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Família ribeirinha: um estudo de suas relações

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 86-88)

Simone Souza da Costa Silva Fernando Augusto Ramos Pontes Júlia S. N. F. Bucher ‑Maluschke Kátia Carvalho Amaral Thamyris Maués dos Santos

Quanto melhor a quali‑ dade da relação mari‑ tal, melhor o ajusta‑ mento entre os genito‑ res e seus filhos e vi‑ ce ‑versa.

suas relações (Hinde, 1997). Portanto, a percepção mútua que marca o subsistema conjugal influencia na qualidade do seu relacionamento e, por conse- guinte, repercute no subsistema parental.

Estudos indicam que as percepções po- sitivas dos indivíduos sobre suas relações e as de seus parceiros geram comportamentos que favorecem a qualidade e a estabilidade dos re- lacionamentos interpessoais (Berscheid, 1994; Berscheid e Reis, 1998; Gottman, 1993, 1998; Heavey, Shenk e Christensen, 1994; Hinde, 1979, 1997). Assim, quanto mais idealizadas forem as construções sobre o parceiro, maior será a satisfação conjugal. Para Gottman (1998), “casais infelizes consideravam aproxi- madamente todo traço negativo como carac- terística de seus parceiros [...], enquanto que parceiros felizes consideravam aproximada- mente todo traço positivo como característica de seus [...] companheiros” (p. 172).

Então, pode -se depreender que as per- cepções produzidas entre os membros atuam na dinâmica dos relacionamentos intrafami- liares. Em consequência, a qualidade das per- cepções produzidas pelos membros das famílias influencia, entre outros aspec- tos, a qualidade da comunicação estabe- lecida e as estratégias utilizadas por seus membros para solu- cionar os conflitos.

Segundo Bate- son (1972), a comunicação é um processo que ocorre através de gestos e palavras, entre um indivíduo que envia uma mensagem e outro que recebe a mensagem, ganhando sentido apenas no contexto relacional. Tais relaciona- mentos produzem e são produzidos por meio de diferentes papéis, como aqueles construí- dos socialmente em função do gênero.

Luo Lu e Yu Yi Lin (1998), ao investigar os papéis nos grupos familiares chineses con- cluíram que o gênero associado aos valores

culturais de cada grupo é fundamental no estabelecimento das tarefas que man- têm o funcionamen- to do sistema fami- liar. Estes, assim como a percepção,

constituem elementos que organizam as rela- ções familiares, estabelecendo formas peculia- res não apenas de se relacionar, mas também de solucionar os conflitos.

Há fortes evidências de que certas di- mensões do conflito, tais como frequência, in- tensidade e conteúdo, afetam as reações infan- tis. Cummings, Zahn -Waxler e Radke -Yarrow (1984) indicaram que crianças expostas com mais frequência a conflitos em casa demons- tram mais reações emocionais negativas do que crianças menos expostas. O’Brien e cola- boradores (1995) consideram que conflitos que envolvem agressões podem ser mais pre- judiciais à criança do que aqueles que não en- volvem.

Por outro lado, os conflitos são vistos como elementos inevitáveis das relações, que podem desempenhar uma função positiva, principalmente quando são resolvidos ou quando são expres-

sos de maneira cons- trutiva (Easterbrooks, Cummings e Emde, 1994). As disputas podem servir para promover a intimi- dade e o crescimento no casamento graças à possibilidade de se

exercitar a comunicação através de negocia- ções e podem ser necessárias para manter a harmonia familiar por um longo tempo (Got- tman e Krokoff, 1989). Uma outra função po- sitiva das situações de conflito consiste na oportunidade oferecida às crianças de apren- der modos, estratégias apropriadas e inapro- priadas de manejar as diferenças interpessoais com seus parceiros.

O modo como os grupos resolvem seus conflitos e os padrões de comunicação estabe-

O modo como as pes‑ soas percebem ‑se, mu‑ tuamente, orienta suas relações.

A qualidade das per‑ cepções produzidas pe‑ los membros das famí‑ lias influencia, en tre ou‑ tros aspectos, a qua ‑ lidade da comunicação estabelecida e as es‑ tratégias utilizadas por seus membros pa ra so‑ lucionar conflitos.

O gênero associado aos valores culturais de cada grupo é funda‑ mental no estabeleci‑ mento das tarefas que mantêm o funcionamen‑ to do sistema familiar.

Os conflitos são vis‑ tos como elementos inevitáveis das rela‑ ções, que podem de‑ sempenhar uma fun‑ ção positiva, princi‑ palmente quando são resolvidos ou quando são expressos de maneira construtiva.

lecidos entre as pes- soas estão relaciona- dos, entre outras variáveis, à estrutura sociocultural em que esses grupos estão in- seridos. Portanto, a dinâmica das relações parentais e conjugais pauta -se no conjunto de regras e valores que constituem determinado grupo cultural.

Essa perspectiva baseia -se na noção de que a interdependência que marca os vínculos intrafamiliares também está presente nas rela- ções entre as famílias e a culturas (Bronfen- brenner, 1996). Desse modo, o conjunto de crenças e valores que caracterizam um grupo cultural torna -se parte da dinâmica intrafami- liar, que se expressa nos padrões de comunica- ção e de conflito adotados por seus membros. Por outro lado, as relações familiares consti- tuem parte dos elementos que especificam as culturas, distinguindo -as uma das outras.

Geertz (1966) argumenta que as repre- sentações culturais exercem um papel consti- tutivo na evolução da personalidade ao ofe- recer orientações sobre como regular o comportamento das crianças, integrando -as ao mundo cultural através de prescrições refe- rentes à maneira como as pessoas devem comportar -se para solucionar os problemas da vida diária.

Considerando a noção de que a dinâmi- ca das famílias é marcada pela cultura na qual estão inseridas e tendo em vista a diversidade cultural que caracteriza o contexto brasileiro, o objetivo deste capítulo é apresentar as rela- ções conjugais e parentais estabelecidas em uma família moradora de uma comunidade ribeirinha na Amazônia, destacando as prin- cipais características do ambiente que interfe- rem em sua dinâmica.

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 86-88)