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Saudade da família no futuro ou o futuro sem família?

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 72-78)

cada vez mais se indi- vidualize (Touraine, 1997; Elias, 1987; Riesman, 1961), tor- nando -se narcísico (Debord, 1992; Lowen, 1983; Freud, 1914) em sua maneira de ser e de pensar (Baudrillard, 1991, Lipovetsky, 1983; Sennett, 1974), fabricando assustadoramente e anulando os “estranhos” (Bauman, 1997; Galimberti, 2000; Melville, 1956; Rousseau, 1782).

É nesse cenário que as palavras de Sara- mago (1995) tornam -se desafiadoras às diver- sas práticas a que a psicologia tem o com- promisso de se fazer presente, “a respon- sabilidade de ter olhos quando os ou- tros os perderam”. Em se tratando de fa- mília (sendo ela produto e produzindo a so- ciedade contemporânea), exige que a vejamos com olhos também contemporâneos, revendo inclusive o conceito que temos de família, ou melhor dizendo, de que família se quer “falar”: política, social, antropológica, psíquica, socio- lógica. Hobsbawn (1994, p. 537) afirma:

O breve século XX acabou em problemas para os quais ninguém tinha, nem dizia ter, soluções. Enquanto tateavam o caminho para o terceiro milênio em meio ao nevoeiro global que os cercava, os cidadãos do fin ­de­ ­siècle só sabiam ao certo que acabara uma era da história. E muito pouco mais. Assim, pela primeira vez em dois séculos, faltava in- teiramente ao mundo da década de 1990 qualquer sistema ou estrutura internacio- nal.

O novo milênio começou com os velhos problemas do século anterior, sendo que uma década já se passou, mas ainda não encontra- mos o caminho para as possíveis soluções. A sociedade pós -moderna agora se depara com um problema ainda maior: a possibilidade de nos confrontarmos com vidas desperdiçadas, com famílias situadas em meio ao turbilhão do existir e do não existir.

O que se observa cotidianamente são famílias compostas por pais ausentes, por mães ausentes demais ou presentes demais, julgando -se negligentes para com a educação de seus filhos, por pais e mães “cegos” aos fi- lhos e aos perigos que podem sobrepujá -los, perdidos no como educar, ou seja, observa -se que muitos pais simplesmente se recusam a ser pais, uma vez que, para o exercício da ma- ternalidade e da paternalidade, exige -se que homens e mulheres sejam adultos, e ser adul- to é muito “chato”. O chato tem de dizer não, proibir, frustrar, decepcionar, negar e colocar limites.

Sinto dizer que, em se tratando de edu- cação de crianças e constituição familiar, não há espaço para o amigo. Os pais podem (e devem) ter atitudes de amigo, mas o que as crianças precisam é de pais e mães que lhes sejam referenciais para que não passem a bus- car essas referências na internet, nas salas de bate -papo, na televisão com seus programas cada vez mais adultos para crianças, nos video­ games cada vez mais interativos ou mesmo em suas tribos que ensinam que pertencer é não ser e que, para ser aceito (sentir -se pertencen- te e amado), tem de se submeter às regras do grupo.

Pais e mães en- contram -se perdidos no como educar seus filhos pelo fato de que, em se tratando de família, não há es- paço para o egoísmo, o narcisismo e o indi- vidualismo. Não há

espaço para condições, disputas por poder, desprezo pelo Outro. Em família se aprendem limites, tempo, compartilhamento, doação. Em família se frustra, e o que tenho observa- do na prática clínica (consultório, escola, hos- pitais, convívio social) é que os pais têm nega- do às crianças a frustração tão necessária para que conheçam sua maneira de ser, para que vislumbrem seu eu (e o mesmo se aplica aos pais). Os pais estão oferecendo aos filhos um mundo utópico de possibilidades ilimitadas,

Um futuro sem família, ou a família sem fu‑ turo?

À Psicologia cabe a prática da “responsa‑ bilidade de ter olhos quando os outros os perderam”.

Pais e mães encon‑ tram ‑se perdidos no como educar seus fi‑ lhos pelo fato de que, em se tratando de fa‑ mília, não há espaço para o egoísmo, o nar‑ cisismo e o individua‑ lismo.

várias “windows” e possibilidades de aconte- cer, impondo às crianças a necessidade de dei- xar sua marca, pregando a imortalidade como em um jogo de videogame em que, diante de uma fase difícil de se “avan çar/”superar”, dá- -se o restart e então se inicia tudo de novo (como se nos relacionamentos isso fosse pos- sível).

Aqui se encontra o grande equívoco da modernidade e a herança da pós -moderni- dade: o homem almeja que sua existência seja permanente, e não eterna, e a família apro- priou -se desse modus operandi, porém esque- cemos que a maneira de nos tornarmos eter- nos e nascermos muitas vezes é "morrendo". O permanente não muda, cristaliza -se; não muda, não se flexibiliza; não muda, morre buscando a eternidade.

As famílias contemporâneas têm pro- metido aos seus filhos uma liberdade descon- textualizada, sem dizer aos filhos que a liber- dade consiste no fato de que, em sendo livre, no exercício de seu livre -arbítrio, possa re- nunciar, mas continuar a conviver com suas renúncias. Isso é ser livre. Lembremo -nos da seguinte história:

Uma mãe está fazendo compras com seu filho, e a criança mexe em tudo, abre os pacotes dos produtos, derruba outros, estraga os alimentos... Um cliente, vendo a cena, dirige -se à mãe e pergunta por que ela tolera tal comportamento de criança rebelde, ao que a mãe responde: “Em nossa família, educamos nossos filhos para que exerçam sua liberdade, para que se expressem da maneira que lhes convém”. O cliente então abre uma garrafa de água que estava no carrinho de compras e a despeja sobre a cabeça da criança, gerando protestos da mãe, ao que ele responde: “Em nossa família, também fomos educados para exercer nossa liberdade da maneira como nos convém”.

Por certo, muitos condenam a atitude do cliente, mas o que quero ilustrar não é a atitude, e sim o princípio a se debater. É comum, em nossa sociedade, que os pais jul- guem que seus filhos estejam sempre certos, terceirizando a culpa aos amigos, à influência das más companhias, à mídia, o que gera uma

verdadeira omissão para com a realidade que cerca essas crianças. Os pais devem sim amar e expressar esse amor em cuidados para com seus filhos. Porém, filhos que podem fazer o que querem, quando querem, como querem, não são filhos amados, e sim filhos abandona- dos. Em nome da autonomia, exerce -se o abandono. Penso que, por vezes, a letra da canção de Cazuza (1986) se faça presente nos relacionamentos: “O

nosso amor a gente inventa pra se dis- trair, e quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu”.

Talvez possamos afirmar que o que este- ja imperando em muitas relações seja o medo do futuro, ou de “um” futuro em que os valo- res por muitos considerados fundamentais para a sociedade estejam se perdendo. Então, o medo como sentimento não compreendido ou mesmo superado volta sempre a subjugar a razão. Que medos podem estar assombran- do as famílias? Que sentimentos geram as in- seguranças nos relacionamentos? Que medos e inseguranças têm -se tornado a base da famí- lia contemporânea?

conTExTuAlIzAndo A

FAmílIA conTEmPoRânEA:

soBRE PAIs E mãEs

Para caracterizar os pais e mães na sociedade atual, inicio minhas reflexões com as palavras de Sá (1999, p. 114s):

Mais e melhor vida tem transformado as fa- mílias alargadas em famílias nucleares que, em consequência da contracepção e do tra- balho feminino (...), tem trazido o homem de regresso à “casa”, à maternidade e à famí- lia. A igualdade de oportunidades tem -nos ensinado a conviver sem “fadas do lar” e sem “príncipe de marés” e releva, incontornavel- mente, a função do casal, muito para além do vínculo matrimonial, no sentido da exi- gência de uma maturidade relacional que se traduz, no plano da interioridade, numa

“O nosso amor a gente inventa pra se distrair, e quando acaba a gen‑ te pensa que ele nunca existiu”.

união de fato (...) disso depende a melhor qua- lidade de vida familiar e a sua equivalente psico- lógica, que se traduzirá na persistência do dese- jo (...) de ser feliz.

Os avanços pro- porcionados pela ci- ência e as mudanças sociais obrigam homens e mulheres a se dedi- carem às suas carreiras, a não poderem dispor de tempo para seus desejos, buscando o pra- zer imediato, a solução mais fácil, o caminho mais seguro, o que muitas vezes faz com que protelem a constituição de uma família; e, em se tratando de família, muitas vezes a carreira tem de ser postergada, os desejos protelados, o prazer não é imediato, as soluções nunca são fáceis e nada é seguro ou garantido. Como conviver com a constante possibilidade de perda de um filho que de uma hora para outra fica doente? Que sentimentos de revolta podem ocorrer quando perdemos um filho?

Penso que o exercício da maternalidade e da paternalidade seja muito exigente no sen- tido que pressupõe que os sujeitos de uma so- ciedade sejam praticantes da gratuidade, não baseiem suas relações no poder e superem o individualismo coletivo, não se tornando adeptos do narcisismo. Amar é hoje muito mais difícil do que outrora, não porque o amor tenha mudado, mas talvez porque as pessoas que amam passaram a amar outras “importâncias”, têm outros quereres – e os fi- lhos são exigentes, uma exigência que me soli- cita, pede, depende... Calligaris (1994, p. 15) afirma que “os psicanalistas sabem que, para aguentar ser pai, o mínimo exigido para um homem é reconhecer -se como filho”, ou como nos diz Garfinkel (1985, p. 23):

A relação pai -filho é uma das grandes expec- tativas, de crença e confiança (...) e de grande

desapontamento, des- crença e traição. O pai não é tudo aquilo que, inicialmente, parece ser.

Na realidade, conforme a maioria dos ho- mens de minha pesquisa indica, os homens que eles desejavam amar ao máximo e de quem desejavam estar mais próximo possí- vel – seus pais – foram aqueles de quem menos conseguiram ser íntimos. O aliado é revelado como o rival. O herói possui duas faces.

Reconhecer -se como filho é outra ques- tão de debate na sociedade contemporânea que merece nossa atenção por caracterizar a família contemporânea. A crescente ausência dos pais na educação de seus filhos tem -se configurado em uma educação “feita” por ba- bás, TV, videogames ou mesmo “pessoas es- tranhas”. É inegável que a influência da pre- sença paterna e materna é de fundamental importância para a formação da personalida- de e do caráter de uma criança (Winnicott, 1979). Contudo, os pais estão – por necessida- des que criam – cada vez mais tempo fora de casa e, consequentemente, mais ausentes para com seus filhos e longe de transmitir -lhes a educação familiar. Segundo Malpique (1990, p. 98)

(...) o pai, tanto na teoria psicanalítica quan- to na teoria da aprendizagem social, é o ver- dadeiro agente de mudança, porque intro- duz a relação triangular. É a partir dele que a criança se depara com a mudança de objeto ou com a diferença de modelos. É ele o me- diador da relação mãe -filho e é ele que intro- duz a distância, a diferença e a frustração mais penosa. É ele que, segundo Lacan, faz reconhecer à criança a falta, a impossibilida- de da relação fusional com a mãe. A presença de um pai real (ou seu substituto) que dispu- te a mãe à criança é, portanto, indispensável. (...) O perigo da ausência real é a excessiva idealização, não o esquecimento.

E é justamente dessa idealização que Kafka (1919) escreve ao seu pai: “É muito pos- sível que também não teria chegado a ser o tipo de homem que tu pretendes, mesmo que tivesse ficado inteiramente livre de tua influên- cia durante o meu desenvolvimento”. Por isso é que anteriormente expus a ideia de que a

Uma maturidade rela‑ cional que se traduz, no plano da interiorida‑ de, numa união de fato (...) disso depende a melhor qualidade de vida familiar e a sua equivalente psicológi‑ ca, que se traduzirá na persistência do desejo (...) de ser feliz.

O pai não é tudo aquilo que, inicialmente, pa‑ rece ser.

criança precisa de um pai, não de um amigo, melhor ainda se for um pai com atitudes de amigo. É saudável para a criança que o pai exerça sua pater- nalidade. Paternalidade assume então a con- cepção de exercício da paternidade. Creio ser um processo em que o pai se “descobre” pai no mesmo processo em que o filho se “desco- bre” filho. É nesse exercício de ser pai, que frustra, que põe e impõe limites, que o homem/marido se encontra com o papel de pai e, por consequência, a criança se reconhe- ce como filho/a.

Contudo, é inegável que o papel do homem em nossa sociedade tem -se transfor- mado muito nas últimas décadas, fazendo com que muitos se percam “no canto da se- reia”, como os homens de Ulisses na Odisseia. A eterna síndrome de Peter Pan (Kiley, 1983) insiste em se fazer presente. Tal síndrome agrava -se ainda mais com o mito capitalista de que o dinheiro compra tudo, inclusive o amor. Essa teoria sobre o dinheiro, que é mui- tas vezes praticada por parte dos pais, dá à criança uma falsa sensação de segurança e acaba por confundi -la ainda mais. “A criança é levada a pensar: se eu tiver dinheiro e as coi- sas de que gosto, não vou precisar das pessoas. Esse engano apresenta -se como solução do problema da solidão, mas na realidade so- mente a agrava” (Kiley, 1983, p. 94). Se desde criança pensamos e agimos assim, como nos comportar, que crenças ter quando adultos? Quando pais?

É comum os homens serem criados para “ganhar dinheiro”, “fazer o seu primeiro mi- lhão antes dos 25 anos”, ter posses, carro, uma imagem de sucesso. Essa prática constante pode levar os homens a crer que o amor possa realmente ser comprado ou ao menos nego- ciado. Busca -se isso no casamento em primei- ra instância e depois nas possíveis relações com os filhos. No mundo capitalista em que nos encontramos, o amor também é, muitas vezes, visto como negócio em que até criamos seguro para casamentos desfeitos...

A paternalidade vem tornando -se exi- gente para alguns justamente pelo fato de que ser pai é estar presente, preenchendo um es- paço vazio que é no/do Outro – o filho, e aqui não há lugar para o individualismo ou narci- sismo. Mas como dar ao Outro algo que julgo não ter? Surpreendi -me em uma aula de psi- codinâmica da famí-

lia em que uma aca- dêmica, no meio de nosso debate, decla- rou: “Agora com- preendo que meu pai não tinha como me entender como a ado- lescente que fui; ele não teve um pai na

adolescência dele (...) como então pode ser pai para mim e meus irmãos?” Por certo, nem todo processo familiar pode ser explicado como causa -efeito, mas merece nosso olhar sobre as realidades que se nos apresentam. É certo tam- bém que, para dominarmos as situações que as vida nos apresenta, precisamos desenvolver a capacidade de superação das críticas (reais ou imaginárias), dos reveses (concretos e fabrica- dos por nós) e das desilusões.

O pai contemporâneo às vezes se vê per- dido, em um mar de tantas teorias, tantas pos- sibilidades e facilidades. Perdido porque as di- versas teorias de como ser um pai eficiente, um pai eficaz, um pai -líder, um pai servidor, abarrotam as prateleiras das livrarias. Fórmu- las, receitas, maneiras do como educar seu filho para que seja feliz proliferam semanal- mente. Agregue a isso as mil possibilidades que temos para estar aqui, ali ou acolá em questão de frações de segundos (os equipa- mentos eletrônicos nos possibilitam isso) ou em questão de minutos (tomamos um avião em qualquer parte do mundo e em horas cruzo o Atlântico, o Pacífico, o país) e daí as “obrigações” anteriormente contratadas – ca- samento, filhos – podem facilmente ser des- feitos, tal como em Kundera (1984, p. 13):

Tomas vivera apenas dois anos com a pri- meira mulher e tivera um filho. No julga- mento do divórcio, o juiz confiou à mãe a

Creio ser um processo em que o pai se “des‑ cobre” pai no mesmo processo em que o fi‑ lho se “descobre” fi‑ lho.

“Agora compreendo que meu pai não tinha como me entender co‑ mo a adolescente que fui; ele não teve um pai na adolescência dele (...) como então pode ser pai para mim e meus irmãos?”.

guarda do filho. (...) Concedeu -lhe também o direito de ver o filho duas vezes por mês. Mas, todas as vezes em que Tomas deveria vê -lo, a mãe desmarcava o encontro. (...) Um domingo em que a mãe, mais uma vez, des- marcara no último minuto uma saída com o filho, ele decidiu que nunca mais o veria. Afi- nal, por que se prenderia a essa criança mais do que a qualquer outra? Não estavam liga- dos por nada, a não ser por uma noite im- prudente. Depositaria escrupulosamente o dinheiro, mas que não viesse exigir dele que, em nome de vagos sentimentos paternos, disputasse a companhia do filho!

Na outra extremidade, temos a mulher/ mãe que, tanto quanto o homem/pai, vem passando pelas mesmas agruras, com o agra- vante de que muitas ainda têm de ser mulher, esposa, amiga, filha dedicada. Weberman (2002) ressalta a seguinte ideia ao “explicar” por que nos encontramos nesse panóptico:

Considere a seguinte hipótese: em algum mo- mento entre os anos de 1966 e 1974, o mundo mudou (...). A primeira geração de crianças “amamentadas” com uma dieta regular de te- levisão atingiu a maioridade nessa época. E depois da televisão ocorreu a vasta prolifera- ção de tevê a cabo, vídeo, fax, estimulantes farmacêuticos do humor, telefones celulares e internet. Tudo isso teve um efeito em nossos pensamentos, desejos e sentimentos.

Weberman expõe claramente que nossa sociedade apropriou -se do avanço tecnológi- co e fez como que ele também avançasse sobre as relações. Nesse movimento, a mulher não tardou a ser “engolida” por um cotidiano que exige dela respostas de sucesso, empreendedo- rismo e competição. Aburdene e Naisbitt (1992) já alertavam:

Não há dúvida: a ida das mulheres para o trabalho rompeu a unidade familiar. Sem o apoio das empresas ou do governo, os pais enfrentaram uma questão simples, mas es- magadora: quem vai cuidar das crianças? Em consequência do aumento do poder das mu- lheres, algumas escaparam de casamentos em que haviam estado economicamente

aprisionadas. O número de divórcios au- mentou também por outras razões, mas o resultado final foi o mesmo: mais rompi- mento. Mães trabalhando. Divórcios. Assis- tência inadequada aos filhos. Crianças vi- vendo na pobreza porque pais ausentes não proveem o sustento dos filhos. Famílias ado- tivas. Mãe e pai trabalhando fora. Excesso de trabalho. Durante as duas últimas décadas, tanto os pessimistas quanto os observadores atentos podiam fazer uma boa previsão de que a família estava se desintegrando e, por isso, a sociedade também se desintegrava.

Vivemos as úl- timas décadas envol- vidos por muitas transformações, com os papéis das mulhe- res mudando cons- tantemente e, por consequência, o papel

de mãe também. É fácil levantarmos os dados do aumento do número de mães “solteiras”, mães pobres com pais omissos, famílias adoti- vas e combinadas, maior número de mães de meia -idade, com mulheres podendo optar por casar mais tarde, tornar a se casar, não casar, morar ou não junto com um compa- nheiro e até mesmo ser mãe sem a necessida- de de ato sexual. Enfim, cada vez mais obser- vamos uma sociedade na qual tudo o que era sólido se desmanchou no ar, o que Bauman denominará de “tempos líquidos” (2007), “modernidade líquida” (2000) ou “mal estar da pós -modernidade” (1997).

As mulheres, por mais liberdade que possam obter, ainda se empenham para cum- prir os papéis sociais que lhes são impostos. Uma análise sobre o papel feminino é o des- crito por Dias (2006) sobre a “elasticidade” da mulher, tendo justamente como pano de fundo uma família.

A ideia de uma supermãe que tudo sabe, tudo faz e tudo pode (três virtudes teologais de Deus) ainda assombra as mães. É neces sário res- gatar a ideia de Winnicott sobre o que é ser uma mãe suficientemente boa, aliviando as mulheres da carga que a psicanálise impõe sobre essa fun- ção. Segundo Grolnick (1990, p. 40):

Vivemos as últimas dé‑ cadas envolvidos por muitas transformações, com os papéis das mu‑ lheres mudando cons‑

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