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A esperança da ontologia

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III.3 A fenomenologia do possível

III.3.6 A esperança da ontologia

Após a análise das esferas da origem e da ontologia do possível, a dobra da religião alcança uma das esferas mais nítidas na hermenêutica bíblica de Ricoeur: a esperança. A filosofia do possível e o projeto da esperança fazem pensar a dobra da religião na ontologia quebrada. Segundo Gilbert Vincent, para Ricoeur o aspecto mais importante da religião está na esperança.712 Talvez a esperança é o assunto mais visível em uma aproximação geral sobre a religião no filósofo. Entretanto, não se trata da única originalidade no pensamento religioso de Ricoeur. Sua palpabilidade orienta para uma reflexão além das tradicionais questões da fé ou do amor. A leitura de Ricoeur do texto A religião nos limites da simples

708 Cf. KEARNEY, Richard. “L’homme capable – Dieu capable”. In: Rue Descartes, Hors série, Revue trimes-

trelle. L’homme capablre – Autour de Paul Ricoeur, p. 46

709 Cf. RICOEUR, Paul. Penser la Bible. Éditions du Seuil: Paris, 1998.

710 Cf. KEARNEY, Richard. “L’homme capable – Dieu capable”. In: Rue Descartes, Hors série, Revue trimes-

trelle. L’homme capablre – Autour de Paul Ricoeur, p. 46

711 Cf. KEARNEY, Richard. “L’homme capable – Dieu capable”. In: Rue Descartes, Hors série, Revue trimes-

trelle. L’homme capablre – Autour de Paul Ricoeur, p. 46

razão, de Kant, indica uma justificação filosófica da capacidade e da esperança.713 Encon- tra-se no centro da questão o desdobramento da religião em sua tríplice textura, i.e., as per- guntas pela espera, pelo saber e pela ação: “Que me é permitido esperar?”, “Que posso sa- ber?”, “Que devo fazer?”. A esperança responde algumas aporias, sem a pretensão de esgo- tá-las. A aporia da morte, no coração do mal, só é resolvida com o salto da esperança, i.e., o paradoxo da ressurreição. O mal arruína as possibilidades de modo que, para Ricoeur, a questão mais forte trata-se da disposição para o bem. A ressurreição é a linguagem mito- poética para a possibilidade de um pensamento que não se restringe à esfera do trágico. En- quanto a morte é, na linguagem de Jürgen Moltmann, “o machado do nada”714, a ressurrei- ção, para Ricoeur, é um sinal metafórico de que a vida não termina com a morte. Em suma, a morte é acompanhada de sentido, de modo que a reflexão da morte, ao ser respondida com a ressurreição, aponta para o trabalho da própria aporia do mal. Segundo ele, o mal radical e a esperança se cruzam e recruzam no pensamento religioso: “o mal afetando o processo da religião do começo ao fim, e a esperança afirmando-se estritamente contemporânea à irrup- ção do mal”715. O cruzamento do mal e dos meios de regeneração constituem a estrutura da esperança. A esperança é uma das direções mais longas da dobra da religião, o prolonga- mento das aporias pela reflexão duplamente mediada: a explicação filosófica e a tradição religiosa. Trata-se, portanto, de um trabalho hermenêutico no lugar da crítica, uma vez que Ricoeur acompanha a hermenêutica filosófica da esperança de Kant.

A dobra da religião adentra numa esfera onde a aporia implica teologicamente a possibilidade de pensar o que que realmente existe de possível. A primeira tarefa deste em- preendimento é pensar a possibilidade de salvação. A possibilidade de salvação recorre às aporias para as quais ela aponta. A aporia do bem e do mal e a aporia da morte para Ricoeur é resolvido com o paradoxo da esperança, da graça e da ressurreição. A esperança, deste modo, está no além: não um além [au-delà] substancial, mas um além de horizonte.716 He- rança, sobretudo, de Kant, uma das maiores contribuições da religião encontra-se na tríade

713 Cf. RICOEUR, Paul. “Uma Hermenêutica FIlosófica da Religião: Kant”, In: Leituras 3 – Nas Fronteiras da

Filosofia, 1996, p. 21.

714 A redução do tudo ao nada, cf. Cf. MOLTMANN, Jürgen. Teologia da Esperança, 2010, cap. III, pp. 181-

288. Também em: RICOEUR, Paul. “Le Dieu crucifié de Jürgen Moltmann”, In: Les quatre fleuves n°4, Pa- ris, Seuil,. pp. 109-114.

715 RICOEUR, Paul. “Uma Hermenêutica FIlosófica da Religião: Kant”, In: Leituras 3 – Nas Fronteiras da

Filosofia, 1996, p. 21.

cristã de fé, esperança e caridade. Parte-se das tensões possíveis quando Ricoeur propõe a reflexão da redenção. Ele enfatiza o teor da utopia: “a ideia de utopia tem, de fato, grande importância teológica: é um dos caminhos indiretos de esperança, um dos desvios pelos quais a humanização do homem é buscada tendo em vista uma divinização final”717. A espe- rança é a trilha que promove o movimento do ser para o além do ser. Para ilustrar, é possí- vel comparar o pensamento de Ricoeur à metáfora de uma montanha: o indivíduo sobe uma montanha e alcança o limite. O que está além, do outro lado, o lado de lá, é o possível pela fé. O lado de cá é o possível pela esperança. Não se trata de projetar o ser para o lado de lá, o além, mas descer a montanha e viver o lado de cá com a fé e esperança (a segunda inge- nuidade)718. A dobra da religião abre caminhos os quais, segundo Ricoeur, não seriam pos- síveis na ontologia mesma. Em suma, a imagem da passagem do ser para o além do ser é o movimento dinâmico e criativo da dobra na religião. Não se trata de uma metafísica em di- reção a qualquer transcendência nomeável, mas da mudança de horizonte: um novo horizon- te aberto em ato esperançoso. A religião não alcança apenas a compreensão da fé, intellec- tus fidei, mas, principalmente, a compreensão da esperança, intellectus spei.719

A compreensão da esperança envolve a adesão às ideias de ressurreição e graça. Na dobra da religião, para além do bem e do mal e para além da aporia da morte, há a graça e há a ressurreição. Para Ricoeur, a graça de Deus aparece na narrativa bíblica720 e na história. Diante da dinâmica do nome divino e da esperança, em seu primeiro livro póstumo, publi- cado em 2008, Ricoeur concluiu que a mediação de sua religiosidade pelo nome divino é um acaso transformado em destino por uma escolha contínua.721 Este acaso (ter nascido em lar cristão e ter recebido a tradição do nome divino que lhe fora transmitido) o fez cristão. O que é um cristão para Ricoeur? “Um cristão: alguém que professa a adesão primordial à vida, palavras e morte de Jesus”722. Ricoeur acompanha a tradução de André Chouraqui da

717 “The idea of Utopia indeed has great theological import: it is one of the indirect paths of hope, one of the

roundabout paths on which the humanization of man is pursued in view of an eventual divinization.” Cf. RI- COEUR, Paul. History and Truth. Northwestern University Press: Evanston, Illinois, 1992, p. 123.

718 A crença polida pela crítica. Cf. RICOEUR. Paul. Da interpretação: ensaios sobre Freud. Rio de Janeiro:

Imago, 1977.

719 RICOEUR, Paul. L’herméneutique biblique. Le Cerf: Paris, 2001, p. 111-112.

720 Cf. a ilustração feita por Ricoeur sobre a parábla do bom samaritano. RICOEUR, Paul. “Le socius et le pro-

chain”, In: Histoire et vérité, Points Seuil: Paris, 2002, 408p., p. 99.

721 “‘Un hasard transformé en destin par un choix continu’: mon christianisme”. RICOEUR, Paul. Vivant jus-

qu’à la mort: suivi de fragments, 2007, p. 99.

722 “A Christian: someone who professes a primordial adhesion to the life, the words, the death of Jesus”. RIC-

palavra grega pistis (que poderia ser traduzia por “fé”) por “adesão”.723 Ricoeur adere à pro- fundidade e ao mistério de Javé, nome que determina uma tradição e interpelação na vida, na adesão pela leitura existencial dos Evangelhos. Esta adesão o faz refletir sobre o papel do nome divino na vida, fazendo-o elaborar uma filosofia que vai da atestação à possibilidade, de modo que o acaso não é mero acaso pois é assumido como escolha e transformado em continuidade pela esperança. É neste âmbito que acontece uma teologia do nome divino em Paul Ricoeur, sobretudo uma teologia narrativa que transmite um modo de ser, uma cora- gem de ser, através de um nome carregado por uma tradição que transmite metáforas e mi- tos que ajudam a viver. Este é o horizonte possível da filosofia ricoeuriana e o movimento da dobra da religião – que será finalizado no capítulo seguinte.

III.3.7 Considerações intermediárias

A dobra da religião, enquanto leitura de mundo pelo viés da filosofia e da teologia, além dos limites das antigas tradições e autoridades religiosas, é um laço de reconhecimento e libertação do eu.724 O exercício hermenêutico, de cunho filosófico, explora significados do texto cujo fim abre mundos possíveis.725 Leitura e interpretação constituem os primeiros conceitos de uma hermenêutica geral que encontra na dobra da religião um espaço criativo para seguir em novas interpretações. Em Ricoeur, é mais importante a pluralidade dos gêne- ros literários à especificidade de cada natureza literária. Igualmente, tão importante é a vari- edade de percursos e cruzamentos implicados na relação entre texto e vida do leitor. A re- cepção do texto sagrado e a aplicação dele na vida se torna, portanto, numa questão central, uma vez que, segundo Ricoeur, “pensar a ‘palavra de Deus’ é aceitar engajar-se em cami- nhos que talvez se percam”726. O caminho perdido não é um fim ou término de uma cami- nhada, mas a figura da dobra que implica em caminhos possíveis. O caminho que pode se perder é a possibilidade que surge no desdobramento de uma ação interpelada pelo sagrado. Heidegger citado por Ricoeur:

723 RICOEUR, Paul. Vivant jusqu’à la mort, 2007, p. 101.

724 Cf. RICOEUR, Paul. “Le sujet convoqué. A l’école des récits de vocation prophétique [conférence à l’Institut

Catholique de Paris, 1987]” Revue de l’Institut Catholque de Paris 28 (1988) octobre-décembre, 83-99.

725 DOSSE, François. Paul Ricoeur: un philosophe dans sons siècle, 2012, p. 240. 726 RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações, 1978, p. 335.

É apenas a partir da verdade do ser, que se deixa pensar a essência do Sa- grado. É somente a partir da essência do Sagrado que se deve pensar a es- sência da divindade. É somente na luz da essência da divindade que pode ser pensado aquilo que deve nomear o nome de Deus.727

Ao comentar sobre o hiato que existe entre a nomeação de Deus no Sinai e o restante do texto bíblico, Ricoeur sugere que a polissemia do teônimo é produtiva e amplia a com- preensão do si pela sua condição plural e intraduzível. “O Ser, diz Aristóteles, é dito de muitas maneiras. Por que não dizer que os hebreus pensaram o ser de uma maneira no- va?”728, questiona Ricoeur. A dobra da religião enfatiza a possibilidade de pensamentos novos pela própria dinâmica do nome de Deus. Um destes sinais é respondido por Ricoeur na cristologia, pela qual a proposição “Deus é um” passa, na leitura do Novo Testamento, para “Deus é amor”.729 O desvio poético é libertador e, ao mesmo tempo, possibilitador. “Submeter Deus à disjunção de ser ou não ser, uma disjunção humana por excelência, é submeter Deus a um critério de existência, a condições de possibilidade, portanto, a um princípio de razão sobre o qual poderíamos manter domínio”730. Para a fenomenologia do possível e o movimento da dobra da religião, toda restrição que o teônimo pudesse ampliar é resistida, no ato reflexivo, nas implicações do pensamento que passou pelo crivo da crítica – sobretudo a crítica de Nietzsche. Neste sentido, a ambição de qualquer tentativa de buscar a essência de Deus, segundo Ricoeur, “deve ser substituída pela força do testemunho e pela dimensão ética da Revelação”731. Ética e testemunho são algumas das dobras da religião no pensamento de Ricoeur que apontam para o elemento da esperança. A compreensão da es- perança é um dos frutos mais belos da religião732, tendo em sua fundação simbólica a figura de Cristo como um autêntico esquema de esperança.733 A leitura do texto bíblico é feita à luz da esperança. Nesta matriz, a compreensão da narrativa repousa na dialética da ética e da moral. Enquanto as interpretações tradicionais inclinam-se à moral, em detrimento da

727 HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o Humanismo, apud RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações,

1978, p. 335.

728 RICOEUR, Paul. Pensando biblicamente, 2001, p. 382. 729 RICOEUR, Paul. Pensando biblicamente, 2001, p. 382. 730 RICOEUR, Paul. Pensando biblicamente, 2001, p. 381. 731 RICOEUR, Paul. Pensando biblicamente, 2001, p. 380. 732 Cf. VINCENT, Gilbert. La religion de Ricoeur, 2008, p. 74.

733 “la figure christique soit un authentique schématisme de l'espérance”. RICOEUR, Paul. Lectures 3, Paris: Le

visão institucional, Ricoeur propõe a desconstrução deste modelo de leitura para uma reno- vação enriquecedora da narrativa bíblica pela interpretação ética da esperança.734

A dobra da religião, portanto, converge da ontologia quebrada e das fraturas para uma ontologia do possível e uma poética da esperança.735 Na variedade das possibilidades do ser, dentre os textos bíblicos preferidos de Ricoeur, um em especial, em Cântico dos Cânticos, ilustra poeticamente a reflexão proposta da origem de um mundo possível no pa- pel da linguagem religiosa736:

Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veemen- tes labaredas. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, cer- tamente o desprezariam. (Cânticos 8:5-7)

Desta forma, há um horizonte existencial e ético, original e justo, apontado pela do- bra da religião. Neste movimento, o engajamento do si e das possibilidades do ser, na di- mensão poética na qual o pensamento de Ricoeur abarca, remetem, ao final, à uma dobra existencial possível no espiral de uma antropologia filosófica.

734 VINCENT, Gilbert. La religion de Ricoeur, 2008, p. 81.

735 No capítulo sobre “Penser en philosophe la traadition judéo-chrétienne”, François Dosse demonstra o hori-

zonte da poética na filosofia de Ricoeur, possível pelo trabalho na esfera da esperança religiosa. Cf. DOSSE, François. Paul Ricoeur: Un philosophe dans son siècle, 2012, p. 226.

736 RICOUER, Paul apud KEARNEY, Richard. “L’homme capable – Dieu capable”. In: Rue Descartes, Hors

CAPÍTULO IV

A DOBRA DA RELIGIÃO:

O ESPIRAL DE UMA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

“Acreditar apenas nas possibilidades não é fé, mas mera filosofia”

Sir Thomas Browne, Religio Medici

A repercussão do trabalho de Ricoeur sobre a religião na teologia e na filosofia é significativa. O livro de Gilbert Vincent, La religon de Ricoeur737, utilizado nos momentos decisivos dessa pesquisa, demonstra a abrangência da religião no pensamento de Ricoeur. Sua contribuição não se restringe apenas ao conhecimento da religião, mas oferece um pa- norama seguro à tese acerca dos pontos de contato do projeto filosófico do autor com a reli- gião. Entretanto, dentre os pensadores cuja influência de Ricoeur foram mais explícitas em suas teses, Richard Kearney é, talvez, um dos mais significativos738, ao elaborar uma inter-

737 Cf. VINCENT, Gilbert. La religion de Ricoeur. Les Éditions de l’Atelier/Éditions Ouvrières: Paris, 2008. 738 Um dos seus trabalhos originais, fruto da hermenêutica religiosa de Ricoeur, pode ser conferido em:

KEARNEY, Richard. Poetics of Modernity: Towards a Hermeneutic Imagination. New Jersey: Humanities Press Internation, Inc., 1995.

pretação da religião cujo centro encontra-se na possibilidade de Deus enquanto ser capaz e, por fim, a sua teoria do anateísmo.739 Motivado pelo diálogo da religião com as demais ci- ências e pelo agnosticismo ricoeuriano, o anateísmo trata, a rigor, de um exercício herme- nêutico que pretende retomar a possibilidade do sagrado na discussão filosófica para o sécu- lo XXI. O subtítulo em inglês, Retornar a Deus após Deus, assim como o título em francês, Deus está morto, viva Deus!, anunciam a ambição de se pensar Deus além do teísmo e do anateísmo – de se ter fé mesmo após a perda da fé. Neste trabalho, a ontologia do possível é elevada para que o encontro com o estrangeiro e o diferente inaugurem diálogos produtivos para novos pensamentos acerca de Deus.740 Seguindo a reflexão da ontologia do possível, em The God Who May Be, Kearney explora os horizontes abertos pela questão da possibili- dade de Deus no pensamento filosófico e religioso na tentativa de não depositar em nenhu- ma escola ou tradição a herança das ideias significativas para a nomeação de Deus.741 O ser humano capaz é germinado na reflexão do Deus capaz, de modo que a tarefa do reconheci- mento humano ganha força e sentido na devida reflexão do Deus capaz.

Jean-Luc Marion, um dos mais importantes fenomenólogos na atualidade, sobretudo na França, demonstra heranças do legado ricoeuriano em seu trabalho filosófico. Em O Vi- sível e o Revelado742, Marion, em estilo próprio, articula a noção do possível e da revelação para constituir uma filosofia da religião cujo horizonte encontra-se na justificação da reve- lação. Ao lado da tentativa em elaborar um método ao mesmo tempo eficientemente feno- menológico e teológico743, a revelação é assumida enquanto o centro da relação do sujeito falante e do ouvinte no qual o próprio discurso já se trata da revelação mediadora. O revela- do é crível pela primordialidade da crença no discurso recebido a na esperança de que tal recepção possibilite a experiência de vivência.744 A revelação, na reflexão do possível, é o ato que torna visível as coisas essenciais do si e abre horizontes até saturar o revelado.745 Para Marion, a possibilidade de revelação desprende a fenomenologia de pretensões de mo-

739 Cf. KEARNEY, Richard. Dieu est mort, vive Dieu: Une nouvelle idée du sacré pour le IIIe millénaire:

l’anathéisme. Paris: NiL Éditions, 2011.

740 KEARNEY, Richard. Dieu est mort, vive Dieu: Une nouvelle idée du sacré pour le IIIe millénaire:

l’anathéism, 2011, pp. 338-339.

741 Cf. KEARNEY, Richard. The God who May Be: A Hermeneutics of Religion, 2002, p. 45. 742 MARION, Jean-Luc. The Visible and the Revealed. New York: Fordham University Press, 2008.

743 “The lived experience of faith remains because the I that experiences it first believes” Cf. MARION, Jean-

Luc. The Visible and the Revealed, 2008, pp. 8-13.

744 MARION, Jean-Luc. The Visible and the Revealed, 2008, p. 9. 745 MARION, Jean-Luc. The Visible and the Revealed, 2008, p. 9.

do que libere a força original e autêntica da fé religiosa e suas implicações.746 Em David Rasmussen, as indicações acerca do mito e do símbolo partem da antropologia filosófica de Ricoeur, estendendo a interpretação da mito-poética para o trabalho da linguagem mito- simbólica.747 Olivier Abel, um dos principais curadores do pensamento e da memória de Ricoeur hoje, resgatou o debate entre filosofia e teologia no pensamento do autor e traba- lhou com as categorias do perdão e da promessa.748 Esses são apenas alguns exemplos, ao lado de muitos outros que poderiam ser aprofundados749, para demonstrar a repercurssão da hermenêutica religiosa de Ricoeur na filosofia e teologia. A releitura da teologia após a obra de Ricoeur, feita por Dan Stiver750, levanta a filosofia reflexiva e o método da compreensão na hermenêutia bíblica. O trabalho na hermenêutica religiosa de Ricoeur desperta a possibi- lidade de variedades teológicas por privilegiar a filosofia reflexiva ao invés de comportar uma dogmática ou sistemática.751 Na mesma direção, Kevin Vanhoozer destacou a impor- tância de uma releitura da narrativa bíblica interpelada pela filosofia ricoeuriana da ontolo- gia do possível, sobretudo a paixão pelo possível nos Evangelhos752, enquanto Rebecca Kathleen Huskey elaborou uma filosofia centrada na esperança ricoeuriana753. Por fim, o texto de Boyd Blundell – que mais chegou próximo da dobra da religião – desenvolveu a noção dos movimentos de desvio e retorno, situando, precisamente, a gênese de tais ações nas tensões estaladas entre a teologia e a filosofia.754

A breve síntese faz notar as principais heranças ricoeurianas na filosofia e teologia. Para além dos autores mencionados, com a originalidade da tese da dobra da religião, no

746 “Christians, have no fear, be rational! And you, who do not believe in Christ, be reasonable, do not fear his

great reason!” MARION, Jean-Luc. The Visible and the Revealed, 2008, p. 145.

747 RASMUSSEN, David M. Mythic-Symbolic Language and Philosophical Anthropology: A Constructive In-

terpretation of the Thought of Paul Ricoeur. The Hague: Netherlands, 1971.

748 Cf. ABEL, Olivier. Paul Ricoeur: La promesse et la règle. Éditions Michalon: Paris, 1996.

749 Daniel Frey, Pierre Bühler, Christophe Pisteur, Jérôme Porée, Kathrin Messner, Nanine Charbonnel, Elian

Cuvillier, Hans-Christoph Askani, Jean-Luc Petit e René Heyer, Cf. BÜHLER, Pierre. FREY, Daniel. (Org.) Paul Ricoeur: un philosophe lit la Bible. A l’entrecroisement des herméneutiques philosophique et biblique.

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