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10 Violência familiar: rompendo o ciclo

No documento Psicologia de Família.pdf (páginas 125-135)

transgeracional e seguindo em frente

Denise Falcke Larissa Wolff da Rosa Marcela Madalena

é na família que as crianças desenvolvem seus modelos de iden‑ tificação, aprendendo o que é ser pai, mãe, marido, esposa e cida‑ dão.

retas, quando, por exemplo, testemunham a agressão entre os pais. Segundo alguns pes- quisadores, ser vítima de violência, tanto dire- ta como indiretamente, pode fazer com que as crianças apresentem prejuízos em seu desen-

volvimento em curto e longo prazo (Evers- tine e Everstine, 2007; Johnson et al., 2000; Melchert, 2000; Roy, 2001; Walker -Barnes e Mason, 2001). Há algumas dé- cadas, em nosso con- texto sociocultural, era comum que os pais educassem seus filhos por meio do castigo fí- sico. O poder do adulto sobre a criança legiti- mava a utilização da força física como uma demonstração da autoridade. Por isso, esse era um comportamento socialmente aceito. Foi a partir de algumas mudanças sociais, como o reconhecimento da infância como uma etapa essencial na constituição do ser humano e o surgimento dos direitos constitu- cionais e dos direitos da criança e do adoles- cente (ECA, 1990), que os estilos educativos parentais passaram a sofrer modificações.

No Brasil, cogita -se até mesmo a imple- mentação de uma nova lei que proíba qual- quer tipo de agressão contra crianças e ado- lescentes, inclusive palmadas e puxões de orelha (Projeto de Lei no 2.654/2003). Desse

modo, os pais que hoje ainda utilizam esse tipo de conduta na educação de seus filhos acabam indo de encontro aos direitos adqui- ridos por crianças e adolescentes, motivo pelo qual são criticados. Todavia, apesar dessa mu- dança de paradigma, as condutas punitivas ainda são utilizadas por muitos pais e justifi- cadas como uma prática disciplinar, ou seja, como uma forma de controle do comporta- mento da criança, o que torna impreciso o li- miar entre a contenção física como meio de estabelecer limites e como forma de abuso in- fantil.

Quando se fala em violência intrafami- liar, entende -se todo tipo de violência, ação ou omissão que é gerada por um ou mais componentes do grupo familiar e que provo-

ca danos ao desenvolvimento de outros mem- bros do grupo, podendo ser de natureza física, psicológica, sexual ou negligência. Nesse sen- tido, a violência física caracteriza -se pelo ato de causar ou tentar causar lesões internas e/ou externas por meio de força física – como tapas, socos, mordidas – ou de algum instrumento. A violência psicológica acontece por meio da tomada ou não de atitudes que prejudiquem a autoestima, a identidade ou o desenvolvimen- to da pessoa. No caso de violência sexual, o agressor faz com que a vítima pratique atos sexuais contra a sua vontade, fazendo uso de força física ou psicológica – o abuso também pode acontecer sem contato físico, que é o caso do exibicionismo (quando a pessoa exibe partes sexuais do seu corpo) e do voyeurismo (quando a pessoa observa a criança ou o ado- lescente em trajes mínimos ou sem roupa). A negligência acontece quando um membro da família exime -se da responsabilidade por algum outro membro que precisa de cuidado em função de sua idade ou condição física (Day et al., 2003).

Deve -se levar em conta que os abusos nem sempre acontecem de maneira isolada. Na maioria dos casos, eles podem acontecer simultaneamente, até mesmo pelo fato de ser difícil que exista, por exemplo, abuso físico ou sexual sem a ocorrência de violência psicoló- gica. Muitas vezes, ainda, a violência física fica mascarada, pois o agressor utiliza instrumen- tos que não deixam marcas visíveis nas víti- mas, o que diminui a probabilidade de serem identificados os casos de violência familiar (De Antoni, 2004). Além de a violência nem sempre deixar marcas físicas, outro motivo para ela ficar invisível é pelo fato de as famílias silenciarem sobre esse assunto. Em 61,7% dos casos, segundo a cartilha “A violência sexual contra meninas”, alguém sabe o que está acon- tecendo e não denuncia (Coletivo Feminino Plural, 2007).

São diversas as causas da violência fami- liar, e é importante levar em conta os fatores históricos e culturais, os fatores situacionais, as características das etapas do desenvolvi- mento dos filhos ou até mesmo problemas fi- nanceiros que possam estar relacionados à

Ser vítima de violência, tanto direta como indi‑ retamente, pode fazer com que as crianças apresentem prejuízos em seu desenvolvimen‑ to em curto e longo pra‑ zo.

ideia de poder que os pais acreditam ter sobre os filhos e da manifestação de tal poder sob a forma de violência. Nessa perspectiva, para a compreensão das situações de violência, devem ser considerados diversos níveis de análise, conforme propõem Barreto e colabo- radores (2009), sendo eles: o “pessoal”, que compreende as características biológicas e psicológicas das pessoas envolvidas; o “pro- cessual”, que considera as interações interpes- soais; o “contextual”, que inclui os aspectos da rede de apoio social, da comunidade e da cul- tura e, por fim, o “temporal”, que corresponde à transgeracionalidade.

Diferentes estudos já têm demonstrado o quanto essa perspectiva temporal é impres- cindível à compreensão do fenômeno da vio- lência familiar, uma vez que se constata uma forte tendência a transmissão transgeracional das situações de abuso em uma mesma famí- lia (Banyard, Arnold e Smith, 2000; Cecco- nello, 2003; De Antoni, Barone e Koller, 2007; Dunn et al., 2001; Falcke, 2006; Kamsner e McCabe, 2000; Mendlowicz e Figueira, 2007; Roy, 2001). A transmissão transgeracional é entendida como a travessia de uma geração a outra em termos de rituais, legados e tradi- ções, sendo que essa transmissão pode ser consciente ou inconsciente. Ela permite dar continuidade à identidade de uma família através de um legado de mitos e ritos. O pro- cesso de transmissão transgeracional pode ser articulado pela via da estrutura psíquica, da modelagem e da cultura. Nesse sentido, os discursos parental e social sustentam também a transmissão da cultura e a elaboração de um legado de vínculos com perturbações, como percebemos em algumas relações familiares (Lisboa, Féres -Carnei- ro, e Jablonski, 2007). Ainda que se possa supor que os pais não desejariam que os filhos sofres- sem o mesmo tipo de violência que viven- ciaram na infância, a força do legado trans- geracional, com fre-

quência, impulsiona a repetição do padrão aprendido. Como ocorre esse processo de re- petição de uma geração a outra? Everstine e Everstine (2007) referem que os pais que mal- tratam os filhos carecem de modelos de iden- tificação saudáveis e de flexibilização no de- senvolvimento de estratégias de solução frente aos problemas com os quais se deparam, devi- do, sobretudo, à aprendizagem deficiente que vivenciaram em suas famílias de origem. Re- forçando esse ponto de vista, Pereira (2005) constata que as crianças que viveram em con- textos nos quais a violência esteve presente tendem a acreditar que essa é a única forma de socialização, repetindo os padrões aprendidos na vida adulta e contribuindo, assim, para a manutenção da violência através das gerações.

A fim de investigar a transmissão trans- geracional da violência familiar, realizamos uma pesquisa quantitativa com 153 pais de crianças de 1a a 5a série do ensino fundamen-

tal de nove escolas da região do Vale do Rio dos Sinos. Os pais responderam a um questio- nário composto por uma ficha de dados so- ciodemográficos, a Escala de Estilos Educati- vos, o Inventário de Estilos Parentais (IEP) e as subescalas de abuso físico, negligência e controle parental do Family Background Questionnaire (FBQ) (Melchert, 2000). Como resultado desse estudo, constatou -se um índi- ce muito elevado de situações de risco, espe- cialmente com relação à monitoria negativa (excesso de instruções e ameaças, ainda que nem sempre sejam cumpridas) e abuso físico (uso de força física contra a criança, tanto por palmadas quanto por agressões mais graves). Essas duas dimensões foram as principais res- ponsáveis pelos indicativos de estilo parental de risco na escala como um todo.

Tais resultados revelam o quanto, no contexto da amostra investigada, a utilização de ameaças e agressões físicas contra crianças ainda é algo frequente. Corroborando esses achados, verificou -se também que 65,3% dos pais referem já ter agredido os filhos ao menos uma vez e 25,3% indicam já ter sido violentos. Considerando as experiências dos pais em sua família de origem, identificou -se que 45,1% reportam ter sido vítimas de violência. A par-

Ainda que se possa supor que os pais não desejariam que os fi‑ lhos sofressem o mes‑ mo tipo de violência que vivenciaram na infância, a força do le‑ gado transgeracional, com frequência, im‑ pulsiona a repetição do padrão aprendido.

tir da comparação das experiências vividas na família de origem e na família atual, os acha- dos revelam que em torno de 55% dos pais que participaram do estudo não sofreram vio- lência e não a repetem, 25% sofreram violên- cia e a utilizam com seus filhos, 20% sofre- ram, mas não repetem, e nenhum dos participantes refere não ter sofrido violência e utilizá -la com os filhos no presente.

Considerando tais achados, pode -se evi- denciar a tendência à repetição das experiên- cias vivenciadas na família de origem, refor- çando a hipótese de transmissão trans ge- racional da violência familiar. O que surpreen- de na análise desses dados é que, em nenhum caso, a pessoa passou a utilizar a violência sem ter tido contato com ela na infância. Nessa perspectiva, revela -se a importância de os vín- culos precoces na família de origem serem fa- vorecedores de um desenvolvimento sadio. Ter como modelos parentais pessoas que não utilizam a violência é um fator de proteção não só para o desenvolvimento pessoal no fu- turo, mas também para a qualidade das rela- ções que a pessoa estabelecerá ao longo da sua vida. Por outro lado, conviver com a violência desde a infância pode ser considerado um im- portante fator de risco.

Risco é a consequência da exposição a uma situação na qual se busca realizar certo desejo ou vontade, mas depara -se com a pos- sibilidade de perda e/ou ferimento físico ou psicológico. Estar exposto a um fator de risco significa estar diante da possibilidade de ocor- rência de resultados negativos para a saúde, para o bem -estar ou para o desempenho so- cial dos indivíduos (Schenker e Minayo, 2005). Existem diversos fatores de risco que afetam a capacidade de resiliência de crianças e adoles- centes, sendo que as condições de pobreza, rupturas com a família, vivência de algum tipo de violência ou perdas importantes na fa- mília são alguns exemplos (Pesce et al., 2004). Os eventos considerados de risco são obstácu- los que aumentam a vulnerabilidade da crian- ça para resultados negativos durante o seu de- senvolvimento.

Por outro lado, proteger significa ofere- cer condições de crescimento e de desenvolvi-

mento, além de proporcionar amparo e forta- lecimento para a criança ou o adolescente. São considerados fatores de proteção qual- quer experiência de vida que possa ser favore- cedora do processo de resiliência. A resiliência pode ser entendida como um conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibi- litam o desenvolvimento de uma vida saudá- vel, mesmo que o indivíduo não viva em um ambiente sadio. Esse processo é resultado da combinação entre as características individu- ais da criança ou do adolescente e seu am- biente familiar, cultural e social (Pesce et al., 2004). É a capacidade que alguns sujeitos apresentam de amenizar ou evitar os efeitos negativos de certas situações de risco que vi- venciam em sua família ou meio social. A re- siliência anuncia a possibilidade de que as pessoas se desenvolvam bem, mesmo expos- tas a situações e ambientes com alto potencial de risco (Silva et al., 2009).

É de geração em geração que vemos as tradições familiares ancoradas em hábitos e atitudes, em muitos casos extremamente rígi- dos e inflexíveis, que garantem a sobrevivên- cia do grupo diante das transformações so- ciais. Entretanto, em gerações posteriores, percebe -se a possibilidade de algum membro da família estar disposto a modificar o legado de sua família na tentativa de transformar os rituais e tradições já existentes (Lisboa, Féres- -Carneiro e Jablonski, 2007).

Para compreender a capacidade de re- siliência do indivíduo, é fundamental enten- der a ideia de coping. O conceito de coping, empregado na psicologia, é entendido como a maneira pela qual os indivíduos lidam com as adversidades que surgem. Existe o coping positivo, que é construído durante o cresci- mento e o desenvolvimento do indivíduo. As estratégias de coping, assim como a resiliên- cia, dependem dos atributos individuais, fa- miliares e ambientais para que se consoli- dem. Essas estratégias funcionam como um fator de proteção, pois proporcionam resili- ência aos indivíduos, caso sejam ativadas para a resolução dos problemas (Schenker e Minayo, 2005). O conceito de coping ilustra a importância das diferenças individuais, so-

ciais e psicológicas, além de ser uma estraté- gia usada pela criança e pelo adolescente ba- seada em diversas experiências já vividas (Pesce et al., 2004).

Ao pesquisar fatores de proteção para as famílias em situação de risco de violência, De Antoni, Barone e Koller (2007) destacam a importância da rede de apoio social e afetivo, da valorização das conquistas e do desejo de mudança. Pode -se observar que, além da rede social, são relevantes aspectos do desenvolvi- mento pessoal do sujeito como a autoestima e o desejo de mudança. Nesse sentido, os meca- nismos de proteção que o sujeito dispõe in- ternamente são considerados elementos cru- ciais para a compreensão da resiliência. Além de o ambiente oferecer apoio e segurança, torna -se imprescindível que o próprio sujeito fortaleça sua capacidade de fazer escolhas e de estar aberto a novas experiências.

Na mesma perspectiva de identificação de fatores de proteção para evitar a repetição das situações de violência, Cecconello (2003) enfatiza a manutenção de um relacionamento amoroso estável, do acompanhamento psico- terapêutico ou da participação em grupos de autoajuda e da presença de pessoas significati- vas na rede de apoio. Verifica -se, através da análise desses fatores, em que medida a expe- riência de vínculos saudáveis com outras pes- soas significativas pode constituir -se em um importante tutor de resiliência, tendo em vista que possibilita o contato com novos mo- delos de identificação.

Dedicando -se ao estudo dos tutores de resiliência, Cyrulnik (2005) considera dois fa- tores determinantes: vínculo e sentido. Com isso, refere a importância de haver outros sig- nificativos e um ambiente cultural que permi- ta algum tipo de significação para a experiên- cia traumática vivenciada. Com relação aos outros significativos, o autor salienta que a empatia é um grande fator de resiliência, pois, colocando -se no lugar da vítima, é possível acalmá -la e transformar o acontecimento em espetáculo a partir de um novo significado que lhe é atribuído. Nesse sentido, a represen- tação do acontecimento traumático oferece a possibilidade de torná -lo o eixo de uma histó-

ria de vida, “uma espécie de estrela do pastor escura que nos indica a direção” (p. 16).

Tal direção também é definida nas pes- soas resilientes pela capacidade de sonhar e ter esperança. Segundo Cirulnik (2005), “ha- bitualmente, os sonhos fazem voltar às marcas do passado, mas, na esperança aprendida, os sonhos de antecipação são construções imagi- nadas de nossos desejos” (p. 37). Mais do que dar todo o cuidado e atenção, é necessário possibilitar às pessoas que sofreram algum tipo de traumatismo uma abertura, uma li- bertação, que pode ser promovida pelo incen- tivo ao direito de dar, ou seja, uma oportuni- dade de autonomia precoce. O adultismo, para o autor, é um longo desvio no desenvol- vimento, mas que pode levar à resiliência quando a criança consegue utilizá -lo para libertar -se e tornar -se responsável por si mesma.

Com base nesses pressupostos, percebe- -se que são várias as possibilidades de promo- ção de resiliência, o

que permite questio- nar o caráter deter- minista muitas vezes atribuído às experi- ências precoces na fa- mília. Nem é preciso que exista um grande

acontecimento, mas experiências singelas podem funcionar como tutores de resiliência, desde que possibilitem à pessoa atribuir um novo sentido à vivência traumática, desenvol- ver um sentimento de esperança com relação ao futuro ou receber a confiança em seu poder de ajudar e de ser útil a alguém.

Tomando como base os resultados da pesquisa que realizamos, os quais foram des- critos anteriormente, podemos perceber que a maioria das pessoas repetiu o mesmo padrão educativo, envolvendo ou não a presença de violência, que vivenciaram em sua família de origem (80%). Nenhum participante utiliza a violência com os filhos sem ter sido vítima disso na infância. Todavia, quase 20% dos participantes do estudo referiram ter sido ví- tima de violência na família de origem e não utilizá -la com seus filhos. Que fatores podem

São várias as possibili‑ dades de promoção de resiliência, o que per‑ mite questionar o cará‑ ter determinista muitas vezes atribuído às ex‑ periências precoces na família.

ter sido responsáveis por essa mudança no pa- drão? Esses sujeitos podem ser considerados resilientes? Que aspectos da sua história de vida podem ter favorecido o desenvolvimento da resiliência?

Na continuidade do estudo realizado, convidamos esses participantes que demons- traram ter rompido o ciclo da violência fami- liar para participar de um estudo qualitativo, através do qual buscamos conhecer a sua histó-

ria de vida, tentando identificar possíveis tuto- res de resiliência. A seguir, apresentaremos uma breve descrição de duas das histórias coletadas, como modo de analisarmos os fatores que podem ter contribuído para o desenvolvimen- to da resiliência e, consequentemente, para o rompimento do ciclo de violência. Os nomes e principais dados de identificação dos partici- pantes foram alterados a fim de preservar a sua identidade.

história 1

Amanda tem três irmãos, sendo ela a mais velha. Ela relata que seus pais eram muito agressivos durante a sua infância e que batiam nela seguidas vezes, sem antes tentar

conversar. Diz que a experiência de ser agredida pelos pais na infância foi marcante e que não quer isso para seus filhos. Acredita que a violência interferiu bastante em sua vida, pois percebe que, em alguns momentos, caso ela não se controlasse, poderia chegar a ser agressiva. Considera importante para a sua personalidade atual a presença de uma tia que a criou quando ela saiu de casa. Quando soube que seria mãe pela primeira vez, ficou muito feliz, já que ser mãe para ela era um grande sonho. Pensava em desempenhar o papel de mãe melhor do que seus pais haviam desempenhado com ela, por isso buscou como modelo de referência sua tia, que demonstrava paciência com os filhos, conversava com eles e não lhes batia. Segundo Amanda, o principal fator para ter conseguido dar aos filhos uma educação diferente da que recebeu foi o fato de querer muito ter sido criada de modo diferente e querer dar aos filhos o que ela não teve.

história 2

Cláudia teve uma infância muito difícil. Quando criança, seus pais se separaram. Sua mãe foi embora com outra pessoa e deixou os três filhos aos cuidados do pai. Relata que o pai batia muito nela e em seu irmão e que ele não conversava com os filhos, pois sempre achava que tinha razão. Apesar de tudo, acredita que a violência sofrida tenha contribuído para que ela se tornasse uma pessoa melhor. Com 12 anos, Cláudia engravidou e refere que ter sofrido violência inclusive a ajudou a criar melhor o seu filho, pois conseguia colocar ‑se no lugar dele e agir diferente, com amor, carinho, diálogo e, às vezes, com algumas palmadas, mas em menor intensidade do que aquelas que sofreu. Relata que seu marido, os patrões que teve, o irmão mais velho e os vizinhos foram pessoas importantes na sua formação como pessoa. Por ter engravidado muito cedo, amadureceu rapidamente e sente falta de não ter vivido melhor a sua adolescência e o início da vida adulta. Quando soube que seria mãe, sofreu muito preconceito, porque lhe diziam que não seria uma boa mãe, por ter sido abandonada pela sua, mas ela não acreditava nisso e adotou uma postura positiva. A oportunidade de precisar cuidar de uma criança, sentindo ‑se útil e responsável, foi muito importante para que

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