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As Transformações Impostas pela Globalização Nas Últimas Décadas

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AGRONEGÓCIO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO A pedagogia dos aços golpeia no corpo

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA DO SÉCULO XX AO SÉCULO

1.21 As Transformações Impostas pela Globalização Nas Últimas Décadas

Nas últimas três décadas o equilíbrio da balança de pagamentos dos países latino- americanos passou a ser considerado como indispensável para a integração dos países da região ao processo de globalização econômica e a rearticulação da sua condição de exportadores primários para os países centrais da economia capitalista.

Assim além de exportarem basicamente matérias primas, transformam-se cada vez mais em fiéis exportadores da renda nacional para saldar dívidas contraídas com o sacrifício das populações locais e que não significaram a melhorias das condições de vida. Assim cada vez mais a América Latina se insere na globalização como um quintal dos interesses imperialistas, completamente subordinada e praticamente sem capacidade de proteger-se da ação e interesses do grande capital.

Ianni (1993) no início dos anos noventa já fazia um alerta que ainda hoje é muito atual:

As características da marcha da globalização incluem a internacionalização da produção, a globalização das finanças e do comércio, a mudança da divisão internacional do trabalho, o vasto movimento migratório do Sul para o Norte e a competição ambiental que acelera esses processos. Elas incluem também mudanças na natureza dos Estados e nos sistemas de Estados. Os Estados estão sendo internacionalizados em suas estruturas internas e funções. Por toda parte o papel dos Estados era concebidos como o de um aparato protetor das economias nacionais, em face das forças externas perturbadoras, de modo a garantir adequados níveis de emprego e bem-estar nacionais. A prioridade modificou-se, no sentido de adaptar as economias nacionais às exigências da economia mundial. O Estado está se tornando uma correia de transmissão da economia mundial à economia nacional.(IANNI, 1993, pp. 23-24)

O sociólogo Ianni (1993) já percebia praticamente no início dos anos de 1990 que a globalização representava cada vez mais para as economias nacionais, principalmente dos países que implementavam um modelo de desenvolvmento desigual e combinado, um processo impregnado de novas formas produtivas, de finanças e comércio cada vez mais interligados a economia global, cada vez com mais fragilidades sociais e destruição dos papéis dos Estados nacionais.

Nesse sentido, esses países periféricos têm que assumir dentro da "nova" divisão internacional do trabalho a condição de produtores primários, o que determina graves problemas ambientais e sociais, e serem mercados consumidores de produtos industriais de

144 tecnologia avançada produzidas pelas indústrias de ponta dos países capitalistas desenvolvidos ou apenas "montados" em suas sucursais nos países periféricos.

Sem contar que nesse processo os países perderiam cada vez mais sua capacidade gerar empregos formais, bem-estar e proteção social, uma vez suas economias teriam que se adequar às vontades do mercado mundial e aos interesses das grandes potências econômicas, que exigem maiores liberdades de mercado e menos restrições trabalhistas.

Esse tipo de política foi sendo viabilizada ao longo dos anos de 1990 e da década de 2000, já do século XXI, através de uma grande mobilidade de capitais externos, tecnologia de multinacionais e quase completa dependência internacional ao modelo de política econômica privatista que só conseguiu gerar um drástico processo de desindustrialização em vários países, falta de apoio ao segmento de agricultura familiar, ampliação de exportação de produtos agrícolas, em detrimento de mercados internos, e diminuição dos preços internacionais dos principais produtos exportáveis.

Dessa forma o capitalismo globalizante e sua economia de mercado, onde vigora a lei das selvas e tem como característica fundamental as estruturas econômicas que tem o poder de moldar de maneira nova o papel dos Estados nacionais e as vidas do mundo inteiro. Só triunfa quando consegue impor uma "nova" divisão internacional do trabalho, quando consegue colocar diversos Estados nacional a seu serviço, quando a burguesia enquanto uma classe social planetária assume a hegemonia do poder político.

Arrighi (1996) deixa isso claro quando afirma:

[...] a concentração do poder nas mãos de determinados blocos de órgãos governamentais e empresariais é tão essencial para as reiteradas expansões materiais da economia mundial capitalista quanto a concorrência entre as estruturas políticas aproximadamente equivalentes. Como em regra geral, as grandes expansões materiais só ocorreram quando um novo bloco dominante acumulou poder mundial suficiente para ficar em condições não apenas de contornar a competição interestatal, ou erguer-se acima dela, mas também de mantê-la sob controle garantindo a cooperação e entre os Estados. O que impulsionou a prodigiosa expansão da economia mundial capitalista nos últimos cinquenta anos, em outras palavras, não foi a concorrência entre Estados como tal, mas essa concorrência aliada a uma concentração cada vez maior do poder capitalista no sistema mundial como um todo. (ARRIGHI, 1996, p. 13)

Dessa forma para Arrighi (1996) no processo de acumulação de capitais em escala mundial o capitalismo enquanto sistema econômico cria condições para que alguns blocos

145 governamentais e empresariais passem a controlar as fontes mais abundantes de excedentes de capital, bem como adquirem a capacidade organizacional necessária para promover, organizar e regular a nova fase de expansão do capital e o “novo processo de desenvolvimento” a partir da conformação de um grande mercado financeiro internacional, possibilitando a ampliação capitalista numa escala nunca antes vista no planeta.

Nesse contexto a burguesia logicamente não via e não vê nenhum problema com a condição de nossa economia como mero exportador de produtos primários, fornecedor de matérias primas e algumas poucas mercadorias industrializadas para o mercado mundial. Nesse sentido para estes o país tem mais é que aprofundar sua condição econômica, tendo inclusive o agronegócio como o carro chefe das mudanças em nossa pauta de exportações e alcance de divisas no exterior.

Assim vive-se hoje uma realidade que parecia impossível e inimaginável para a esquerda nacional há poucos anos atrás, o ressurgimento da escravidão em grandes proporções no Brasil e no mundo e um retrocesso no mundo do trabalho, caracterizado por uma precarização do labor, retirada de direitos históricos conquistados, informalização, terceirização e reestruturação produtiva.

Ao analisar o processo de constituição da economia globalizada e o processo de integração das economias nacionais a esse mercado mundializado, devemos perceber que ele reforça mais ainda as relações de produção desiguais, a superexploração e a precarização da força de trabalho, inclusive com o uso da mão de obra escrava.

Apesar de haver esse tipo de ocorrência em países de economia central é preciso perceber que o desenvolvimento dessas economias se dá em grande medida à custa do subdesenvolvimento de outras, gerando não só dependência, mas condições de vida marcada por profundas diferenças de renda e riqueza, marginalidade social e violência crescente. É exatamente isso que pode ser caracterizado como um desenvolvimento desigual e combinado e a situação que marca o contexto sócio-econômico do Brasil.

Segundo Marini (1992) as relações tradicionais do capitalismo são baseadas no controle do mercado por parte das nações hegemônicas e isto leva à transferência do excedente gerado nos países dependentes para os países dominantes, tanto na forma de lucros quanto na forma de juros, ocasionando a perda de controle dos dependentes sobre seus recursos,

Com o fenômeno da globalização a geração deste excedente se dá nos países periféricos fundamentalmente através da superexploração da força de trabalho e da combinação de diversos mecanismos de exploração que passam também pelo intercâmbio

146 comercial desigual, pela imposição de produção de produtos primários, pela impossibilidade de industrialização avançada e com o desenvolvimento criação de tecnologias próprias capazes de competir com os países centrais.

Marini (1992) resume bem o processo quando afirma:

O que parece claramente, pois, é que as nações desfavorecidas pelo intercâmbio desigual não buscam tanto corrigir o desequilíbrio entre os preços e o valor de suas mercadorias exportadas (o que implicaria um esforço redobrado para aumentar a capacidade produtiva do trabalho), se não bem compensar a perda do ingresso gerado pelo comércio internacional, através do recurso de uma maior exploração do trabalhador. (MARINI, 1992, p.37)

Conforme Marini (1992) então explicita que com essa dinâmica de acumulação de capital, o capitalismo dependente pode crescer, contornando sua restrição externa e usando a superexploração da força de trabalho como um diferencial para compensar os problemas gerados pela desigualdade do comércio internacional.

Isso, em tese, não coloca empecilhos para a acumulação interna de capital, nem vira um impedimento para a livre atuação dos interesses externos, que podem continuar agindo livremente, inclusive também usando as mesmas práticas de superexploração da força de trabalho, a exemplo do trabalho escravo, trabalho infantil, trabalho sem registro legal e garantias de direitos trabalhistas.

A precarização dos trabalhadores, o aumento da jornada de trabalho, viram assim uma condição para se conseguir incrementar os lucros, ter produtos mais baratos no mercado e aumentar a competição internacional com outros produtos e propiciar a burguesia a continuidade da acumulação de capitais. Mas quase sempre a inserção dos países dominados no mercado global se dá com a exportação de produtos com baixa agregação de valor e tecnologias convencionais, voltando-se a atenção prioritariamente para matérias primas de todos os tipos, produtos agrícolas e outros gêneros primários de interesse do mercado mundial, principalmente dos países centrais.

Nesse sentido, conforme Marini (1992) a condição de dependência é estrutural (própria da lógica de acumulação mundial) e tende a se aprofundar, justamente porque esses condicionantes são reforçados por essa própria lógica, mesmo não sendo esse processo isento de contradições e conflitos de interesse entre as classes dominantes internas e externas.

Isso porque a lógica de inserção no mercado mundial a partir de uma divisão internacional do trabalho que coloca os países não centrais do sistema como meros

147 fornecedores de produtos primários e/ou de baixa agregação de valor as vezes esbarra nos interesses da classe dominante dos países dominados e com os imperativos político- ideológicos do centro da economia mundial, como os apontados pelo Consenso de Washington.

A implementação de políticas macroeconômicas de caráter neoliberal de abertura externa, de desregulamentação dos mercados, de privatização, redução do papel do Estado e ampliação da iniciativa privada, representa um quadro de aprofundamento da dependência e principalmente de destruição de alguns setores econômicos locais com o aumento de importações.

Assim os poucos países que desenvolvem tecnologias próprias, bens de consumo e até serviços, como o Brasil, terão profundas dificuldades em continuar fazendo isso, principalmente na área de tecnologia de ponta, que possam concorrer com as economias centrais.

Dessa forma Marini (1992) outra vez faz um alerta fundamental:

O subdesenvolvimento não é uma etapa que precede o desenvolvimento, ele é um produto do desenvolvimento do capitalismo mundial; nesse sentido, ele corresponde a uma forma específica de capitalismo, que se apura em função do próprio desenvolvimento do capitalismo. (MARINI,1992, p. 88)

Assim do ponto de vista histórico, podemos perceber que desde a consolidação inicial do modo de produção capitalista, os países desenvolvidos vêm extraindo o excedente produzido na periferia através da expropriação e da acumulação que envolveram o uso da escravidão negra, indígena, a apropriação das terras e a produção de gêneros primários envolvidos em fluxos comerciais, dentro dos mecanismos de transferência de valor completamente desiguais.

Mais tarde, com a expansão do capital e já inclusive com a introdução do trabalho assalariado, a extração da mais-valia foi realizada não só pelo capital de origem nacional, mas reforçada pelos investimentos diretos estrangeiros e também pela desregulamentação interna e externa dos fluxos de capitais.

O capital vai para qualquer região ou setor econômico onde seja possível estabelecer o lucro e a acumulação capitalista. Assim ele costuma "atropelar" o que for ou se colocar como um impecilho para a sua livre atuação e para a sua acumulação, seja trabalhador, entidades públicas ou privadas.

148 Foi assim que ao longo da história governos locais e regimes políticos foram alterados com uso de força e intervenção militar, que violências absurdas foram cometidas contra setores populares e condicionantes restritivos foram sumariamente removidos para que o capital pudesse realizar seu intento primeiro que é se reproduzir, ampliar-se, gerar lucros e ter garantias de reprodução.

Em outras palavras, o capital para assegurar seus interesses, não é de forma alguma um sistema moral, que respeite a vida, a autonomia política, os princípios democráticos ou qualquer princípio que ameace seus interesses imediatos. Marx (1984) deixou isso bem claro quando afirmou:

Na história real, como se sabe, a conquista, a subjugação, o assassínio para roubar, em suma, a violência desempenham o principal papel. Na suave Economia Política reinou desde sempre o idílio. Desde o início, o direito e o "trabalho" têm sido os únicos meios de enriquecimento [...] Na realidade, os métodos da acumulação primitiva são tudo, menos idílicos. (MARX, 1984, p. 262)

A partir do raciocínio de Marx (1984) deduz-se que para ampliar sua lucratividade e seu espaço "vital" o capital, se preciso for, retoma a escravidão, o trabalho infantil, o tráfico de pessoas em níveis assustadores fazendo isso, sem dramas de consciência.

Pode-se dizer também, conforme a teoria marxista, que os países periféricos do sistema capitalista estão submetidos a uma estrutura condicionante de dependência que força uma forte saída estrutural de recursos financeiros e os levam a um recorrente problema de tutela externa das economias.

A única maneira da burguesia situada nos países dominados é continuar o seu processo de acumulação de capital é subordinar-se internacionalmente aos países centrais, manter o seu status de economia dependente e aumentar mais ainda a sua produção de excedente com a ampliação ao máximo da exploração, no menor gasto possível com força de trabalho (arrocho salarial) e elevação da taxa de mais-valia absoluta e relativa.

Assim, o uso de trabalho escravo, a precarização do trabalho e o desrespeito a qualquer legislação trabalhista passam a ser práticas que também asseguram às empresas locais e mundializadas uma maciça produção de valor, que é apropriado numa dinâmica capitalista que não é impedida de forma decisiva ou mortal, nem bloqueada pelos governos dos Estados nacionais dependentes.

Esses governos frequentemente reproduzem um Estado marcado pelos interesses totalmente burgueses, desenvolvendo as práticas da alta exploração da mão de obra, incapazes

149 de implementar políticas públicas com largo alcance social e que efetivamente penalizem as práticas criminais. Embora haja leis e algumas práticas de penalização dos crimes contra a vida e a superexploração da força- de- trabalho, isso não vira uma regra ampla e permanente, dependendo fortemente da luta de classes para que algumas leis sejam de fato implementadas.

Conforme Amaral e Carcanholo (2009) para que os países dominantes e centrais do capitalismo se desenvolvam há que haver os países periféricos, sem condição, ou impedidos de alcançarem a mesma condição que os países de economia central. Somente com um quadro de neocolonialismo, imperialismo e imposição de políticas econômicas, os países centrais terão matérias primas, mercados cativos e espaço geográfico de influência.

Ao se transformarem em periferias dependentes dos países de economia central os países dominandos geralmente têm que fazê-lo como um reflexo da expansão das próprias economias desenvolvidas. Nesse sentido qualquer crise econômica nos países dominantes são automaticamente sentidas nos países dominados demonstrando o grau de integração dependente da economia mundial, que estabelece não só relações de produção desiguais mas necessariamente uma vinculação sistêmica que dificulta enormemente a construção de governos de caráter popular e efetivamente vinculado aos trabalhadores.

A dominação dos países subdesenvolvidos obriga os países da periferia a produzirem aquilo que interessa às economias centrais, mas sempre marcado por instabilidades, variações de preços e competição sujeitas aos humores do mercado. Além disso, todo esse quadro força os países periféricos, no plano doméstico, a implementar uma violenta exploração da força de trabalho para compensar a forte saída estrutural de recursos econômicos.

Conforme Amaral e Carcanholo (2009):

A globalização ao garantir a dinâmica interna de acumulação de capital através da superexploração da força de trabalho também gera uma dinâmica de intercâmbio comercial desigual que não permite a superação do subdesenvolvimento pois não rompe com os mecanismos de transferência de valor, e isto implica necessariamente numa distribuição regressiva de renda e riqueza e fomenta todos os agravantes sociais já conhecidos deste processo. [...] A superexploração da força de trabalho, acaba sendo a característica estrutural demarcadora da condição dependente vivida pelos países da periferia em relação aos países do centro do capitalismo mundial, guarda relação evidente com a lei geral da acumulação capitalista de Marx, especialmente quando são tratadas a funcionalidade do exército industrial de reserva para a acumulação capitalista e, ao contrário e muito mais importante, sua “disfuncionalidade” no que diz respeito aos impactos perniciosos que provoca em relação à classe trabalhadora em geral. (AMARAL e CARCANHOLO, 2009, p. 217)

150 Dessa forma para Amaral e Carcanholo (2009) a dependência econômica deve ser entendida como uma relação de subordinação entre nações formalmente independentes, em cujo âmbito as relações de produção das nações subordinadas são modificadas ou recriadas para assegurar a reprodução de capitais e a própria dependência dos países periféricos.

O principal dilema dos países periféricos na globalização é exatamente a capacidade de modernização da produção. Isso porque a exigência do avanço tecnológico e a diminuição do valor socialmente necessário para a produção de uma unidade de mercadoria é cada vez maior, mas modernizar a produção significa aumentar os custos com capital preexistente e diminui o valor agregado às mercadorias em cada etapa da produção.

Por isso a produção agrícola e de gêneros primários fica tão atrativa, uma vez que os capitalistas têm que investir na produção, mas esse investimento é bem menor do que em diversos setores industriais e como há demanda no mercado internacional para as commodities há melhores possibilidades de realizar a produção (ou seja, vendê-la), mais capacidade de ampliar sua produção e de continuar competindo no mercado.

Então isso também força os países periféricos a produzirem cada vez mais com o uso do trabalho vivo no processo produtivo, mas contraditoriamente, quanto mais valor os países periféricos produzem, mais dificuldades têm de se apropriar dele, pois os países centrais apropriam-se desse valor por transferência de diversas maneiras (lucros, juros, patentes, royalties, deterioração dos termos de troca etc).

Isso ocasiona reorganização dos sistemas produtivos que passam a se orientar pelo aumento da competitividade e da exploração através da redução de custos de produção, mão de obra barata e relações de trabalho precarizadas, inclusive com ampliação do trabalho escravo como um instrumento de ampliação da lucratividade.

Tendo vista esse pressuposto, Amaral e Carcanholo (2009) afirmam:

A superexploração do trabalho, se dá em função da existência de mecanismos de transferência de valor entre as economias periférica e centra, levando a que a mais valia produzida na periferia seja apropriada e acumulada no centro. Configura-se, assim, uma espécie de “capitalismo incompleto” na periferia, justamente porque parte do excedente gerado nestes países é enviada para o centro na forma de lucros, juros, patentes, royalties, deterioração dos termos de troca, dentre outras, não sendo, portanto, realizada internamente. Então, os mecanismos de transferência de valor provocam, digamos assim, uma interrupção da acumulação interna de capital nos países dependentes que precisa ser completada e, para tanto, mais excedente precisa ser gerado. E esta expropriação de valor só pode ser compensada e incrementada no próprio plano da produção – justamente através da superexploração, do trabalho escravo– e não no nível das relações de mercado, por meio de desenvolvimento da capacidade produtiva. Em outras palavras, [...] a apropriação de mais valia de um capital por outro não pode ser compensada pela produção de mais valia mediante a

151 geração endógena de tecnologia [...] estabelecendo-se, de maneira irrevogável, a necessidade da superexploração do trabalho. (AMARAL e CARCANHOLO, 2009, p. 218)

É essa situação que compromete o respeito às legislações trabalhistas, abre as portas do país à pratica do trabalho escravo, criando entre as populações locais descapitalizadas e mais empobrecidas dinâmicas de exploração do trabalho que lembram o início do modo de produção capitalista na Europa, quando se tinham longas jornadas de trabalho e nenhuma proteção do trabalhador.

Desse modo, ao mesmo tempo que o mundo assiste uma grande reestruturação tecnológica, que amplia consideravelmente a produtividade e que redimensiona a utilização dos diversos fatores de produção, está também rearticulando diversas formas de exploração do

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