor grau os interesses do executado. Dita solução somente será admissível quando lograr o devedor demonstrar que, dentre os meios executivos igualmente eficazes, algum deles mostrar-se menos oneroso para o cumprimento da obrigação que lhe incumbe, já

158 PINHO. Humberto Dalla Bernardina de. Direito processual civil contemporâneo. São Paulo: Saraiva, v. 1,

2012, p. 513.

159 DIDIER JÚNIOR, Freddie et al. Curso de direito processual civil: execução. 5. ed. Salvador: Juspodivm, v.

5, 2013, p. 56.

160 Ibid., p. 56-57.

161 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Tendências na execução de sentenças e ordens judiciais. In: ______. Temas

de direito processual: quarta série. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 221.

162 ZARONI, Bruno Marzullo. Algumas inovações do CPC/15 em matéria de execução. Cadernos jurídicos.

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que a execução se realiza no interesse do exequente,163 que faz jus à tutela jurisdicional

adequada e efetiva.164

Mostra-se inevitável, contudo, a necessidade de, em determinados casos concretos, proceder-se a uma harmonização entre os postulados da máxima efetividade, de um lado, e, de outro, do menor sacrifício do devedor, do direito de defesa ou do princípio da dignidade da pessoa humana, diante da sempre latente possibilidade de colisão entre estes, tarefa para a qual terá grande utilidade o princípio da proporcionalidade,165 do qual trataremos de maneira mais detida no item seguinte.

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