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Projeto de novo Estatuto do Estrangeiro

CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO “O Direito Internacional Privado é o anjo da guarda do ser humano

FORMAS DE AFASTAMENTO COMPULSÓRIO DO ESTRANGEIRO

10.5 Projeto de novo Estatuto do Estrangeiro

A Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980, teve sua principal reforma por meio da Lei n. 6.964, de 09 de dezembro de 1981, antes, portanto, da Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, há vozes na doutrina sustentando que ela está divorciada das percepções humanistas contemporâneas, necessitando de reparos urgentes.21

Atento a esses clamores, em julho de 2009, o então Ministro da Justiça apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 5.655/2009, conhecido como Novo Estatuto do Estrangeiro, dispondo sobre o ingresso, a permanência e a saída de estrangeiros do território nacional, a concessão da naturalização, a criação do Conselho Nacional de Migração, além da definição de crimes e outras providências.

Entre os diversos dispositivos do projeto que merecem destaque, a questão do ingresso de estrangeiros, mediante concessão de vistos, sofrerá consideráveis alterações na eventualidade de sua aprovação. O visto de trânsito será suprimido enquanto surgirá nova espécie, qual seja, o visto de turismo e negócios, concedido ao estrangeiro que venha ao Brasil em caráter recreativo, de visita ou de negócios. Também surgirá o visto de estudo, destinado ao estrangeiro que vem ao Brasil com finalidade

acadêmica, bem como o visto temporário para tratamento de saúde, concedido ao estrangeiro que venha se tratar no País em caráter privado (sem a utilização de recursos do Sistema Único de Saúde).

O visto temporário e suas hipóteses de concessão são minuciosamente detalhados, com a modificação de alguns prazos previstos na lei atual. Na vigência de casamento ou união estável em que um dos cônjuges (ou companheiros) tenha a nacionalidade brasileira, o outro terá direito a visto temporário por três anos, permitindo o trabalho remunerado e podendo ser transformado em permanente após o transcurso desse prazo, desde que ainda existentes as condições que autorizaram a concessão.

Com relação ao visto de trabalho, o qual ganhou uma disciplina mais detalhada no projeto, haverá a possibilidade de sua transformação em visto permanente, pelo Ministério da Justiça, mediante justificativa da necessidade de permanência do estrangeiro no país, avaliada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. No caso de professor, técnico ou cientista aprovado em concurso público em instituição pública de ensino ou de pesquisa científica e tecnológica no Brasil, esse visto permanece até a aquisição da estabilidade, quando poderá ser transformado em permanente.

Os estrangeiros que vivem em situação irregular no Brasil também foram lembrados, de maneira expressa, pelos redatores do projeto. A esses não nacionais, o Ministério da Justiça poderá autorizar a concessão de visto permanente ou autorização de residência, observadas as normas disciplinadoras da questão e condicionando o recebimento do pedido ao pagamento de multa.

É conveniente referir as limitações relativas à atuação de estrangeiros em regiões nacionais consideradas estratégicas, como é o caso das áreas indígenas e daquelas ocupadas por quilombolas ou por comunidades tradicionais. Visando à proteção dos interesses nacionais, essas áreas somente poderão ser exploradas mediante prévia autorização dos órgãos competentes.

Por fim, da leitura do projeto verifica-se a preocupação no sentido de que o novo Estatuto perfilhe a atual acepção humanista da imigração, desvencilhando-se da antiga concepção de segurança nacional. Ele se voltará para o estabelecimento de uma política nacional de migração, norteando-se pela garantia dos direitos humanos, interesses socioeconômicos e culturais do Brasil, defesa do trabalhador nacional, preservação das instituições democráticas e segurança da sociedade, bem como das relações internacionais. Dessa forma, em virtude da cristalina importância e progresso que o projeto tende a proporcionar para o Brasil nas suas relações internacionais, ressalta-se que há por parte das autoridades e estudiosos do Direito Internacional evidente interesse na aceleração do trâmite legislativo para sua aprovação22 com vistas a equiparar o atual cenário brasileiro às perspectivas de integração mundial.

RESUMO

10.1 Considerações iniciais

Será estudada a condição jurídica do estrangeiro, detendo-se no caso brasileiro, com base na Lei n. 6.815/1980 (Estatuto do Estrangeiro). Serão vistos os meios usados pelos Estados para ingresso, permanência e afastamento de seres humanos de outros países, como passaporte e visto, expulsão, deportação e extradição.

10.2 Ingresso e permanência

especial, o passaporte, com autorização inserida pelo Estado para o qual se está deslocando, o visto de entrada.

10.2.1 Passaporte

É um documento oficial de identidade fornecido a quem precisa sair do País. Ele é aceito pelos demais Estados, garantindo o acolhimento desse ser humano no estrangeiro. Sua concessão requer apresentação de outros documentos e pagamento de taxas e indica, por si só, a idoneidade do seu

portador. 10.2.2 Visto

O viajante necessita de visto concedido pelo Estado que o receberá. Entre países vizinhos e

amigos, mediante tratado, basta o documento de identidade usual no Estado de origem, como ocorre

entre os países do Mercosul.

O visto não é um direito, mas uma cortesia. Classifica-se em visto de trânsito, de turista, temporário, permanente, de cortesia, oficial e diplomático. Alguns tipos de visto podem ser transformados em outros, atendidas determinadas condições.

10.3 Afastamento compulsório

O Direito moderno não admite afastamento coercitivo de nacionais do Estado. Assim, os institutos jurídicos de saída compulsória de seres humanos destinam-se a estrangeiros, disciplinando as situações em que é lícita essa conduta. 10.3.1 Institutos em desuso

Estão atualmente ausentes das ordens jurídicas institutos como degredo, desterro, banimento e deportação coletiva. São admitidos a expulsão, a deportação, a extradição, o mandado de captura

europeu e a entrega. 10.3.2 Expulsão

É o ato pelo qual o estrangeiro, com entrada regular no Brasil, é obrigado a abandonar o país, por razões de segurança nacional, ordem pública ou social, moralidade pública ou economia popular. Trata- se de direito inerente à soberania dos Estados.

A expulsão não é uma pena, mas medida administrativa. É ato discricionário, de competência do Presidente da República, não se admitindo a expulsão quando implicar extradição inadmitida pela lei brasileira.

10.3.3 Deportação

É o processo de afastamento do estrangeiro com permanência irregular no Brasil ou incurso nos

casos do art. 57 da Lei n. 6.815/1980. Estrangeiro com visto de permanência vencido ou sem visto

válido, ou, ainda, com visto de trânsito, de turista ou temporário como estudante ou correspondente de notícias e exercendo atividade remunerada no Brasil são passíveis de deportação.

competente na ocasião.

10.3.4 Diferenças entre expulsão e deportação

Quanto à causa: deportação (estrangeiro irregular) e expulsão (regular, mas inconveniente ao país

anfitrião).

Quanto ao processo: deportação (sem processo) e expulsão (instrução sumária, com regras

processuais rigorosas e decisão final do Presidente da República).

Quanto aos efeitos: deportado poderá voltar ao País (regularização) e expulso (só voltará se

revogado o decreto de expulsão).

10.3.5 Extradição: conceito e classificação

Processo pelo qual um Estado entrega, mediante solicitação do país interessado, pessoa condenada ou indiciada no país requerente, cuja legislação é competente para julgá-la pelo crime que lhe é imputado.

O instituto da extradição visa repelir o crime, sendo aceito pela maioria dos Estados, como manifestação da solidariedade e da paz social entre os povos.

Classificação: ativa (em relação ao Estado que a requer) e passiva (ao Estado requerido),

instrutória (julgamento) e executória (cumprimento de pena já imposta). 10.3.6 Extradição de nacionais Quase todos os Estados negam a extradição de seus nacionais, inclusive o Brasil. Exceção: Reino Unido, Estados Unidos, Colômbia (reforma de 1997) e Itália (mediante reciprocidade). Doutrina estrangeira e brasileira: amplamente favorável à extradição de nacionais. 10.3.7 Requisitos e limites da extradição

Dois requisitos: especialidade (julgamento pelo delito considerado, tão somente) e identidade ou

dupla incriminação (crime em ambos os Estados).

Deve haver tratado entre os países ou promessa de reciprocidade.

Extradição: crimes graves. Excluídos: crimes políticos, militares e de opinião.

Terroristas: sujeitos à extradição (pela violência e menosprezo à vida humana). 10.3.8 Caso Pinochet

Pedido espanhol (juiz Garzón, 1998): julgar genocídio, torturas e desaparições de espanhóis no Chile (1973-1990). Tratava-se de ex-chefe de Estado, que estava hospitalizado e partia de terceiro país. Divisor de águas na história da extradição (três fases): precursora, desde os primeiros indícios, na Antiguidade, até a Lei Belga de 1833; clássica, daí até o final do século XX; e contemporânea, após o caso Pinochet. 10.3.9 Extradição na ordem jurídica brasileira Processada e julgada pelo STF (plenário), após verificar a legalidade e procedência. Não caberá

recurso.

Requerida via diplomática ou de Governo a Governo, o pedido é instruído com cópia da sentença condenatória, pronúncia, ou que decretar a prisão. O Ministério das Relações Exteriores remete petição ao Ministro da Justiça, que a envia ao STF, cabendo ao relator no STF expedir ordem de prisão. Se o extraditando já estiver preso, o pedido vai diretamente ao STF.

10.3.10 Tratados de extradição firmados pelo Brasil

Argentina, Austrália, Bélgica, Bolívia, Chile, Colômbia, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Lituânia, México, Paraguai, Peru, Portugal, Reino Unido, República Dominicana, Rússia, Suíça, Suriname, Ucrânia, Uruguai e Venezuela. Mercosul. 10.3.11 Diferenças dos demais institutos Expulsão: iniciativa do Estado, ato jurídico-político (competência do Presidente). Extradição: solicitada pelo país interessado, para onde irá o estrangeiro (STF). Deportado: pode retornar, após regularização. Iniciativa de cada Estado. Extraditado: após cumprimento de pena no país em que foi condenado e aceitação pelo Brasil. Ato bilateral: existência de tratado ou de promessa de reciprocidade.

10.4 Jurisprudência brasileira

O Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal têm julgado muitos processos envolvendo estrangeiros, como habeas corpus contra ato de expulsão (STJ) e pedidos de extradição de acusados ou condenados de outros países homiziados no Brasil (STF).

10.5 Projeto de novo Estatuto do Estrangeiro

Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 5.655/2009. Pontos principais: humanismo da imigração, norteando-se pela garantia dos direitos humanos, interesses socioeconômicos e culturais do Brasil, defesa do trabalhador nacional, preservação das instituições democráticas e segurança da sociedade e das relações internacionais.

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Fazer um estudo sobre o ingresso de estrangeiro nos Estados, detendo-se sobre os tipos de visto adotados no ordenamento jurídico brasileiro. 2. Dissertar sobre institutos jurídicos para coagir o estrangeiro a se afastar do País. 3. Apresentar uma comparação entre a expulsão e a deportação no Direito brasileiro. 4. Tecer reflexões sobre o instituto da extradição sob o viés dos direitos humanos. 5. Manifestar seu posicionamento sobre a extradição de nacionais, justificando-a. 6. Elaborar um estudo sobre a extradição de terroristas. 7. Realizar uma investigação sobre o caso Pinochet e apresentar os ensinamentos que o mesmo lhe trouxe. 8. Pesquisar sobre casos notórios de extradição no Brasil.

______________ 1 MONROY CABRA, Marco Gerardo. Tratado de derecho internacional privado. p. 229-231. 2 DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado (parte geral). p. 126-155. 3 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. p. 602-603. 4 DOLINGER, J. Op. cit. p. 130. 5 AMORIM, Edgar Carlos de. Curso de direito internacional privado. p. 88. 6 MAZZUOLI, V. O. Op. cit. p. 598. 7 FOELIX, M. Droit international privé. v. II. p. 327 (tradução livre). 8 CATELANI, Giulio. I rapporti internazionali in materia penale: estradizione, rogatorie, effetti delle sentenze penali stranieri. p. 13 (tradução livre). 9 ARAÚJO, Luís Ivani de Amorim. Curso de direito dos conflitos interespaciais. p. 98. 10 MARQUES, José Frederico. Tratado de direito penal. v. I. p. 318. 11 ZANOTTI, Isidoro. La Extradición. p. 238. 12 AMORIM, E. C. Op. cit. p. 92-93. 13 “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação”. 14 FAYET JÚNIOR, Ney. Do crime continuado. p. 327-328. 15 Ver DEL’OLMO, Florisbal de Souza. A extradição no alvorecer do século XXI. p. 215-224. 16 Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. 17 Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. Acesso em: 2 nov. 2013. 18 Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. Acesso em: 17 out. 2013. 19 Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. Acesso em: 17 out. 2013. 20 Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. Acesso em: 17 out. 2013. 21 CHAPARRO, Verônica Zarate. Condição jurídica do estrangeiro. p. 178. 22 Em novembro de 2013 o Projeto de Lei permanecia em tramitação na Câmara dos Deputados. Para acompanhamento, acessar www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=443102.

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