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POLÍTICAS PÚBLICAS

5.5 MEDIDAS SUB-ROGATÓRIAS NO CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES DE FAZER, NÃO FAZER OU ENTREGA DE COISA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

5.5.2 O sequestro de ativos financeiros em contas públicas

A Constituição Federal, ao disciplinar o regime de pagamento de débitos judiciais pela Fazenda Pública, estabeleceu, no art. 100, § 6º, duas hipóteses em que se mostra cabível a adoção da medida atinente ao sequestro, em contas bancárias do Erário, de valores em dinheiro, quais sejam, em razão da preterição da ordem cronológica dos precatórios ou da falta de alocação orçamentária do importe necessário à satisfação do crédito exequendo.

Embora denominada pelo constituinte como sequestro, cuida-se, na verdade, de um arresto, medida executiva de caráter satisfativo, destinada a entregar ao credor preterido em sua ordem preferencial a quantia apreendida.381 Manteremos a terminologia adotada no texto

constitucional, porém, para facilitar a abordagem do tema.

A jurisprudência de nossos Tribunais Superiores tem admitido, entretanto, a realização de medida análoga ao sequestro de verbas públicas fora dos casos expressamente elencados na Constituição, para possibilitar, por exemplo, a efetivação de provimento judicial impositivo da obrigação de custear a aquisição de medicamento382 ou de tratamento de saúde383 em favor de usuário do SUS.

Parcela da doutrina tece críticas a essa forma de assegurar o cumprimento das determinações judiciais emitidas em face do poder público, pois, embora tal medida encontre

381 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 9. ed. São Paulo: Dialética, 2011, p. 328-329. 382 BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2ª Turma). AI 597182 AgR/RS, Relator Min. Cezar Peluso. Brasília, 10

out. 2006. DJ de 06 nov. 2006, p. 42. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=390282>. Acesso em: 18 abr. 2016.

383 Id. Superior Tribunal de Justiça (1ª Turma). AgRg nos EDcl no RMS 41734/GO, Relator Min. Benedito

Gonçalves. Brasília, 18 fev. 2014. DJe de 24 fev. 2014, p. 42. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201300904930&dt_publicacao=24/02/201 4>. Acesso em: 18 abr. 2016.

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fundamento no art. 536, § 1º, do Código de Processo Civil, redunda na inobservância, em termos práticos, do preceito inerente à impenhorabilidade dos bens públicos.384

Outros autores, porém, consideram cabível tal providência jurisdicional executiva quando, presente o requisito do periculum in mora, reste igualmente evidenciada a conduta procrastinatória da Administração Pública em satisfazer o direito fundamental vindicado. Assim, somente após a frustração de outros meios executivos anteriormente adotados, como a fixação de astreintes, seria possível ao Judiciário realizar o bloqueio de recursos públicos para custear, diretamente, a efetivação da medida, garantindo, assim, a autoridade de suas decisões.385

Entendemos que a razão está com esta última corrente doutrinária. Com efeito, não se pode deixar de reconhecer que tais atos de constrição patrimonial sobre dinheiro público consistem no mais incisivo meio expropriatório possível, impossibilitando de forma absoluta, inclusive, a aplicação da verba para outra finalidade de interesse público, já que implica na sua imediata e irreversível utilização para atender ao objeto da demanda.

Daí a necessidade de utilização da medida de sequestro de ativos financeiros do Estado unicamente como o último meio sub-rogatório aplicável em uma dada situação concreta, admitindo-a somente para evitar o perecimento do direito tutelado na demanda e assegurar, de modo inadiável, a observância da ordem judicial. Antes da sua adoção, porém, deve-se buscar a obtenção da devida efetividade processual por meio de outras medidas executivas que se mostrem adequadas à hipótese, salvo quando manifestamente incabíveis.

Nada impede, de todo modo, a utilização do mesmo fundamento empregado pelos referidos arestos, ao autorizarem o bloqueio de valores para custear gastos com a saúde de usuários do SUS, para, também, viabilizar a implementação de provimentos jurisdicionais que visem a realização de outros direitos fundamentais, especialmente aqueles relacionados ao mínimo existencial, de que se esteja a depender para a preservação da vida ou da dignidade humana de uma só pessoa ou de toda uma coletividade.

Não se deve pretender, contudo, converter esse mecanismo excepcional de efetivação das ordens judiciais contra o poder público em uma verdadeira regra na execução dos deveres de fazer ou não fazer em face do Estado. A sua aplicação no caso concreto deve ser sempre um reconhecimento de que fracassaram os demais meios coercitivos ou sub-rogatórios que

384 VIANA, Juvêncio Vasconcelos. Efetividade do processo em face da Fazenda Pública. São Paulo: Dialética,

2003, p. 271.

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poderiam incidir contra o Erário em uma dada situação fática, como forma de conferir efetividade à atuação judicial, sob pena de banalização de tal mecanismo, com um consequente risco de se inviabilizar a boa gestão dos recursos públicos.

Ressalte-se, a propósito, que não há vedação absoluta da utilização de qualquer meio executivo em desfavor da Fazenda Pública, com a ressalva, porém, de que eles devem respeitar as normas constitucionais e legais atinentes à execução contra o poder público, dentre as quais se inserem a impenhorabilidade dos bens públicos e a observância do regime de precatórios para a obtenção do pagamentos de débitos.

Eventuais situações que exijam medidas concretas consubstanciadoras de superação de tais ditames constitucionais, consequentemente, devem ser devidamente justificadas pela hipotética colisão com normas de igual estatura, mediante o devido exame de proporcionalidade da providência adotada, sabendo-se que as consequências impostas aos cofres públicos são por todos suportadas, motivo pelo qual se reclama atenção para que se evitem possíveis violações ao princípio isonômico.

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6 OS CASOS COMPLEXOS E AS DECISÕES ESTRUTURAIS NOS LITÍGIOS DE

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