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A Degradação Social no Brasil como Consequência dos novos Rumos da Economia Nacional

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AGRONEGÓCIO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO A pedagogia dos aços golpeia no corpo

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA DO SÉCULO XX AO SÉCULO

1.22 A Degradação Social no Brasil como Consequência dos novos Rumos da Economia Nacional

Assim o Brasil é uma sociedade cada vez mais marcada por vários tipos de violência e que se desenvolvem a partir das formas de acumulação capitalista e por índices de mais- valia mais elevados que em muitos outros países. Isso interfere na dinâmica trabalhista de forma agressiva e totalmente sem controle, gerando uma espiral de degradação social cada vez mais ampliada. (PICOLI, 2006, p. 18)

Especificamente no campo brasileiro, homens, mulheres, crianças, jovens e idosos estão submetidos ao trabalho escravo, ou à exploração em grandes propriedades do agronegócio, em cultivos de grãos, na agropecuária, no cultivo de erva-mate, fumo, em áreas

152 de reflorestamentos, em fruticultura, na produção do carvão para produção de ferro gusa (matéria-prima do aço) e em inúmeras outras atividades econômicas, numa repetição de um círculo de exploração capitalista de baixos salários, miséria e falta de opção econômica e terra para milhões de pessoas.

Mas o crescimento da violência no Brasil não tem se caracterizado apenas pela violência econômica no mundo do trabalho, tem crescido no âmbito sexual, na violência contra a mulher, principalmente no ambiente doméstico, no agravamento das condições de saúde, na proliferação das drogas, na crescente mortalidade da juventude e na ampliação dos conflitos fundiários.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra, entre 2003 até 2010, os conflitos no campo aumentaram, envolvendo um crescente número de homicídios de camponeses em conflitos sociais agrários. Conforme os Relatórios de Conflitos no Campo Brasil da CPT indicam que desde 2003 até 2010 houve 6.724 conflitos de terra no Brasil, dentro dos quais houve 301 assassinatos.

Esse aumento exponencial da violência, que além de assassinatos também registra o aumento no número de tentativas de assassinato, que passaram de 44 em 2008 para 62 no ano de 2009, e nas ameaças de morte, que cresceram mais de 50%, saltando de 90 para 143, no mesmo período de 2008 para 2009.

Mas o que vem deixando os coordenadores da Comissão Pastoral mais alarmados é o número de pessoas torturadas: 6 em 2008 e 71 em 2009, sem contar o aumento do número de famílias despejadas, que cresceu 36,5%, de 9.077 para 12.388 também no mesmo período. Também elevou-se o número de casas e de roças destruídas, 163% e 233% respectivamente entre 2008 e 2009.26

Como se pode verificar, o cenário de violência no campo brasileiro faz emergir um quadro de degradação, violações de direitos humanos. Esse cenário, como veremos, não acontece por acaso; é fruto direto do modelo econômico globalizante que as elites econômica e política do país têm trilhado, mantendo os mesmos padrões de dominação social e econômico de momentos históricos anteriores, porém aprofundando determinados padrões e práticas espoliativas.

A pobreza, as péssimas condições de vida e a busca pela sobrevivência das famílias de baixa renda de um lado e, de outro, o desejo de manter alta lucratividade, acumular capitais e ampliar nossa condição de produtor de gêneros primários, vêm concentrando ainda mais o

153 poder econômico, gerando confrontos, conflitos, trabalho escravo, mortes, opressão e vítimas no campo, principalmente, na região Norte e Centro-Oeste, na área de fronteira do capitalismo brasileiro.

O Brasil tem uma das maiores taxas de homicídio por arma de fogo do planeta (temos 3% da população mundial e ostentamos 13% dos homicídios registrados anualmente no mundo), mas além disso, tem também os mais altos índices de violência urbana (violências praticadas nas ruas, como assaltos, sequestros, extermínios, etc.) - violência doméstica (a cada cinco minutos uma mulher é espancada no lar) - violência contra os idosos, as crianças, os homossexuais e os negros.27

É como se o país estivesse em uma guerra civil não declarada e nesta guerra morrem a cada ano no campo e nas cidades, se somados os vários tipos de violência, cerca 150.000 pessoas, evidenciando que o país está cindido por um profundo apartheid social que atinge cerca de 90 milhões de pessoas. Essa é a parcela pobre, majoritariamente negra e excluída do bem estar social que além de viver segregada, vive em permanente estado de terror e tensão, seja pela ação violenta do próprio Estado, que não ampara, não inclui e reprime, ou pela barbárie da criminalidade de massas.28

Fazer uma reflexão sobre essa violência e genocídio no Brasil é compreender que isso é fruto direto de uma geopolítica arquitetada pelas classes dominantes para facilitar seu domínio do território brasileiro, impor relações políticas antidemocráticas e uma economia abertamente globalizada, comprometida com os interesses do grande capital e o crescimento econômico.

A grilagem do espaço urbano e rural, e sua modelagem em propriedade particulares pelos grupos dominantes são um sistema de controle e ocupação territorial ao molde nazista. Por isso mesmo, a repressão e violência étnica e outras práticas violentas contra os trabalhadores no campo e nas cidades só evidenciam a impossibilidade de uma convivência democrática entre as diversas classes sociais do Brasil, demonstrando que o capitalismo é um modo de produção de exploração, logo de violência e injustiça social.

A violência do cotidiano das populações nas cidades e no campo não é verdadeiramente uma das preocupações centrais da minoria que tem poder econômico e político da sociedade. Diante da amplitude desse problema, precisa-se compreender que reformas democratizantes na sociedade são fundamentais para ampliar a qualidade de vida da

27 MIR, Luís, Guerra Civil – Estado e Trauma, pp. 851-869, Geração Editorial, SP, 2004. 28 Op. Cit., MIR, Luís, pp. 851-869.

154 população, mas não resolverão as principais causas da violência no Brasil, que têm profundas ligações estruturais com o tipo de economia que foi construída no Brasil.

A injustiça social, a desigualdade, a exclusão e o apartheid social só poderão ser de fato revertidos se houver uma profunda mudança no modo de produção vigente, algo que não está no horizonte político da classe operária e dos trabalhadores atualmente, pois a maioria de suas organizações políticas se encontram cooptadas, desarticuladas e incapazes de fazer a luta de classes. Algumas nem sequer se percebem enquanto representação classista.

Toda essa violência que mata e que destrói é um sintoma social, provocado diretamente pelas características do capitalismo globalizante no Brasil, que impõe a desigualdade e a redefinição do papel do Estado, que gera o desrespeito ao cidadão, o abandono social, a ineficiência das políticas públicas e a falta de planejamento estratégico para os rumos do país.

Somente no dia em que isso for realmente atacado e compreendido pela sociedade numa perspectiva de construção de um novo sistema econômico, político e social, poremos fim à violência que toma conta do país como um câncer. Mas essa não será uma tarefa de uma geração, pois o Estado brasileiro já demonstrou que se não é imune às mudanças, tem uma capacidade gigantesca de impedir que de fato haja mudança nas suas estruturas mais profundas.

1.23 O Modelo Econômico do Estado Brasileiro Privilegia o Agronegócio e Gera um

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