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A geopolítica na Ocupação da Amazônia Legal

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O AVANÇO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL E OS DRAMAS DA FRONTEIRA

2.4 A geopolítica na Ocupação da Amazônia Legal

Mas antes mesmo de qualquer escaramuça entre os militares e os comunistas na região os homens da caserna já haviam começado a construir estradas em diversos pontos da Amazônia Legal, a exemplo da Transamazônica, energicamente defendida pelo general Golbery do Couto e Silva, que ainda em 1966 havia lançado uma obra intitulada Geopolítica do Brasil, na qual, dentre outras coisas defendia uma geopolítica "pan-amazônica", de grande destaque entre a comunidade de informações nacional e internacional.

Nessa obra, que foi adotada pela ESG (Escola Superior de Guerra), Couto e Silva expunha a necessidade de ampliação do controle da vasta bacia amazônica e a pertinência da necessidade de aceleração do desenvolvimento econômico que incorporasse as grandes extensões geográficas do Norte, do Oeste, da Amazônia, do sertão mato-grossense e goiano. Para Couto e Silva (1981):

A vitalização desses espaços interiores, com uma economia própria, que independa do comércio marítimo, continuará a ser um objetivo essencial do Estado brasileiro. A incorporação efetiva de todo o território nacional é um dos objetivos nacionais permanentes. [...] Por isso é preciso um vasto e estratégico plano destinado não já à conquista e conformação dos limites do Estado, mas à tonificação das suas raízes e da consistência do núcleo central ecumênico do Brasil preparando-o para os novos desafios que a potência emergente que ele é, possa melhor cumprir, neste mundo de incertezas, o futuro de grande potência que está no seu destino histórico. (COUTO E SILVA,1981, pp. 74-75)

Dessa forma constata-se que as formulações de geopolítica do general Couto e Silva que a ocupação da Amazônia Legal expressava ao Brasil uma espécie de "destino manifesto"

187 (à semelhança da doutrina norte-americana do "manifest destiny", que inspirou e justificou a expansão dos USA no continente e nos oceanos.

Para o general, o Brasil também ao se preparar para cumprir seu destino histórico como grande potência econômica tinha que ocupar a Amazônia vista enquanto uma espécie de "núcleo central ecumênico do Brasil" e que devia ser "preparado para os novos desafios" diante de um "mundo marcado de incertezas".

Todavia o próprio general alertava que só seriamos uma "grande potência" desde que soubéssemos dar os passos fundamentais no sentido de saber elaborar um vasto e estratégico plano para a Amazônia, agora não mais destinado à conquista e conformação dos limites do Estado, mas à tonificação da presença desse mesmo Estado e da segurança necessária para sermos um "Brasil grande".

Essa ideia de "Brasil Grande", de "Brasil Potência" e destinado a ser desenvolvido e poderoso estaria historicamente determinado para o general Silva por causa de sua geografia, dos seus recursos naturais e da sua grande população. Segundo Couto e Silva (1981):

[...] o Brasil, pelo prestígio de que já goza no continente e no mundo, pelas suas variadas riquezas naturais, pelo seu elevado potencial humano e, além disso, pela sua inigualável posição geopolítica ao largo do Atlântico Sul, ocupa posição de importância singular quanto à satisfação de todas essas imperiosas necessidades de defesa do Ocidente (COUTO E SILVA, 1981, p. 246).

Para o general estrategista o Brasil então, em virtude de sua situação geográfica, riquezas naturais e potencial humano o Brasil deveria se comprometer ainda mais com a defesa do Ocidente, em outras palavras se alinhar ainda mais com o campo ideológico dos Estados Unidos e também ocupar na América Latina uma condição de grande defensor das alianças políticas para a luta contra o comunismo.

Mas nessa luta era necessário a criação do binômio "segurança e desenvolvimento", que foi rapidamente adotado pela ditadura militar, que passou a estimular a ocupação da Amazônia Legal com a construção de estradas, instalação de empreendimentos econômicos (a exemplo de grandes fazendas de gado, frigoríficos, empresas de exploração mineral) e maior presença do Estado para se evitar conforme o próprio Couto e Silva (1981): "qualquer aventura ostensiva ou mascarada, que venha a surgir por essas bandas, ao influxo mesmo de espúrias influências de além mar, capaz de até preveni-las" (COUTO E SILVA, 1981, p. 247)

Couto e Silva (1981) apontava como ninguém que era preciso ocupar a Amazônia Legal por questão de segurança nacional e que só assim poderia se evitar a vulnerabilidade do

188 subcontinente à influência do comunismo, que nas décadas de 1950/1960/1970 era o fantasma que impulsionava golpes militares preventivos em toda América Latina por causa das guerrilhas urbanas e rurais crescentes, inclusive na Amazônia Brasileira com ação do PCdoB, que a partir do final de 1968 começou a instalar militantes no sul do Pará e do então Norte goiano para darem início a um "foco guerrilheiro" com objetivo de derrubar a ditadura.

Couto e Silva (1981) destacando a vulnerabilidade do subcontinente latino- americano à influência do comunismo fez o seguinte destaque:

[...] a América do Sul, com seu baixíssimo padrão de vida, suas seculares iniquidades sociais, sua instabilidade econômica crônica, não se oferecerá fácil à penetração de uma ideologia que sabe falar, demagogicamente, às massas desamparadas, sofredoras e incultas e cujo prestígio se irá acrescendo com os espetaculares êxitos alcançados? (SILVA, 1981, p. 230).

Por isso mesmo o general Couto e Silva (1981) sabia que era preciso estimular a ocupação econômica, política e social da Amazônia. Para ele, só com a presença efetiva das relações econômicas capitalistas, com a presença de maiores contingentes populacionais e do controle ideológico e político do próprio Estado seria possível conter qualquer perspectiva de "agressão e avanço das idéias comunistas" e dessa forma ele definia a questão:

A Amazônia, por suas riquezas econômicas, sua imaturidade política e seu baixo nível cultural, acha-se, sem dúvida alguma, extremamente vulnerável à agressão comunista, mascarada sob a forma de infiltração e subversão à distância e, pois, reforçar-lhe a capacidade de resistência eliminando as condições locais tão propícias à final implantação, nesta região, de capital importância para todo o Ocidente, de uma cabeça de ponte comunista ou entreposto favorável aos vermelhos é tarefa das mais relevantes e de maior urgência que as grandes potências ocidentais e, em particular, os E.U.A. tão próximos não poderiam nem deveriam, de forma alguma, descurar em nível muito inferior de sua ampla lista de prioridades estratégicas. E quem viver, o verá (SILVA, 1981, pp. 246-247).

Para o general Couto e Silva (1981) na sua visão geopolítica, a Amazônia estava ameaçada pela imaturidade política de sua população, de seu baixo nível cultural e principalmente pela possibilidade de agressão comunista que poderia usar a própria floresta para infiltrar seus interesses e apoiar a subversão que tinha locais tão propícios para desenvolver suas ações.

Nesse sentido, o general chega mesmo a afirmar que a defesa da Amazônia não cabia só ao Brasil, mas que os EUA e as potências Ocidentais deveriam se preocupar mais com suas

189 estratégias de combate ao inimigo vermelho, sendo essa uma tarefa das mais relevantes e fundamental para que os mesmos não estabelecessem por essas paragens qualquer tipo de entreposto.

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