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Caso das meninas da Guiné-Bissau

ADOÇÃO INTERNACIONAL “A adoção estatutária, ao exigir o registro novo, cortando os vínculos

13.14 Caso das meninas da Guiné-Bissau

Acompanhamos o caso das gêmeas Meri e Mirian, nascidas em 2005, na Guiné-Bissau. Órfãs de pai e mãe aos dezoito meses e sem qualquer assistência, essas crianças eram vítimas de um mito em sua região, segundo o qual a menina que perde a mãe durante o período de amamentação será feiticeira, costume que as condenava ao isolamento e abandono, que poderia ser fatal. Elas foram acolhidas por um casal gaúcho, então lá residente, debilitadas e subnutridas, tendo uma delas feridas pelo corpo e a cabeça machucada.36

A adoção foi concedida, após processo regular, conforme a legislação da Guiné-Bissau. O domicílio no país africano havia vários anos e a comprovada idoneidade dos adotantes facilitaram o procedimento e legaram às meninas um lar definitivo.37 Por óbvio, não se trata de adoção internacional albergada pela Convenção de Haia de 1993.

Paradoxalmente, as meninas necessitaram de visto brasileiro em seus passaportes da Guiné-Bissau para poderem vir ao Brasil visitar os familiares de seus pais adotivos, embora já fossem filhas de brasileiros.38 Sua condição de brasileiras natas ocorreu pela homologação das sentenças estrangeiras, prolatadas pela Justiça da Guiné-Bissau, pelo nosso Superior Tribunal de Justiça. O reconhecimento dessas decisões pelo STJ tornou-as exequíveis no ordenamento jurídico brasileiro, possibilitando a lavratura do registro de nascimento das meninas, assegurando-lhes o exercício pleno da nacionalidade brasileira originária.39

13.15 Considerações finais

Com o Código Civil de 2002, a adoção passou a ser totalmente regida pelo Código, artigos 1.618 a 1.629, ficando abolida a adoção por escritura pública em nosso Direito de Família. O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069/90, regula, mediante sentença judicial, a adoção de crianças e adolescentes de 0 a 18 anos no Brasil, disciplinando inclusive a adoção de menores brasileiros por estrangeiros. A adoção de maiores de 18 anos, portanto, é regulada pelo Código.

Na esteira de um sentimento de valorização da pessoa humana, de conscientização de que a realização pessoal e a felicidade se fortalecem com uma mudança interior, esforços devem ser envidados para que a adoção se volte integralmente para o espírito fraterno e solidário. Assim, ela estará oferecendo à criança e ao adolescente, abandonado ou desassistido, um lar e uma família, nos quais o afeto e o amor sejam, ao mesmo tempo, o ponto de partida, o caminho e o porto seguro para uma existência digna, voltada para o bem-estar geral e para a realização pessoal de cada um, seja no país que ele nasceu ou em qualquer outro.

RESUMO

13.1 Considerações iniciais

Serão estudadas a importância e atualidade do instituto da adoção, visto como resgate da cidadania a seres humanos desassistidos no começo da existência; a extensão da adoção a pessoas domiciliadas em outros países e a Convenção sobre Adoção Internacional da ONU.

13.2 Conceituação

A adoção é o processo pelo qual um ser humano, em tese menor e desassistido, encontra um novo lar, nele se integrando jurídica e afetivamente. Entendemos a adoção como um instituto no qual o jurídico, o humano e o divino interagem, gerando harmonia e bem-estar no meio social.

13.3 Importância e atualidade

O estudo da adoção torna-se hoje ainda mais importante dado o trágico paradoxo de seu uso criminoso. Por ganância e com requintes inescrupulosos, crianças são usadas como objeto: é o tráfico de seres humanos, destinando-as à prostituição, ao uso como mendigos após mutilação e à extirpação de órgãos para serem comercializados.

13.4 Adoção como resgate de crianças sem assistência

A solidariedade social e o amparo à criança e ao adolescente que não têm família, ou que esta não dispõe de recursos para lhes proporcionar uma vida digna, deve ser o motivo da adoção. Ela deve justificar-se por vantagens concretas para o adotando e ter por fundamento motivos legítimos. É irrevogável e leva à constituição, para o menor, de uma nova família, definitiva, mantendo-se o vínculo com a família originária apenas em relação aos impedimentos matrimoniais.

13.5 Adoção internacional

A adoção internacional ocorre quando o instituto da adoção é aplicado entre pessoas residentes em diferentes países signatários da Convenção sobre a Adoção Internacional de Haia. Ela permite que menores em situação de abandono encontrem um lar no estrangeiro, que não foi possível em seu país, lar esse que lhe proporcione o desejável bem-estar e crescimento adequado a todo ser humano. Em sentido amplo, trata-se, pois, de instituto pelo qual pessoas radicadas em um país adotam menores abandonados ou sem lar residentes em outro país.

13.6 Documentos sobre adoção internacional e a Convenção de 1993

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989 – ratificada pelo Brasil em 1990 –, apesar de não tratar especificamente sobre o assunto, constitui-se em documento basilar sobre a proteção e os direitos das crianças e adolescentes. Estabelece que haverá adoção internacional apenas quando não for possível encontrar um lar para a criança no seu país de origem. Já a Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios Sociais e Legais Relativos ao Bem-Estar das Crianças, de 1986, dedica sete artigos para a adoção internacional, estabelecendo alguns princípios, como a necessidade de estabelecer políticas e supervisão eficaz para a proteção das crianças adotadas em outros países.

A Convenção sobre Cooperação Internacional e Proteção de Crianças e Adolescentes em Matéria de Adoção Internacional, aprovada em 29 de maio de 1993, em Haia, está incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 3.087, de 21 de junho de 1999. Estabelece regras básicas a serem observadas pelos Estados em cada processo de adoção. São princípios que oferecem aos Estados envolvidos garantia de que não houve tráfico, sequestro ou indução ao abandono e que os pais adotivos estão jurídica e psicologicamente aptos para esse ato.

13.7 Adoção no ordenamento jurídico brasileiro e a adesão à Convenção de 1993

Há hoje no Brasil um pluralismo de fontes sobre a adoção: Lei n. 8.069/90 (ECA), e tratados internacionais ratificados pelo país (Convenção da ONU sobre Direitos da Criança de 1990, Conferência Interamericana de 1984-CIDIP e Convenção de Haia de 1993). O Estatuto da Criança e do Adolescente continua a reger, como lex specialis, a adoção internacional no Brasil, por expressa menção do Código Civil de 2002.

13.8 Noções básicas sobre adoção

A adoção de criança e de adolescente rege-se, no ordenamento jurídico pátrio pelas disposições da Lei n. 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual foi alterado Lei n. 12.010/2009.

Conforme dispõe o § 1º do artigo 39 do ECA, a adoção só deve ser aplicada quando se mostrar impossível a manutenção do menor na sua família natural ou extensa (parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade). Trata-se, ademais, de medida excepcional, irrevogável e vedada por procuração.