• Nenhum resultado encontrado

O Avanço do Agronegócio e a Modernização Conservadora da Economia Brasileira

No documento Download/Open (páginas 102-117)

AGRONEGÓCIO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO A pedagogia dos aços golpeia no corpo

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA DO SÉCULO XX AO SÉCULO

1.13 O Avanço do Agronegócio e a Modernização Conservadora da Economia Brasileira

Ao buscamos avançar o entendimento do agronegócio no Brasil e a questão da modernização conservadora da economia brasileira devido à territorialização do processo expansionista do capital no campo brasileiro, voltado basicamente para produção

O conceito de agronegócio ou agribusiness foi inicialmente proposto por Davis e Goldberg em 1957 como a junção das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, processamentos e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir dos mesmos. Então, de acordo com o conceito de agronegócio, a agricultura passa a ser abordada de maneira associada aos outros agentes responsáveis por todas as atividades, que garantem a transformação, produção, distribuição e consumo de alimentos. Logo, a agricultura passa a ser considerada como parte de uma extensa rede de agentes econômicos.

Em síntese, o agronegócio é a nova denominação do formato do capital agroindustrial processador no século XXI, uma vez que esse modelo não é novo e sua origem está nas grandes fazendas de café, depois de cana, afinadas na herança da sesmarias, do latifúndio e da

plantation20, onde as grandes propriedades e/ou extensões de terra são a referência da produção

para a exportação (THOMAZ JÚNIOR, 2009).

O agronegócio21 foi construído para renovar o modelo da agricultura capitalista, ou seja, para "modernizá-la" ou “industrializá-la”. Com a tentativa de ocultar o caráter

20 Plantation: é um tipo de sistema agrícola baseado na monocultura de exportação mediante a utilização de extensas áreas,

ou grandes latifúndios, e, também, na sua maioria com a presença da mão-de-obra escrava ou assalariada. Foi bastante utilizado no período de colonização principalmente no cultivo de gêneros tropicais, como no caso do Brasil, os cultivos de café e cana-de-açúcar.

21

Para desenvolver ainda mais o seu caráter concentrador de terras e capitais, o agronegócio utiliza-se de algumas estratégias que são: valorização de terras, sua própria internacionalização, transferência de renda da sociedade para os

103 concentrador, predador e excludente do mesmo para dar relevância somente ao caráter produtivista, destacando o aumento da produção, da riqueza e das novas tecnologias. Dessa forma suas ações estabelecem uma lógica perversa que provocam uma série de impactos negativos, como a degradação ambiental; a expulsão das famílias de pequenos agricultores de seus territórios tradicionais; a instabilidade na soberania alimentar; o atraso na demarcação de terras indígenas, entre outros.

Especificamente no Brasil o agronegócio e seus grandes complexos agroindustriais começaram a penetrar no campo brasileiro, ainda nos anos de 1960, e aliados ao Estado foram forçando a modernização conservadora da agricultura, inclusive impondo novas relações de trabalho e rearticulando outras até então com baixo uso, como o trabalho escravo.

Do ponto de vista do modo de produção capitalista o mais significativo foi a expansão do trabalho assalariado, que enquadrou um vasto contingente de mão-de-obra ao processo de produção e gerou uma crescente expropriação e desenraizamento do homem do campo e suas formas tradicionais de existir.

Muitos desses agricultores expropriados foram virando assalariados permanentes ou temporários, deslocaram-se para as cidades ou ainda penetraram mais fundo nas últimas fronteiras do país, chegando efetivamente às fronteiras físicas e até mesmo a territórios de outros países vizinhos, como foi o caso de vários pequenos agricultores no Paraguai, chamados de Brasiguaios.

Com o avanço do agronegócio no campo brasileiro e sua imposição de uma modernização conservadora, a mão-de-obra vem sendo cada vez mais desenraizada, expropriada e injustiçada. É esse o combustível que vem alimentando a violência no campo e nas cidades do Brasil desde a época do regime militar.

Esse ciclo de violência e brutalidade imposto pelo capitalismo periférico brasileiro é mais um dos centenários ciclos de violência que se repetem em diversos níveis por todo o país, tendo quase sempre o Estado como aliado dos grandes latifundiários, do grande capital e parceiro da acumulação capitalista em todo território nacional, mas com especial zelo nas regiões de fronteira.

A esse respeito Erthal (2006) faz o seguinte comentário:

agricultores, ganho de imagem da agricultura, queda na resistência aos produtos transgênicos, problemas graves na oferta de fertilizantes, problemas na oferta de alguns defensivos, máquinas, colhedoras e equipamentos industriais, aceleração na profissionalização do agronegócio, dentre outras (NEVES e CONEJERO, 2007, pp. 32-42).

104 Visando facilitar o processo de acumulação, o Estado Brasileiro vai atuar no sentido de garantir a baixa remuneração salarial (um dos menores salários mínimos do mundo) e controlar movimentos reivindicatórios dos trabalhadores, via legislação trabalhista e repressão aberta às lideranças sindicais. O arrocho salarial deprimiu a renda da classe trabalhadora (urbana e rural) e, logicamente, fez diminuir o seu, já débil poder aquisitivo, comprometendo o crescimento do mercado interno e, deste modo, prejudicando os pequenos produtores integrados a esse mercado. Finalmente, o Estado, com objetivos de - a) ampliar a produção agrária e, com ela, a consolidação dos CAIs [complexos agroindustriais], b) garantir a soberania nacional sobre áreas pouco habitadas, principalmente de fronteiras, - elabora um conjunto de instrumentos, como incentivos fiscais para a ocupação de vastas zonas do interior, sob o lema “integrar para não entregar”. Neste sentido, criaram-se ou modernizaram- se instituições oficias, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), a fim de planejar e executar políticas de desenvolvimento setorial e regional.(ERTHAL, 2006, p.34)

Dessa forma, Erthal (2006) faz uma vigorosa análise do papel do Estado brasileiro no sentido de assegurar a acumulação capitalista, usando inclusive instrumentos legais para controlar o movimento sindical e a ação dos sindicalistas, sem descartar a intensa ação da ditadura militar realizada na Amazônia.

A ação que a ditadura passou a desenvolver na Amazônia em termos de políticas de desenvolvimento regional e estímulo de ocupação territorial como suposta medida de "integração", na verdade deveria ser chamada de entregação nacional, pois foi a partir desse período que o capital externo e os interesses capitalistas que passaram a fazer da Amazônia sua fronteira final.

A intervenção contemporânea no espaço amazônico, demonstra que ela constitui-se na maior experiência de ocupação territorial, num curto lapso de tempo, do mundo, e vem gerando através de um modelo de exploração econômica altamente predatório diversos problemas de ordem social e ambiental.

Dentre esses problemas estão a ampliação da produção agrária que o próprio Estado brasileiro vem permitindo e estimulando através da consolidação dos complexos agroindustriais sobre diversas áreas da Amazônia.

Erthal (2006) afirma:

A estrada de rodagem Belém-Brasília constitui-se num marco inicial desta nova visão. Barragens surgem em pontos diversos da bacia hidrográfica amazônica. Glebas imensas de terra são vendidas a preço baixíssimo para grupos nacionais e internacionais que passaram a explorar as vastíssimas potencialidades naturais desta fronteira de recursos. Houve uma verdadeira corrida do tipo “far west” americano, mas numa escala espacial bem maior e num espaço temporal bem menor. Tradicionais atores (posseiros, grileiros, madeireiros, garimpeiros, seringueiros), ao

105 lado de modernas empresas (pecuaristas, madeireiras, mineradoras, agrícolas) disputam, entre si, e com os nativos a posse da terra. (ERTHAL, 2006, p.35)

Toda essa situação de verdadeiro “farwest”, como bem define Erthal (2006) é que tem feito da Amazônia, em meio século de expansão das fronteiras capitalistas, o espaço privilegiado da escravidão, da superexploração da força de trabalho e da vitimização das populações mais pobres as políticas do grande capital.

No entanto essa situação vem se agravando ainda mais desde finais dos anos de 1980 com a redução dos instrumentos de políticas governamentais, a desestruturação e sucateamento dos serviços públicos principalmente os de assistência à saúde, educação, segurança pública, infraestrutura, de pesquisa científica, de financiamento e de formação profissional.

A subordinação aos interesses externos vem fazendo com que o Estado brasileiro prescinda da política de reforma agrária, ao lado de um aumento da concentração fundiária, principalmente nas regiões de fronteira agrícola, como nos Estados do Pará, Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Mato Grosso, justamente onde ocorrem os piores e mais graves índices de trabalho escravo.

Esse avanço do agronegócio na região Amazônica tem gerado uma discussão sobre as características da ocupação territorial da fronteira, seu modelo de povoamento e o processo de destruição ambiental. A esse respeito Erthal (2006) também argumenta:

Hoje, há toda uma discussão sobre o significado de fronteira. Becker (1996), por exemplo, passa a entender a fronteira como uma categoria geográfica, dando uma valiosa contribuição ao tema. Caracteriza a fronteira amazônica como heterogênea e já nascida urbana, sendo que a intensa urbanização registrada passou a ser principal estratégia de ocupação do território. Enfim, a intervenção moderna, principalmente do espaço amazônico, sem dúvida, constitui-se na maior experiência de ocupação territorial do mundo, num curto lapso de tempo. Os resultados desse modelo de povoamento podem ser vistos, de forma imediata, não se necessitando do cauteloso distanciamento histórico, para serem aquilatados. Por outro lado, observa-se uma ocupação, genericamente, predatória, onde as riquezas são mais extraídas/destruídas do que construtivas. Está se “reeditando” o ciclo das “drogas do sertão”, agora capitaneada por atores modernos muito mais tecnificados e, como no passado, voltados aos interesses extra-regionais. Como resultado deste processo, produzem-se paisagens bastante diversificadas, porém, com um traço em comum que são os problemas socioambientais. (ERTHAL, 2006, p.36)

Assim pode-se perceber que a expansão do agronegócio ou "agrobusiness", como preferem seus investidores, vem impondo ao Brasil desde a década de 1960 condições

106 econômicas que comprometem as condições de vida do homem do campo, faz avançar as fronteiras agrícolas do país com alto custo social, econômico e ambiental.

O capitalismo no seu processo de desenvolvimento econômico estabelece uma dinâmica que concentra e centraliza a propriedade privada. Dessa forma no Brasil, a luta pela propriedade da terra por parte, principalmente, dos pequenos produtores que foram e são violentamente expropriados dos meios de produção, a luta pela ampliação do mercado interno e pelo estabelecimento de um modelo de produção agrícola que traga segurança alimentar, constitui-se numa política quase que revolucionária, uma vez que aqui o capitalismo sempre foi altamente concentrador em todos os sentidos.

Mas nesse contexto, ao contrário do que ocorreu em território norte-americano ou europeu, o avanço das relações capitalistas no campo, que vem ocorrendo por fatores exógenos que em escala planetária vem provocando uma série de desafios de natureza econômica, social, política, técnica, social, espacial entre outras, quase sempre ligados à lógica, aos objetivos e às estratégias do grande capital financeiro externo.

Erthal (2006) referindo-se à modernização recente da agricultura brasileira (década de 1980) afirma que essa modernização encontra-se presente em quase todos os setores e não só naquelas plantagens voltadas ao mercado externo. O mercado interno também auxilia no processo de dinamização e consolidação dos complexos agroindustriais.

Foi essa modernização que propiciou no decorrer dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, com explícito apoio do Estado, a elaboração de distintas políticas setoriais não só visando mitigar os efeitos perversos da crise econômica daqueles anos que afetavam o Brasil, como dinamizou a economia nacional frente às transformações que se operavam no mercado mundial.

Marine apud Erthal (2006) distinguiu na década de 1980 duas fases: 1980-84 e 1985- 89, assim por ele definidas:

A primeira fase caracteriza-se por uma crise de estagnação econômica, que atinge tanto o setor industrial como o agrário. No entanto, esta crise encontrou a agricultura com uma estrutura produtiva já consolidada em termos técnicos, amortecendo suas sequelas negativas. Na segunda fase a atividade rural perde o seu tratamento preferencial junto ao sistema financeiro. O crédito subsidiado e com taxa de juros negativas, que era concedido de modo genérico, perde o seu ímpeto e dá a vez ao dirigido. Ao lado desta nova atitude creditícia, o Estado implementa política de subsídios, de câmbios e de preços mínimos aos setores ligados à cana-de-açúcar (Programa do Proálcool), soja, trigo, cacau, algodão e laranja. Culturas essas, principalmente a da soja, que serão a grande responsável pelo alargamento das fronteiras agrícolas brasileira, sobretudo na região Centro-Oeste e, também, vai expandir-se na região Sul e Norte.( MARINE apud ERTHAL, 2006, pp. 9-10)

107 Verifica-se que para Marine apud Erthal (2006) a economia rural modernizada propiciou um certo amortecimento das sequelas mais negativas da crise de estagnação econômica que o Brasil vivenciava nos primeiros anos da década de 1980, obtendo relativo crescimento a partir da segunda metade da mesma década com o avanço do agronegócio ligado a culturas de exportação como soja, laranja, algodão, que empurraram as fronteiras agrícolas do país, ajudando a situação econômica interna.

A agricultura brasileira, nesse período, apesar de vivenciar uma conjuntura externa bastante desfavorável, começa uma forte recuperação, inclusive conseguindo colher duas supersafras (1985-86), indicando uma melhoria do setor num momento em que a esfera industrial se encontrava, ainda, mergulhada numa crise recessiva, sem precedente, em busca de novos padrões tecnológicos, fato que veio agravar o debilitado mercado de trabalho, gerando elevados índices de desemprego no setor.

Então foi nesse momento que o agronegócio passou a ser visto como o elemento central da possibilidade de recuperação dos saldos negativos da balança comercial de exportações do país, havendo todo um processo de favorecimento e condições para que essa atividade assumisse um maior peso na economia nacional e atendesse inclusive o próprio receituário do Consenso de Washington e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Nesse período abriu-se o mercado brasileiro, que até então mantinha algumas restrições econômicas em favor das indústrias nacionais, objetivando, em tese, estabelecer a concorrência, a elevação do padrão de qualidade dos produtos e serviços a preços baixos. Mas o que se viu foi o fim da indústria nacional em diversos setores, a elevação das tarifas públicas de água, energia, telefone e sobretudo em alguns setores da produção agrícola como grãos, que passaram a ter a presença de grandes multinacionais do setor.

As empresas multinacionais, algumas já atuando no país há décadas passaram principalmente desde o final dos anos de 1980 a agir com mais desenvoltura, assim como outras tantas foram chegando em grande número e passaram a operar, tanto na indústria de base, quanto na de processamento, em forma de mono ou oligopólios. O Estado também continuou facilitando a aquisição de terras, principalmente nas áreas de fronteiras.

É nesse contexto que segundo Erthal (2006):

A “territorização do capital”, acentua a concentração fundiária. Com o aumento do valor da terra, a pequena produção fica fragilizada frente às pressões do capital e, assim, muitos dos seus agricultores foram obrigados a abdicar de suas terras. [...]

108 Uma outra parcela deles transforma-se em assalariados permanentes ou temporários nas empresas modernizadas. Uma percentagem das pequenas propriedades familiares consegue se capitalizar e penetrar no circuito da agroindústria, integrando-se aos Complexos Agro Industriais, mas em compensação, perde grande parte de sua independência [...] O Estado também tratou de viabilizar e estender a área cultivada através de vendas de terras da União, financiada a preço muito baixo, principalmente, às empresas modernas e aos latifundiários, alargando, inclusive, a fronteira agrária interna, nas áreas de cerrado e floresta equatorial. (ERTHAL, 2006, pp. 30-32)

Erthal (2006) ao falar sobre a "territorização do capital" demonstra então que esse é um processo que acentua a concentração de terra no país, gerando a destruição da pequena produção agrícola, forçando a pressão do capital sobre a agricultura familiar para que muitos desses agricultores se transformem em assalariados ou se integrem aos complexos agroindustriais de forma totalmente dependente e com pouca margem de negociação em termos de preços e produtos.

No caso da expansão de algumas culturas, como a soja por exemplo, ela acaba forçando o êxodo rural pela impossibilidade de o pequeno produtor produzir em escala (já que tem pouca terra e frequentemente é descapitalizado), usar agrotóxicos em grande quantidades, transportar, exportar e ter acesso aos financiamentos necessários.

O resultado é que a soja hoje é o carro chefe do agronegócio e vem alargando as fronteiras agrícolas do país, com sérios danos sociais aos grupos humanos tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos), à agricultura familiar e aos ecossistemas como o cerrado e a floresta amazônica, além de um avanço das grandes empresas globais da área agrícola, que monopolizam a venda de sementes, insumos, comércio de grãos, produção e formas de trabalho.

A respeito da expansão da cultura da soja, Erthal (2006) também afirma:

Em termos de expansão de culturas, a soja enfatiza o papel da produção de gêneros não tropicais e a expansão brasileira não se deu fundamentalmente na base de produtos tropicais, dos quais os países periféricos ainda são os maiores produtores, mas em termo de produtos com os quais os países desenvolvidos são importantes concorrentes. Enquanto o setor agroindustrial, ligado à exportação, recebe todos os tipos de incentivos, a produção voltada ao mercado interno tem controle em termos de tabelamento de preços. (ERTHAL, 2006, p.33)

Erthal (2006) demonstra assim que o agronegócio brasileiro passa a contar com o complexo da soja para exportação como um de seus principais dínamos para alcançar bons resultados na balança comercial e para isso o governo brasileiro passa a propiciar diversos

109 tipos de apoio para elevação da produção e capacidade de inserção no mercado externo com mais capacidade de competitividade.

Para isso, os sucessivos governos federais passaram a incentivar o crescimento da área plantada com soja não só na região Sul, tida como a mais tradicional para o Brasil, como também na região Norte/Nordeste, que vem aumentando sua participação, e na região Centro- Oeste, a qual apresenta a maior produtividade do grão.

A produção da soja no Brasil ganhou expressão a partir dos anos 1990, quando esse grão passou a ter grande relevância para o agronegócio, verificando o aumento das áreas cultivadas e, principalmente, pelo incremento da produtividade pela utilização de novas tecnologias. Mas a soja não tem expressão apenas em mercados externos.

Internamente o complexo da soja compreende uma cadeia produtiva que envolve a transformação do produto voltado para a indústria esmagadora que processa a soja em farelo ou óleo também para consumo interno. Sendo que foram esses subprodutos que fizeram a partir dos anos 1990, a cultura da soja tornar-se um produto essencial para o alcance do crescimento das divisas da exportação e o Brasil se firma no mundo como um dos principais produtores da soja.

Para viabilizar os grandes complexos produtores de soja na região da Amazônia Legal, tem sido viabilizada a incorporação acelerada de imensas extensões de terras para a instalação de obras de infraestrutura e grandes empreendimentos produtores de grãos que estão causando e ainda causarão diversos conflitos entre os povos e comunidades tradicionais, além de um amplo processo de destruição ambiental, com graves consequências para toda a socieadade brasileira. .

Mas a soja é apenas parte do problema para os trabalhadores rurais e comunidades tradicionais pois, esses grupos sociais vêm sistematicamente sendo agredidos, pela expansão do Brasil como grande produtor de commodities agrícolas e minerais. Para viabilizar a condição de grande exportador dessas commodities as terras camponesas são usurpadas, as populações sistematicamente espoliadas e a natureza impactada, sem se medir as consequências imediatas e futuras.

Os interesses capitalistas, ao transbordarem para o bioma Amazônico, não respeitando os recursos naturais e tão pouco as comunidades tradicionais, que sempre viveram numa estreita relação de dependência dos biomas locais, estão gerando uma situação de intensa exclusão de agricultores familiares dessa condição, contribuindo para o inchamento das cidades e um aumento da violência nas pequenas e grandes cidades da Amazônia-Legal, o que só agrava a implementação das políticas públicas e piora a qualidade de vida.

110 Ao venderem suas pequenas propriedades, muitos desses produtores também tendem a se dirigir para as pequenas e médias cidades da Amazônia Legal, onde acabam engrossando os índices sociais negativos. Muitos desses ex-agricultores e seus familiares terão problemas de moradia, nutricionais, de acesso a políticas públicas de saúde, educação, transporte e outras dificuldades inerentes a quem vive nas periferias das cidades, sem renda fixa, sem trabalho e seguridade social.

Essa dinâmica não é nova no Brasil ou na Amazônia Legal, mas particularmente nas últimas duas décadas vem ganhando uma grande projeção, principalmente porque nosso modelo econômico tem feito do agronegócio e da produção de produtos primários a “solução” para a balança comercial brasileira e a garantia da inserção na economia global às custas à custa do empobrecimento e exclusão de milhões de trabalhadores e pequenos proprietários.

No documento Download/Open (páginas 102-117)

Outline

Documentos relacionados