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O Avanço do Agronegócio na Amazônia Legal

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O AVANÇO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL E OS DRAMAS DA FRONTEIRA

2.3 O Avanço do Agronegócio na Amazônia Legal

O processo de inserção do Brasil na globalização econômica vem provocando grandes transformações no país e particularmente no contexto da região da Amazônia Legal, que vem sendo transformada por excelência em uma das maiores fronteiras de exploração de recursos minerais, hídricos, vegetais e agropecuários da economia mundial, e consequentemente um espaço de grandes contradições sociais e ambientais do Brasil.

A Amazônia Legal foi criada no governo do presidente Getúlio Vargas por meio da lei nº 1.806, de 06/01/1953, com o objetivo de planejar e promover o desenvolvimento econômico da região, principalmente através de incentivos fiscais. Em 1966 o governo do general Humberto de Alencar Castelo Branco, através da lei nº 5.173, de 27/10/1966, criou um Plano de Valorização Econômica da Amazônia e a SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), como o objetivo de promover a execução e o controle da ação federal na Amazônia. O artigo 4º desse Plano estabeleceu dentre outras coisas as seguintes orientações básica:

183 I) definição dos espaços econômicos suscetíveis de desenvolvimento planejado, com a fixação de pólos de crescimento capazes de induzir o desenvolvimento de áreas vizinhas;

II) concentração de recursos em áreas selecionadas em função de seu potencial e populações existentes;

III) adoção de política imigratória para a Região, com aproveitamento de excedentes populacionais internos e contingentes selecionados externos;

IV) fixação de populações regionais, especialmente no que concerne às zonas de fronteiras;

V) ordenamento da exploração das diversas espécies e essências nobres nativas da região, inclusive através da silvicultura e aumento da produtividade da economia extrativista sempre que esta não possa ser substituída por atividade mais rentável; VI) incentivo e amparo à agricultura, à pecuária e à piscicultura como base de sustentação das populações regionais;

VII) aplicação conjunta de recursos federais constantes de programas de administração centralizada e descentralizada, ao lado de contribuições do setor privado e de fontes externas;

VIII) adoção de intensiva política de estímulos fiscais, creditícios e outros, com o objetivo de:

a - assegurar a elevação da taxa de reinversão na região dos recursos nela gerados; b - atrair investimentos nacionais e estrangeiros para o desenvolvimento da Região. (ARTIGO 4º DA LEI Nº 5.173, de 27/10/1966.

Dessa maneira, observam-se trechos da lei nº 5.173, de 27/10/1966, que desde o processo de criação jurídica do conceito da Amazônia Legal ele esteve intimamente ligado às questões do desenvolvimento regional, da ação governamental na região, no ordenamento da exploração econômica, do controle e fixação de populações e de criação de espaço para penetração da iniciativa privada com atividades industriais, agrícolas, pecuárias e comerciais.

Sendo que a lei nada falava da preservação ambiental e dos cuidados que se deve ter com os biomas da Amazônia nesse processo de ocupação econômica simplesmente na década de 1960 as preocupações ambientais ainda não haviam chegado às políticas públicas, que tinham mais preocupações desenvolvimentistas e geopolíticas de ocupação da Amazônia do que qualquer formulação que evidenciasse atenção quanto a questão preservacionista.

A Amazônia Legal representa 61,2% do território nacional, com 5.035.747,80 km² distribuído por 775 municípios em dez estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão (a oeste do meridiano de 44º de longitude oeste) e parte de Goiás, com cinco municípios goianos integrados a esse conceito.

É nesse território vivem 25.474.365 habitantes e segundo o Censo Demográfico 2010 do IBGE, isso corresponde a 13,3% da população brasileira, sendo essa a população que já vive há várias décadas os efeitos da transformação da região em grande produtora de mercadorias em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, voltadas geralmente para atender os interesses dos países capitalistas industrializados e desenvolvidos.

184 Na região os projetos de exploração de matérias primas de origem vegetal ou mineral, portanto extrativistas, começaram a ser implementados muito antes do estabelecimento do conceito de Amazônia Legal. Desde a época da colonização portuguesa (como vimos no capítulo I) iniciou-se uma economia baseada em um modelo extrativista, com intensa exploração da mão de obra indígena, trabalho escravo, produção primária, baixa agregação de valor e brutal utilização da natureza e seus recursos.

Essa colonização portuguesa na região tinha como principais objetivos garantir a posse do território, dispor de mão-de-obra barata de origem indígena e obter lucro com o extrativismo vegetal. As chamadas 'drogas do sertão', como o urucum, o guaraná, o cravo, o cacau, a castanha e alguns tipos de pimenta rendiam bons lucros no mercado internacional e foram alguns dos produtos monopolizados pela metrópole. À sua procura, milhares de pessoas internaram-se na floresta e os vilarejos foram surgindo às margens dos rios (LUI e MOLINA 2009).

O padrão iniciado pelos portugueses no século XVI foi um padrão que se manteve até a época da exploração da borracha pelos seringueiros n o século XIX e que se aprofundou com a instalação da Amazônia Legal, já em meados do século XX, quando houve uma ampliação das fronteiras capitalistas na região, com exploração da extração mineral em escala industrial e que começou em 1957 na Serra do Navio, no Amapá, onde havia sido descoberto manganês em 1945.

Segundo Marques (2012, p. 34) "essas reservas de manganês, mineral usado na indústria siderúrgica, foram exploradas pela mineradora Icomi, representante dos interesses da multinacional norte-americana Bethlehem Steel, até nos anos de 1990, quando deixou um dano ambiental e social de enorme proporções."

Assim o estabelecimento do conceito de Amazônia Legal no início dos anos de 1950 estava claramente marcado pela intenção capitalista de fazer da região um espaço geográfico integrado economia nacional e que pudesse ser além de um espaço produtivo de riquezas variadas, a exemplo dos minérios, ser também consumidor de produtos industriais do Sudeste brasileiro e da crescente indústria brasileira.

Dessa maneira desde os anos de 1950 já estava claro pelas leituras de caráter desenvolvimentista que a Amazônia Legal seria decisiva para o crescimento econômico do país e que o estabelecimento desse conceito legal mais do que um imperativo geográfico foi firmado com base em análises estruturais e conjunturais do governo brasileiro, que via que o Estado brasileiro teria uma papel estratégico na ocupação da região.

185 Ao buscar criar o conceito de Amazônia Legal, o governo federal buscou reunir na região os problemas econômicos, políticos e sociais idênticos, com o intuito de melhor fazer o planejamento estatal para o desenvolvimento econômico e social amazônico, de forma a potencializar as políticas públicas, a intervenção do Estado e a rentabilidade dos capitalistas dispostos a se instalarem na região.

É nesse espaço geográfico, portanto, que desde a década de 1950 está presente uma forte concepção política e econômica que vê a Amazônia, enquanto um espaço meramente econômico e de grande potencial de produção mineral, vegetal e animal e, portanto, privilegia uma abordagem de ocupação do espaço para acumulação capitalista. Essa concepção apesar de existir antes mesmo dos militares realizarem o golpe militar e ocuparem de forma truculenta o poder em 1964 e com eles elevando a quinta potência ao controle direto da região por parte do executivo federal, sem contestações, sem questionamentos e sem democracia.

Para os militares, desde que tomaram o poder político no Brasil com o golpe militar, a ocupação da Amazônia Legal passou a ser uma questão de segurança estratégica e supostamente de dinâmica de defesa dos interesses nacionais. Embora desde o golpe até os dias atuais a Amazônia tenha virado prioritariamente um espaço do grande capital e inclusive dos interesses externos. Vejamos onde se localiza os estados da Amazônia Legal no mapa:

Figura 12 - Mapa da Amazônia Legal/Fonte: IBGE 2011/ Elaboração: PHCM

Com os militares no poder, esse espaço geográfico passou a ser visto através de uma visão geopolítica de ampliação do controle territorial através de um desenvolvimento

186 econômico que pudesse criar condições de infraestrutura para facilitar qualquer necessidade de defesa militar, caso houvesse alguma intervenção "de inimigos externos ou internos".

Essa visão acabou sendo fundamental principalmente no que tange ao combate dos "inimigos internos", quando a partir do final da década de 1969 guerrilheiros comunistas do PCdoB tentaram criar focos insurrecionais de combate à ditadura no vale do Araguaia- Tocantins, mas foram energicamente trucidados pois pela geopolítica aquela era uma área estratégica de descobertas de jazidas minerais e uma das portas de entrada de capitais internacionais no país.

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