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Família e escola: promoção da saúde e prevenção ao abuso de drogas

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 110-116)

Marília Saldanha da Fonseca Evely Boruchovitch

“Quais são os pais que podem [...] eliminar de suas inquietações este problema tão agudo, tão ameaçador, tão im‑ previsível? E tão onipo‑ tente”.

Uma família define‑ ‑se mais pela intimi‑ dade partilhada en‑ tre seus protagonis‑ tas do que pelos cri‑ térios legais que ca‑ racterizam a clássica célula familiar.

e filhos, Wagner e colaboradores (2002) cons- tataram entre adolescentes de 11 a 16 anos que a maioria dos participantes (96%) consi- dera fundamental ter um bom nível de comu- nicação familiar. A mãe é a pessoa mais pro- curada para conversar, sendo vista como a principal cuidadora. Já a falta de diálogo é apontada como a modalidade de comunica- ção familiar entre usuárias de drogas em um estudo que envolveu 568 adolescentes, usuá- rias e não usuárias de drogas (Pratta e Santos, 2007).

Outras investigações revelam que os jo- vens enfatizam não só a importância da parti- cipação da família em suas vidas, mas tam- bém a percebem como referência básica. Para eles, a melhor fonte de informações sobre drogas ainda são os pais. A família que man- tém com o filho uma relação de amor, com- prometimento e confiança pode ser o diferen- cial na decisão desse filho em usar ou não drogas (Abramovay e Castro 2002). A esse res- peito, Schwebel (2002) entende que crianças, adolescentes e jovens precisam de diálogo com os pais para tomarem decisões sobre suas vidas, assim como de experiências variadas para lidar com conflitos e tensões sem usar drogas. Ao proporcionar tais experiências, os pais podem estar dando um grande passo para evitar que seus filhos desenvolvam pro- blemas com psicotrópicos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1981) indica que a pessoa com menor possibi- lidade de uso de drogas é aquela bem- -integrada na família e na sociedade, bem- -informada, com boa saúde, com qualidade de vida satisfatória e com difícil acesso às dro- gas. Já o indivíduo mais propenso a utilizar drogas, em geral, não dispõe de informações adequadas sobre seus efeitos, tem fácil acesso às drogas, está insatisfeito com sua qualidade de vida e apresenta fragilidades em sua saúde física e mental. O presente capítulo tem como base uma abordagem biopsicossocial sobre o fenômeno das drogas, o que significa que estas são examinadas à luz de uma triangulação, a saber: indivíduo -droga -contexto sociocultu- ral. Considerar somente um desses fatores isoladamente é incorrer em uma interpreta-

ção incompleta, preconceituosa e reducionis- ta da questão. Segundo a OMS (1981):

Droga é qualquer entidade química ou mis- tura de entidades (mas outras que não aque- las necessárias à manutenção da saúde, como a água e o oxigênio) que altera a função bio- lógica e possivelmente sua estrutura. Drogas psicotrópicas são as que agem no siste- ma nervoso central (SNC), produzindo alte- rações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora e sendo, portanto, passíveis de autoadmi nis- tração (uso não sancionado pela medicina). São drogas que levam à dependência.

Existem inúmeras classificações para os psicotrópicos, segundo diferentes critérios. Indica -se aqui os relacionados à legalidade e aos efeitos das substâncias psicoativas. Consideram -se legais aquelas drogas de uso aprovado pela legislação brasileira vigente, mas sujeitas a critérios de regulamentação do Ministério da Saúde, como os medicamentos, o álcool e o tabaco. A Lei no 10.409/2002 (Bra-

sil, 2002) regula operações e ações relaciona- das aos produtos, substâncias ou drogas con- sideradas ilícitas ou que causem dependência. Quanto aos efeitos, as drogas classificam -se em três grandes grupos: estimulantes, pertur- badoras e depressoras do SNC, conforme in- dica o Quadro 9.1.

Segundo Bucher (1988), fazer a distin- ção entre drogas legais e ilegais não é suficien- te na patologia toxicômona. Nos dois casos, um indivíduo pode ser levado à dependência e suas consequências, pois a periculosidade da substância é relativa. O necessário é verificar a frequência do abuso e os resultados de admi- nistração repetida do tóxico. As alterações da ingestão de drogas variam de acordo com o tipo e a quantidade utilizada, com as caracte- rísticas de quem as usa, com as expectativas sobre os seus efeitos e com as circunstâncias em que são ingeridas.

Podemos observar seis níveis de consu- mo de drogas universalmente adotados pela OMS (1981), a saber: uso na vida – uso de dro- gas pelo menos uma vez na vida; uso no ano –

uso de drogas pelo menos uma vez nos últimos 12 meses; uso no mês – uso de drogas pelo menos nos últimos 30 dias; uso frequente – uso de drogas seis ou mais vezes nos últimos 30 dias; uso de risco – padrão de uso ocasional, re- petido ou persistente, que implica alto risco de dano futuro à saúde física ou mental do usuá- rio, mas que ainda não resultou em significati- vos efeitos mórbidos orgânicos ou psicológi- cos; uso pesado – padrão de uso que já causa dano à saúde, físico e/ou mental.

Sobre o usuário de droga, a OMS (1981) recomenda a seguinte classificação: não usuá- rio – nunca utilizou drogas; usuário leve – uti- lizou drogas, mas no último mês o consumo não foi diário ou mensal; usuário moderado – utilizou drogas semanalmente, mas não dia- riamente, no último mês; usuário pesado – utilizou drogas diariamente no último mês. É importante observar que esses estágios não são necessariamente crescentes. Termos como adição, vício, hábito, adicto e viciado não são mais adotados por serem imprecisos, segundo a OMS. O mesmo ocorre com os termos de- pendência física e dependência psicológica: passou -se a usar apenas dependência.

Segundo a OMS e a Classificação Inter- nacional de Doenças (CID -10), para ser consi- derada dependente, uma pessoa precisa apre-

sentar, ao longo dos últimos 12 meses, um padrão de consumo que incorra pelo em três dos seguintes sinais ou sintomas: forte desejo ou compulsão de consumir drogas; consciên- cia subjetiva da dificuldade em controlar o uso em termos de início, término ou nível de con- sumo; uso de substâncias psicoativas para ate- nuar sintomas de abstinência, com plena cons- ciência dessa prática; estado fisiológico de abstinência; evidência de tolerância, necessi- tando de doses maiores da substância para al- cançar os efeitos obtidos anteriormente com doses menores; estreitamento de repertório pessoal de consumo, quando o indivíduo passa, por exemplo, a consumir drogas em lugares inadequados, a qualquer hora, sem motivo es- pecial; falta de interesse progressivo por outros prazeres e interesses em favor do uso de drogas; insistência no uso da substância, apesar de ma- nifestações danosas comprovadamente decor- rentes desse uso; evidência de que o retorno ao uso da substância, após um período de absti- nência, leva a uma rápida reinstalação do pa- drão de consumo anterior.

Na dependência, há que se considerar os seguintes conceitos: tolerância, quando o orga- nismo acostuma -se com a droga e passa a exi- gir doses maiores para obter os mesmos efeitos; escalada, quando uma pessoa passa de uma

Quadro 9.1

classificação das drogas psicotrópicas

Estimulante Perturbadora depressora

drogas naturais: drogas naturais drogas naturais

Cafeína Maconha (Cannabis) Álcool

Cocaína e derivados Datura (trombeta) Opiáceos e derivados Nicotina Cogumelos:

Mescalina Paneaulus

Psylocib

Daime

drogas sintéticas drogas sintéticas drogas sintéticas

Anfetamina e derivados LSD ‑25 Benzodiazepínicos Anticolinérgicos Inalantes

Êxtase (MDMA) Xaropes (codeína) Barbitúricos

droga mais “leve” para outra mais “pesada”, ou quando com uma mesma droga o consumo ocasional torna -se intenso; poliusuário, quan- do uma pessoa utiliza combinações de várias drogas simultaneamente, ou dentro de um pe- ríodo curto de tempo, ainda que tenha predile- ção por determinada droga; overdose, quando a quantidade de substância absorvida é sufi- ciente para causar a morte de um indivíduo; síndrome de abstinência, quando há uma série de alterações físicas causadas pela falta da droga no organismo; redução de danos, quando há controle dos efeitos adicionais adversos de qualquer substância psicoativa, em especial das consequências decorrentes de drogas ilícitas.

Abramovay e Castro (2002) constata- ram problemas relacionados à aprendizagem escolar que o aluno usuário enfrenta, havendo uma associação entre consumo e baixo rendi- mento escolar. Em geral, os usuários apresen- tam defasagem série/idade quando se consi- dera o universo de alunos reprovados mais de uma vez, verificando -se que a frequência dos que fazem uso de drogas (31,5%) é duas vezes superior aos que não usam (16,2%). Outro problema refere -se à relação entre consumo de droga/expulsão/transferência de estudan- tes, que apresenta uma proporção de 12,7% para usuários e 2,7% para não usuários.

Torna -se necessário conhecer e compreender as raízes desse problema. Pesquisas confiáveis não só indicam magnitude do consumo, como também identificam condições de risco dos grupos afetados que possibilitam diagnósticos que contribuem para elaboração de políticas públicas correspondentes à demanda gerada pelo abuso de drogas.

O V Levantamento sobre o uso de dro- gas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capi- tais brasileiras, realizado pelo Centro Brasilei- ro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) (Galduróz et al., 2004), revela que drogas como álcool, anfetaminas, ansiolíticos, anticolinérgicos, cocaína, energéticos, solven- tes, maconha e tabaco constituem o universo de “uso e abuso” no qual transitam cerca de 22% de nossos alunos. Outras substâncias, como alucinógenos, barbitúricos, esteroides/ anabolizantes, orexígenos, xaropes à base de codeína (opiáceo) tiveram percentagem infe- rior a 1,0% entre os alunos. O crack aparece com 0,7% de uso na vida e 0,2% de uso pesa- do. Supõe -se que a baixa prevalência seja em função da incompatibilidade entre o uso in- tenso do crack e a manutenção do cotidiano. Não houve relato de uso dos opiáceos morfi- na e heroína. A Tabela 9.1 descreve os resulta-

Tabela 9.1 uso na vida de 10 drogas psicotrópicas por 48.155 estudantes do ensino fundamental e médio das redes municipal e estadual de ensino do Brasil: dados expressos em percentagem, levando-se em conta idade, sexo e diferentes drogas individuais

drogas sexo % Idade (anos) %

m F nI 10-12 13-15 16-18 >18 nI Álcool 64,5 66,3* 41,2 69,5 80,8 82,1 69,2 Tabaco 25,2 24,7 25,3 7,0 24,7 39,7 41,3 34,6 Solvente 16,9 14,3* 15,3 9,9 16,9 19,1 19,9 13,8 Anfetaminas 3,0 4,3* 3,5 1,7 3,9 4,8 4,7 4,9 Ansiolíticos 3,1 5,0* 4,4 1,5 4,1 5,8 7,0 6,3 Anticolinérgicos 1,3 1,0 1,3 0,9 1,2 1,3 1,8 1,3 Energéticos 14,9 9,4* 12,4 4,3 12,8 18,9 20,0 11,0 Maconha 7,9 4,1* 7,0 0,6 3,9 11,2 17,7 9,5 Cocaína 2,8 1,3* 2,7 0,5 1,4 2,8 6,8 4,2 Crack 1,1 0,4 1,1 0,2 0,6 1,1 2,0 1,5

NI significa dados não informados pelos alunos.

* Diferença estatisticamente significativa entre os dois sexos (teste do χ2; p < 0,05).

dos globais obtidos no levantamento realiza- do pelo CEBRID.

Merece destaque o uso do álcool e taba- co por serem as substâncias psicoativas mais consumidas entre crianças, adolescentes e jo- vens. A bebida alcoólica é aceita pela socieda- de e incentivada pela propaganda; portanto, está plenamente integrada aos costumes atu- ais. A maioria das pessoas sequer entende o ál- cool como droga. Em 1967, o alcoolismo foi reconhecido como doença, passando a incor- porar a CID -10. As consequências do consu- mo do álcool são graves, pois provoca mudan- ças de comportamento e alterações de raciocínio, visão, fala e coordenação motora. A questão do álcool no Brasil tornou -se um problema de saúde pública.

Os resultados encontrados no levanta- mento epidemiológico do CEBRID indicam a seguinte situação: a média de idade de inicia- ção está sendo 12,5 anos, menor média de pri- meiro uso entre as demais drogas. Os índices foram os seguintes: uso na vida de 65,2%, uso frequente de 11,7% e uso pesado de 6,7%. O uso pesado é um caminho para a dependên- cia. Na faixa etária de 10 a 12 anos, 41,2% dos alunos já haviam feito uso na vida, sendo que cerca de 587 mil adolescentes de 12 a 17 anos (ou 5,2% da população brasileira) apresen- tam dependência (Galduróz et al., 2004).

Segundo Fonseca (2006), a família é re- ferência comum na literatura sobre o assunto. Os estudos mostram que 40% dos alunos usa- ram bebidas alcoólicas pela primeira vez em sua residência, oferecida pelos próprios pais, principalmente pais consumidores. A bebida é valorizada como indício de virilidade e ma- turidade, sendo o uso doméstico facilitado pela família. É importante que, desde a infân- cia, os filhos compreendam pela atitude dos pais o que é uso adequado ou uso indevido de drogas. Se, por um lado, crianças e adolescen- tes podem aprender comportamentos de

abuso convivendo em famílias que apre- sentam histórico de problemas de drogas, por outro, quando as relações com pais

foram solidamente constituídas, é pouco pro- vável que o uso de drogas torne -se um proble- ma.

O tabaco é, mundialmente, o maior fator de risco relacionado ao adoecimento, causando doenças cardiovasculares, pulmo- nares e cancerígenas. Há cerca de 1.250 mil ta- bagistas entre 12 e 24 anos. O uso é iniciado cedo na vida dos estudantes, em torno dos 12,5 anos. Abramovay e Castro (2002) descre- vem que, quando se pergunta aos 42.804.430 alunos das escolas de ensino fundamental (5a

a 8a série) e ensino médio “Você costuma

fumar cigarros?”, as respostas obtidas são as seguintes: não fumam (89,1%); fumam even- tualmente (7,5%); fumam diariamente (3,3%). Os depoimentos mostram, ainda, que o primeiro contato dos adolescentes com ta- baco ocorre ou no próprio ambiente familiar, ou com amigos em festas, bares e shows que costumam frequentar. O grupo de amigos é importante como fator de pressão, pois o há- bito de fumar é um ritual valorizado, uma forma de padronização, identificação e prestí- gio. Goldfarb (1999) sugere que os profissio- nais da saúde atuem, de modo mais sistemáti- co, em consultas de aconselhamento e programas educativos que orientem pais e fi- lhos a evitar o tabagismo. Reitera, além disso, o valor da função da escola como canal de de- senvolvimento das ações de prevenção e de promoção da saúde.

Uma indagação tem sido constante: por que o consumo de drogas? As drogas vêm sendo examinadas por diferentes pers- pectivas que tentam explicar, à luz de teorias psicológicas, psicanalíticas, antropológicas, sociológicas e de tantas outras ciências, o porquê de tal uso. Segundo Olivenstein (1991), duas condições são necessárias e su- ficientes para uma pessoa tornar -se depen- dente: encontrar a droga e ter relação com a transgressão da lei, tanto a lei imaginária quanto a lei real. Baudrillard (1987) associa as drogas à cultura do Estado Mínimo que, regulado pela competitividade do mercado, acentuou as diferenças em um mundo divi- dido em ricos e pobres, produzindo assim uma legião de excluídos. Nos países econo-

Quando as relações com pais foram solida‑ mente constituídas, é pouco provável que o uso de drogas torne ‑se um problema.

micamente pobres, mistu ram -se subdesen- volvimento, miséria e drogas, o que leva a uma maior vulnerabilidade aos jovens mar- ginalizados que procuram nas drogas um meio de compensar essa privação. Por outro lado, nas chamadas sociedades ricas, o con- sumo de substâncias tóxicas é tido como produto do consumo, do bem -estar e do su- pérfluo. Conforme Baudrillard (1987, p. 9):

As drogas, qualquer uma, forte ou fraca, in- cluindo fumo, álcool e todas as variantes contemporâneas são condutas de exorcismo: exorcizam a realidade, a ordem, a indiferen- ça das coisas. Mas não se deve esquecer que, através delas, é a própria sociedade que exor- ciza certos poderes esquecidos, certas con- tradições internas. Exorcizar é produzir para maldizer. É ela que produz este efeito e é ela que o condena. Se não pode deixar de produzi -lo (o que seria desejável), ao menos deixe de maldizê -lo.

Para Bucher (2002), o consumo de dro- gas significa a procura deliberada de alteração dos estados de consciência, de experiências inéditas que sejam “experiências de prazer”. O autor atribui três funções ao abuso: esquecer a transitoriedade e a mortalidade a que o ser humano está sujeito e a angústia que isso pro- voca; procurar a transcendência e entrar em contato com forças sobrenaturais, tentando alargar os limites existenciais em busca de ele- mentos espirituais ou divinos que assegurem sobrevivência além da morte; buscar o prazer, função que domina a farmacodependência moderna.

Abramovay e Castro (2002) verificaram as percepções dos estudantes, agrupando -as em quatro categorias: alívio dos problemas, modismo, autoafirmação e diversão. Para os alunos, a influência e a pressão dos amigos, a curiosidade, os conflitos existenciais fazem aumentar a possibilidade de usar drogas. A falta de espiritualidade, a falta de diálogo em casa e as brigas familiares também são apon- tadas como causas prováveis, mas não neces- sárias, para que os jovens procurem as drogas. Salles (1998) coletou, entre alunos adolescen- tes, depoimentos sobre o motivo do uso de

drogas e obteve as seguintes justificativas: vontade de experimentar, exibir -se, desafiar o proibido, divertir -se, curtir a noite, fugir da realidade em que vive, buscar a felicidade, sentir -se melhor, aliviar o sofrimento, ter rela- ção familiar ruim, atingir os pais. Qual é o lugar da escola? A adolescência e a juventude formam um grupo social bastante vulnerável às drogas, e o alvo tem sido os alunos entre 16 e 18 anos, motivos que poderiam explicar por que o ambiente escolar é tão vulnerável. Assim, a escola defronta -se com este fato real: a existência das drogas em seu entorno e em seu interior.

Murad (1985) aponta a presença do trá- fico na escola e sua infiltração no espaço esco- lar, que ocorre ou por meio de uma aborda- gem ostensiva ou por meio de estratégias diversas que seduzem os jovens. Os amigos têm um papel especial na iniciação às drogas, uma vez que as primeiras experiências são fei- tas com pessoas de confiança. Segundo Abra- movay e Castro (2002), a presença das drogas e da violência que dela advém traz conse- quências para o cotidiano das escolas, impon- do um clima de insegurança e estabelecendo a “lei do silêncio”. Entretanto, a repressão ao tráfico é responsabilidade de setores policiais. Isso não cabe à escola, que no máximo deve informar essas situações aos órgãos compe- tentes. No caso de aluno -traficante, deve ser evitada sua convivência na vida escolar. Enfim, é na escola que surgem os conflitos e é nela que eles precisam ser resolvidos. Contudo, um trabalho educativo deve considerar que o con- sumo de drogas é sempre afetado pelos valo- res da sociedade da qual a escola é uma de suas instâncias. Conforme Edwards e Arif (1982, p. 33):

O lugar que a sociedade designar para o in- divíduo será de especial importância, assim como o valor que se der à liberdade, ao direi- to à procura hedonista do prazer, e o signifi- cado que se atribui à saúde.

A família, assim como a escola, é respon- sável pela socialização de crianças, adolescentes e jovens pelo convívio e pela interação com

adultos signi ficativos. Os pais desempe- nham um pa pel fun- damental na aquisi- ção de valores morais e pessoais, apoi an do- -se em suas experiên- cias pessoais, no amor por seus filhos e em seus princípios para levar adiante a orien- tação dos mais jovens (Gennaro, 1987). O professor, devido à sua formação pedagógica, psicológica, social e cultural, tem um papel construtivo, ajudando os estudantes a desen- volverem seus recursos intelectuais, afetivos e morais, a aprender a ser e a conviver. Tanto quanto os pais, o professor é o educador que está em condições de ajudar o aluno a exerci- tar sua cidadania diante de questões sociais, tais como a farmacodependência.

Escola e família são espaços privilegia- dos no debate sobre psicotrópicos, assumindo uma posição fundamental a respeito de uma educação que possa estar voltada para a pre- venção do consumo de drogas. Prevenir é in- tervir para evitar que se estabeleça uma rela- ção nociva entre crianças, adolescentes e jovens com as substâncias psicoativas. Nessa perspectiva, a prevenção tem de ser concebida como educação e ser realizada por aqueles que estão diretamente relacionados com os educandos na escola e na família.

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 110-116)