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RESUMO 16.1 Considerações iniciais

A abertura do mercado interno dos países a produtos e serviços estrangeiros gera a necessidade de proteção dos consumidores. Integração econômica, regionalização dos negócios, desenvolvimento dos meios de transportes e comunicação de massa alavancam o turismo, impondo a defesa das pessoas que consomem bens e serviços provenientes de outros Estados.

16.2 Proteção do consumidor no ordenamento jurídico brasileiro

A Constituição Federal/1988 estabelece que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”, considerado um dos princípios da ordem econômica. Com tal finalidade o artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias determina a promulgação pelo Congresso Nacional de um código normatizando o assunto. Essa ordem foi cumprida com a Lei n. 8.078, de 11.09.1990, o Código de

Defesa do Consumidor, um dos mais avançados diplomas normativos de proteção dessa parcela da

população.

16.3 Consumidor no DIPr

No que tange à qualidade e segurança de produto ou serviço, e o acesso à justiça na busca dessa garantia, consolida-se o entendimento de que o consumidor não pode ser prejudicado pela elementar razão de que esse bem proveio de outro país, foi fornecido por empresa situada no exterior ou foi adquirido em viagem ao estrangeiro. Em tese, ele deve poder contar com proteção mínima aos seus interesses quando optar por contrato à distância ou por meios eletrônicos: normas sobre seus direitos interessam tanto à competitividade do mercado interno quanto à competitividade internacional, assim como contribuem para a criação de um mercado interno com concorrência leal.

16.4 Proteção do consumidor nas Américas

Ganha espaço nos ordenamentos jurídicos dos Estados americanos a proteção do consumidor. No âmbito dos países integrados no Mercosul, a exemplo do Brasil, todos já dispõem de legislação em favor dessa importante parcela da população. A Argentina conta com a Lei n. 24.240, de 15 de outubro de 1993

(Lei de Defesa do Consumidor), com alterações da Lei n. 24.999, de 24.07.1998, e em 2008; no Paraguai há a Lei n. 1.134, de 27 de outubro de 1998 (Lei de Defesa do Consumidor e do Usuário); e o Uruguai dispõe da Lei n. 17.189, de 20 de setembro de 1999 (Normas Relativas às Relações de Consumo).

16.4.1 Projeto de CIDIP de proteção do consumidor

Cláudia Lima Marques elaborou projeto de Convenção Interamericana de Direito Internacional Privado (CIDIP) sobre diversos contratos e transações com consumidores, encampado pelo governo brasileiro para inclusão no temário dos próximos eventos da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre defesa do consumidor. Entre os dispositivos sugeridos de proteção em casos especiais, estão os contratos de viagem e turismo (art. 6º) e os de multipropriedade ou time-sharing (art. 7º).

16.5 Consumidor à luz da LINDB

As regras brasileiras de DIPr inseridas na LINDB, são anteriores ao Código de Defesa do Consumidor, nada dispondo especificamente sobre consumidor. Disciplina apenas o artigo 17 da Lei de Introdução que as sentenças ou declarações da vontade provenientes de outro país não terão eficácia no Brasil quando ofenderem nossa ordem pública. A mesma norma jurídica dificulta, em matéria contratual, uma defesa consistente da autonomia da vontade. 16.5.1 Proposta de adequação da LINDB ao consumidor Proposta de adequação da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro à proteção contratual do consumidor sugere, entre outros itens, um artigo 9º bis: “Os contratos e transações envolvendo consumidores, especialmente os contratados à distância, por meios eletrônicos, de telecomunicações ou por telefone, estando o consumidor em seu país de domicílio, serão regidos pela lei deste país ou pela lei mais favorável ao consumidor, escolhida pelas partes entre a lei do lugar da celebração do contrato, a lei do lugar da execução do contrato, a da prestação característica ou a lei do domicílio ou sede do fornecedor de produtos ou serviços.”

16.6 Caso Panasonic

Ação civil ajuizada na capital paulista buscando reparação por produto adquirido no estrangeiro, que apresentou defeito, sinaliza a importância que o consumidor passa a merecer no DIPr em nosso país. É o caso Panasonic. Trata-se de filmadora comprada em Miami, tendo sido extintos o processo de primeira instância e o recurso interposto no Tribunal de Justiça de São Paulo, por ilegitimidade da parte, alegada pela Panasonic do Brasil Ltda., por ter o produto sido adquirido na Panasonic Company, empresa norte-americana formalmente distinta da brasileira.

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, admitiu a responsabilidade da pessoa jurídica brasileira. Prevaleceu o entendimento de que o Código de Defesa do Consumidor se aplica de forma imediata a relações de consumo ocorridas em outros países, obrigando empresa brasileira da mesma marca a reparar danos provenientes de defeito de fabricação do produto.

16.6.1 Ementa do caso

Parte da ementa do acórdão delimita: “III – Se empresas nacionais se beneficiam de marcas mundialmente conhecidas, incumbe-lhes responder também pelas deficiências dos produtos que anunciam

e comercializam, não sendo razoável destinar-se ao consumidor as consequências negativas dos negócios envolvendo objetos defeituosos. IV – Impõem-se, no entanto, nos casos concretos, ponderar as situações existentes.”

16.7 Considerações finais

A sucessão de condutas e práticas geradas pelo extraordinário avanço científico e tecnológico, que logo chega a todos os recantos do planeta, tem encontrado respostas no mundo do Direito, no que tange ao consumidor, embora essas regras ainda se mostrem tênues e nem sempre acessíveis.

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Conceituar consumidor e dissertar sobre a missão do DIPr na sua proteção. 2. Fazer uma pesquisa sobre a legislação do consumidor nos quatro Estados fundadores do Mercosul. 3. Analisar a Diretiva n. 97/7/CE e sua eficácia em defesa do consumidor nos países da União Europeia. 4. Tecer considerações sobre o projeto de CIDIP de contratos com consumidores. 5. Apresentar sugestões para adequação da legislação brasileira sobre contratos internacionais que envolvam consumidores. 6. Estudar o caso Panasonic e analisar e sugerir possíveis avanços do judiciário brasileiro sobre consumidores após a decisão do Superior Tribunal de Justiça.

______________ 1 MARQUES, Cláudia Lima. A proteção do consumidor: aspectos de direito privado regional e geral. p. 1.505. 2 MARQUES, Cláudia Lima. Superação das antinomias pelo diálogo das fontes: o modelo brasileiro de coexistência entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil de 2002. p. 50. 3 JAYME, Erik. O direito internacional privado no novo milênio: a proteção da pessoa humana face à globalização. p. 138. 4 MARQUES, C. L. A proteção do consumidor: Aspectos de... p. 1.507. 5 MARQUES, C. L. Op. cit. p. 1.557-1.558. 6 BARCELLOS, Daniela Silva Fontoura de. O consumidor em sentido próprio no Brasil e na Argentina. p. 126. 7 MARQUES, Cláudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor. p. 475-476. 8 MARQUES, Cláudia Lima. Op. cit. p. 470-471.