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CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO “O Direito Internacional Privado é o anjo da guarda do ser humano

10.2 Ingresso e permanência

Rotineiramente o ser humano goza de plena liberdade para residir e deslocar-se na expansão territorial de seu Estado. Nesse espaço, ele não encontra qualquer obstáculo à locomoção e à fixação de residência.

Quando desejar afastar-se de seu país, contudo, vai necessitar, em regra, de documento especial – o

passaporte – e, quando exigida, autorização nele inserida pelo Estado para o qual se está deslocando – o visto de entrada. No âmbito do Mercosul e dos países associados, há o “Acordo sobre Documentos de

Viagem dos Estados-Partes do MERCOSUL e Estados Associados”, o qual reconhece a validade dos documentos de identificação pessoal de cada Estado como documento de viagem hábil para o trânsito de nacionais e/ou residentes regulares em seus territórios. Os documentos aceitos por cada país estão listados no anexo do referido acordo.

Monroy Cabra classifica os Estados, quanto ao tratamento que dispensam aos estrangeiros – os direitos que reconhecem a essas pessoas – em três tipos de legislação, acentuando que essa inserção varia no tempo:1

a) igualitários: assimilam o estrangeiro aos nacionais;

b) hostis: negam direitos, especialmente na aquisição de propriedade;

c) de reciprocidade diplomática e legislativa: buscam o adequado equilíbrio.

O passaporte é um documento oficial de identidade, de validade internacional, fornecido a quem pretende sair do País. Ele é aceito pelos Estados que reconhecem o País, garantindo o acolhimento desse ser humano no estrangeiro. Normalmente é concedido mediante a apresentação de outros documentos e o pagamento de taxas, indicando, por si só, a idoneidade do seu portador. A simples apresentação do passaporte, contudo, nem sempre assegura o ingresso do estrangeiro no país, havendo necessidade de nele constar visto de entrada, quando a legislação do país assim o exigir. Trata-se de exigência que decorre da prerrogativa natural dos Estados de exercer controle sobre a entrada e a permanência de cidadãos de outros países. Via de regra, o visto é concedido pela repartição consular ou diplomática do anfitrião. Cabe observar que nacionais de Estado não reconhecido pelo País necessitarão de um terceiro tipo de documento (Laisser-Passer), que se reveste do duplo papel de documento de viagem e visto de entrada. Esse é o caso de cidadão nascido em Taiwan que objetive ingressar no Brasil.

10.2.2 Visto

O visto não é um direito, e sim uma cortesia. Sua concessão ocorre quando as autoridades consulares do país anfitrião entendem que a conduta do estrangeiro é adequada à sua ordem pública e o autorizam a nele ingressar.

Assim, conforme o artigo 7º do Estatuto do Estrangeiro, o Brasil não concederá visto ao estrangeiro: a) menor de dezoito anos, desacompanhado; b) considerado nocivo à ordem ou aos interesses nacionais; c) anteriormente expulso; d) condenado por crime doloso passível de extradição; e) que não apresente condições de saúde (sem entrar no mérito sobre a constitucionalidade desse dispositivo).

Os sete tipos de visto, previstos no artigo 4º da Lei n. 6.815/1980, são conhecidos pelo objetivo pretendido:

I) Visto de trânsito: normalmente com validade de dez dias, destina-se ao estrangeiro que necessite passar pelo território brasileiro, ao dirigir-se a outro país. A simples permanência em portos ou aeroportos, se for de algumas horas, não exige tal visto. Para recebê-lo, devem ser apresentados apenas o passaporte, o certificado de imunização e o bilhete de passagem. II) Visto de turista: concedido ao estrangeiro que venha ao Brasil em caráter recreativo ou de visita, ou seja, sem finalidade imigratória. Tem validade máxima de cinco anos, permitindo estadas de noventa dias, prazo que pode ser reduzido a critério do Ministro da Justiça, bem como ser prorrogado por mais noventa dias. O visto permitirá ao estrangeiro adentrar em território nacional múltiplas vezes, dentro dos limites acima citados e desde que não exceda 180 dias por ano. Seu detentor não pode extrapolar o prazo de permanência que lhe foi concedido nem exercer atividade remunerada no Brasil. A exigência desse visto poderá ser dispensada ao turista nacional de país que dispense ao brasileiro igual tratamento, ou seja, vale a reciprocidade. Entre países limítrofes e que mantêm boas relações diplomáticas é comum a dispensa desse visto, admitindo-se o ingresso do turista apenas com a prova de identidade, quando há prévio acordo entre esses Estados (EE, art. 21).

III) Visto temporário: é concedido ao estrangeiro que vem em missão de estudos, de negócios, como artista, desportista, cientista, professor, correspondente de periódico ou como ministro religioso.

Exige-se prova de meios de subsistência e atestado de antecedentes penais, tendo validade entre noventa

dias e quatro anos, conforme a finalidade da permanência do forasteiro no Brasil.

IV) Visto permanente: objetiva regular a situação do estrangeiro que deseja morar no Brasil. Para isso, ele deve produzir o necessário para o sustento próprio e o de seus dependentes, fazendo do País sua segunda pátria ou mesmo adotá-la, mediante futura naturalização. Esse visto se limita a determinados tipos de atividades, com o fim de aumentar a mão de obra especializada e o desenvolvimento nacional. Exige-se, para a sua concessão, além dos documentos antes referidos, prova de residência, certidão de nascimento ou casamento e contrato de trabalho visado pelo Ministério do Trabalho quando for o caso. Sua concessão poderá ficar condicionada, por prazo não superior a cinco anos, ao exercício de atividade certa e à fixação em região determinada do território nacional (art. 18 do EE). É esse visto que assegura ao estrangeiro os direitos individuais, comparando-o aos nacionais, conforme o caput do artigo 5º do texto constitucional vigente. V) Visto de cortesia: é concedido pelo Ministério das Relações Exteriores, mediante convite feito pelas autoridades brasileiras a pessoas amigas e de reconhecido valor. VI) Visto oficial: será também concedido pelo Ministério das Relações Exteriores e se destina ao estrangeiro que vem ao Brasil em missão oficial e aos funcionários de órgãos internacionais portadores de salvo-conduto.

VII) Visto diplomático: como os dois anteriores, terá seus casos de concessão, prorrogação ou dispensa definidos pelo Ministério das Relações Exteriores (art. 19 da Lei 6.815/1980). É concedido especificamente para as autoridades diplomáticas estrangeiras, acreditadas junto ao Governo brasileiro.

O Ministério da Justiça poderá obstar a entrada, a estada ou o registro do estrangeiro – inclusive nos casos dos vistos de cortesia, oficial e diplomático – se entender inconveniente a sua presença no território brasileiro (art. 26 do EE).

Alguns vistos poderão ser transformados em outros, como no caso de cientista, que poderá ter seu visto temporário convertido em permanente. Inclusive o visto oficial e o diplomático poderão ser permutados para visto permanente, ouvido o Ministério das Relações Exteriores, e mediante a cessação

das prerrogativas, privilégios e imunidades até então concedidas ao seu detentor (parágrafo único do art.

39 da Lei n. 6.815/1980). Contudo, não poderão ser substituídos por visto permanente os vistos de trânsito, de turista e de cortesia.

Os estrangeiros com visto permanente e na condição de asilados, bem como os que têm visto temporário, excluídos nesse grupo aqueles em viagem a negócios e os artistas e desportistas, têm de

registrar seu visto, obrigatoriamente, junto ao Ministério da Justiça, no prazo de trinta dias, contados da

entrada no Brasil ou da concessão do asilo.

Os titulares de visto diplomático, oficial ou de cortesia também devem registrá-lo, no Ministério das Relações Exteriores, quando sua estada no Brasil ultrapassar noventa dias (art. 32 da Lei).

Em qualquer dessas situações, o estrangeiro receberá um documento de identidade brasileiro. Para obtê-lo, o asilado e os detentores de vistos diplomático, de cortesia e oficial estão isentos de emolumentos e taxas.