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TRATAmEnTo dA dEPREssão nA FAmílIA

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 52-56)

Tendo em vista que a transmissão da depres- são entre gerações é um processo complexo e multifacetado (Serbin e Karp, 2004), o estudo dos preditores psicossociais para a eclosão do transtorno tem implicações significativas para a prática clínica, na medida em que são po- tencialmente modificáveis a partir de inter- venções preventivas.

Essas intervenções devem buscar metas que tragam impacto direto (por exemplo, in-

A hipótese de trans‑ missão familiar basea‑ da em exposição e mo‑ delação sugere que o estilo cognitivo pode desenvolver ‑se com ba‑ se na observação e na imitação dos pais.

O tempo que mãe e fi‑ lho passam juntos pode mediar a relação entre o estilo cognitivo da mãe e a vulnerabilida‑ de cognitiva presente no filho.

tervenções individuais voltadas para a redu- ção da depressão) ou indireto (por exemplo, promoção da comunicação familiar) sobre a saúde mental. As intervenções podem incluir os seguintes módulos:

1. estabelecimento de vínculo e educação so- bre depressão;

2. treino de comunicação;

3. programação de atividades agradáveis e 4. solução de problemas.

É recomendado incluir a criança ou o adolescente e seu familiar em todas as sessões, devido à importância da interação pai -filho (Moon e Rao, 2010). O envolvimento dos pais permite prover educação parental a respeito da modelação de cognições positivas sobre o self, o mundo e o futuro, bem como ensino de estratégias comportamentais na tentativa de não expressar suas cognições negativas na presença da criança. Permite também ensinar às mães habilidades parentais que reduzam a disfunção familiar e desenvolver com os ado-

lescentes ha bili dades de enfrentamento à de- pressão ma terna e aos estressores associados (Garber e Cole, 2010).

Os esforços de prevenção ainda podem envolver esses jovens com outros, com os quais eles possam passar algum tempo e os quais possam proporcionar -lhes exposição e subsequente modelação de cognições funcio- nais. Conforme a concepção preventiva, um programa cognitivo -comportamental de in- tervenção foi efetivo em melhorar as habilida- des parentais e o enfrentamento da criança, de modo a prevenir depressão e outra psicopato- logia em filhos de mães deprimidas (Compas et al., 2009).

Prevenir estilo cognitivo negativo e de- pressão materna durante as fases iniciais de desenvolvimento infantil seria o ideal. Porém, uma vez que a mãe esteja experienciando um transtorno de humor, deve -se objetivar a in- tervenção para tratar os seus sintomas atuais e evitar a recorrência, pois o tratamento da de- pressão materna pode trazer impacto positivo para o filho (Gunlicks e Weissman, 2008).

Questões para discussão

1. Tendo em vista os fatores ambientais que afetam a probabilidade de eclosão de cognições depressogênicas entre adolescentes, avalie de que forma a escola e a comunidade podem contribuir para a redução do risco de depressão.

2. Dê exemplos de pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças centrais que podem indicar vulnerabilidade cognitiva para depressão em uma criança.

3. Elabore cinco perguntas que podem ser feitas aos pais de uma criança que vem apresen‑ tando sintomatologia depressiva, considerando a investigação do que está contribuindo para o desenvolvimento de cognições depressogênicas nessa criança.

4. O tratamento medicamentoso da depressão comprovadamente apresenta eficácia na redu‑ ção da sintomatologia depressiva. A realização desse tipo de intervenção no tratamento de um pai deprimido seria suficiente para reduzir o risco de seu filho apresentar cognições depressogênicas? Por quê?

5. “João, uma criança de 7 anos, é filho único de pais separados. Não conheceu o pai e mora somente com a mãe, que tem um histórico de sintomatologia depressiva grave, inúmeras tentativas de suicídio e baixa adesão aos tratamentos indicados. João começa a apresentar pensamentos autodepreciativos e desesperança quanto ao futuro, apesar de não demonstrar sintomas de depressão significativos.” Considerando a hipótese de transmissão familiar baseada em exposição e modelação, discuta meios de intervir nessa situação.

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InTRodução

O objetivo deste capítulo é descrever algumas contribuições das abordagens sistêmica e psi- canalítica à terapia de casal, discutindo sua ar- ticulação em uma perspectiva epistemológica batesoneana orientada pelo conceito de dupla descrição. Esta tem como metáfora a visão bi- nocular, na qual diferentes descrições, irredu- tíveis entre si, podem ser articuladas em suas diferenças e semelhanças, levando à emergên- cia de uma nova descrição, com novas infor- mações, e irredutível às visões anteriores. As- pectos teóricos de ambas as abordagens são delineados, relacionando diferentes perspecti- vas e posições em seu desenvolvimento histó- rico. As possibilidades de articulação de dife- rentes perspectivas e técnicas são discutidas em termos epistemológicos e metodológicos.

A expressão te- rapia de casal refere- -se a uma vasta gama de modalidades de tratamento que bus- cam modificar o rela- cionamento conjugal com o objetivo de melhorar a satisfação conjugal e superar dificuldades do rela-

cionamento. Além disso, busca lidar com disfunções conjugais, aumentar a resiliência do casal e fornecer suporte psicológico em momentos de crises conjugais que podem ser previsíveis, como aquelas decorrentes do ciclo de vida familiar, ou imprevisíveis, como adoe cimentos e pressões socioeconômicas, entre outras. A disfunção da conjugalidade pode manifestar -se em diversos sintomas, como aumento do sofrimento de um ou dos dois cônjuges, dos filhos ou da família exten- sa, incluindo somatizações, surgimento ou agravamento de quadros clínicos psicológi- cos ou médicos preexistentes. Esse foco im- plica que dois indivíduos razoavelmente sau- dáveis podem formar, apesar disso, um relacionamento conjugal disfuncional. Ou, de outro modo, dois indivíduos diagnostica- dos com quadros psicopatológicos podem formar casamentos funcionais, até certo ponto, por complementação de suas dificul- dades.

A terapia de casal desenvolveu -se du- rante o século XX, embora tentativas para for- talecer os relacionamentos e resolver conflitos conjugais sejam tão antigas como o próprio casamento. A tarefa de auxiliar o jovem casal cabia, nas sociedades pré -industriais, aos membros mais velhos das famílias extensas, que interviam de acordo com sua experiência

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Sistemas e psicodinâmica: uma visão

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