• Nenhum resultado encontrado

Os arbustos e as árvores são simbolicamente equívocos: tanto conotam o mascu- lino,460

como evocam a mulher,461

nomeadamente o pinheiro manso, por vezes chamado pinheira.462

Mas o pinus silvester – claramente subentendido pela V9 que diz: «que tens tu,

pinheiro alto» – com o seu fuste alongado e pequena copa tem uma configuração nitidamente fálica.

Esta ambiguidade simbólica pode, porém, ser resolvida mediante textos etnográficos, relativamente abundantes, e documentos da cultura grega, ambos particularmente esclarece- dores do sentido implícito desta parte da lengalenga. No que se refere às tradições populares, referimos uma de Armamar, aparentemente afastada do nosso tema, que diz:

460

Hans Christian ANDERSEN, The Complete Works, p. 507, fala de «sabugueiro-mãe» e «salgueiro-pai».

461

Karl ABRAHAM (Rêve et mythe, p. 176) refere que «quase todas as árvores são femininas para nós. Visivelmente os seus frutos servem de tertium comparationis.» O autor, porém, fala apenas do género gramatical das palavras que as designam. Em português, as árvores têm ambos os géneros gramaticais, tenham fruto comestível ou não. Se há macieiras, oliveiras, videiras, também há castanheiros, medronheiros e ainda pereiros/as e carvalhos/as. Mas a forma do carvalho e da carvalha são muito diferentes: o primeiro de forma oblonga, a segunda com larga copa. Do nosso ponto de vista – o da construção simbólica – a imagem de cada árvore é mais importante para perceber o seu significado antropológico do que o seu género gramatical.

462

«quando os pinheiros ou as matas aparecem comidos das lagartas, diz-se que o ano vai ser de fome»,463

o que, para o presente contexto, implica que o pinheiro está associado à vida, possivelmente por ser árvore de folha perene. O asserto justificar-se-ia porque as suas agulhas só são comidas quando o ano é falho de outras fontes de alimento para os vermes que lhe devoram as partes mais tenras. Mas nem este texto nem a sua interpretação são suficientes para tomar o pinheiro como pertencente ao género simbólico masculino.

Há, no entanto, várias tradições atestadas em muitos pontos do país que têm um sentido bastante mais claro. Assim, por ocasião da festa de Santo António, em Peral, con- celho de Óbidos, «Os rapazes espetam num terreiro um pinheiro, em volta do qual põem lenha (rosmaninho, murta, alecrim, alfazema, poejo, marcela, erva de Nossa Senhora, etc.). No alto do pinheiro fixam a bonecra, figura de papel de cores que representa uma mulher de braços abertos; põem-lhe bombas e sal dentro da cabeça. E em grande algazarra deitam fogo a tudo – ao que chamam a fogueira.» Acrescenta o autor que «Antigamente, dançavam em volta, tocavam harmónios e guitarras.» 464

Este mesmo costume de dançar «em volta de um pinheiro junto do qual ardia uma grande fogueira [...] com muita lenha e carqueja», pertenceria aos ritos da noite de S. João, em Coimbra, segundo relata o Diário de Notícias de 3 de Julho de 1924.465

Da mesma maneira, em Viseu, pelas festas joaninas, à tarde, «nas faldas de um monte, ao pé das povoações, põem um pinheiro ao alto, limpo, só com os galhos, e à volta dele silvas secas atadas», a que os rapazes deitam fogo.466

Rito parecido – realizado, porém, na terça-feira de Entrudo – existiu no concelho de Vila do Conde, com o nome de «queima do galheiro», um pinheiro de cerca de dez metros de altura, reduzido apenas aos seus galhos e envolto em «gatenho», ou seja, segundo os praticantes do rito, «mato mais fino que o tojo, que [...] é escolhido de preferência a este por arder melhor e com mais zunido».467

No topo do galheiro ficaria «um ramo de loureiro ornado com flores, fitas, bandeiras e outros adornos significativos». A sua base é espetada numa «cova», envolta em «‘gatenho’ para melhor arder no momento próprio». O relator do rito diz ainda que o povo lançava serpentinas para o galheiro, antes de lhe deitarem o fogo, à meia-noite em ponto. Tudo era acompanhado com danças à volta do pinheiro completamente revestido de gatenho «com a espessura de três metros de diâmetro na base e de pouco menos de um metro pelo tronco acima, donde mal emergiam os galhos despidos, tendo a rematá-los o ramo de loureiro encimado por uma bandeira verde-rubra de papel».468

Leite de Vasconcellos, por outro lado, menciona outras tradições semelhantes, uma delas menos clara nas suas componentes,469

outras igualmente precisas, como a referente a Almeida, onde, nos princípios do século XX, na noite de S. João se faziam fogueiras «em volta das quais se organizavam rodas e descantes, colocando-se-lhes ao centro um poste

463

J. Gonçalves MONTEIRO, Armamar..., p. 103.

464

Leite de VASCONCELLOS,Etnografia portuguesa, VIII, p. 364.

465

Cf. ID.,op. cit., VIII, p. 383.

466

ID.,op. cit., VIII, pp. 405-6.

467

Ernesto Veiga de OLIVEIRA, «A ‘queima do galheiro’ no concelho de Vila do Conde», in suo Festivi- dades cíclicas em Portugal, Lisboa, Dom Quixote, 1984, p. 47.

468

ID.,op. cit., p. 48-9.

469

com uma figura em cima – uma boneca [...] feita de palha e garridamente vestida de papel de cores. Durante toda a noite dançavam em volta da fogueira terminando o folguedo pela queima da boneca.» O mesmo, segundo parece, seria feito nas vésperas de S. António e de S. Pedro.470

Em Evendos, a fogueira era feita à porta da capela de S. João, com «um pinheiro, posto a pino, carregado de alecrim» que é trazido no domingo anterior e guardado na capela, deitando-se-lhe «o fogo rente ao chão, porque o alecrim está seco».471

Não há dúvidas acerca da significação fálica destas representações: o pinheiro erecto no meio de um terreiro, a sua decoração de ervas aromáticas ou silvas a que se deita fogo, são mais que suficientes para tirar essa conclusão. O costume viseense é, de resto, muito explícito a este respeito: no cimo do pinheiro, colocava-se «uma panela untada de azeite onde metem um gato, obstruindo depois a boca da panela com um pano tendido». Os rapazes deitam o fogo às silvas e quando «o gato já não pode sofrer o calor, rasga o pano, salta para fora e vai meter-se numa poça. Há então grande gargalhada e acaba-se a festa.» Esta função disto é que se pode entender o que significa a tradição vilacondense, que na definição dos actores do ritual é incongruente e estranha. De facto, o «gatenho» só pode ser uma sobrevivência verbal de um rito semelhante ao de Viseu em que efectivamente haveria um gato que fugia do cimo de pinheiro em brasa.

Leite de Vasconcellos afirma que o «gato é como que o espírito da vegetação que se sacrifica para renascer com força maior»,472

interpretação que estando, no essencial, correcta, é limitativa. De facto, o que está implicado no rito é muito mais preciso e forte em termos de significado. O pinheiro representaria o pénis; a panela untada, o prepúcio; e o gato, o sémen, ideia reforçada pelas serpentinas que o povo lança aos «galheiros» em Vila do Conde. O ritual na sua globalidade significaria uma cópula simbólica em que a natureza era fecundada de maneira a desentranhar-se em frutos belos e saborosos ao longo do verão; interpretação que, a ser verdadeira, nos colocaria bastante para além do entendimento que Leite de Vasconcellos, noutro texto, faz destes ritos como sendo o de um «sacrifício do gato».473

Chegados a este entendimento do significado destas tradições, convirá acrescentar um breve comentário a uma insinuação feita pelo etnógrafo ucanhense sobre a relação dos rituais de Peral, referidos acima, com o milagre de S. António que compunha «as bilhas que as moças levavam à fonte e ele próprio quebrava.»474

Esta associação entre os ritos relacionados com o pinheiro e a realização do milagre da reconstituição das bilhas, não tem qualquer justificação de natureza histórico-religiosa. Por isso devem resultar de imposições simbólicas que fariam evocar um facto quando o outro acontece, tal como na história da carochinha onde, depois de o pinheiro ser arrancado, também são quebradas as cantarinhas dos meninos do rei. No entanto, enquanto no ritual de Peral as bilhas são refeitas, na nossa história elas são quebradas. Mas isso não põe em causa a dedução feita.

470

ID.,op. cit., VIII, p. 385.

471

ID.,op. cit., VIII, p. 385. Cf. ainda ID.,op. cit., VIII, p. 420, onde são referidas tradições semelhantes no Algarve.

472

ID.,op. cit., VIII, pp. 405-6.

473

ID.,op. cit., VIII, p. 388.

474

Esta associação do pinheiro e da bilha, intrínseca nos rituais viseenses e circuns- tancial nos do Peral, traz à lembrança que tanto S. António como S. Gonçalo de Amarante, ambos casamenteiros e travessos, gostam de quebrar as cantarinhas às moças, o que tem óbvios entendimentos sexuais. De facto, S. Gonçalo, ainda mais brejeiro do que S. Antó- nio, é cantado desta forma: «S. Gonçalo de Amarante, / Serrador de pau de pinho, / dai- me tanta força ao... / Como o porco tem no focinho»,475

a qual nos coloca explicitamente num contexto fálico.476

Mas a referência a que é «serrador de pau de pinho» evoca a castração, como se demonstrará mais adiante ao estudarmos a tradição clássica, tema que também consta do quadro de referências da história da carochinha.

Seja como for, pinheiros que ardem e panelas que rebentam ou se quebram derivam do mesmo quadro simbólico, embora sejam usados diferentemente nos ritos reportados e na nossa história. A escolha do pinheiro não é, pois, casual. Situa-se num complexo simbólico coerente em que as conotações masculinas e femininas emergem de cada recanto da análise para se perfilarem claras no centro das projecções teóricas que delas fazemos.

Se estendermos este exame à antiguidade clássica encontraremos a confirmação de alguns dos seus resultados. A tradição frígia, por exemplo, associa o pinheiro ao mito de Attis e Agdistis-Cibele. «Attis era um belo jovem nascido de Nana, filha do rio Sangarius, e da hermafrodita Agdistis. Enamorada de Attis, Agdistis fê-lo enfurecer-se quando estava para se casar, tendo-se Attis castrado a si mesmo e morrido. Agdistis, arrependida, pediu a Zeus que lhe concedesse que o corpo do jovem nunca se corrompesse ou consumisse.»477

Ora a auto-castração de Attis é feita sob um pinheiro. Por isso, nas festividades de Cibele, entre 15-27 de Março, ou seja, por ocasião do equinócio de Primavera, também era cortado um pinheiro onde se suspendia a imagem de Attis, o qual era levado para o santuário de Cibele,478

em lembrança do gesto da Mãe dos Deuses.479

Jung interpreta o mito como significando que Cibele «retoma o seu filho na sua gruta, o que quer dizer, no seu seio materno.»480

E continua: «o corte do pinheiro corres- ponde à emasculação, que o corte evoca. Neste caso a árvore teria sobretudo um sentido fálico.»481

Esta associação é, aliás, reforçada com uma outra versão do mito, segundo a qual,

475

ID.,op. cit., VIII, p. 96. O autor anota, relativamente às reticências: «‘Pénis’, na expressão chula.»

476

Notar que na Arriconha, uma localidade de Tagilde, onde se supõe que S. Gonçalo de Amarante teria nascido, havia nos fins do século XIX uma fonte rasa onde o santo «quebrava os cântaros às moças» (ID.,op. cit., VIII,p. 101).

477

Encyclopaedia Britannica, Multimedia edition, 1998, s.v. «Attis».

478

Ibid., s.v. «Great Mother of the Gods».

479

C. G. JUNG,Metamorphoses..., p. 687. A respeito desta suspensão da imagem de Attis do pinheiro, nota-se que ainda está presente, embora um pouco modificada, na tradição viseense, referida acima.

480

ID.,ibid.

481

ID.,op. cit., p. 688. A questão não é clara para Jung que afirma (p. 687): «a árvore também tem um sentido maternal já que o acto de suspender o filho ou a sua estátua da árvore indica a reunião do filho com a mãe.» E mais adiante (p. 688), a propósito do abate da árvore diz: «Mas como a árvore designa em primeiro lugar a mãe, o seu abate significaria sobretudo a imolação da mãe.» Por isso fala de «entrosamentos e cruzamentos de sentidos difíceis de destrinçar». As contradições seriam, segundo o autor, resolvidas na interpretação que dá à libido (pp. 688-9). Não seguimos o autor nesta interpretação: o argumento é contraditório e pressupõe a universalidade dos arquétipos, o que contradiz aspectos fundamentais da metodologia seguida neste trabalho, segundo a qual, as formas simbólicas não têm valor absoluto e universal, mas relativo, local e contextual. No entanto, embora não tenham relevância para o nosso argumento, as interpretações dos factos culturais feitas por Jung (pp. 689 e ss.) merecem reflexão.

o pinheiro, «consagrado a Baco, também tem uma significação fálica porque a forma da pinha lembra, diz-se, a do falo ou do membro mutilado de Attis. À maneira da árvore de que pende, o fruto, significando ‘a exaltação da potência vital e a glorificação da fecun- didade’, simboliza a imortalidade».482

Estas referências habilitam a dizer que o pinheiro, sob o qual Attis se mutila, repre- senta o membro cortado de seu corpo. Há, pois, uma identidade simbólica entre pinheiro cortado e Attis castrado,483

o que aliás está subentendido numa outra versão do mito, recordada por Jung, segundo a qual Attis foi transformado em pinheiro.484

A mesma intenção simbólica está, de resto, presente no que Longus diz na sua história de Daphnis e Chloé: «Daphnis aproximou-se do pinheiro e jurou em nome de Pã não viver sem Chloé, mesmo que fosse um só dia. Chloé, por seu lado, jurou a Daphnis, em nome das ninfas e no interior da sua gruta que desejava partilhar da sua morte como da sua vida.»485

Também aqui, pois, o pinheiro aparece associado ao sexo masculino e a gruta ao feminino.

Em tudo isto surpreende a persistência dos símbolos gregos na tradição portuguesa, já que o pinheiro, lá como cá, é um símbolo fálico. Mas mais surpreendente ainda é que alguns detalhes do mito de Attis continuem vivos entre nós, embora um pouco modi- ficados, como é natural. Referimo-nos especificamente à da imagem de Attis pendente do pinheiro, que assume a forma de boneca, não só em Óbidos (onde é figura de mulher) mas também em Almeida (a respeito da qual se não sabe a que género pertence). Na tradição vilacondense, porém, a imagem é duplicada. Segundo o relato do que acontecia numa das localidades estudadas por Veiga de Oliveira, no cimo do galheiro, «atravessado horizon- talmente no ramo de loureiro terminal, figurava um pau donde pendiam dois ‘entruidos’ – toscos bonecos de lã e trapo vestidos do mesmo material, com uma laranja dependurada sobre as suas cabeças, que nos esclareceram ser o Entrudo e a Quaresma, aguardando a hora do cumprimento do rito para arderem também.»486

A adaptação ao contexto do Entrudo, impôs, como se vê, uma reduplicação da imagem de Attis na contraparte hermafrodita que assume, imitando sua mãe Agdistis. Seja como for, a interpretação dada por Leite de Vasconcellos às bonecas que figuravam nos pinheiros como sendo uma «recordação do bárbaro sacrifício do gato»487

fica muito aquém daquilo que é possível entrever no conjunto dos ritos portugueses.

Nestes considerandos fica patente a ideia de que o arranque do pinheiro da história da carochinha tem origem em formas simbólicas muito antigas. De resto, a imagem suposta pela nossa versão de referência ainda parece mais radical do que o que está suposto no mito

482

Eloïse MOZZANI, Le livre des superstitions…, p. 1407.

483

Notar que os sacerdotes de Cibele, os galli, também se castravam a si mesmos ao entrar ao seu serviço, o que era justificado pelo que Attis tinha feito a si mesmo.

484

JUNG,op. cit., p. 687.

485

LONGUS, Daphnis et Chloé, liv. III (fim) trad. de J.-R. Vieillefond, Paris, Librio, 1994, p. 52. Mais adiante, no liv. III (p. 59), reforça a ideia de que o pinheiro está associado a Pã e a gruta às Ninfas: «Em seguida correram para as Ninfas e a sua gruta e em seguida para Pã e o seu pinheiro». JUNG (Metamorphoses..., p. 567) apenas menciona uma vez o nome de Pã, na legenda de um baixo relevo do século IV a. C.: «Hermes e as Ninfas na gruta de Pã». Se o testemunho de Longus corresponde à tradição grega, a legenda deveria ser diferente.

486

Veiga de OLIVEIRA, op. cit., p. 50.

487

de Attis. No fundo, porém, significa o mesmo: quer seja arrancado pela raiz quer seja cortado junto da raiz, do pinheiro é retirada toda a potência criadora. Isto aliás só reforça a ideia de que os actos referentes aos seres de conotação masculina, têm uma definitividade absoluta e sem retorno, como já se disse a propósito da trave. Nem o pinheiro arrancado pode mais ter resina nem a trave partida pode mais sustentar um telhado. E o que acontece aos demais representantes masculinos – passarinhos e rei –, só confirmam tal dedução.

A correspondência dos fundamentos simbólicos dos mitos gregos de Attis, celebra- dos no equinócio da primavera, com os ritos portugueses relativos ao solstício de verão, leva a perguntar se as suas diferenças existentes não decorrem da utilização de um plano de significações e de fundamentos ainda mais profundos do que os que foram expressos até agora. Com efeito, no equinócio haveria como que um equilíbrio entre os princípios masculino e feminino, significados na igualdade do dia e da noite. A castração de Attis e a guarda do seu membro cortado na gruta de Agdistis seria induzida por esta ideia de nivelamento. Pelo contrário, a potência viril, significada quer no pinheiro levantado, odorífero e ardente, quer no membro de S. Gonçalo que penetra a terra para a fecundar, como se deduz da quadra a respeito deste santo, referida acima, seria a expressão da máxima potência humana, associada ao sol que adquire o seu máximo fulgor precisamente no solstício de Verão.

Se estas deduções estiverem correctas, dever-se-á dizer que os mitos gregos da primavera e os ritos portugueses do solstício fazem parte do mesmo complexo simbólico. Assim, as árvores, as estações, os deuses e os santos estão de tal maneira irmanados que, de forma a tornar o todo inteligível, é necessário passar de uma tradição para outra. Por outro lado, o pinheiro que, na história da carochinha, se arranca, em termos de significado último, tem menos a ver com o pinheiro adornado de ervas aromáticas e de bonecras que exaltam a força viril associada aos santos do solstício, do que com o pinheiro de um Attis mutilado. Nele está, com efeito, prefigurado o rei que no final da história também se emascula.