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A VIuVEz nA VElhIcE

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 101-110)

A viuvez é caracterizada pela perda do(a) companheiro(a) e provoca mudanças na vida

das pessoas, obrigando -as a enfrentar uma transição de identidade que envolve rituais (tradicionalmente, em determinadas culturas, algumas viúvas vestem -se de preto por vários dias, devem apresentar comportamento de re- clusão social e recato, como forma de respei- tar a memória do cônjuge falecido), perda do status de casada e modificação na rede de con- tatos. Muitas vezes, quando não dispõem de suporte, elas têm de assumir sozinhas a res- ponsabilidade pelo lar. A viuvez também alte- ra a estrutura e a dinâmica da família, afetan- do todos os seus membros, o que torna necessária uma reavaliação de papéis e fun- ções no sistema familiar (Suzuki e Falcão, 2010).

Durante muitas décadas, as mulheres morriam mais cedo, em geral, devido à morte pós -parto, uma vez que não havia recursos ao atendimento adequado em casos de gravidez de alto risco e, quando ocorria alguma com- plicação no trabalho de parto, contava -se ape- nas com o conhecimento das parteiras. Desse modo, os homens tornavam -se viúvos mais cedo (Doll, 1999). Atualmente, devido ao fe- nômeno da feminização da velhice, observa- -se um maior número de mulheres viúvas em relação aos homens viúvos.

Portanto, a viuvez, para os homens, é um fenômeno demográfico de baixa incidên- cia, mesmo entre os mais velhos. Em sentido amplo, a repercussão social é tranquila e seu modo de vida pouco se transforma, já que é comum ocorrer o recasamento. Todavia, para as mulheres, a viuvez é uma questão demo- gráfica e cultural que envolve conceitos extre- mos que vão da prevaricação ao modelo ímpar de virtude (Motta, 2004). Nesse con- texto, observa -se que os comportamentos dos viúvos nem sempre são questionados, ao passo que a maneira de agir, pensar ou falar das viúvas, pelo fato de serem mulheres, ape- sar de todo o desenvolvimento sociocultural, ainda atrai os olhares da sociedade e gera co- mentários (Tôrres, 2006).

São muitos os aspectos que influenciam a maneira como homens e mulheres perce- bem a viuvez e a perda do cônjuge. Isso de- pende de alguns fatores, como a maneira em

que foi vivida a relação conjugal e com os fi- lhos, se havia ou não cumplicidade, coesão, lealdade e companheirismo de ambas as par-

tes, se houve traição ou a presença de vio- lência doméstica, etc. Por isso, a condição de viuvez pode desen- cadear nas pessoas que tiveram anos de convivência com seus companheiros um pro- cesso sofrido ou uma sensação de alívio e liber- dade. No que diz respeito aos aspectos negati- vos, marcados não só pela perda do marido ou da esposa, mas também pelas dificuldades em administrar a casa e os filhos na falta do chefe da família, observa -se a vivência da soli- dão, a depressão, as incertezas diante de qual rumo tomar na vida, o isolamento social, as dificuldades financeiras, o descuido com a aparência física, o uso elevado de tranquili- zantes e serviços de saúde, etc.

Por outro lado, é possível que a condi- ção de viuvez na velhice traga benefícios e as- pectos positivos à vida da pessoa viúva, espe- cialmente para aquelas que foram infelizes durante o período de união com o(a) com- panheiro(a) que perderam. Alguns desses fa- tores incluem a oportunidade de exercer a li- berdade sem ter de dar satisfação ao cônjuge, a possibilidade de usufruir da renda deixada pelo(a) falecido(a), a possibilidade de renovar ou ampliar o ciclo de amizade e de viver um novo amor, a oportunidade de exercer papéis, funções ou atividades inibidas ou desencora- jadas pelos cônjuges, etc.

Convém salientar que o rótulo de “viúva” pode gerar uma identidade capaz de interferir no relacionamento com amigos e familiares que não conseguiram elaborar o luto ou que não aceitaram a realidade da morte ou a possibilidade de viuvez, podendo ocorrer o distanciamento e o rompimento da relação com essas pessoas (Lopata, 1973). Em contrapartida, os membros da família podem tentar compensar a perda da interação com o cônjuge desenvolvendo um contato maior

com a pessoa viúva. Essa aproximação auxilia os parentes a lidar com a elaboração de seu próprio luto e reforça a solidariedade na famí- lia. Além disso, alguns familiares buscam as- sumir os papéis que antes eram ocupados pelo cônjuge falecido, tais como a administração financeira ou a manutenção da casa (Bakk e Lee, 2001).

No filme brasileiro dirigido por Jorge Fernando, intitulado A guerra dos Rocha (2008), os três filhos adultos, casados, da viúva idosa Dina Rocha disputam entre eles quem deve ficar com a mãe. Eles não almejam assumi -la de fato e, uma vez que ela cede sua própria residência para um deles morar com a esposa e a filha, permanece de casa em casa rogando um espaço para se sentir aceita e exercer sua autonomia. Diante da falsa notícia de que Dona Dina morrera atropelada, mani- festam a preocupação de quem vai ficar com os bens deixados por ela. Essa batalha familiar calcada em aspectos como disputa pelo poder e pelo dinheiro, traições, segredos, ciúme, egoísmo e conflito de gerações propicia a re- flexão sobre valores patrimonialistas e indivi- dualistas que permeiam o mundo contempo- râneo. Além disso, impele a pensar na condição vulnerável que várias pessoas idosas enfren- tam quando estão sem a presença de seus companheiros que, por vezes, funcionam como fortes aliados e amortecedores de es- tresse diante de situações conflituosas.

Na pesquisa realizada por Suzuki e Fal- cão (2010) com 21 viúvas idosas que frequen- tavam as atividades de uma UnATI, verificou- -se que, após o falecimento do cônjuge, vários filhos assumiram os papéis do falecido, tais como administrar os recursos financeiros, re- alizar a manutenção doméstica, dar orienta- ções, etc. Diante dessa situação, algumas delas se sentiam confortáveis, enquanto outras vi- venciavam conflitos e expressavam indigna- ção, devido ao fato de se sentirem pressiona- das, vigiadas, controladas e sufocadas pela prole. Tinham a sensação de que eles, por sen- tirem ciúme ou por estarem com medo de perder a mãe, assumiam os papéis dos pais, preocupando -se com as necessidades afetivas,

A condição de viuvez pode desencadear nas pessoas que tiveram anos de convivência com seus companhei‑ ros um processo sofri‑ do ou uma sensação de alívio e liberdade.

emocionais e financeiras de suas mães. Os fi- lhos, por sua vez, também eram influenciados por ensinamentos, funções na família, carac- terísticas e imagens que tinham dos pais fale- cidos (companheiros, solidários, ríspidos, in- telectuais, beberrões, etc.) para assumir a postura que consideravam necessária à ma- nutenção da homeostase familiar.

Todavia, os sentimentos de desorienta- ção, desamparo e perda de identidade decor- rentes da viuvez podem diminuir com o tempo. Nesse cenário, torna -se importante a participação dessas pessoas em grupos de apoio e programas de atenção que auxiliem a elaboração do luto, a maneira de lidar com a situação e as demandas advindas após a morte do ente querido, a fim de evitar, por exemplo, a vivência de um luto patológico. A rede de suporte social, especialmente os membros da família, os amigos e vizinhos, também podem ajudar a superar os desafios advindos com esse processo.

suPoRTE socIAl FAmIlIAR E

VElhIcE: A "oBRIgAção" dE

cuIdAR E A ExPEcTATIVA dE

cuIdAdo EnTRE As gERAçõEs

O construto suporte social (ou apoio social) tem sido investigado por profissionais das mais diversas áreas incluindo Psicologia, Ge- rontologia, Sociologia, Medicina, Serviço So- cial e Antropologia. Ele apresenta diferentes concepções, diversos sentidos e vários âmbi- tos de avaliação, enfoques e interesses. Assim sendo, a literatura aponta que não há uma de- finição operacional consensual. Historica- mente, um dos primeiros estudiosos a definir o conceito de apoio social foi Caplan (1974), para quem significa os laços entre os sujeitos ou entre os indivíduos e grupos que permi- tem promover o domínio social, oferecer con- selhos e proporcionar feedback sobre a pró- pria identidade e desempenho. Poste rior- mente, Cassel (1976) sublinha que a principal função do apoio social é favorecer no indiví-

duo o sentimento de ser cuidado e amado, que as pessoas preocupam -se com ele, que é valorizado, estimado e membro de uma rede de obrigações mútuas.

Autores clássicos como Sarason, Sara- son e Pierce (1989) propõem que a verdadeira natureza do apoio social repousa nos proces- sos perceptivos dos sujeitos implicados (o que se denomina apoio social percebido). Caplan (1974) aponta a dimensão objetiva ou o apoio recebido (trocas de ajuda produzidas entre os membros de uma relação) e a dimensão sub- jetiva do apoio social ou o apoio percebido (avaliação do sujeito sobre essa ajuda). Por sua vez, Lin e Ensel (1989) defendem a relação existente entre apoio social e qualidade de vida, definindo esse termo como o conjunto de provisões expressivas ou instrumentais (percebidas ou recebidas) proporcionadas pela comunidade, pelas redes sociais e por pessoas de confiança que apoiem o sujeito tanto em eventos que suscitam crise quanto nas situações do cotidiano.

A definição de suporte social adotada neste capítulo é a apresentada no modelo de comboio (ou escolta) de apoio social de Kahn e Antonnuci (Kahn e Antonucci, 1980; Anto- nucci e Akiyama, 1987). Esse modelo oferece uma abordagem teórica das relações sociais ao longo do tempo, a qual está vinculada à perspectiva teórica de desenvolvimento ao longo da vida proposta por Paul Baltes. Se- gundo o modelo da escolta, o apoio social é compreendido como trocas interpessoais que incluem um ou mais dos seguintes elementos: afeto, afirmação e ajuda. Esse processo é base- ado em recursos emocionais, instrumentais e informativos das redes sociais de que o indiví- duo dispõe, direcionadas a potencializar, manter ou restituir o bem -estar. Desse modo, é percebido como sendo uma ajuda tanto pelo receptor quanto pelo provedor.

Nessa direção, devem ser levadas em consideração todas as dimensões implicadas, como as características estruturais (tamanho ou número de relações, proximidade, densi- dade, frequência de contato) das relações que a pessoa mantém (Arrazola et al., 2001). A li-

teratura costuma diferenciar três tipos de su- portes: instrumental, informacional e emo- cional (House e Kahn, 1985). O suporte instrumental envolve o suprimento de auxílio material, como, por exemplo, assistência fi- nanceira. O suporte informacional refere -se à prestação de informações relevantes que obje- tivam ajudar o indivíduo a lidar com as difi- culdades atuais que enfrenta e normalmente assume a forma de conselhos ou orientação para lidar com tais problemas. Já o suporte emocional envolve a expressão de empatia, carinho, tranquilidade e confiança, oferecen- do oportunidades para expressão emocional (Cohen, 2004). Há ainda o tipo de suporte so- cial formal e informal. O primeiro é oferecido por recursos da comunidade, ou seja, residên- cias, auxílio de profissionais, serviços de ajuda a domicílio, teleassistência, centros -dia, servi- ços de voluntariado social, etc. O segundo ge- ralmente é dado por pessoas como membros da família, amigos e vizinhos.

Além disso, o suporte social familiar pode ser avaliado pelo favorecimento de carac- terísticas afetivas (carinho, cuidado, empatia, confiança, etc.), informacionais (noções indis- pensáveis para que o membro possa guiar e orientar suas ações na solução de problemas cotidianos) e instrumentais (auxílio prático, como, por exemplo, apoio financeiro em ali- mentação, educação, cuidado, vestimenta e ou- tras áreas) (Connor e Rueter, 2006).

Ocorre que é no campo familiar que os indivíduos aprendem e desenvolvem suas prá- ticas de cuidado, as quais são influenciadas pelos aspectos socioculturais. Em alguns casos, o cuidado exercido pelos membros da família pode não ser o mais adequado tecni- camente, mas apresenta uma forte expressão simbólica, seja por envolver vínculos afetivos e alianças, seja por compartilhar uma história que é peculiar a cada sistema familiar. Como foi visto anteriormente, vários idosos, além de chefiar seus domicílios e de se responsabilizar pelo sustento financeiro da família, desempe- nham o papel de cuidadores dos netos, assu- mindo, muitas vezes, a função de avós guardi- ãs. Os domicílios multigeracionais, com

frequência, são mais um reflexo da estratégia de sobrevivência do que uma opção afetiva ou cultural. Em contrapartida, quando são aco- metidos por doenças crônicas ou incapacitan- tes, os idosos são cuidados pelos cônjuges, fi- lhos (sobretudo as filhas) e, por vezes, noras e netos. Na falta ou na recusa dessas pessoas para oferecer suporte, é na figura dos amigos ou nas instituições de longa permanência que os idosos buscam ajuda.

Mesmo morando com os pais, a atual geração de filhas integra, desde cedo, o merca- do de trabalho. Para as mais jovens, a vida profissional é fundamental, sendo em torno dela que organizarão, como puderem, os fu- turos acontecimentos familiares. Em alguns países, como nos Estados Unidos, existe uma política de apoio a essas mulheres no caso de algum idoso de sua família vier a depender de cuidados. A jornada de trabalho pode ser re- duzida, além de ser oferecida uma ajuda em dinheiro para suprir os gastos com a assistên- cia prestada ao idoso.

De acordo com Carter e McGoldrick (1998), quando as mulheres se rebelam contra o fato de assumir a total responsabilidade pelo cuidado, pela manutenção dos vínculos fami- liares e pela conservação das tradições e ri- tuais, em geral elas se sentem culpadas por não continuar a exercer o papel constituído como uma obrigação feminina durante o ciclo vital. Quando ninguém mais entra para pre- encher a lacuna pelo não exercício de tal obri- gação, podem sentir que a solidariedade fami- liar está sucumbindo e que a culpa é delas.

Além disso, o aumento no número de famílias monoparentais, somado ao fato de vários membros trabalharem fora do lar, limi- tou o número de pessoas disponíveis para exercer as tarefas de cuidado em casa. Essas circunstâncias têm levado várias crianças e adolescentes a assumir os cuidados de adultos com doenças crônicas que moram na mesma residência (Lackey e Gates, 2001).

No estudo das relações intergeracionais, alguns autores destacam a interdependência entre as gerações, principalmente entre filhos adultos e pais idosos. A solidariedade familiar

tem sido considerada um componente im- portante das relações familiares, sobretudo diante de estratégias de enfrentamento e inte- gração social das pessoas idosas (McChesney e Bengston, 1988).

No campo da sociologia, Bengtson e co- laboradores (1991, 1994) desenvolveram estu- dos para investigar essas relações, pautando -se em um “modelo de solidariedade intergeracio- nal”, que compreende a solidariedade interge- racional familiar como um fenômeno multidi- mensional com seis componentes:

1. solidariedade estrutural; 2. solidariedade associativa; 3. solidariedade afetiva; 4. solidariedade consensual; 5. solidariedade funcional; 6. solidariedade normativa.

Os três componentes mais importantes dessa solidariedade são a associação (compo- nente comportamental medido pelo tipo de interação entre os membros familiares), o afeto (componente emocional estimado pelos sentimentos entre os membros) e o consenso (componente cognitivo definido pelo grau de concordância ou desacordo nas atitudes e ex- pectativas). Portanto, o apoio familiar inter- geracional pode ser compreendido como um processo recíproco. A reciprocidade nas tro- cas de apoio pode ser imediata ou ocorrer ao longo da vida.

Na área da terapia de família, a solida- riedade intergeracional foi destacada por Ivan Boszormenyi -Nagy, que a percebe como um antídoto contra a acelerada exploração das gerações futuras, tal como se constata no pris- ma familiar (maus -tratos) e no campo geral (exploração destruidora de recursos da natu- reza). Segundo ele, a ética nas relações não se refere a uma definição do bem ou do mal nem a uma série de regras morais, mas à obrigação de preservar o equilíbrio das trocas intrafami- liares de acordo com uma lei de reciprocida- de, que considera os interesses do grupo e de cada um de seus membros (Boszormenyi- -Nagy e Spark, 2003).

Nesse sentido, o conceito de ética rela- cional está ligado à noção de justiça. Na rela- ção de dar e receber, o fato de um membro da família ter se tornado devedor em relação a outro obriga -o à reciprocidade: é como se existisse uma “balança ética”. Se a pessoa se propõe a manter a equidade dessa relação, es- tará respeitando os princípios da ética relacio- nal. O termo contexto, por sua vez, denomina o conjunto de indivíduos que se encontram em um elo de expectativa e de obrigação cujos atos refletem impacto sobre o outro. Sejam quais forem as modalidades de interação so- cial e familiar, cada pessoa deve estar cons- ciente do que recebeu dos demais e do que passou a lhes dever.

Contudo, nem sempre essas relações de dar e receber são equivalentes ou recíprocas. Apesar de muitos pais terem zelado por seus filhos ou netos, podem não receber de volta esse investimento quando chegam à velhice. Muitas vezes, a expectativa de cuidado dos idosos por parte desses membros da família não é realizada. Alguns fatores que influen- ciam essas relações e expectativas são as habi- lidades sociais e cognitivas, os padrões e re- gras da família, o sentimento de obrigação filial, a qualidade do relacionamento entre os membros, a proximidade geográfica e afetiva, o estado civil da pessoa cuidadora, as condi- ções financeiras e a personalidade dos envol- vidos, a disponibilidade de tempo ou o prepa- ro para lidar com as atividades de cuidado, a coesão, a hierarquia, a interação familiar e o familismo.

O termo fami­ lismo é usualmente descrito como sendo uma forte identifica- ção e engajamento dos indivíduos com suas famílias (nucle- ares e extensas) e um forte sentimento de lealdade, reciproci- dade e solidariedade entre os membros de um mesmo sistema O termo familismo é usualmente descrito como sendo uma forte identificação e engaja‑ mento dos indivíduos com suas famílias (nu‑ cleares e extensas) e um forte sentimento de lealdade, reciprocida‑ de e solidariedade en‑ tre os membros de um mesmo sistema fami‑ liar (Triandis et al., 1982).

familiar (Triandis et al., 1982). Representa um valor importante para grupos de diversas cul- turas. Em estudos realizados, verificou -se uma associação positiva entre familismo e menor uso do álcool (Gil et al., 2000) e bem -estar de familiares que cuidavam de membros adultos com retardo mental.

Outrossim, constatou -se que o familis- mo favorece uma percepção positiva sobre o papel de cuidar e pode funcionar como um fator protetor para familiares cuidadores de idosos com demência; por exemplo, cuidado- res com alto escore de familismo apresentam baixo escore de depressão (Robinson e Kni- ght, 2004), o que reduz o uso de serviços de saúde mental. Por outro lado, Rozario e De- Rienzis (2008) observaram que os cuidadores que tinham uma forte opinião sobre o fami- lismo – operacionalizado como “crenças so- cioculturais do cuidado” (p. 778) – estavam predispostos a maiores níveis de depressão e estresse percebido. Similarmente, Losada e colaboradores (2006) detectaram que um alto escore de familismo foi relacionado a altos es- cores de sintomatologia depressiva.

Quando se discute sobre a obrigação de cuidar de familiares idosos, cabe ainda refle- tir que, no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03), o art. 3o afirma que “é obrigação

da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à ci- dadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”, ha- vendo “a priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimen- to do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de ma- nutenção da própria sobrevivência” (art. 3o.,

parágrafo V).

Além disso, “o idoso tem direito à mora- dia digna, no seio da família natural ou subs- tituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em insti- tuição pública ou privada” (art. 37). Está tra-

mitando um projeto de lei (no 4.294/2008)

que acrescenta um parágrafo ao art. 1.632 do Código Civil e ao art. 3o do Estatuto do Idoso,

de modo a estabelecer a indenização por dano moral em razão do abandono afetivo. Assim sendo, sujeitará pais que abandonarem afeti- vamente seus filhos a pagamento de indeniza- ção por dano moral, prevendo esse mesmo di- reito aos pais idosos abandonados pelos filhos.

Sabe -se que o afeto favorece a saúde e atribui sentido às relações humanas. Porém, é crucial con- siderar que o direito ao afeto é a liberdade de ter estima ou tomar afeição a um

indivíduo. O afeto, portanto, constitui um di- reito individual. Também, é preciso pensar se todas as famílias têm as condições necessárias

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