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Em 1930; havia efetivamente apenas um centro acadêmico da nova antropologia na Grã-Bretanha, com sede na London School o f Economics e dirigido de 1924 a 1938 por Malinowski, sob o olhar beneplácito de Seligman. Na LSE Malinowski en­ sinou a quase toda a geração seguinte de antropólogos britânicos: Firth, Evans-Prit- chard, Powdermaker, Riehards, Schapera, Fortes, Leach e Nadei são alguns dos no­

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mes mais ilustres. A dependência de uma única pessoa naturalmente tornou o meio vulnerável, mas depois da partida de Malinowski para os Estados Unidos a continui­ dade foi assegurada por intermédio de Firth, um fúncionalista malinowskiano que permanecera na LSE desde que ali entrara como aluno em 1923. Em Oxford, a velha guarda reinou até meados da década de 1930, quando Evans-Pritchard e depois Rad- cliffe-Brown chegaram para construir um refúgio para o estrutural-funcionalismo. Em Cambridge, no passado um pólo do saber antropológico na Inglaterra, Eladdon e Frazer presidiram até a II Guerra Mundial; aqui a antropologia só recebeu novo alen­ to com as nomeações de Fortes e Leach nos anos 1950.

Em 1930, porém, tudo isso ainda era futuro. Evans-Pritchard realizava trabalho de campo no Sudão e mais tarde assumiria uma função ligada à sociologia na Univer­ sidade do Cairo. Radcliffe-Brown ainda estava em Sydney e em breve iria para Chi­ cago, onde permaneceria seis anos. O aperfeiçoamento institucional mais importante na antropologia da Inglaterra no início da década de 1930 foi certamente a fundação do Instituto Rhodes-Livingstone, em Livingstone, Rodésia do Norte (atual Zâmbia), por um grupo de jovens estudiosos sob a liderança de Godfrey Wilson. Entre os pri­ meiros pesquisadores estava um sul-africano, Max Gluckman (1911-1975), que nas décadas seguintes dirigiria uma série de estudos pioneiros de mudança social na África do Sul (capítulo 5).

A estada de Radcliffe-Brown em Chicago na década de 1930 foi muito fecunda no sentido de que estimulou a formação de um grupo de antropólogos não-boasianos num a excelente universidade americana. O departamento em que ele trabalhava agrupava as áreas da sociologia e da antropologia. Alguns sociólogos desse departa­ mento haviam aplicado métodos etnográficos em seus estudos da vida urbana, da mi­ gração e das relações étnicas. A antropologia de tendências sociológicas de Radclif­ fe-Brown recebeu boa acolhida nesse grupo, e ele foi fonte de inspiração importante para Robert Redíield, Sol Tax e Ralph Linton, entre outros.

O centro indiscutível da antropologia americana, porém, ainda estava sediado na Cidade de Nova York, na Universidade de Colúmbia, onde Boas imperava soberano. Em 1930 ele terminara de preparar seu segundo grupo de alunos. Do primeiro grupo, formado pelos que obtiveram o doutorado entre 1901 e 1911, o alemão Kroeber e o austríaco Lowie haviam saído de Colúmbia para criar o Departamento de Antropolo­ gia em Berkeley. O ucraniano Alexander Goldenweiser havia sido contratado pela New School o f Social Research em Nova York. O quarto, Edward Sapir, nascido na Alemanha, havia fundado a etnolingüística e se tom ado professor em Chicago - e o quinto, o polonês Paul Radin, passou de universidade em universidade e escreveu etnografias inovadoras (admiradas por Lévi-Strauss, entre outros) em que os próprios

informantes tinham espaço para expressar suas opiniões, antecipando assim em meio século o m ovimento “pós-m oderno” na antropologia.

Em contraste com esse grupo heterogêneo de imigrantes europeus, os alunos da segunda turma de Boas eram estado-unidenses de nascimento e formação. Os mais influentes entre eles foram Ruth Benedict, M elville Herskovits e M argaret Mead.

A pesar dessa concentração dc poder em Nova York, a disciplina teve m aior am ­ plitude e diversidade nos Estados Unidos do que na Inglaterra. O domínio de Colúm- bia estava longe de ser absoluto, e durante as décadas de 1930 e 1940 muitos antropó­ logos influentes sem nenhuma relação com Boas chegaram no país. Redfield (1897- 1958) foi um deles. A especialidade de Redfield eram os estudos camponeses, que ele e seus alunos realizavam na A m érica Latina, na índia e na Europa Oriental. Outro foi Leslie A. W hite (1900-1975), que teve como professores Sapir e Goldenweiser. W hite estabeleceu-se na Universidade de M ichigan em 1930, onde desenvolveu uma teoria neo-evolucionista m aterialista em oposição direta a Boas. Em tom o da mesma época o sociólogo Talcott Parsons ( 1902-1979) foi contratado por Harvard, onde ele trabalharia durante mais de quatro décadas num a grande síntese baseada em W eber e em Durklieim e que por fim envolveria também alguns antropólogos proeminentes. Linton (1893-1953), que havia estudado em Harvard nos anos 1920 e representava outras peculiaridades da herança boasiana diferentes das de Benedict, assumiu o m a­ gistério em Colúm bia em 1937. No mesm o ano George P. M urdock (1897-1985) co­ meçou seu magnum opus na Universidade de Yale: o Human Relations Area Files (HRAF), um imenso banco de dados de traços culturais de todo o mundo que tem sido usado e também criticado por pesquisadores durante meio século.

A medida que as condições políticas na Europa se deterioravam e a II Guerra M undial se aproximava, estudiosos europeus consagrados emigraram para os Esta­ dos Unidos, e não apenas judeus das áreas de língua alemã, em bora esses fossem o grapo mais numeroso. Um desses foi o próprio M alinowski, que passou alguns anos em Yale antes de morrer. Outro foi o antropólogo inglês Gregory Bateson (1904- 1980), que forjou os prim eiros elos entre o estrutural-funcionalismo (por ele critica­ do já em sua primeira monografia em 1937) e a antropologia de orientação mais psico­ lógica representada por Benedict e M ead (esta, a propósito, veio a ser a primeira mu­ lher de Bateson, e ele o terceiro marido dela). Outro exemplo ainda foi o húngaro Karl Polanyi (1886-1964), que havia sido professor de História Econômica em Manchester antes de mudar-se para N ova York em 1940. Alguns anos mais tarde Polanyi seria em­ pregado como historiador em Colúmbia, onde inspiraria Julian Steward, um aluno de R roeber e Lowie em Berkeley que depois desenvolveria um ramo de neo-evolucio- nismo materialista, de orientação histórica, no antigo departamento de Boas.

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Examinaremos alguns desses desdobramentos mais detalhadamente. Antes, po­ rém, é necessário dirigir a atenção para a antropologia francesa do século vinte na véspera de sua rotinização.

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