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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO “Os mais importantes autores brasileiros de Direito Internacional

15.5 Normas brasileiras

Hoje, sob a égide da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, em seu artigo 9º, temos que, “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que (estas) se constituírem”. Trata-se da lex loci contractus, ou seja, quanto à forma e à substância aplica-se a lei brasileira para todas as obrigações constituídas em nosso país. Analogamente, quando a obrigação for contraída no estrangeiro, adotar-se-á, por igual razão, a lei do lugar quanto à forma e à substância.

utilização da lex loci contractus, um de fundo teórico e outro de caráter prático. Por um lado, apresenta- se bastante coerente e lógico indicar a lei do local onde as partes dão origem ao contrato como a competente para regê-lo. Por outro, ao favorecer a segurança jurídica, a lex loci contractus também se mostra bastante eficiente, pois o lugar de nascimento do contrato é de fácil determinação. Dessa forma, a lei que está em vigor ou que se aplica ao caso será mais facilmente consultada pelas partes.52 Contudo, essas supostas vantagens são fortemente refutadas.53 Ocorre que é difícil qualificar o lugar da conclusão do contrato quando os contratos são concluídos a distância, dependendo se se trata da lex fori ou da lex causae. Também se refere ao papel do acaso na contratação internacional como argumento contrário à lex loci contractus. Isso porque, muitas vezes, o lugar de nascimento do contrato apresenta-se fortuito ou acidental para constituir um critério que atenda aos interesses das partes envolvidas. Amílcar de Castro traz o exemplo de um brasileiro de passagem pelos Estados Unidos, onde se depara com um amigo argentino, também a passeio, e nesse encontro fortuito fazem um contrato, que ficará então sendo regulado pelo direito norte-americano.54

Apesar de a regra geral brasileira ser a lex loci contractus, a lei relativa à execução tem tido preponderância na jurisprudência pátria, a partir da interpretação de que à lei do local da constituição somam-se as exigências da lei do local de sua execução. Como efetivamente é mais comum ocorrerem litígios em razão do contrato no local de sua execução – por ser este quase sempre o lugar onde o devedor tem seu domicílio, bens e estabelecimentos comerciais, podendo mais facilmente honrar seus compromissos –, a lei brasileira é invariavelmente a lei aplicável por ser o Brasil o local da execução.55 Cabe ainda destacar o entendimento de Dolinger e Tibúrcio sobre a escassez jurisprudencial em casos de conflito de leis, a qual é creditada principalmente à mudança do elemento de conexão relativo ao estatuto pessoal, introduzido pela LINDB, que passou da regra da nacionalidade para a regra do domicílio.56 Assim, o Brasil, país de imigrantes, visando a uma integração plena entre os seus habitantes e uma maior praticidade, viu diminuírem sensivelmente as hipóteses de aplicação de lei estrangeira pelo Judiciário.

Ainda, nesse contexto, lembra-se que a experiência jurisprudencial demonstra que, na maioria dos contratos internacionais, o local onde são concluídos os negócios corresponde a grandes centros, apesar de neles os contratantes não apresentarem interesse permanente. Trata-se apenas de locais de encontro, onde as partes têm algum interesse, porém, comumente, os objetivos que as levam a esses lugares são diferentes daqueles decorrentes dos pactos que lá realizam. Quanto à facilidade de se obter informações acerca da lei aplicável ao contrato, Batiffol não a considera relevante.57 De fato, na maioria dos casos, os contratantes não costumam questionar a legalidade dos pactos, nem sequer consultam qualquer legislação a respeito. Dessa forma, caso algum conflito venha a se verificar, será bem mais adequado aplicar a legislação que corresponda aos reais interesses das partes. Ademais, caso estiverem realmente interessadas em verificar a legalidade de sua convenção, não se importarão em verificar qualquer lei. Por fim, refere-se que tal argumento acaba se tornando válido apenas para hipóteses muito raras.

Critica-se, também, a conexão do lugar da celebração do contrato por não favorecer a segurança jurídica. Ocorre que são grandes as dificuldades de qualificação do lugar de conclusão dos contratos entre ausentes, maioria nos contratos internacionais. Essa dificuldade parece aumentar ao se considerar a crescente complexidade dos contratos eletrônicos, firmados por meio da Internet entre agentes em diferentes partes do globo.

Não há homogeneidade entre os sistemas jurídicos de direito material quanto ao local de conclusão entre ausentes: se a qualificação decorrer da lex fori, será o juiz do conflito que a determinará; já se decorrer da lex causae, há dificuldade de se determinar a lei que rege o contrato, pois ele depende justamente da determinação do lugar de conclusão.

Contudo, as partes poderão escolher a lei brasileira para reger a relação que entre elas se estabelece, uma vez que não há proibição legal para sua execução no Brasil.

Se a obrigação tiver sua origem em ato ilícito, será disciplinada pela lei do lugar de sua

ocorrência, pois seria difícil e complicada a apuração de um fato ocorrido em um local aplicando-se a

lei de outro. Ademais, mesmo o delito, tema penal, acaba trazendo consequências cíveis que serão dirimidas na esfera do direito privado, devendo a ação competente ser intentada no juízo da ocorrência do fato gerador.

Convém ressaltar que, conforme preceitua o § 1º do artigo 9º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, “destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”. Os contratos envolvendo imóveis, locação ou venda, dependem de normas

imperativas, que devem necessariamente ser observadas. Não tendo a legislação atual cogitado do lugar da execução das obrigações, este será o que as partes houverem designado e, na ausência dessa definição, será identificado pela natureza da obrigação. Ainda conforme o § 2º do artigo 9º da citada Lei de Introdução, a obrigação resultante de contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Com razão, parte da doutrina critica esse dispositivo, enfatizando Andrade que melhor seria aplicar-se a lei “do lugar da execução do contrato, do domicílio do proponente, da sua nacionalidade ou do lugar onde o proponente tem seu estabelecimento comercial”,58 ao invés da residência do proponente, que pode acidentalmente estar localizada no exterior.

Situação especial pode-se encontrar no contrato de trabalho quanto à aplicação do direito mais

favorável ao trabalhador em caso de conflito de leis. Esclarece Délio Maranhão que a primazia desse

direito não deve afastar-se do mesmo ordenamento jurídico, não se estendendo ao terreno internacional, porque poderia criar dificuldades praticamente insuperáveis para o julgador, de determinar qual o ordenamento jurídico, entre os envolvidos, o mais favorável, uma vez que seria impossível submeter

uma só relação jurídica a direitos distintos.59 Entendendo-se que a inteira atividade do trabalhador deve ser considerada como uma unidade, a lei do lugar da execução do contrato deve ser a observada.

RESUMO