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HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA

9.3 Nacionalidade originária

Trata-se da nacionalidade atribuída ao ser humano, por ocasião de seu nascimento, pela ordem jurídica na qual ocorre esse evento inicial da existência da pessoa. Dois são os critérios empregados pelos Estados para essa concessão, um privilegiando o vínculo familiar – jus sanguinis – e o outro dando primazia ao local do parto – jus soli.

9.3.1 Jus sanguinis

Esse método de atribuição da nacionalidade reinou quase absoluto na maior parte da História, sendo o critério que predomina em muitos países. Sua prevalência ocorre entre os Estados mais populosos, como os europeus. Nesses países, a tendência era de saída de parcelas da população, em busca de oportunidades de realização pessoal e crescimento no campo material, em outras terras, condições inexistentes em seu Estado, assolado por guerras e miséria. Tal fato, ocorrido com frequência nos séculos XIX e XX, trouxe expressivo número de italianos, alemães e japoneses para o continente americano, inclusive para o Brasil. Embora não mais persista essa situação, devido ao período de prosperidade vivido pelos Estados de onde provieram esses imigrantes, o jus sanguinis permanece nos seus ordenamentos jurídicos como o critério de atribuição da nacionalidade.

Com a emigração, tende a diminuir o número dos nacionais residentes no país, e o emprego do jus

sanguinis nesses Estados vai propiciar que os descendentes, nascidos nas novas terras, continuem

ligados pela nacionalidade à pátria de seus genitores, aonde, ao chegarem, estarão capacitados para uma integração mais fácil.

Nesse contexto, existem países, como a Itália, que não limitam as gerações dos descendentes que podem continuar sendo nacionais. No entanto, as ordens jurídicas internas, em sua maioria, restringem a uma ou duas gerações os descendentes aptos ao reconhecimento da nacionalidade originária pelo jus

sanguinis. É o que ocorre com Alemanha, França e Portugal, por exemplo, em cujas legislações não se reconhece, diretamente, como nacional o neto da pessoa que emigrou. A prudente limitação de gerações hábeis a requererem a nacionalidade do Estado de seus ancestrais tem também o sentido de evitar que continuem sendo admitidas como nacionais desse país pessoas que com ele perderam o vínculo, desconhecendo muitas vezes a própria língua e estando afastadas dos seus costumes e suas tradições.

9.3.2 Jus soli

O sistema do jus soli – atribuição da nacionalidade do país de nascimento – surgiu, ou pelo menos se consagrou, no período feudal, no qual a ideia dominante era manter o ser humano preso à terra. Apesar de sua origem, é visto hoje como critério democrático, uma vez que não discrimina parcelas da população que seriam consideradas estrangeiras pelo simples fato de seus genitores não serem oriundos do país em que elas nasceram.

É o método de eleição dos Estados novos ou em fase de desenvolvimento, onde impera a necessidade de formação de uma população nacional; daí ser adotado pelos países do continente americano. Na fase inicial da vida de um Estado, seria inconcebível a adoção do jus sanguinis, por ser reduzido o número de nacionais e necessárias várias gerações para seu crescimento adequado, sempre desejável. Os países que recebem muitos imigrantes também costumam adotar o jus soli, a fim de propiciar a integração dos descendentes na vida nacional.

Em princípio, não ocorre o emprego absoluto de apenas um dos critérios pelos países. Na América do Sul, o Uruguai e o Paraguai admitem o jus soli a todos os seres humanos nascidos no país, sem exceção, mas recepcionam também o jus sanguinis. Entendemos que o mais adequado seria a combinação do jus sanguinis e do jus soli, com atribuição da nacionalidade ao recém-nascido por um deles, facultando-se a opção pelo outro critério ao atingir a maioridade.

9.4 Naturalização

Consiste no ato pelo qual o estrangeiro ou o anacional se investe juridicamente da condição de nacional de país que adotou para viver e que agora o admite como tal. Trata-se de nacionalidade derivada ou secundária, uma vez que adquirida após o nascimento. Não implica necessariamente a perda da nacionalidade originária, dependendo das regras internas de cada ordenamento jurídico. É ato gracioso, faculdade do Poder Executivo, uma vez que nenhum Estado está obrigado a naturalizar qualquer pessoa.

A naturalização está albergada em quase todas as legislações. Assim, na Argentina, o estrangeiro pode obtê-la após dois anos de residência no país; no Paraguai, depois de três anos; e na Venezuela, em dez anos, prazos que podem ser reduzidos em determinadas condições.

Nesse rol de países, o Uruguai constitui exceção, não admitindo a naturalização; no entanto, possui instituto com alguma semelhança: o estrangeiro com residência, negócio ou propriedade no país pode ser cidadão uruguaio, sem ser nacional. Trata-se do cidadão legal – algo parecido com o estatuto de igualdade entre brasileiros e portugueses, embora, no caso uruguaio, sem reciprocidade –, que inclui direitos políticos, como os de votar e ser votado.8

A naturalização não extingue a responsabilidade civil ou penal a que o estrangeiro estava sujeito no seu país de origem. Como ato personalíssimo, não abrange atualmente os familiares do naturalizado, conferindo-lhe o gozo dos direitos civis e políticos, com as exceções legais em cada Estado. No passado, em muitos ordenamentos jurídicos, a naturalização do marido implicava a da esposa e filhos menores: “A mulher passa com ele ao império da nova pátria escolhida pelo marido.”9 Hoje, no Brasil, qualquer filho do naturalizado, que não nasceu em nosso país – caso em que seria brasileiro nato pelo jus

soli – terá que buscar sua própria naturalização, caso tenha interesse.

O instituto da naturalização comporta duas formas: a tácita e a expressa. O direito positivo brasileiro atual admite apenas a naturalização expressa, concedida mediante petição escrita, observados os requisitos necessários, entre os quais o mais importante se refere à residência no Brasil.

A naturalização tácita existiu no Brasil em duas ocasiões, ambas inseridas na Lei Maior. A primeira, na Constituição do Império, de 1824, considerou brasileiros os portugueses e os nascidos nas Colônias portuguesas que estivessem residindo no Brasil quando da Independência e a ela aderissem, expressa ou tacitamente, pela continuidade da residência no País. Com o advento da República, a Constituição de 1891 declarou brasileiros todos os estrangeiros que residissem no Brasil em 15.11.1889 e não declarassem, no prazo de seis meses, seu desejo de conservar a nacionalidade de origem. Também concedeu a condição de brasileiros aos estrangeiros que tivessem imóveis no Brasil e fossem casados com brasileiras, ou tivessem filhos brasileiros, desde que

residissem no País e não manifestassem sua intenção de manter a nacionalidade originária.

A Carta Magna de 1988 traz as normas gerais a respeito da naturalização, que são complementadas pela Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, a partir do artigo 111, que rege o instituto. Assim, os requisitos para o estrangeiro se tornar brasileiro são capacidade civil por nossa lei; registro como permanente no País; residência permanente de, pelo menos, quatro anos no Brasil; que ele leia e escreva em língua portuguesa; tenha profissão ou bens no País; bom comportamento e não tenha contra si denúncia, pronúncia ou condenação por crime doloso, no Brasil ou no exterior.

A concessão da naturalização se fará mediante portaria do Ministério da Justiça, conforme o referido artigo 111 do Estatuto do Estrangeiro. Preenchendo os requisitos legais, o estrangeiro deve requerê-la ao referido Ministério, apresentando todos os documentos exigidos por lei. O processo está disciplinado nesse Estatuto (artigos 116 e segs.), bem como no Decreto n. 86.715, de 10.12.1981 (artigos 119 a 134).

Ao final do processo, o certificado de naturalização será solenemente entregue pelo juiz federal do domicílio do novo brasileiro ou, na sua ausência, pelo juiz estadual.

A Constituição de 1988 prevê (art. 12, inc. II, b) apenas uma hipótese em que a naturalização será um direito: o estrangeiro, sem condenação penal, que resida por quinze anos ininterruptos no Brasil adquire a nacionalidade brasileira desde que a requeira. Nesse caso, a naturalização deixa de ser ato

discricionário do Estado para se constituir em direito subjetivo do estrangeiro. O processo para essa

concessão – requerimento ao Ministro – não difere da forma anteriormente estudada.

9.5 Conflitos de nacionalidade

O emprego pelos Estados dos critérios de atribuição da nacionalidade originária estudados gera, por vezes, os conflitos conhecidos na doutrina por plurinacionalidade e apatridia, analisados a seguir.

9.5.1 Plurinacionalidade

São bastante comuns os casos de dupla nacionalidade, que ocorrem quando uma criança nascida em país que adota o jus soli é filha de estrangeiros, nacionais de Estado que admite o jus sanguinis. Evidencia-se abrandamento da repulsa, acentuada em outros tempos, ao instituto da múltipla nacionalidade ou plurinacionalidade, também referida como polipatridia. A adoção dos sistemas mencionados pelos países pode suscitar essas anomalias, permitindo que uma pessoa nasça legalmente investida de mais de uma nacionalidade.

Assim, na hipótese de nascer no Brasil filho de casal francês em visita ao País, ter-se-á um caso de dupla nacionalidade: a criança será francesa (jus sanguinis) e brasileira (jus soli). Se qualquer dos genitores dessa criança for italiano ou espanhol, ela poderá ter tripla nacionalidade, também pelo jus

Podem advir dificuldades na vida civil dessas pessoas quando elas necessitarem invocar apenas uma das nacionalidades. Tem-se observado que cada Estado reconhece, nesses casos, como o Brasil, a sua própria nacionalidade, desde que o binacional a possua. Quanto à proteção diplomática em cortes internacionais, a solução encontrada tem sido a da nacionalidade efetiva, que coincide normalmente com aquela do Estado em que o cidadão em questão se encontra efetivamente vinculado, de que é exemplo, bastante citado na doutrina, o caso Canevaro.10 Refere-se a Rafael Canevaro, peruano pelo jus soli e italiano pelo jus sanguinis, que, ante um processo na área tributária no Peru, e na iminência de expropriações em seus bens, invocou proteção diplomática da Itália. Sentença arbitral, em 1912, não recepcionou seu pleito por não se admitir ação de um dos Estados de que a pessoa é nacional contra o outro, podendo, entretanto, qualquer deles agir contra terceiro país em seu favor.

A condição de multinacional, a par de trazer benefícios, como gozar facilmente de direitos civis e sentir-se protegido contra o instituto da extradição em mais de um Estado, pode criar embaraços em determinadas situações. É o que ocorre, por exemplo, em relação ao serviço militar e à proteção diplomática, que não poderiam ser utilizados indistintamente pelo binacional, ao seu alvedrio. Também diante de problema entre os países de que é nacional, poderá enfrentar constrangimentos e dificuldades. Mecanismos legais reconhecidos por meio de tratados que o Direito Internacional põe à disposição encaminham soluções para esses casos, e a dupla nacionalidade vai-se consolidando e prestando benefícios aos próprios Estados, que nela encontram forma de aproximação entre si e de ampliação da convivência internacional.

9.5.2 Annacionalidade

Os seres humanos que nascem privados de nacionalidade, ou que a perdem em qualquer momento da vida, conhecidos por apátridas, são pessoas internacionalmente desprotegidas. O termo apatridia tem sido empregado para identificar essa situação pela doutrina e pelos tratados internacionais que regem a matéria. Ilmar Penna Marinho lembra as dificuldades dessas pessoas, cuja situação excepcionalmente precária é mais difícil do que a dos estrangeiros, pois estes últimos, quando expulsos, poderão dirigir-se ao país de que são nacionais.11

Permitimo-nos enfatizar que seria mais adequada a utilização do termo anacionalidade, pelo acréscimo do prefixo grego a, an, indicativo de negação, privação, ausência (sem) à palavra

nacionalidade. Justifica-se esse termo por opor-se a nacionalidade, designativo do instituto, ao passo

que apatridia contraria, na verdade, a ideia de patridia, termo que não se emprega em lugar de nacionalidade.

Ao sugerir o emprego de anacionalidade para designar o instituto, pensa-se estar sendo coerente com o entendimento esposado por Penna Marinho, quando, em sua obra clássica sobre a nacionalidade, ao abordar a apatridia – que prefere chamar de apatrídia – lembra que “todo homem nasceu em algum lugar, ou sofreu influência direta de algum fenômeno sociológico, como a religião, o meio geográfico, a língua etc.”, tendo em consequência uma pátria: “O que há são indivíduos sem nacionalidade, sem uma subordinação política”,12 acentua o autor. A palavra apatridia, embora muito usada, é politicamente incorreta e porta forte viés estigmatizante, dando ideia de supressão do vínculo do ser humano com sua pátria, o que traz à lembrança a tragédia vivida nos Estados totalitários que privaram da nacionalidade seus cidadãos, como a Alemanha nazista, especialmente quanto aos judeus, e a Rússia comunista, aos dissidentes políticos durante a longa e sanguinária ditadura de Stalin.

conotação de transitoriedade a sua situação e leva ao entendimento de que a condição de anacional será passageira, pela inserção da pessoa entre os nacionais de um Estado, na esteira de movimentos humanitários, doutrinários e convencionais que buscam a extinção da anacionalidade ou pelo menos a gradativa diminuição do número de pessoas por ela atingidas.

A principal fonte da anacionalidade está na existência dos dois sistemas utilizados pelos Estados na atribuição originária da nacionalidade. Assim, criança nascida em país que adota o jus sanguinis, de pais oriundos de Estado que privilegia o jus soli, não teria nacionalidade. Outra fonte é a legislação de países totalitários permitindo a supressão da nacionalidade por motivos políticos ou raciais.

Normalmente, o anacional é considerado como estrangeiro pelo Estado em que se encontra, sem direito à proteção diplomática. Assim, depende de leis locais que o amparem, o que já ocorre em alguns países, como Portugal, cuja Constituição (1976), em seu artigo 15 prescreve: “Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem, ou residam em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português.”

O fim da anacionalidade tem sido buscado pelas organizações internacionais e pelos Estados, contribuindo para diminuir o número de pessoas nessa situação. Uma política adequada pelos países sobre perda da nacionalidade evidencia preocupação na solução do problema.13 Contudo, o próprio homem pode ser, por vezes, o causador de sua apatridia quando renuncia de forma espontânea à nacionalidade e não demonstra interesse em adquirir outra, o que não é frequente. Como já referido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura, no artigo 15, que “toda pessoa tem direito a uma nacionalidade”.

O mais importante documento internacional sobre o tema é a Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia, assinada em Nova Iorque, no dia 30 de agosto de 1961. Ela preconiza que cada Estado contratante conceda sua nacionalidade à pessoa nele nascida que, de outra forma, seria anacional (art. 1º). Essa concessão ocorrerá, de pleno direito, por ocasião do nascimento, ou mediante requerimento à autoridade competente apresentado posteriormente pelo interessado ou em seu nome. Apenas quarenta países fazem parte da Convenção, entre os quais o Brasil, acentuando-se que o número de apátridas é estimado em doze milhões em todo o mundo.14

Por outro lado, verifica-se que o nefasto instituto da aligeância perpétua, resquício e triste contribuição do sistema feudal, desapareceu do mundo jurídico. Por essa prática medieval, havia uma subordinação perpétua do homem, obrigado a permanecer toda a vida ligado à terra, impedido de perder ou mudar de nacionalidade, liberando-se dessa fidelidade apenas com autorização do soberano. Tal sujeição perdurou na Grã-Bretanha até 1870 e na Rússia durante o período czarista.15 Não havia liberdade de substituição de uma nacionalidade por outra, ainda que essa fosse a vontade da pessoa.

9.6 Nacionalidade no ordenamento jurídico brasileiro

Os parâmetros norteadores da concessão da nacionalidade no Brasil emanam do artigo 12 do texto constitucional, que passaremos a analisar: Art. 12. São brasileiros: I – natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

Esta alínea consagra o critério do jus soli, que historicamente sempre foi um princípio adotado pelas constituições pátrias para a aquisição da nacionalidade brasileira, embora nunca de forma absoluta.

A Constituição do Império,16 de 1824, já afirmava que eram brasileiros “os que tiverem nascido no Brasil, quer sejam ingênuos ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua nação”. “Ingênuos” referia-se aos filhos de escravos libertos.

Em que pese o texto constitucional dispor “pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país”, basta que um dos genitores esteja a serviço do seu país para que o filho nascido em território nacional não seja considerado brasileiro nato. Corroborando esse entendimento, o artigo 15 da Resolução n. 155 do Conselho Nacional de Justiça, de 16 de julho de 2012,17 dispõe que “os registros de nascimento de nascidos no território nacional em que ambos os genitores sejam estrangeiros e em que pelo menos um esteja a serviço de seu país no Brasil deverão ser efetuados no Livro ‘E’ do 1º Ofício do Registro Civil da Comarca, devendo constar do assento e da respectiva certidão a seguinte observação: ‘O registrando não possui a nacionalidade brasileira, conforme o art. 12, inciso I, alínea ‘a’, in fine, da Constituição Federal’”. Entende-se por território brasileiro o espaço terrestre, marítimo, lacustre e aéreo no qual o Estado exerce, de forma soberana, seu domínio e jurisdição. Portanto, solo, subsolo, ar e água (rios, lagos, baías e ilhas), incluindo-se a plataforma marítima e o mar territorial, os navios e as aeronaves brasileiras de guerra (em qualquer parte do mundo) e de outra ordem (quando em operação ou ancorados em território brasileiro, alto-mar ou área que não pertença a nenhum outro Estado).

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

Trata-se de dispositivo também presente em todas as Constituições brasileiras. A expressão “a serviço da República Federativa do Brasil” não abrange apenas atividade diplomática, consular e militar, mas inclui pessoas em missão dos governos federal, estadual ou municipal, bem como servidores que desempenhem atividades em autarquias federais, estaduais, distritais, territoriais e municipais, empresa pública ou sociedade de economia mista.

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

A primazia do local de nascimento não é absoluta como critério de concessão da nacionalidade brasileira, pois já na Constituição de 1824 (art. 6º) eram considerados nacionais os filhos de brasileiro (e ilegítimos de brasileira) nascidos no exterior, desde que estabelecessem domicílio no Império. Contudo, a Constituição de 1934, acompanhando a evolução da sociedade humana no reconhecimento da igualdade entre os sexos, adotou a dicção atual (pai brasileiro ou mãe brasileira). Essa concessão ao jus sanguinis se mantém, em relação a todo filho, condicionada à presença de outros fatores: pai ou mãe a serviço do Brasil (inc. I, b) e registro em repartição brasileira (consulado ou embaixada) ou residência no Brasil e opção, em qualquer tempo, atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira (inc. I, c). Cabe acentuar que a redação da alínea c do inciso I do artigo 12 da Constituição Federal de 1988, antes mencionado, provém da Emenda Constitucional n. 54, de 20 de setembro de 2007. Essa medida corrigiu anomalia, bastante perversa: crianças, muitas registradas em repartições brasileiras competentes no exterior, não adimpliam – apesar do registro, que então lhes assegurava apenas efeitos de identificação civil – a condição de brasileiras, a menos que viessem residir no País e optassem pela nossa nacionalidade. Isso se explica, porque a previsão de nacionalidade por registro consular estava ausente de nosso Direito desde a Emenda Constitucional de Revisão n. 3, de 07 de junho de 1994, que alterou a redação original da Constituição Federal de 1988. Como elas haviam nascido em Estados como Japão, Alemanha, Suíça e Itália, que adotam o jus sanguinis, permaneciam anacionais, referidas na

imprensa como “brasileirinhos apátridas”.

Os quadros a seguir identificam as linhas de diferenciação entre a nacionalidade originária e a nacionalidade adquirida com as disposições do ordenamento jurídico brasileiro atual. Nacionalidade primária (originária) Jus soli ⇒ nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que não estejam a serviço de seu país de origem. Jus sanguinis + critério laboral ⇒ nascidos no exterior, de pai ou mãe brasileiro, desde que qualquer um deles esteja a serviço do País.