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A PEsquIsA E A PRáTIcA dE oRIEnTAção dE

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 149-154)

cARREIRA dE joVEns

Os estudos, tanto internacionais quanto na- cionais, apresentam pontos em comum. Em primeiro lugar, admi-

te -se que a família é o contexto de influên- cia mais relevante para o desenvolvi- mento vocacional de crianças e adolescen- tes, com efeitos con- cretos na qualidade

do desenvolvimento de carreira do adulto, e assume -se a necessidade, na medida do possí- vel, de incluir os pais nos processos de inter- venção de carreira com jovens. Variáveis pa- rentais como nível socioeconômico, acessibi- lidade e qualidade de relacionamento per- meiam grande parte das conclusões dos estu- dos. Famílias de nível socioeconômico baixo tendem a apresentar expectativas e aspirações restritas, tornando -se menos prováveis de ofe- recer oportunidades de exploração, uma vez que a qualidade da exploração depende de re- cursos materiais, de modelos de identificação para autoeficácia na escolha e no desempenho profissional, bem como de aspirações profis- sionais.

Além disso, filhos de adultos insatisfei- tos com o seu trabalho ou com o nível educa- cional e profissional atingido tendem a ver a vida profissional como tediosa e difícil, tendo diminuídas a motivação para exploração, suas aspirações e sua percepção de autoeficácia para escolhas de carreira. Desse modo, é pre- ciso trabalhar com crianças e adolescentes que vivem nesses contextos a ampliação das opor- tunidades educacionais e o contato com mo-

A família é o contexto de influência mais rele‑ vante para o desenvol‑ vimento vocacional de crianças e adolescen‑ tes, com efeitos con‑ cretos na qualidade do desenvolvimento de car‑ reira do adulto.

delos profissionais diversificados. Adultos com boas condições socioeconômicas prova- velmente têm níveis mais altos de escolarida- de e, portanto, maior possibilidade de se inse- rir em uma profissão ou ocupação de sua escolha, o que aumenta a probabilidade de sa- tisfação no trabalho e, consequentemente, de se tornarem modelos de referências positivas frente ao trabalho, visto que possuem expec- tativas e aspirações ocupacionais mais favorá- veis. No entanto, pais e mães mais bem -su- cedidos também correm o risco de exigir demasiadamente dos filhos em termos de de- sempenho e de restringir os espaços de esco- lha livre em favor de certas opções estereo- tipadamente percebidas como de maior prestígio social e ganho econômico.

Além disso, a qualidade dos relaciona- mentos, a funcionalidade da dinâmica familiar, a presença de aspectos como responsividade, dedicação, qualidade de tempo disponível para acompanhar o desenvolvimento infantil e mesmo atitudes positivas em relação ao cres- cente aumento da independência parecem estar dentre as variáveis mais fortemente asso- ciadas a um desenvolvimento vocacional ajus- tado. Elas fornecem o suporte necessário para que a criança explore o mundo à sua volta e, a partir dessa exploração, possa avaliar seus re- sultados e agir de acordo com a avaliação, fa- zendo escolhas que reproduzirão as condições de satisfação e realização. Pais superprotetores, dominadores e possessivos constituem um obstáculo à experimentação, porque impedem não só seus filhos de se arriscarem, fracassarem e aprenderem com o fracasso, mas também de serem bem -sucedidos em suas experiências e, assim, tornarem -se mais autoconfiantes. Quan- do experiências de exploração resultam em fra- casso, desilusão ou punição, a tendência da criança ou do adolescente é a de evitar novas si- tuações semelhantes, tornando -se explorado- res pobres e temerosos, que buscam as situa- ções seguras, a opinião dos outros ou os resultados mais conservadores e já comprova- dos (Jordaan, 1963).

Portanto, suporte e encorajamento estão na base do comportamento exploratório e, por conseguinte, da construção da carreira.

Os contextos sociais escolar e particularmente o familiar fornecem a maior parte das oportu- nidades de experimentação ao jovem, embora a família e especialmente os pais representem a principal fonte de referências e identifica- ções, favorecendo a construção de um mapa através do qual deli-

nearão suas escolhas vocacionais. Assim, tanto nos contextos escolares quanto na- queles de atendimen- to de orientação de carreira, promover reflexões e atividades que favoreçam essas interações familiares positivas é extrema- mente benéfico para

o desenvolvimento de carreira dos filhos, po- dendo funcionar como medida protetiva de futuros conflitos e inseguranças nas transi- ções profissionais.

A partir desses resultados, é possível tecer algumas considerações sobre a pesquisa realizada no Brasil. O conhecimento produzi- do na área da psicologia vocacional, especial- mente no que concerne à influência parental, ainda é incipiente e tem sido gerado de forma assistemática, através de estudos que desco- nhecem ou ignoram teorias de carreira, as quais se baseiam em evidências empíricas que podem ser identificadas e avaliadas de modo independente por diferentes pesquisadores. Uma teoria orienta a seleção dos elementos a serem pesquisados, e sua estrutura favorece a comparação entre resultados, condição es- sencial para a construção de um corpo de co- nhecimentos sólido, que é analisado de ma- neira ampla, com o objetivo de fornecer elementos para a composição de uma prática que possa ser avaliada. Nesse sentido, parece claro que, para gerar informações mais úteis aos profissionais de orientação e para permi- tir a troca de conhecimentos com outros pes- quisadores da área, os estudos nacionais pre- cisam alinhar -se com as metodologias e investigações de constructos já consolidados internacionalmente. Isso não significa deixar

Promover reflexões e atividades que favore‑ çam essas interações familiares positivas é extremamente benéfi‑ co para o desenvolvi‑ mento de carreira dos filhos, podendo funcio‑ nar como medida pro‑ tetiva de futuros con‑ flitos e inseguranças nas transições profis‑ sionais.

de lado as especificidades do contexto brasi- leiro, mas possibilitar a compreensão do de- senvolvimento de carreira no país à luz das principais perspectivas teóricas em uso e fa- vorecer as in tervenções realizadas no país com subsídios concretos que indiquem bene- fícios aos clientes.

Com relação às implicações para a prá- tica de orientação, uma vez que a disposição de muitos pais é a de auxiliar seus filhos nos processos de exploração e planejamento voca- cional, e uma vez que os temas de carreira estão intrinsecamente relacionados a outros contextos de vida (estudo, lazer, comunidade, família, etc.) (Super, 1980), a avaliação sobre a dinâmica familiar deve tornar -se tema essen- cial no aconselhamento de carreira. Ao escla- recer e tornar mais funcionais as relações fa- miliares, o orientador deve estar consciente de que também está agindo sobre a maneira

como essas relações viabilizam o desen- volvimento de com- petências explorató- rias e planejamento vocacional de crian- ças e adolescentes. A intervenção junto aos pais pode centrar -se no auxílio à percep-

ção de suas próprias expectativas e aspirações acerca do trabalho, sua trajetória profissional, seus próprios processos de escolha. Com os fi- lhos, a intervenção pode levar à reflexão acerca de padrões limitantes internalizados ao longo da infância e da adolescência e de como esses padrões afetam a extensão, a qualidade e a quantidade de seu comportamento explorató- rio, bem como suas aspirações e seus planos de carreira futuros.

A intervenção junto aos pais pode centrar‑ ‑se no auxílio à per‑ cepção de suas pró‑ prias expectativas e aspirações acerca do trabalho, sua trajetória profissional, seus pró‑ prios processos de es‑ colha.

Questões para discussão

1. Porque os pais continuam sendo as principais influências no desenvolvimento vocacional dos filhos?

2. Como os pais podem contribuir para o desenvolvimento do comportamento exploratório dos filhos?

3. Porque dizemos que o nível educacional dos pais ou o nível socioeconômico dos pais exerce influência sobre o desenvolvimento de carreira dos filhos?

4. O que os jovens costumam apontar como os aspectos mais positivos e mais negativos da influência familiar em suas escolhas de carreira?

5. Quais os principais aspectos a abordar sobre a influência familiar em uma intervenção de carreira?

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InTRodução

Este capítulo tem como objetivo apresentar algumas ideias relacionadas às famílias de crianças em situação de vulnerabilidade so- cial. Agrega -se a essa situação também a vul- nerabilidade pessoal, porque ela está intrinse- camente relacionada à anterior.

Uma criança poderá ser considerada em situação de vulnerabilidade social e pessoal quando seu desenvolvimento não ocorrer de acordo com o esperado para a sua faixa etária, segundo os parâmetros de sua cultura. A pre- sença de fatores de risco externos ou internos, como físico (doenças genéticas ou adquiridas, prematuridade, problemas de nutrição, entre outros), social (exposição a ambiente violento ou a drogas) ou psicológico (efeitos de abuso, negligência ou exploração) pode determinar tal caracterização.

Eventos externos de risco relacionam -se às condições adversas do ambiente no qual as crianças se desenvolvem. Estes podem ser ris- cos proximais (em microssistemas nos quais elas interagem face a face) ou distais (sistemas nos quais elas não estão presentes, mas que têm influência sobre elas – nível exo ou ma- crossistêmico). Os comportamentos de risco também podem expor as crianças à vulnera-

bilidade social e pessoal e referem -se a ações ou atividades realizadas pelos próprios indiví- duos que aumentam a probabilidade de con- sequências adversas para o seu desenvolvi- mento ou funcionamento psicológico ou social adequado, favorecendo o desencadea- mento ou o agravamento de patologias ou en- fermidades (Hutz e Koller, 1997).

Antes de definir o que seriam famílias de crianças em situação de vulnerabilidade social, é interessante percorrer a definição de famílias em geral ao longo das últimas dé- cadas.

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