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O Trabalho Escravo Como Expressão do Desenvolvimento Desigual e Combinado

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AGRONEGÓCIO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO A pedagogia dos aços golpeia no corpo

1.2 O Trabalho Escravo Como Expressão do Desenvolvimento Desigual e Combinado

Na Amazônia-Legal prevalece uma realidade de desenvolvimento bastante desigual e que atinge as diferentes classes sociais, os diferentes ramos da economia, às diferentes instituições sociais e os setores da cultura com variações e múltiplos fatores históricos. Dessa forma podemos enquadrar o desenvolvimento amazônico na perspectiva da lei do

desenvolvimento desigual e combinando do capitalismo9, que busca compreender os

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A teoria do desenvolvimento desigual e combinado é uma formulação teórica originalmente formulada por Leon Trotsky, um dos líderes

da revolução russa de 1917, posteriormente aprimorada pelos teóricos marxistas Rosa de Luxemburgo e Ernst Mandel, que também buscaram refletir sobre o imperialismo e romper com a idéia do evolucionismo capitalista e sua ideologia do progresso linear e o eurocêntrico. Assim ao falar sobre o capital dos países centrais do modo de produção capitalista, “quintessência da obra histórica dos séculos”, nas palavras de Trotsky, deve-se perceber que ele, ao agir nos países periféricos do sistema, não pode repetir o itinerário anterior dos países desenvolvidos. Ele então “salta”, por assim dizer, as etapas intermediárias do seu crescimento “normal” e “orgânico”, com o uso

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múltiplos fatores que determinam o desenvolvimento e como as variações entre o que

podemos considerar fatores atrasados e modernos são conciliados para propiciar o avanço do sistema.

A lei do desenvolvimento desigual e combinado é uma lei científica da mais ampla aplicação no processo histórico. Tem um caráter dual ou, melhor dizendo, é uma fusão de duas leis intimamente relacionadas. O seu primeiro aspecto se refere às distintas proporções no crescimento da vida social. O segundo, à correlação concreta destes fatores desigualmente desenvolvidos no processo histórico.

Segundo Novack (1976), os aspectos fundamentais da teoria do desenvolvimento desigual e combinado análise podem ser brevemente exemplificados da seguinte maneira: o fato mais importante do progresso humano é o domínio do homem sobre as forças de produção. Todo avanço histórico se produz por um crescimento mais rápido ou mais lento das forças produtivas neste ou naquele segmento da sociedade, devido às diferenças nas condições naturais e nas conexões históricas.

Essas disparidades dão um caráter de expansão ou compressão a toda uma época histórica e conferem distintas proporções de desenvolvimento a distintos países, regiões e aos diferentes ramos da economia, às diferentes classes, instituições sociais e setores da cultura. Esta é a essência da lei do desenvolvimento desigual. Essas variações entre os múltiplos fatores da história dão a base para o surgimento de um fenômeno excepcional, no qual as características de uma etapa inferior de desenvolvimento social se misturam com as de outra, superior.

Essas formações combinadas; têm um caráter altamente contraditório e exibem acentuadas peculiaridades. Elas podem desviar-se muito das regras e efetuar tal oscilação de modo a produzir um salto qualitativo na evolução social e capacitar povos que eram atrasados a superar, durante certo tempo, os mais avançados. Esta é a essência da lei do desenvolvimento combinado. É óbvio que estas duas leis, estes dois aspectos de uma só lei, não atuam ao mesmo nível. A desigualdade do desenvolvimento precede qualquer combinação de fatores desproporcionalmente desenvolvidos. A segunda lei cresce sobre a

do pequeno ofício e a manufatura, e se manifesta imediatamente em sua figura mais moderna e avançada: a grande indústria. Todavia, utilizará todas as formas pré-capitalistas e pouco desenvolvidas para gerar a acumulação capitalista. Trotsky, ao compreender o fenômeno capitalista do desenvolvimento desigual e combinado, formulou uma importante contribuição teórica à teoria marxista e ao entendimento de um problema que não pode ser bem observado pelo próprio Marx, que escreveu antes do avanço da era imperialista e dos problemas diretamente ligados à expansão mundial do capital e não podia ter dado conta dessas características com toda clareza. Todavia mesmo assim, ainda podemos encontrar, em seus escritos, formulações significativas sobre como uma forma de produção dominante exerce a sua hegemonia sobre as outras. Esse é o caso, notadamente, de uma célebre passagem de Para a Crítica da Economia Política (1999) em que Marx afirma: "Em todas as formas de sociedade, é uma produção específica que determina todas as outras, são as relações engendradas por ela que atribuem a todas as outras o seu lugar e a sua importância. É uma luz universal onde são mergulhadas todas as outras cores e que as modifica no seio de sua particularidade. É um éter particular que determina o peso específico de toda a existência que aí se manifesta. (MARX, 1999, p.47).

33 primeira e depende desta. E, por sua vez, esta atua, sobre aquela, afetando-a no seu posterior funcionamento.

A existência da escravidão contemporânea dá uma excelente exemplo da dialética do desenvolvimento desigual e combinado. Do ponto de vista da história mundial, a escravidão é um anacronismo desde o seu nascimento. Como modo de produção pertence à infância da sociedade de classes e com o desenvolvimento das relações capitalistas em tese já deveria ter desaparecido do cenário econômico.

Contudo, a importância das demandas de matérias-primas, produtos primários e produtos agrícolas do mundo globalizado (como grãos, carne, biocombustíveis, minério de ferro etc), combinada com a alta concorrência do mercado mundial e a grande disposição de trabalhadores para levar a cabo as operações no mundo do trabalho, principalmente no meio agrícola, facilitam a implantação ou manutenção da escravidão.

Nesse sentido, a neo-escravidão no mundo contemporâneo cresce como um instrumento do capitalismo para propiciar a lucratividade e a acumulação de capitais. Dessa forma embora o trabalho escravo seja uma forma supostamente superada de trabalho há muito tempo, novamente como conseqüência das necessidades operativas do sistema capitalista surge como um instrumento de acumulação, que apesar de aspectos avançados em termos tecnológicos e produtivos, cria e recria diversas formas de exploração da força de trabalho.

Nesse sentido, a escravidão contemporânea no Brasil é portanto a expressão mais acabada do desenvolvimento desigual e combinado capitalista, que busca conciliar diferentes relações sociais e de produção, desde aquelas que usam o que há de mais avançado em termos de tecnologia até o próprio trabalho escravo. Assim tem-se no campo brasileiro desde a produção agrícola que usa colheitadeiras controladas por GPS (Global Positioning System), aviões agrícolas para pulverização e pivôs centrais controlados por computador, ao trabalho braçal precário e todas as outras formas de trabalho que não respeitam as leis trabalhistas ou dignidade do trabalhador.

No Brasil Oliveira (2007), nos auxilia na compreensão de que a característica primordial do modo de produção capitalista é a heterogeneidade (a qual justamente propicia a acumulação de capitais). Sendo assim, pode-se constatar dinâmicas diferentes nas diversas regiões do país dentro desse processo, onde cada local desempenharia papéis na divisão regional do trabalho e onde os estados que possuem melhor infra-estrutura, condições de transporte da produção e conexão (ou proximidade) com os mercados consumidores destacam-se nesse processo (OLIVEIRA, 2007).

Também conforme Oliveira (2006) o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo torna possível o fenômeno da assimetria entre o progresso e o atraso, entre o progresso material e o atraso social. Dessa maneira tem-se no campo brasileiro a convivência

34 do chamado agronegócio que favorece o grande produtor capitalizado, convivendo ao lado de pequenos agricultores descapitalizados, vivendo da subsistência, ou ainda de milhares de sem- terras, peões de trecho10 vivendo na mais absoluta miséria e exclusão social.

Segundo Oliveira (2006) se estudarmos com atenção, o modelo agroexportador que foi utilizado no período da Colônia e nos tempos contemporâneos, o uso do trabalhador escravizado ou assalariado altamente explorado, sempre foi conciliado com técnicas comerciais que favoreceram minorias sociais dos países desenvolvidos ou dos países produtores agrícolas, que sempre conseguiram suas vantagens comparativas com a falta de respeito com seus empregados e de controle por parte dos governos em relação à agressão que promovem ao meio ambiente, sem nenhuma responsabilidade com as gerações futuras.

Se no passado alguns ciclos econômicos como a cana-de-açúcar e o café gerou estragos sociais e ambientais, hoje a implantação de grãos, a exemplo da soja, vem fazendo nos biomas da natureza do cerrado e da Amazônia-Legal os mesmos estragos sociais, econômicos e ambientais já ocorridos, só que agora em uma proporção muito mais volumosa e complexa.

Martins (1975) é outro pensador brasileiro que ao estudar o fenômeno da assimetria entre progresso material e progresso social, afirma:

[...] no capitalismo, a produção é social, mas a apropriação dos resultados da produção é privada. Essa contradição fundamental anuncia o descompasso histórico entre o progresso material e o progresso social. A desigualdade do desenvolvimento se expressa nos desencontros que nos revelam diversidade e não uniformidade da mesma realidade econômica e social. (MARTINS, 1975, p.94)

Assim, sob o ponto de vista do fenômeno desigual da realidade econômica e das relações sociais, o avanço do agronegócio com sua suposta modernização, amplia as velhas estruturas de exploração que consideram homens, mulheres e crianças como meros suportes para o capital e portanto seu avanço está umbilicalmente ligado à superexploração, à precarização das relações de trabalho e ao trabalho escravo.

10Peões de Trecho: designação dada aqueles trabalhadores que saem de suas casas em busca de trabalho e que por não conseguirem

dinheiro suficiente para suprir as suas necessidades e as da família acabam não retornando para casa, ficando muitas vezes a mercê de todo tipo de trabalhos rurais, inclusive o trabalho escravo. Quando saem desses trabalhos se deslocam para as pensões das pequenas cidades onde ficam aguardando outro trabalho, em outra fazenda ou empreendimento agropecuário.

35 A compreensão do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo brasileiro, facilita a compreensão do grau de desenvolvimento de algumas regiões, como a Sul e Sudeste do país, que se destacaram como economias com relativo grau de industrialização e urbanização, enquanto outras, como a região Norte por exemplo, se inserem na divisão do trabalho enquanto mera produtora de matérias-primas e alimentos para o setor industrial do país.

Dentro dessa configuração é que emergem visões distintas em relação às economias regionais e seu papel no crescimento nacional, culminando em alguns casos numa visão estereotipada e até discriminatória de algumas regiões, como é o caso de muitos estados da Amazônia-Legal a exemplo do Pará, Tocantins e Mato-Grosso sempre vistos como sinônimo de atraso e onde a questão da expropriação do pequeno produtor, dos conflitos em torno da terra e a questão da escravidão contemporânea, demonstra a heterogeneidade do processo de expansão do capitalismo do qual a expansão da fronteira agrícola e o trabalho escravo faz parte.

Com base nessas colocações é que se destaca: esse processo de expansão e acumulação do capitalismo se dá de maneira diversificada e onde as disparidades são observadas também no processo de expansão da fronteira agrícola brasileira, uma vez que esta é uma etapa da acumulação capitalista.

É assim que nos marcos teóricos da teoria do desenvolvimento desigual e combinado o capitalismo deve ser visto como um modo de produção de exploração, que por isto cria classes sociais e a luta entre elas gera uma série de contradições insoluveis enquanto perdurar o sistema econômico baseado na acumulação e reprodução de capitais. Nessse sentido, a totalidade global do capitalismo continuará combinando variadas formas de exploração a exemplo do trabalho assalariado/trabalho escravo.

A exploração via mais-valia relativa (que se dá principalmente nas economias dominantes) e da mais-valia absoluta (que ocorre principalmente nas economias dominadas) vão propiciando ao capitalismo sua expansão destruidora em todo o planeta, mas no Brasil a existência de um processo de crescimento econômico desigual e combinado exige principalmente uma taxa de lucro baseada na exploração da mais-valia absoluta que combina a introdução de tecnologia no setor produtivo mas também o uso do trabalho escravo.

Nesse sentido, o trabalho escravo não é apenas o resultado direto das características do modo de produção capitalista periférico e dependente, mas também uma expressão econômica, uma característica social e cultural sobre o imenso espaço dos diversos estágios da civilização brasileira que em todo seu percurso existencial nunca conseguiu viver sem expressões de escravidão da força de trabalho, seja indígena, seja negro, seja mestiço ou branco. O lucro, a acumulação de capitais e o bem estar das minorias sempre esteve à frente de fatos e acontecimentos intoleravelmente marcantes e geradores da indigência social.

36 Nas práticas econômicas do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo a fronteira agrícola não se caracteriza apenas pela incorporação de novas áreas à produção, mas por uma intensificação do uso do solo (incorporação de tecnologia). Portanto, na prática econômica teremos sempre a frente de expansão caracterizada pela economia do excedente e a frente pioneira evidenciada por relações de produção efetivamente capitalistas.

Mas de acordo com Martins (1975) a presença de uma dessas frentes não significa necessariamente a ausência da outra, já que elas podem coincidir. Essa dinâmica foi observada diversas vezes na consolidação das frentes de expansão e pioneira do Brasil que ocorreram primeiro nas regiões Sul e Sudeste para somente nas décadas seguintes se estender às demais regiões brasileiras.

Segundo Martins (1996), os “vestígios arcaicos da formação econômica brasileira” não foram até hoje eliminados, nesse sentido ainda não foram resolvidas as contradições resultantes da questão da propriedade da terra no Brasil agrário, situação que nos coloca frequentemene diante de uma reprodução capitalista marcada desigualdade dos ritmos do desenvolvimento histórico que decorre do desencontro do homem produtor de sua própria história e, ao mesmo tempo, o divorcia dela.

Assim a formação dos ritmos desiguais é de origem econômica e social porque abrange simultaneamente esses dois âmbitos da práxis: a natureza (o econômico) e a sociedade (o social). Sendo assim, o olhar para uma realidade de desenvolvimento desigual e combinado é fundamental para interpretar que as forças produtivas e as relações sociais, juntamente com as superestruturas, vivem em ritmos diferentes.

Para Martins (1996) a lei da formação econômico social é a lei do desenvolvimento desigual:

“ela significa que as forças produtivas, as relações sociais, as superestruturas (políticas, culturais) não avançam igualmente, simultaneamente, no mesmo ritmo histórico. Mesmo aí, a lei do desenvolvimento desigual não pode ser interpretada na perspectiva economicista que reduziu a qualidade das contradições que integram e opõem diferentes sociedades à mera gradação de riqueza na dicotomia insuficiente de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Na verdade, “a lei do desenvolvimento desigual tem uma multiplicidade de sentidos e aplicações” (MARTINS, 1996, p.171).

Dessa forma, a perspectiva da implementação do desenvolvimento desigual e combinado das forças produtivas e das relações sociais, passam a entender que as superestruturas (política e cultural) contribuem para uma sociedade crescentemente domesticada a partir de processos verticais e complexos que acabam por influenciar as estruturas coletivas e individuais. Assim, os processos históricos através da lei do

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desenvolvimento desigual e combinado das sociedades transformam em lei os desenvolvimentos sacramentados para cada época, visto que cada época criam suas normas, as quais se perpetuam até serem superadas por outras diretrizes, tudo isso em prol do bom funcionamento de uma economia de mercado.

Nesses processos as artimanhas do capital ultrapassam as barreiras e fronteiras e são visíveis e invisíveis, tais como o colonialismo e o neocolonialismo, escravismo e a neoescravidão, a globalização econômica e o processo progressivo e regressivo que se instala nas sociedades e segundo José de Souza Martins (1996), nos auxilia no entendimento das contradições fundamentais do capitalismo e na compreensão de que as relações sociais não

são uniformes nem têm a mesma idade, portanto, numa relação dedescompasso e desencontro

elas coexistem (MARTINS, 1996).

Para Martins (1996) cada relação social tem sua idade e sua data, cada elemento da cultura material e espiritual também tem sua data. O que no primeiro momento parecia simultâneo e contemporâneo é descoberto agora como remanescente de uma época especifica. De modo que no vivido se faz de fato combinação prática de coisas, relações e concepções que são contemporâneas ou não. Para Martins (1996) "O desencontro das temporalidades dessas relações que faz de uma relação social em oposição a outra a indicação de que um possível esta adiante do real e realizado [...] são estes desencontros que dão sentido à práxis (MARTINS, 1996, p.22).

Assim com Martins (1996) verificamos que o capitalismo brasileiro aprendeu a combinar, na sua diversidade sociocultural e econômica, desde elementos da agricultura da roça-de-toco, da cultura de subsistência, da vida extremamente simples no meio rural, até as novas condições sociais da vida capitalista complexa, em que o operário deve ser especializado e qualificado para inserir-se na produção econômica ou não é participante ativo da vida urbana, do mercado de consumo, da produção cultural de massa e das transformações tecnológicas.

Na junção desses dois mundos diferentes com relações econômicas atrasadas e avançadas o capitalismo no Brasil continua se reproduzindo e acumulando desenfreadamente capitais, gerando seu desenvolvimento, sob novas condições históricas e sobre uma base social e econômica que possui muito de continuismo e condições inteiramente novas e em consonância com as mudanças sócio-econômicas impostas pela globalização da economia brasileira.

Os amargos sofrimentos da classe proletária, as privações econômicas, o trabalho escravo e a precarização do mundo do trabalho são para os capitalistas apenas alguns dos

38 mecanismos impostos pela burguesia que junto com as mais avançadas formas de produção, como o uso das maquinarias mais modernas, e colossais avanços tecnológicos, geram o crescimento econômico ao lado de uma prodigiosa decadência social

Ao mesmo tempo em que se tem um desenvolvimento relativamente amplo das forças produtivas, do processo cultural e industrial, temos ainda uma sociedade rural assentada sobre base de relações não capitalistas que ainda consegue usar métodos rudimentares e relações sociais de produção, como a carvoaria e a roça de toco, onde os agricultores completamente descapitalizados são obrigado a produzirem usando de ferramentas muito simples e sem nenhuma agregação de tecnologias.

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Figura 1 -Trabalhador flagrado em situação de escravidão em carvoaria. Fotografia de José Roberto Ripper/2009

Essas práticas agrícolas "arcaicas" estão simplesmente ao lado de outras mais desenvolvidas, numa espécie de coexistência congelada, mas que se articulam, se combinam, "se amalgamam" de forma fundamental para assegurar a reprodução capitalista, a extração da mais-valia, a acumulação de capitais e a contituidade do próprio sistema pois inúmeros agricultores terminam perdendo suas terras ou para mantê-las passam a se empregar nos

39 complexos agroindustriais, virando assalariados altamente explorados. No caso das carvoarias por exemplo, há jornadas de trabalho de mais de 15 horas.

A chegada da fronteira agrícola de uma região pode ser percebida também pelo uso de maquinário utilizado no preparo do solo para receber o denominado "pacote tecnológico" dos insumos (fertilizantes e agrotóxicos), irrigação, eletrificação, instalação de plantas industriais e grandes projetos econômicos estatais e/ou privados os quais somados acabam por definir a configuração das distintas regiões brasileiras, se mais ou menos desenvolvidas.

É nesse contexto que o capitalismo combina diversas formas de exploração e dessa forma o processo de desenvolvimento capitalista criado pela união das condições locais (atrasadas) com as condições gerais (avançadas) fomenta uma junção social cuja natureza não pode ser definida apenas pela busca de lugares comuns históricos, mas somente por meio de uma análise ampliada que busque compreender os vários elementos socioeconômicos envolvidos nesse processo.a

Compreender a combinação heterogênea dessas relações econômicas é justamente buscar contemplar a complexidade da fronteira e as relações engendradas pelo capitalismo brasileiro é fundamentalmente desvendar a combinação do uso de formas arcaicas de relações de trabalho, como a escravidão contemporânea, e as mais modernas e abstratas relações de uso do capital financeiro como principais vetores do crescimento econômico no país, chamado pelos capitalista de desenvolvimento.

Figura 2 - As Formas "Avançadas" de Produção Capitalista Presentes no Campo Brasileiro Complexo Agroindustrial da Cosan no Município de Jataí (Go). Foto: PHCM/2011

40 Figura 3 - As Formas Atrasadas e Não Capitalistas de Produção Presentes no Campo Brasileiro.

Plantio de mandioca em roça do toco no município de Peixe (To), Projeto de Assentamento Penha. Foto: PHCM/2011

É fundamental compreender portanto, que isso não é uma aberração sistêmica, não é um anacronismo do capitalismo, mas uma manifestação típica do capital para garantir sua reprodução e diferencial de concorrência na disputa por mercados e inserção na dinâmica do próprio sistema consegue conciliar diversas formas de exploração da força de trabalho.

Por ela, pode entender o alcance desta formulação e utilizá-la para compreender

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