Pode ser aplicado a pessoas alfabetizadas e consiste em 12 adjetivos (calmo, independen- te, etc.) que descrevem características de per- sonalidade. O objetivo do instrumento é in- vestigar, de modo indireto, a autocongruência (eu sou do jeito que gostaria de ser) e os pa- drões de identificação real (eu me acho pare- cido com...) e ideal (eu gostaria de ser pareci- do com...). Para isso, solicita -se ao entrevistando que diga quais são os membros de sua família e, a partir daí, solicita -se que descreva cada um deles com os adjetivos e com uma escala Likert que varia de um a cinco
(não concorda a concorda totalmente). Além disso, deve descrever a si mesmo (self real) e como gostaria de ser (self ideal). Todos os es- cores são associados por meio da correlação de Pearson para se chegar aos valores de auto- congruência (self real e ideal: “Eu sou como gostaria de ser”), identificação real com a mãe (self real e descrição da mãe: “Eu sou como a minha mãe”), identificação ideal com a mãe (self ideal e descrição da mãe: “Eu gostaria de ser como a minha mãe”), etc. O instrumento foi traduzido para o português e demonstra boa discriminação entre amostras clínicas e não clínicas (Käppler, 1998; Teodoro, 2009).
Autor: Helmut Remschmidt e Fritz Mattejat.
O que avalia: autocongruência e identifi‑ cação familiar real e ideal.
Onde foi desenvolvido: Alemanha. Definição de família: os membros avaliados são escolhidos antecipada‑ mente pelo entrevistador ou pelo entrevistado.
Público ‑alvo: crianças (a partir de 7 anos), adolescentes e adultos.
Principais publicações: Remschmidt e Mattejat (1999) e Teodoro et al. (2005).
consIdERAçõEs FInAIs E
dIREçõEs FuTuRAs
O objetivo deste capítulo foi oferecer ao leitor um guia para escolher instrumentos psicoló- gicos que avaliem a família e as relações fami- liares. Entretanto, deve -se salientar que ne- nhuma investigação clínica pode prescindir de entrevistas com os pacientes, de modo que os dados sejam complementados. A avaliação psicológica da família vem desenvolvendo -se nos últimos anos no Brasil e, consequente- mente, o número de instrumentos tem au- mentado continuamente. Por esse motivo, os estudantes e clínicos devem consultar o SA- TEPSI regularmente e observar as suas mu- danças.
A seleção e o uso adequado dos instru- mentos psicológicos dependem de um treina- mento adequado do profissional da psicolo- gia, que só deverá fazê -lo após conhecer muito bem a teoria e o material de cada teste ou es- cala. Por isso, o psicólogo deverá ler cuidado- samente o manual de cada instrumento antes de sua aplicação, já que seguir todas as reco- mendações de uma boa aplicação de teste e as orientações contidas no manual garante a qualidade dos resultados obtidos.
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Questões para discussão
1. Analise a relevância da utilização de instrumentos psicológicos na avaliação familiar. 2. Quais considerações o clínico deve fazer antes da escolha de um instrumento psicológico
para avaliação da família?
3. Discuta a importância da definição de família para a sua avaliação clínica.
4. Quais são as vantagens e desvantagens na utilização do conceito de família nuclear para a avaliação familiar?
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InTRodução
O objetivo deste capítulo é refletir sobre o de- senvolvimento de técnicas de entrevista e ava- liação familiar, apontando não só os desdo- bramentos epistêmicos, metodológicos e teóricos, mas também seus impactos sobre o estudo, a investigação e a abordagem clínica da família. A entre- vista psicológica é a técnica mais antiga e a mais valiosa no contexto de investi- gação, avaliação e in- tervenção clínica. Em sentido mais amplo, toda situação de diálogo, com o objetivo de permitir um maior conhe- cimento psicológico do outro ou de determi- nada situação psicológica, é uma entrevista psicológica, diferenciando -se de outros usos e técnicas de entrevista. No entanto, sendo a psicologia uma ciência de um saber em dis- persão (Figueiredo, 2004), também ocorrem diferentes maneiras de compreender, concei- tuar e atuar em uma entrevista clínica, diag- nóstica ou de avaliação psicológica. Além disso, as técnicas de avaliação podem ser con- ceituadas como situações de entrevista estru- turada (Féres -Carneiro, 1996). Cabe ressaltar que toda técnica de entrevista diagnóstica ou
avaliativa é também uma intervenção, assim como toda intervenção valida ou refuta uma hipótese clínica, correlacionando os aspectos de entrevista, avaliação e intervenção.
A entrevista clí- nica é o ato mais complexo da práxis psicológica, no qual praticamente toda a atividade clínica ocor- re. O ato clínico psi- cológico é, portanto, de enorme complexi- dade, pois é o resulta- do da ação em diver- sos contextos teóricos psicológicos, sociais,
éticos, estéticos, políticos e filosóficos, entre outros, que perpassam e agenciam, consciente ou inconscientemente, o clínico e seus clientes em cada momento da entrevista. A compre- ensão da dimensão psicológica da clínica de família é, nesse sentido, o resultado de um complexo processo de desenvolvimento epis- têmico, metodológico e de explicitação teóri- ca no qual as técnicas foram e são construídas. O campo de aplicação de técnicas de entrevis- ta e avaliação familiar tem -se tornado mais amplo, envolvendo desde áreas clássicas, como terapia e aconselhamento de família, até áreas