• Nenhum resultado encontrado

Os Políticos Ruralistas e o Agronegócio Globalizante: a Aliança da Escravidão

No documento Download/Open (páginas 168-173)

RAIO X DO SETOR CANAVIEIRO DO BRASIL EM

1.26 Os Políticos Ruralistas e o Agronegócio Globalizante: a Aliança da Escravidão

No Brasil, o agronegócio globalizante conta além de seus instrumentos econômicos com uma poderosa bancada ruralista no Congresso Nacional para assegurar projetos de leis com seus interesses e barrar tudo aquilo que possa contrariar o avanço do capitalismo no campo. Assim no Congresso há um grupo destacado de políticos que atuam como verdadeiros lobistas de grandes empresas agroindustriais.

Atualmente no Congresso existem 594 parlamentares (81 senadores e 513 deputados federais), dessas cadeiras, mais da metade dos deputados e 53% senadores denominam-se ruralistas, mesmo representando uma minoria da população brasileira. Dessa forma há um desequílibrio de forças num cenário em que somente 16% do total da população brasileira é do meio rural, enquanto na Câmara, 268 deputados, ou seja 52,24% do total e 53% dos senadores, ou seja 43 senadores fazem parte da Frente Parlamentar da Agropecuária.39

Para o Censo Agropecuário IBGE/2006, os estabelecimentos rurais com mais de 100 hectares ocupam apenas 9,12% dos estabelecimentos rurais com mais de 100 hectares e juntos somam 473.817 estabelecimentos que, no entanto, ocupam 78,58% do total das áreas,40 como a totalidade dos parlamentares ruralistas são proprietários de propriedades acima de 100 hectares, o pequeno e micro-proprietários praticamente não estão representados no Congresso.

A totalidade dos parlamentantares da Frente Parlamentar da Agropecuária se dizem defensores da pequena propriedade, quando é de clareza explícita que o que são realmente são defensores dos interesses do agronegócio, dos médios e grandes proprietários. Todavia para

39 Cf. TOLEDO, Virgínia, Para CPT, maior parte da população não é representada pela Bancada Ruralista, Jornal Brasil Atual, de

26/04/2012. Disponível em http://www.redebrasilatual.com.br/temas/ambiente/2012/04/para-cpt-maior-parte-da-populacao-brasileira-nao-e- representada-pela-numerosa-bancada-ruralista. Consultado em 20/07/2012.

40 Cf. Censo Agropecuário 2006 IBGE, Banco de Metadados. Disponível em

169 fazerem valer suas propostas, escondem-se atrás do discurso da defesa da agricultura, como se ela fosse uma só e não houvesse interesse de classes nela.

Muitos dos parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária além de serem grandes proprietários rurais e defender grandes grupos econômicos do agronegócio também têm envolvimento com a superexploração da força de trabalho, inclusive sendo denunciados por envolvimento com o trabalho escravo, a exemplo do senador João Batista de Jesus Ribeiro (PR-TO), que atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF), pela prática do crime de trabalho escravo contra trabalhadores, na Fazenda Ouro Verde, de sua propriedade.

Entre janeiro e fevereiro de 2004, quando o político ainda era deputado federal, foi flagrado praticando situação análoga à escravidão em uma de suas fazendas no sul do Pará, onde de acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), os trabalhadores estavam em condições subumanas de trabalho e acomodação, sem sanitários ou água potável para beber, com jornadas que podiam chegar a 12 horas diárias.

Além disso os auditores do trabalho também constataram que na Fazenda Ouro Verde, localizada no pequeno município de Piçarra, no Sul do Pará, com uma população de 12.703 pessoas (IBGE/2010), havia a prática de barracão (truck system) onde o empregador mantém o empregado no trabalho escravo por dívidas supostamente contraídas, criando um esquema ilegal de descontos nos salários a serem pagos, além de diversas outras ilegalidades.

Em sua defesa, Ribeiro disse que nenhum empregado era proibido de sair da fazenda e que jamais sofreu qualquer espécie de coação ou ameaças e que estava sendo vítima de uma denúncia falsa e perseguição por sua atuação política no Congresso. Mas depois de diversas manobras jurídicas realizadas pelo senador, em fevereiro de 2012, o STF decidiu abrir ação penal contra ele depois de julgar ação impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF), contra a situação de escravidão que foi flagrada.

170 Figura 9 - Senador João Ribeiro, Acusado de Praticar o Trabalho Escravo no Estado do Tocantins

Fonte: Foto Oficial - Senado Federal/2010

Figura 10 - Alojamento da Fazenda Ouro Verde em Cima de Um Brejo Malcheiroso/ Fonte: Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho Emprego/ 2004

171 Figura 11 - Alojamento Precário da Fazenda Ouro Verde, de propriedade do Senador João Ribeiro, onde trabalhadores escravizados dormiam junto a embalagens de agrotóxico Fonte: Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho Emprego/ 2004

De acordo com a denúncia contida no Inquérito (INQ 2131) contra o senador João Ribeiro (PR-TO) formulada pela Procuradoria Geral da República (PGR) além das condições análogas à escravidão (artigo 149 do CP), houve também a prática de aliciamento fraudulento de trabalhadores (artigo 207, parágrafo 1º, do Código Penal – CP) em Araguaína (TO), para trabalharem em sua Fazenda Ouro Verde, no município de Piçarra (PA) e a contratação de menores de idade. (parágrafo 2º do artigo 207, CP)

O senador Ribeiro é ao lado da senadora Kátia Abreu, dois dos mais expressivos

lobbistas do agronegócio no Senado, também sendo políticos destacados no Tocantins, onde

sempre são lembrados como virtuais candidatos ao governo do estado. O prestígio desses políticos é tamanho que durante as eleições de 2006, o Senador João Ribeiro, espalhou por todo o estado grandes outdoors abraçado ao presidente Lula, com a seguinte frase atribuída ao mesmo: “João Ribeiro é um político imprescindível para o Tocantins. Nesse eu confio!”

O senador João Ribeiro e a senadora Kática Abreu, no Congresso Nacional, são duas das expressões mais visíveis dos grandes proprietários no Brasil que frequentemente fazem um discurso radical contra o que denominam "intervenção estrangeira em nossa agricultura", chegando mesmo a pregar “fora tio Sam e suas ONG´s”, “Yankees go home”. Mas trata de um estratagema falso, assim como o discurso ambientalista, quando da aprovação do Código Florestal, quando a senadora Abreu se destacou na suposta defesa do meio ambiente.

A armadilha dos discursos da bancada ruralista fica evidente quando vemos a sua atuação setorial, marcada por ações claras de beneficiar os grandes monopólios que controlam

172 o agronegócio no Brasil. Um exemplo é o da soja que é plantada atualmente no Brasil, que usa mais de 80% sementes transgênicas, portanto, patenteadas por empresas estrangeiras, para quais se tem que pagar royalties. 41

Nessa rota de dominação da agricultura pelos grandes monopólios do agronegócio internacional está também o controle do mercado de fertilizantes, inseticidas e demais defensivos ou agrotóxicos. Esse setor químico é dominado por uns poucos “players” internacionais, como as alemãs BASF, Bayer e Hoescht, as francesas Ródia e Dupont, e as americanas Monsanto e Dow, que exercem uma pressão contínua para que o país continue sendo um dos maiores importadores do mundo desses produtos.

Quando os grandes ruralistas vão plantar e colher, geralmente têm que usar máquinas e equipamentos da New Holland, Massey Fergusson, Caterpillar, John Deer, Valmet, Estil,

Husqvarna etc, nenhuma dessas empresas é nacional. Ato contínuo ao da colheita é o

armazenamento sob lonas da japonesa Sansuy. Em seguida vem o transporte em caminhões da americana Ford, as alemãs Volkswagen e Mercedes, a italiana Fiat, as suecas Volvo e Scânia e, em breve, também os chineses virão se servir desse mercado rodoviário, já que é através dele que principalmente se escoa a produção dos commodities agrícolas.

No portos brasileiros, ao embarcamos os commodities a granel e in natura para serem industrializados e gerarem emprego e riquezas nos países industrializados o preço dessas commodities é ditado pelo cartel42 da Bolsa de Chicago. Esse mercado, é dominado pelas gigantes multinacionais Cargill, Bunge, Monsanto, Brasway, Gessy Lever, Anderson

Clayton, Nestlé, etc., as quais ditam o preço ao produtor brasileiro no campo.

Portanto na atual globalização capitalista as empresas do agronegócio dominam completamente as economias periféricas, que ao implementarem um desenvolvimento desigual e combinado permite que o capital crie no campo relações modernas de produção, no interior das quais as funções essenciais da produção são asseguradas por um proletariado cada vez mais explorado e submetido a formas de trabalho que muitos já supunham ultrapassadas, a exemplo do trabalho escravo.

41 Royalty é o termo utilizado para designar a importância paga ao detentor ou proprietário de um produto, marca ou patente de produto,

processo de produção, ou obra original, pelos direitos de exploração, uso, distribuição ou comercialização do referido produto ou tecnologia. Assim os detentores ou proprietários recebem porcentagens geralmente pré-fixadas das vendas finais ou dos lucros obtidos por aquele que usa, fabrica ou comercializa um produto ou tecnologia, assim como o concurso de suas marcas ou dos lucros obtidos com essas operações. Apesar do proprietário em questão poder ser uma pessoa física, geralmente são as grandes empresas que controlam os royaltyes.

42 Cartel é um acordo explícito ou implícito entre concorrentes para, principalmente, fixação de preços ou cotas de produção, divisão de

clientes e de mercados de atuação ou, por meio da ação coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos produtos, obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor. A formação de cartéis teve início na Segunda Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX. Esse tipo de instrumento capitalista ocorre normalmente em mercados oligopolísticos, nos quais existe um pequeno número de firmas, e normalmente envolve produtos homogêneos a exemplo das commodityes agrícolas.

173

CAPITULO 2

O AVANÇO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL E OS DRAMAS DA

No documento Download/Open (páginas 168-173)

Outline

Documentos relacionados