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Documentos sobre adoção internacional e a Convenção de

ADOÇÃO INTERNACIONAL “A adoção estatutária, ao exigir o registro novo, cortando os vínculos

13.6 Documentos sobre adoção internacional e a Convenção de

Na década de 1960, a adoção internacional passou a ser debatida mais enfaticamente no âmbito da ONU, culminando com seminário em Leysin, na Suíça, denominado “Fundamental Principles for Intercountry Adoption”, no qual se concluiu que a adoção internacional deve ser apenas subsidiária, preferindo-se a adoção realizada no Estado de origem do menor, a fim de preservar seus vínculos culturais, e que o fim específico da adoção deve ser a proteção integral do adotado.12

Cumpre lembrar que antes da bem-sucedida Convenção de 1993 sobre o tema, a Conferência de Haia de Direito Internacional Privado já havia envidado esforços para regulamentar a adoção internacional, notadamente no âmbito europeu. Segundo Liberati, naquela época não se previa o grande movimento de adoções que viriam a se realizar entre os cones Norte-Sul.13

Nesse sentido, em 1965, a Convenção sobre Jurisdição, Lei Aplicável e Reconhecimento de Adoções tentou regular, como o próprio nome já sugere, o conflito de leis nas adoções realizadas entre

adotante(s)/adotando oriundos dos Estados-Membros. O referido tratado, no entanto, foi ratificado por apenas três países (Áustria, Reino Unido e Suíça), número mínimo para que entrasse em vigor (art. 19), que vieram a denunciá-lo nos anos de 2003 e 2004, deixando de produzir efeitos em 2008. Nos termos dessa Convenção, a lei aplicável está vinculada à competência jurisdicional, ou seja, uma vez determinada a competência aplicar-se-ia a lei do Estado respectivo.14

Dois anos mais tarde, em 1967, países-membros do Conselho da Europa se reuniram a fim de elaborar a Convenção Europeia em Matéria de Adoção de Crianças, com vistas a ajustar possíveis divergências entre as legislações internas dos países, regulamentando e padronizando as regras de adoção.

No âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi celebrada na cidade de La Paz, em 24 de maio de 1984, a Convenção Interamericana sobre Conflitos de Leis em Matéria de Adoção de Menores, discutida e finalizada na 3ª Conferência Interamericana de Direito Internacional Privado (CIDIP-III), entrando em vigor internacionalmente em 26 de maio de 1988. Também permitindo a adesão de países não membros da OEA, este tratado internacional foi ratificado por nove países (outubro de 2013), inclusive o Brasil. Em seu texto, é estabelecida a lei a ser aplicada nos casos em que adotante(s) e adotado tiverem sua residência habitual em diferentes Estados-Partes da Convenção. Nos termos dos artigos 3º e 4º, a lei da residência habitual do menor regulará questões relativas à capacidade, consentimento, demais requisitos da adoção e formalidades extrínsecas para a constituição do vínculo, enquanto a lei do domicílio do(s) adotante(s) regerá, como regra, a capacidade do(s) adotante(s) e demais requisitos para ser adotante. Ademais, o tratado estabelece que a competência para outorgar adoções é das autoridades do Estado da residência habitual do adotado – dispositivo louvável, já que a autoridade do país de origem do adotado, geralmente menos desenvolvido, poderá melhor controlar o procedimento a ser realizado. No Brasil, a referida Convenção foi aprovada no ordenamento jurídico por meio do Decreto Legislativo n. 60, de 19 de junho de 1996, sendo promulgada por meio do Decreto n. 2.429, de 17 de dezembro de 1997.15

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989 – ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990, tornando-se exigível por meio do Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990 –, apesar de não tratar especificamente sobre o assunto, constitui-se em documento basilar sobre a proteção e os direitos das crianças e adolescentes. Estabelece que a adoção sempre deverá coincidir com o interesse maior da criança, devendo ser considerada a adoção internacional apenas quando não for possível encontrar um lar para a criança no seu país de origem, e não devendo significar benefícios financeiros indevidos aos que dela participarem. Já a Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios Sociais e Legais Relativos ao Bem-Estar das Crianças, de 1986, dedica sete artigos para a adoção internacional, estabelecendo alguns princípios, como a necessidade de estabelecer políticas e supervisão eficaz para a proteção das crianças adotadas em outros países e a garantia de que a criança poderá migrar para se juntar aos pais adotivos, podendo obter a nacionalidade deles.16

Ao encontro de tantos esforços da comunidade internacional em estabelecer princípios e regras básicas sobre a adoção internacional, advém, após anos de estudos, a Convenção Sobre Cooperação

Internacional e Proteção de Crianças e Adolescentes em Matéria de Adoção Internacional, aprovada

em 29 de maio de 1993, e incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 3.087, de 21 de junho de 1999.

Cláudia Lima Marques questiona, em estudo sobre a Conferência de Direito Internacional Privado, realizada em Haia – evento que redundou na aludida Convenção –, se é possível restabelecer-se a

confiança entre as autoridades públicas dos países chocadas com reiteradas denúncias de maus-tratos, venda, tráfico e sequestro de crianças. Haverá meios de convencer essas autoridades a um engajamento que enseje cooperação, mútuas informações e conhecimento recíproco das legislações dos demais países, “de forma a proteger a criança adotada e assegurar-lhe um status jurídico não discriminatório em seu novo domicílio?”17

Analisando os esforços empreendidos e os resultados alcançados pelo magno evento, reafirma-se a convicção de ser a regulamentação das adoções internacionais o único meio eficiente para proteger os direitos das crianças envolvidas e coibir o tráfico. Isso porque a Convenção institui e obriga a colaboração entre autoridades, controlando adequadamente a legalidade do processo e oferecendo meio legal e seguro para as pessoas que desejam ou necessitam adotar uma criança em outro país.

A Convenção estabelece regras basilares a serem observadas pelas autoridades dos países engajados em cada processo. Trata-se de princípios que, cumpridos, “darão a ambos os Estados envolvidos, a garantia de que não houve ‘venda’, ‘tráfico’, ‘coação’, ‘sequestro’ ou ‘indução’ ao abandono e que os pais adotivos estão aptos, tanto jurídica como psicologicamente, a receber a criança adotada”.18

Acentuemos que os Estados de origem da maioria das crianças são Coreia do Sul, Vietnã, Índia, Filipinas, China, Romênia, Albânia, México, Colômbia e Brasil, mencionando-se entre os países de acolhida desses menores, Estados Unidos, Itália, França, Israel, Suécia, Alemanha, Canadá, Suíça e Bélgica, todos eles participantes da Conferência.

João Gatelli enfatiza, outrossim, que a adoção por estrangeiro não residente necessita de adequada avaliação pelos países de origem do adotando, tornando o processo ágil e seguro.19